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domingo, 12 de maio de 2024

POEMA: A UMA SENHORA NATURAL DO RIO DE JANEIRO, ONDE SE ACHAVA ENTÃO O AUTOR - BASÍLIO DA GAMA - COM GABARITO

 Poema: A uma senhora natural do Rio de Janeiro, onde se achava então o autor

               Basílio da Gama

Já, Marfiza cruel, me não maltrata
Saber que usas comigo de cautelas,
Qu'inda te espero ver, por causa delas,
Arrependida de ter sido ingrata.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEje-__tkzEaBV-IReOOeHkp68HGqOGrKzctAWZSeCAYX4FH8UfmsLzXOT7L_GdthMBb-RelVYeTlLK-XLWvn9cKsLUYC4Ehk4H5hVRvbSapQX0pDGYiFi4ZodMkO42NbBt4I3Uuu3JKP2lpzP1R7gS2uqjpjriqKzL2I5Z3oYSX1O2LLQVRm9JtMjk32nY/s1600/olhos.jpg



Com o tempo, que tudo desbarata,
Teus olhos deixarão de ser estrelas;
Verás murchar no rosto as faces belas,
E as tranças d'oiro converte-se em prata.

Pois se sabes que a tua formosura
Por força há de sofrer da idade os danos,
Por que me negas hoje esta ventura?

Guarda para seu tempo os desenganos,
Gozemo-nos agora, enquanto dura,
Já que dura tão pouco, a flor dos anos.

GAMA, Basílio da. In: CASTELLO, José Aderaldo. Presença da literatura brasileira: das origens ao Romantismo. 13. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008. p. 119.

Fonte: Língua Portuguesa. Se liga na língua – Literatura – Produção de texto – Linguagem. Wilton Ormundo / Cristiane Siniscalchi. 1 Ensino Médio. Ed. Moderna. 1ª edição. São Paulo, 2016. p. 133-4.

Entendendo o poema:

01 – Os dois quartetos do poema são estruturados a partir de uma figura de linguagem, o eufemismo. Transcreva dois exemplos de eufemismo, explicando o efeito de sentido produzido no soneto.

      Possibilidades de respostas: “usas comigo de cautelas”: utilizando esse eufemismo, o eu lírico afirma de maneira mais sutil que Marfiza tem recusado seus convites amorosos, mas que um dia se arrependerá de sua ingratidão. “Teus olhos deixarão de ser estrelas”: Os olhos de Marfiza perderão o brilho (sonhos, perspectivas, desejos, etc.) que, em geral, caracteriza a juventude.

02 – Depois de ler os dois quartetos, é possível compreender a pergunta que o eu lírico faz para Marfiza no primeiro terceto. Explique essa afirmação.

      A pergunta do eu lírico é uma demonstração de sua indignação diante das negativas de Marfiza e diante daquilo que ele considera óbvio: a passagem do tempo e o consequente e inexorável envelhecimento humano.

03 – Que preceito tipicamente árcade está presente de maneira direta no último terceto do poema?

      O carpe diem. A supervalorização de cada minuto da existência. Pelo fato de o dia de amanhã ser incerto, o poeta deveria gozar o momento presente.

04 – Qual é o sentimento predominante do autor em relação à senhora mencionada no poema?

      O autor demonstra esperança e um desejo de reconciliação com a senhora, apesar da sua aparente indiferença.

05 – Como o autor descreve a inevitabilidade do envelhecimento da senhora?

      O autor descreve que os olhos que hoje são estrelas um dia deixarão de brilhar, as faces belas murcharão e as tranças douradas se transformarão em prata devido ao passar do tempo.

06 – Qual é a principal crítica do autor em relação ao comportamento da senhora?

      O autor critica a senhora por negar-lhe uma relação no presente, quando ambos sabem que a juventude e a beleza são passageiras e estão destinadas a serem afetadas pelo tempo.

07 – Como o autor justifica sua solicitação à senhora?

      O autor justifica sua solicitação à senhora ao apontar que, dado o inevitável declínio da beleza com a idade, é sensato desfrutar do presente enquanto ainda são jovens e belos.

08 – Qual é a ênfase principal do autor no último verso do poema?

      No último verso, o autor enfatiza a transitoriedade da juventude e da beleza ("a flor dos anos") e a importância de aproveitar esse tempo efêmero enquanto ainda é possível.

 

sábado, 27 de agosto de 2022

POEMA: O URAGUAI - FRAGMENTO - BASÍLIO DA GAMA - COM GABARITO

 Poema: O Uraguai – Fragmento

              Basílio da Gama     

CANTO PRIMEIRO

Fumam ainda nas desertas praias

Lagos de sangue tépidos e impuros

Em que ondeiam cadáveres despidos,

Pasto de corvos. Dura inda nos vales

O rouco som da irada artilheria.

MUSA, honremos o Herói que o povo rude

Subjugou do Uraguai, e no seu sangue

Dos decretos reais lavou a afronta.

Ai tanto custas, ambição de império!

E Vós, por quem o Maranhão pendura

Rotas cadeias e grilhões pesados,

Herói e irmão de heróis, saudosa e triste

Se ao longe a vossa América vos lembra,

Protegei os meus versos. [...]

CANTO SEGUNDO

[...]

Prosseguia talvez; mas o interrompe

Sepé, que entra no meio, e diz: Cacambo

Fez mais do que devia; e todos sabem

Que estas terras, que pisas, o céu livres

Deu aos nossos avôs; nós também livres

As recebemos dos antepassados.

Livres as hão de herdar os nossos filhos.

Desconhecemos, detestamos jugo

Que não seja o do céu, por mão dos padres.

As frechas partirão nossas contendas

Dentro de pouco tempo: e o vosso Mundo,

Se nele um resto houver de humanidade,

Julgará entre nós; se defendemos

Tu a injustiça, e nós o Deus e a Pátria.

[...]

GAMA, Basílio da; O Uraguai. Disponível em: http://objdigital.bn.br/Acervo_Digitl/livros_eletronicos/uraguai.pdf. Acesso em: 7 ago. 2020.

Fonte: Língua Portuguesa – Estações – Ensino Médio – Volume Único. 1ª edição, São Paulo, 2020 – editora Ática – p. 301-3.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o poema, qual o significado da palavra fumam?

      Fumegam, expelem vapores.

02 – Em 1769, o luso-brasileiro Basílio da Gama escreveu o poema épico “O Uraguai”, colocando em versos, como tema central, a história da Guerra Guaranítica, que aconteceu de 1753 a 1756, no sul do Brasil. O título refere-se ao rio Uruguai, em cujas margens houve a disputa de portugueses e espanhóis pelo território ocupado pelos jesuítas. Leia os versos de abertura do poema. Como essa guerra é representada nos cinco primeiros versos do poema e quem são suas principais vítimas?

      É representada como uma guerra sangrenta, pois os cadáveres estão em um lago de sangue. Esses cadáveres estão despidos, o que indica serem os indígenas os mortos vitimados pelo conflito.

03 – Em “O Uraguai”, a proposição corresponde a todo o primeiro canto. Que versos correspondem ao início da invocação e à dedicatória? Qual é a função dessas partes do poema?

      A invocação aparece no verso e que o poeta chama pela MUSA, ou seja, ele pede inspiração para seu trabalho poético, ao mesmo tempo que se coloca a serviço dessa inspiração para alcançar seu objetivo, que é homenagear Mendonça Furtado. A esse, portanto, dirige-se a dedicatória, em que o poeta o define como herói e irmão de heróis, no caso alcançando também a louvação a Pombal, como queria.

04 – Por que e como o poeta se apropriou do gênero épico para escrever o poema?

      O gênero épico foi apropriado pelo poeta porque ele estava seguindo os modelos clássicos, já que se identificava com a estética do Arcadismo. Assim, ele manteve as partes básicas do gênero (as divisões internas e a metrificação), mas alterou sua composição ao não apresentar estrofes nem rimas.

05 – O indígena guarani Sepé Tiarajú (1723-1756) foi uma das figura histórica reais que se destacaram na Guerra Guaranítica. Leia, de acordo com parte do Canto segundo “O Uraguai”, em que ele interrompe o diálogo do cacique Cacambo com os ibéricos e toma a palavra.

a)   Qual é o principal argumento de Sepé para encerrar a conversa com seus inimigos?

O principal argumento é que não valeria a pena discutir com os ibéricos, pois os indígenas sempre seriam livres, não aceitariam a dominação de nenhum poder a não ser o religioso (do céu), intermediado pelos jesuítas. Como portugueses e espanhóis não aceitariam isso, o único caminho era o combate, por meio do qual os indígenas provariam estar do lado certo, lutando por Deus e pela pátria.

b)   Por que podemos dizer que há heroicidade nessa fala de Sepé?

Porque Sepé é altivo, tem convicção em seus argumentos (como quando afirma “detestamos jugo”) e, sobretudo, dispõe-se a colocar a vida em jogo por seus ideais.

c)   Sepé Tiarajú foi reconhecido oficialmente como “herói guarani missionário rio-grandense” pela Lei n. 12.366 de 2005 do estado do Rio Grande do Sul e “Herói da Pátria Brasileira” pela Lei Federal n. 12.032 de 2009. Debata com os colegas e o professor: Qual é a importância de iniciativas como essa que reconhecem Sepé Tiarajú como herói indígena? Esse reconhecimento é suficiente para garantir uma visão positiva dos povos indígenas? Explique.

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Iniciativas como essa são importantes porque rompem com a tradição de valorizar apenas os colonizadores. No entanto, somente esse reconhecimento legal não é suficiente, pois pode ajudar a propagar a ideia de que os indígenas são do passado, que não contribuem de modo efetivo com a sociedade contemporânea.

 

sexta-feira, 26 de abril de 2019

POEMA: A MORTE DE LINDÓIA - FRAGMENTO - BASÍLIO DA GAMA - COM GABARITO

Poema: A MORTE DE LINDÓIA - Fragmento

              BASÍLIO DA GAMA

Porém o destro Caitutu, que treme
Do perigo da irmã, sem mais demora
Dobrou as pontas do arco, e quis três vezes
Soltar o tiro, e vacilou três vezes
Entre a ira e o temor. Enfim sacode
O arco e faz voar a aguda seta,
Que toca o peito de Lindóia, e fere
A serpente na testa, e a boca e os dentes
Deixou cravados no vizinho tronco.
[...]



Leva nos braços a infeliz Lindóia
O desgraçado irmão, que ao despertá-la
Conhece, com que dor no frio rosto
Os sinais do veneno, e vê ferido
Pelo dente sutil o brando peito.
Os olhos, em que o Amor reinava, um dia.
Cheios de morte: e muda aquela língua.
Que ao surdo vento, e aos ecos tantas vezes
Contou a larga história de seus males.
Nos olhos Caititu não sofre o pranto,
E rompe em profundíssimos suspiros.
Lendo na testa da fronteira gruta
De sua mão trêmula gravado
O alheio crime e a voluntária morte.
E por todas as partes repetido
O suspirado nome de Cacambo
Inda conserva o pálido semblante
Um não sei quê de magoado e triste,
Que os corações mais duros enternece.
Tanto era bela no seu rosto a morte!
                            José Basílio da Gama, "O Uraguai". Rio de Janeiro, Agir, 1976.
Entendendo o poema:

01 – Este fragmento é o mais conhecido e um dos mais belos do poema. Revelam-se nele algumas das grandes qualidades estilísticas de Basílio da Gama, como a vivacidade das descrições e a intensificação dos conflitos interiores das personagens pela representação minuciosa de suas ações.

a)   Qual é o dilema de Caitutu ao ver sua irmã prostrada, com uma serpente sobre o corpo?
Caitutu teme ferir Lindóia com sua seta, mas tem que atirar para salvá-la da serpente.

b)   Com que recurso estilístico o autor representa a comoção e a hesitação de Caitutu?
Com a repetição: “quis três vezes”, “vacilou três vezes”.

02 – Mário Camarinha da Silva assim comenta a descrição de Lindóia:
        “[...] desde sua patética apresentação cativando o afeto do poeta, a esposa de Cacambo não cessa de crescer na imaginação do leitor. Vulto de mulher apenas entrevisto é personagem de assombrosa vivência. [...] Com os poucos traços que dela nos dá comentados à maneira de contraponto pela adjetivação e outros processos de tom elegíaco, Basílio da Gama, no auge de sua virtuosidade técnica incontestada, nos sugere – mais que descreve – o triste destino da infausta indiana: dentro de nós, leitores, os sentimentos ficam assim em liberdade para completar à nossa maneira a mulher que foi Lindóia [...]”.
                         In: Basílio da Gama. O Uraguai. “Introdução”. Rio de Janeiro, Agir, 1976.

a)   Faça um levantamento dos adjetivos e expressões referentes a Lindóia que contribuem para o tom elegíaco (tristonho, lamentoso) do episódio.
Infeliz; (olhos) cheios de morte; (língua) muda; (semblante) pálido; um não sei que de magoado e triste; tanto era bela no seu rosto a morte.

b)   Transcreva os versos que sugerem que o sofrimento de Lindóia pela morte de Cacambo foi silencioso e solitário. Comente.
         “...e muda aquela língua. / Que ao surdo vento, e aos ecos tantas vezes. / Contou a larga história de seus males.” Morta, Lindóia não pode mais lamentar sua triste história; mas, quando vivia, seu sofrimento era também silencioso e solitário, pois seus únicos confidentes eram o “surdo vento” e os ecos.

03 – O fragmento termina com os versos mais conhecidos de O Uraguai. Escreva um comentário sobre eles.
      Resposta pessoal do aluno.