quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

CRÔNICA: BANHOS, BANHEIROS & CIA. - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Banhos, Banheiros & Cia.

                Walcyr Carrasco

UM DOS MISTÉRIOS DA ARQUITETURA moderna é a importância dada aos banheiros. Há algumas décadas, um casarão tinha dois, no máximo três banheiros. Observo os anúncios dos apartamentos modernos. Propagandeiam o número de suítes. Quanto mais, mais luxuosos e mais caros. O número de banheiros faz a glória dos corretores. A sala pode ser pequena. A cozinha, minúscula. O quarto de empregada, equivalente a um armário — eu me pergunto quando as empregadas vão aprender a dormir de pé! Banheiros, há em profusão. Um apartamento de luxo médio possui três suítes, um lavabo e um banheiro de empregada. Em contrapartida, tem três dormitórios, sala dupla, cozinha, quarto de empregada. Cinco banheiros para seis cômodos! Casais modernos e abastados fazem questão de dois banheiros na suíte. Uma senhora me revelou:

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDispA_MPDT7Ua8AzbP1Vm3vNOcRUbmjTT0oexE0PEuBXbvwBZpFDk4X5igzqp2nbTIFbsppj5YMXKZPhKv6SiKjxrw8FaYms51MGFBp5m-DsvqsM0hp3Sx8NrSIuBYSK5eApBMKbVrh7QQ5d1d5Y-_l2SODkG7G4eI9HVajaB7mdyazNQYgZAxqWTqQU/s320/SABONETES.jpg 


— A razão pela qual nunca me separei é que meu marido tem o banheiro dele.

Isso que é matrimônio!

Os apetrechos também estão se tornando mais sofisticados. Designers criam louças assinadas. Sanitários com grife nunca pensei! Uma amiga comprou uma banheira com pezinhos, réplica dos antigos modelos vitorianos. Linda. Assim que instalou, quis inaugurar. Encheu. Botou essências. Entrou. Tentou sentar-se. Escorregou. A banheira era funda, ela, baixinha. Agarrou-se às bordas para não morrer afogada. Quis erguer-se. Patinou. Foi Um custo. Quando conseguiu, a perna não ultrapassava a borda. Agarrou-se à parede. Os dedos deslizaram pelos azulejos. Quase dependurada no registro, conseguiu botar um pé para fora. Resvalou pelo tapete. Salvou-se por pouco. Quando me contou a aventura, observei:

—- Você teve sorte. Do jeito que anda gorda, podia ter entalado.

Agora está pensando em usar a peça para criar carpas coloridas,

Entrar no chuveiro ou afundar na banheira é um ato cada vez mais glamouroso. Só no Shopping Pátio Higienópolis existem duas lojas em que o forte são os produtos para tornar o banho um ato de luxaria. Sabonetes com todo tipo de promessa. Uns relaxam, outros melhoram a vida amorosa, outros energizam. Como se o simples ato de limpar não fosse mais suficiente. Sal grosso aromatizado para tirar o mau-olhado e perfumar. Existem até umas bolinhas exóticas. Jogam-se na banheira e elas efervescem, soltando pétalas de flores. Alguns sabonetes também trazem flores incrustadas. Ganhei um. À medida que usava, foi surgindo uma margarida. Mais tarde, alguém comentou:

— O que você tem na orelha?

Eram pétalas. Também havia algumas em meus cabelos. Quando vi, estava arrancando pétalas de todo o corpo. O sabonete me transformara em um sachê!

Comentei o fato com a amiga que me presenteou. Ela irritou-se:

— É um sabonete supernatural. Não serve para tomar banho.

— Poderia me explicar para que serve um sabonete?

— Esse é para levantar o astral. E, se não levantou o seu, o problema não é com o sabonete. É com você mesmo!

Haja! Sabonetes também estão ganhando grifes! Os industrializados seguem a onda. Outro dia peguei uma embalagem que prometia vantagens adicionais. Vitaminas potentes, hidratação. Deu a impressão de que bastava usar três vezes para nunca mais pensar em operação plástica. Rejuvenescimento e espuma, eis tudo. Mas o grande hit da tendência vem do Japão. Banho em ofurô entrou na nova novela das 7. Prova de que a moda está ficando mais forte que nunca. Quis experimentar. Toma-se um leve banho antes e entra-se numa tina escaldante. Nunca tinha conjugado o verbo ferver. Agora sei como se sente uma galinha que vai ser canja. Tentei levantar e sair. Avisaram:

— Relaxe. Aproveite! Descanse e elimine as tensões.

Insisti. Fervi mais um pouco. Só a cabeça de fora. Meu corpo ficando rosado. Comecei a lembrar de histórias de missionários capturados na África. Tenho um primo que é missionário. Ultimamente tem enviado cartas falando em fazer contato com uma tribo canibal. Talvez devesse convidá-lo para um banho de ofurô, para testar sua vocação. O fato é que saltei fora em exatos sete minutos e meio. Reconheço que fiquei aliviado ao sair. Qualquer ser humano relaxaria ao salvar-se dá água escaldante.

Sempre fui do tipo antiquado, para quem um banho é um banho. Fervidas à parte, reconheço que sabonetes delicados, essências, flores boiando na água e toalhas felpudas têm seu charme. No dia-a-dia tão banalizado, um banho calmo, mas glamouroso, é quase uma experiência existencial.

 Entendendo o texto

01. O que o autor destaca como um dos mistérios da arquitetura moderna no início da crônica?

     a) A falta de banheiros nos casarões.

     b) A importância dada aos banheiros.

     c) A ausência de suítes nos apartamentos modernos.

     d) A decadência dos banheiros em residências.

02. Quantos banheiros, em média, um apartamento de luxo médio possui, conforme mencionado na crônica?

     a) Dois.

     b) Três.

     c) Cinco.

     d) Seis.

03. Por que a senhora revelou que nunca se separou do marido?

     a) Porque ele tem um banheiro próprio.

     b) Porque ela ama seu marido profundamente.

     c) Porque ele é um homem rico.

     d) Porque ela adora banheiros de luxo.

04. O que a amiga do autor comprou para o banheiro que se tornou motivo de uma aventura engraçada?

     a) Um chuveiro luxuoso.

     b) Uma pia com design exclusivo.

     c) Uma banheira com pezinhos.

     d) Um vaso sanitário de alta tecnologia.

05. Segundo a crônica, o que torna entrar no chuveiro ou afundar na banheira cada vez mais glamouroso?

     a) A presença de flores.

     b) A utilização de sabonetes com grife.

     c) A compra de produtos luxuosos.

     d) A instalação de louças assinadas.

06. Qual é o acontecimento glamouroso mencionado na crônica que ocorre no Shopping Pátio Higienópolis?

     a) Desfile de moda.

     b) Lançamento de perfumes.

     c) Exposição de carros de luxo.

     d) Lojas com produtos para tornar o banho um ato de luxo.

07. O que aconteceu quando o autor usou um sabonete presenteado por sua amiga?

     a) Ele teve uma reação alérgica.

     b) O sabonete não espumou.

     c) Surgiram pétalas em seu corpo.

     d) Ele se transformou em um sachê.

08. De acordo com a amiga que presenteou o autor com o sabonete, qual era a finalidade do produto?

    a) Limpar a pele.

    b) Levantar o astral.

    c) Proporcionar relaxamento.

    d) Hidratar a pele.

09. O que o autor experimentou pela primeira vez durante um banho em ofurô?

     a) Fervura.

     b) Espuma aromatizada.

     c) Relaxe profundo.

     d) Contato com sabonetes exóticos.

10. Qual é a conclusão do autor sobre a experiência do banho em ofurô?

     a) Ele adorou e recomenda a todos.

     b) Ele se sentiu como uma galinha prestes a ser cozida.

     c) Ele achou relaxante e eliminou as tensões.

     d) Ele prefere banhos tradicionais e simples.

 

 

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