Texto: O ato de estudar
Paulo Freire
Tinha chovido muito toda noite. Havia
enormes poças de água molhada nas partes baixas do terreno. Em certos lugares,
a terra, de tão molhada, tinha virado lama. Às vezes, os pés apenas
escorregavam nela. Às vezes, mais do que escorregar, os pés se atolavam na lama
até acima dos tornozelos. Era difícil andar. Pedro e Antônio estavam
transportando numa caminhoneta cestos cheios de cacau para o sitio onde
deveriam secar. Em certa altura, perceberam que a caminhoneta não atravessaria
o atoleiro que tinha pela frente. Passaram. Desceram da caminhoneta. Olharam o
atoleiro, que era um problema para eles. Atravessaram os dois metros de lama,
defendidos por suas botas de cano longo. Sentiram a espessura do lamaçal.
Pensaram. Discutiram como resolver o problema. Depois, com a ajuda de algumas
pedras e de galhos secos de árvores deram ao terreno a consistência mínima para
que as rodas da caminhoneta passassem sem atolar. Pedro e Antônio estudaram.
Procuraram resolver e, em seguida, encontraram uma resposta precisa.
Não se estuda apenas na escola.
Pedro e Antônio estudaram enquanto
trabalhavam.
Estudar é assumir uma atitude séria e
curiosa diante de um problema.
Esta atitude séria e curiosa na procura
de compreender as coisas e os fatos caracteriza o ato de estudar. Não importa
que o estudo seja feito no momento e no lugar do nosso trabalho, como no caso
de Pedro e Antônio, que acabamos de ver. Não importa que o estudo seja feito
noutro local e noutro momento, como o estudo que fazemos no Círculo de Cultura.
Em qualquer caso, o estudo exige sempre esta atitude séria e curiosa na procura
de compreender as coisas e os fatos que observamos. Um texto para ser lido é um
texto para ser estudado. Um texto para ser estudado é um texto para ser
interpretado. Não podemos interpretar um texto se o lemos sem atenção, sem
curiosidade; se desistimos da leitura quando encontramos a primeira
dificuldade. Que seria da produção de cacau naquela roça se Pedro e Antônio
tivessem desistido de prosseguir o trabalho por causa do lamaçal?
Se um texto às vezes é difícil, insiste
em compreendê-lo. Trabalha sobre ele como Antônio e Pedro trabalharam em
relação ao problema do lamaçal. Estudar exige disciplina. Estudar não é fácil
porque estudar é criar e recriar e não repetir o que os outros dizem. Estudar é
um dever revolucionário!
FREIRE, Paulo. A
importância do ato de ler. São Paulo: Cortez, 2001. p.57-58.
Entendendo o texto:
01 – Identifique a
finalidade do texto lido:
O texto de Paulo
Freire trata da importância do ato de estudar, tomando como ponto de partida
uma situação de trabalho. Ele ressalta que o referido ato é desafiador, visto
que pressupõe a disciplina e o olhar diferenciado. Em outras palavras, é criar
e recriar.
02 – Registra-se uma
opinião na passagem:
a) “Tinha chovido muito toda
noite.”
b) “Era difícil andar.”
c) “Procuraram resolver e,
em seguida, encontraram uma resposta precisa.”
d) “Estudar é
assumir uma atitude séria e curiosa diante de um problema.”
03 – “Se um texto às
vezes é difícil, insiste em
compreendê-lo. Trabalha sobre
ele como Antônio e Pedro trabalharam em relação ao problema do lamaçal.”. Nesse
segmento, os verbos sublinhados expressam:
a) uma ordem
b) um desejo
c) uma orientação
d) uma advertência
04 – “Havia enormes
poças de água molhada nas partes baixas do terreno.”. Por que o verbo “havia”
foi empregado no singular nesse trecho?
Porque o verbo “haver”, quando sinônimo
de “existir” (como é o caso dessa oração) ou “acontecer” é impessoal, isto é,
não tem sujeito e, por isso, sempre se flexiona no singular.
05 – Em “Estudar não é
fácil porque estudar
é criar e recriar e não repetir o que os outros dizem.”, o termo destacado
introduz:
a) uma comparação
b) uma explicação
c) uma oposição
d) uma conclusão
06 – Em todas as
alternativas, os termos grifados indicam a ideia de tempo, exceto em:
a) “Às vezes, os pés apenas escorregavam nela.”.
b) “Depois, com a ajuda de algumas pedras e de galhos secos de
árvores deram ao terreno […]”
c) “Pedro e Antônio
estudaram enquanto”
d) “Esta atitude
séria e curiosa na procura de compreender
as coisas e os fatos caracteriza […]”