Poema: A uma senhora natural do Rio de Janeiro, onde se achava então o autor
Basílio
da Gama
Já, Marfiza cruel, me não maltrata
Saber que usas comigo de cautelas,
Qu'inda te espero ver, por causa delas,
Arrependida de ter sido ingrata.
Com o tempo, que tudo desbarata,
Teus olhos deixarão de ser estrelas;
Verás murchar no rosto as faces belas,
E as tranças d'oiro converte-se em prata.
Pois se sabes que a tua formosura
Por força há de sofrer da idade os danos,
Por que me negas hoje esta ventura?
Guarda para seu tempo os desenganos,
Gozemo-nos agora, enquanto dura,
Já que dura tão pouco, a flor dos anos.
GAMA, Basílio da. In:
CASTELLO, José Aderaldo. Presença da literatura brasileira: das origens ao
Romantismo. 13. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008. p. 119.
Fonte: Língua
Portuguesa. Se liga na língua – Literatura – Produção de texto – Linguagem.
Wilton Ormundo / Cristiane Siniscalchi. 1 Ensino Médio. Ed. Moderna. 1ª edição.
São Paulo, 2016. p. 133-4.
Entendendo o poema:
01 – Os dois quartetos do
poema são estruturados a partir de uma figura de linguagem, o eufemismo.
Transcreva dois exemplos de eufemismo, explicando o efeito de sentido produzido
no soneto.
Possibilidades de respostas: “usas
comigo de cautelas”: utilizando esse eufemismo, o eu lírico afirma de
maneira mais sutil que Marfiza tem recusado seus convites amorosos, mas que um
dia se arrependerá de sua ingratidão. “Teus olhos deixarão de ser estrelas”:
Os olhos de Marfiza perderão o brilho (sonhos, perspectivas, desejos, etc.)
que, em geral, caracteriza a juventude.
02 – Depois de ler os dois
quartetos, é possível compreender a pergunta que o eu lírico faz para Marfiza no
primeiro terceto. Explique essa afirmação.
A pergunta do eu
lírico é uma demonstração de sua indignação diante das negativas de Marfiza e
diante daquilo que ele considera óbvio: a passagem do tempo e o consequente e
inexorável envelhecimento humano.
03 – Que preceito tipicamente
árcade está presente de maneira direta no último terceto do poema?
O carpe diem. A
supervalorização de cada minuto da existência. Pelo fato de o dia de amanhã ser
incerto, o poeta deveria gozar o momento presente.
04 – Qual é o sentimento
predominante do autor em relação à senhora mencionada no poema?
O autor demonstra
esperança e um desejo de reconciliação com a senhora, apesar da sua aparente
indiferença.
05 – Como o autor descreve a
inevitabilidade do envelhecimento da senhora?
O autor descreve
que os olhos que hoje são estrelas um dia deixarão de brilhar, as faces belas
murcharão e as tranças douradas se transformarão em prata devido ao passar do
tempo.
06 – Qual é a principal
crítica do autor em relação ao comportamento da senhora?
O autor critica a
senhora por negar-lhe uma relação no presente, quando ambos sabem que a
juventude e a beleza são passageiras e estão destinadas a serem afetadas pelo
tempo.
07 – Como o autor justifica
sua solicitação à senhora?
O autor justifica
sua solicitação à senhora ao apontar que, dado o inevitável declínio da beleza
com a idade, é sensato desfrutar do presente enquanto ainda são jovens e belos.
08 – Qual é a ênfase principal
do autor no último verso do poema?
No último verso, o autor enfatiza a
transitoriedade da juventude e da beleza ("a flor dos anos") e a
importância de aproveitar esse tempo efêmero enquanto ainda é possível.