Texto para os itens de 1 a 8
Ainda é muito comum o argumento de que,
no combate à pobreza no Brasil, não se deve dar o peixe, mas ensinar a pescar.
Os resultados de pesquisas recentes, no entanto, indicam que ensinar a pescar
pode ser muito pouco para uma grande massa da população que já se encontra em
situação de extrema privação.
A pobreza é uma metáfora para o
sofrimento humano trazido à arena pública, e pode ser definida de maneiras
distintas.
Muita energia é despendida na busca de
uma definição rigorosa, capaz de distinguir com clareza o sofrimento suficiente
do sofrimento insuficiente para classificar alguém como pobre, mas aqui isso
não é necessário: apenas para conduzir a argumentação, vamos tratar pobreza
como uma situação extrema, na qual se encontram os indivíduos pertencentes a
famílias que não dispõem de renda para adquirir uma cesta de alimentos e outros
bens de consumo, como vestimentas e medicamentos.
Pesquisas embasadas nesse tipo de
definição estimam que uma fração entre um terço e a metade da população
brasileira possa ser considerada pobre. Essa é uma definição forte; e
estimativas subjetivas de linhas de pobreza demonstram que boa parte da
população brasileira ainda consideraria insuficientes as rendas de famílias que
se encontram em níveis superiores aos usados nessas pesquisas como linha de
pobreza.
Vamos assumir, também, que a existência
desse tipo de pobreza é socialmente inaceitável e, portanto, que desejamos
erradica-la o quanto antes. É óbvio que o horizonte de tempo proposto define
que tipos de mudança na sociedade serão necessários.
Provavelmente, um prazo mais curto
exigirá políticas mais drásticas. Para manter a argumentação em torno das propostas
mais debatidas, atualmente, para a erradicação da pobreza no país, vamos
definir como limite razoável algo entre uma e duas décadas.
A insuficiência de recursos nas mãos de
parte da população pode ser entendida como resultado ou de uma insuficiência
generalizada de recursos ou de má distribuição dos recursos existentes. Logo, o
combate à pobreza pode tomar dois rumos básicos: aumentar o nível de recursos
per capita da sociedade ou distribuir melhor os recursos existentes. Nada
impede, é claro, que as duas coisas ocorram simultaneamente.
Os caminhos para o aumento dos recursos
per capita encontram-se entre dois extremos: diminuir a população ou fazer com
que a economia cresça mais rápido que ela. Como as estratégias de diminuição da
população existente, em um prazo mais rápido que ela. Como as estratégias de
diminuição da população existente, em um prazo razoável, beiram o absurdo, a
proposta de crescimento da economia, maior do que a do crescimento da
população, é geralmente muito mais debatida no Brasil.
Dadas as dificuldades que se colocam
para o crescimento acelerado de qualquer economia, durante muito tempo se
sugeriu que o problema da pobreza no Brasil poderia ser enfrentado pela via do
controle de natalidade. Embora esse argumento, ainda hoje, encontre algum eco
fora dos meios acadêmicos, todas as evidências empíricas disponíveis rejeitam a
viabilidade da erradicação da pobreza por meio da redução no ritmo de
reprodução da população.
Marcelo Medeiros.
In: UnB Revista, dez. 2003.
Mar. 2004 p. 16-9. (Com adaptações).
Acerca do texto acima,
julgue os itens a seguir.
1 – O texto, apesar de falar
em “argumentação”, é predominantemente descritivo, uma vez que apresenta os
contornos e as características da parte da população brasileira considerada
“pobre”.
Errado.
2 – No primeiro parágrafo, a
ideia central pode ser resumida da seguinte forma: é necessário dar bens de
subsistência para quem já se encontra em situação de miséria extrema.
Certo.
3 – Do segundo ao quinto
parágrafos, é apresentada, entre distintas acepções de pobreza, a que será
adotada pelo autor e mediante a qual devem ser entendidas as suas ideias.
Certo.
4 – Nos parágrafos sexto e
sétimo, o autor associa a pobreza, fundamentalmente, a aspectos econômicos e
financeiros, argumentando que, para saná-la, é imperioso elevar a renda per
capita.
Errado.
5 – No último parágrafo, a
proposta de diminuição da taxa demográfica de pobres, com o estímulo ao
controle e à redução da natalidade, é defendida pelo autor.
Errado.
6 – Além de ser correta, a
substituição do termo “despendida” (2° parágrafo) por dispendida não altera o
sentido do texto.
Errado.
7 – Em “a metade da
população brasileira possa ser considerada pobre. Essa é uma definição forte”.
(3° parágrafo), há quatro substantivos abstratos determinados por quatro
adjetivos.
Errado.
8 – A união entre as orações
existentes no trecho “que a existência desse tipo de pobreza é socialmente
inaceitável e, portanto, que desejamos erradica-la o quanto antes” (4°
parágrafo), dá-se por processo de coordenação.
Certo.
9 – O emprego do itálico
em “per capita” (7° parágrafo), justifica-se por se tratar de uma expressão
estrangeira que significa, no contexto, em língua portuguesa, por cabeça ou por
pessoa.
Certo.
10 – No último parágrafo do
texto “acadêmicos” e “evidências” recebem acento pelo mesmo motivo.
Errado.
Os itens subsequentes são reescrituras
adaptadas de partes extraídos de UnB Revista, n° 9, dez./2003-mar./2004.
Julgue-os quanto a acentuação gráfica, emprego do sinal indicativo de crase,
concordância, regência e pontuação.
11 – Políticas de controle
da natalidade não são uma solução viável, não só porque violam a liberdade das
famílias de decidir seu tamanho, mas, também, porque causam um vazio geracional
que, futuramente, poderá ter diversos impactos negativos para a sociedade.
Certo.
12 – O crescimento da
economia parece ser uma proposta mais tentadora: crescer aumenta a quantidade
de recursos disponíveis e, se os resultados desse crescimento forem
distribuídos a todos, a tendência é de que a pobreza seja reduzida.
Certo.
13 – Se o problema da
pobreza é, majoritariamente, uma questão de desigualdade e de desequilíbrio,
estratégias de erradicação da miséria devem ser formuladas, levando em conta as
causas de tais divergências.
Certo.
14 – Visando a formação de
novas mentalidades, abertas permanentemente as modificações que ocorrem na
sociedade, é necessário um constante diálogo das instituições jurídicas do país
com as universidades afim do proveito de ambas, e consequentemente, da
sociedade brasileira.
Errado.
15 – O momento atual, a
despeito do que muitos afirmam, revela-se uma oportunidade ímpar para uma
reflexão à respeito do funcionamento da administração pública e acerca das
funções a serem desempenhadas pela sociedade no estado democrático de direito.
Errado.
Não há dúvida de que, no início do século
XXI, os Estados Unidos da América chegaram mais perto do que nunca da
possibilidade de constituição de um “império mundial”. Mas, se o mundo chegasse
a esse ponto e constituísse um império global, isso significaria – ao mesmo
tempo e por definição – o fim do sistema político interestatal. E o mais
provável, do ponto de vista econômico, é que tal transformação viesse a
significar também o fim do capitalismo. Em uma linguagem mais próxima da física
e da termodinâmica do que da dialética hegeliana, pode-se dizer que a expansão
do poder tempo, uma força que levaria o sistema mundial à entropia, ao provocar
sua homogeneização interna e o desaparecimento das hierarquias e conflitos
responsáveis pelo dinamismo e pela ordem do próprio sistema.
José Luís Fiori. Correio
Brasiliense, 25/12/2004 (com adaptações).
Em relação
ao texto acima, julgue os itens que se seguem.
16 – O emprego da preposição
“de” em “Não há dúvida de que” justifica-se pela regência da forma verbal “há”.
Errado.
17 – Como na sequência há um
complemento oracional, a omissão da preposição “de” em Não há dúvida de que”
também estaria de acordo com as exigências da norma escrita culta.
Certa.
18 – Como o primeiro período
do texto apresenta ideia relativa a um único país, o emprego do verbo chegar
no singular – chegou – estaria de acordo com as exigências de
concordância da norma escrita culta, sem necessidade de outras alterações no
texto.
Errado.
19 – Mantém-se a correção
gramatical do período e as informações originais do texto ao se eliminar a
palavra sublinhada em “mais perto do que nunca”.
Certa.
20 – O emprego do futuro do
pretérito em “significaria” é decorrente do emprego de estrutura antecedente
que tem valor condicional, formada por verbo no imperfeito do subjuntivo.
Certa.
21 – Pelos sentidos do
texto, é correto inferir que a palavra “entropia” está sendo empregada com o
significado de equilíbrio, organização.
Errado.
22 – Para o trecho “que
levaria (...) à entropia”, a crase se justifica pela regência do verbo levar.
Certo.
23 – Infere-se das
informações e dos sentidos do texto que o dinamismo e a ordem do sistema
político interestatal em vigor atualmente no mundo podem prescindir de
hierarquias e conflitos.
Errado.
Quase todas as grandes potências já foram
colonialistas e anticolonialistas, pacifistas e belicistas, liberais e
mercantilistas, e quase todas elas, além disso, já mudaram de posição várias
vezes ao longo da história. Nesse contexto, as previsões, liberais ou
marxistas, do fim dos estados ou das economias nacionais, ou mesmo da formação
de algum tipo de federação cosmopolita e pacífica, são utopias, com toda a
dignidade das utopias que partem de argumentos éticos e expectativas generosas,
mas são ideias ou projetos que não têm nenhum apoio objetivo na análise da
lógica e da história passada do sistema mundial.
Apesar de tudo isso, é possível
identificar através da história a existência de forças que atuam na direção a
existência de forças que atuam na direção contrária do poder global e do
império mundial. Forças que impediram – até agora – que esse processo de
centralização do poder chegasse até o limite imperial, o que provocaria a
dissolução do sistema político e econômico mundial.
Idem, Ibidem.
Com referência às ideias e estruturas
do texto acima, julgue os itens a seguir.
24 – A expressão “Nesse
contexto” é um elemento de coesão textual, pois retoma de forma sintética todas
as informações do período anterior.
Certo.
25 – A inserção de uma
vírgula logo após a expressão “dignidade das utopias” mantém as mesmas relações
sintáticas e a informação original do período.
Errado.
26 – Pelas informações do
texto, estaria gramaticalmente correta e de acordo com as ideias do texto a
substituição do trecho “expectativas generosas, mas são ideias” por:
expectativas generosas. Entretanto, essas previsões são ideias.
Certo.
27 – Pela presença das
preposições, é correto afirmar que os elementos “da lógica” “da história passada”
e “do sistema mundial” têm a mesma função sintática no período, pois
complementam a palavra “análise”.
Errado.
28 – Mantém-se a ênfase da
afirmação, sem prejuízo para a gramatical do período, se as duas ocorrências da
forma “do” forem substituídas por em relação ao.
Certo.
29 – No início do último
período do texto, substituir “Forças” por São essa forças constitui alternativa
gramaticalmente incorreta para o período, porque prejudica a coesão textual.
Errado.
30 – O emprego do futuro do
pretérito em “provocaria” justifica-se pelo emprego do subjuntivo em “chegasse”
e admite como gramaticalmente correta a substituição pela forma teria provocado
ou por iria provocar.
Certo.
A responsabilidade política do Poder
Judiciário no MERCOSUL é nítida nesta quadra. Precisamos, portanto, com
absoluta transparência, discutir e verificar como as nossas instituições
jurídicas estão desenhadas. A justiça brasileira ainda está presa às concepções
autonômicas do século XIX, e, por isso, o tratado internacional tem sido
considerado norma de natureza ordinária, e, consequentemente, é sujeito à
modificação, à revogação e à alteração por qualquer legislação ordinária, sem
qualquer audiência dos organismos internacionais e dos países que foram
co-participantes da elaboração de m tratado, seja ele de qualquer natureza:
comercial, civil, tributária.
31 – Na expressão “presa às
concepções”, estaria gramaticalmente correta a preferência pela estrutura presa
a concepções, em que é omitido o artigo feminino plural, com a permanência da
preposição.
Certo.
32 – Os 03 últimos sinais
indicativos de crase têm justificativas diferentes, e dois deles podem ser
omitidos sem prejuízo para a correção gramatical do período.
Errado.
Considerando que os fragmentos
incluídos nos itens seguintes, na ordem em que estão apresentados, são partes
sucessivas de um texto, julgue-os quanto à correção gramatical.
33 – Um das causas
congestionamento do sistema judiciário reside na legislação processual que, de
tão ultrapassada, enseja recursos inimagináveis em qualquer outro sistema.
Certo.
34 – A multiplicidade de
manifestações de insurgência contra toda e qualquer disposição judicial, com
inovação das garantias constitucionais de ampla defesa e devido processo fazem
com que o exame do mérito das causas seja adiado quase que indefinidamente.
Errado.
35 – Sucede-se na comarca os
juízes e nos tribunais os relatores de modo que, sobre uma única demanda,
várias gerações de magistrados se devam debruçar, reiniciando – como se espera
– o estudo do feito desde sua página inicial. Itens adaptados.
Errado.