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terça-feira, 2 de janeiro de 2024

CONTO: O ESCRAVO QUE GUARDOU OS OSSOS DO PRÍNCIPE - REGINALDO PRANDI - COM GABARITO

 Conto: O escravo que guardou os ossos do príncipe

            Reginaldo Prandi

        Havia um escravo chamado Odedirã, que vivia perseguido pelo seu senhor.

        Odedirã um dia ganhou um pintinho de um vizinho. ele o criou até que se tornasse uma galinha.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi252nimUcvV3rcIL65wzNPR39QqT8TmtIVDdumLwj_a8IzrKtzBFTa6JYJP2J8Z2F9F3ENEV6r_CE2Xewmh7bcKAB4f00Lhmb-8fVfCDGYLRL1RnuEptQgnXt4P6Tk53aDCgm3R9UhJNGlGnIAMxTAn-eSNn78jfhrudDxgPGKBHqJzRaf7xxHt26oj8I/w183-h144/ESCRAVO.jpg


        A galinha pôs ovos e os chocou. Nasceram muitos pintinhos que Odedirã criou. A criação de galinhas foi crescendo.

        Um dia, voltando da roça, ele encontrou todas as suas galinhas e todos os seus galos mortos.

        O seu senhor disse:

        “Tu és escravo ou dono de uma granja?”.

        Odedirã ficou tristíssimo, mas não disse nada.

        Limpou os frangos mortos, salgou, defumou a carne e a guardou...

        Um dia ele ganhou uma cabritinha. A cabritinha cresceu e se tornou uma bela cabra, que deu muitos filhotes. A criação de cabras foi crescendo.

        Um dia, voltando da roça, encontrou todas as suas cabras e todos os seus cabritos mortos.

        O seu senhor disse:

        “Tu és escravo ou fazendeiro?”.

        Odedirã ficou tristíssimo, mas não disse nada.

        Limpou os animais mortos, salgou, defumou a carne e a guardou...

        Quando veio a seca e faltou comida no seu país, Odedirã vendeu as carnes defumadas e guardou o dinheiro.

        Um dia, voltando da roça, encontrou o seu senhor muito bem-vestido.

        Ele comprara ricas roupas, sapatos finos e belas joias.

        O escravo percebeu com que dinheiro tudo havia sido comprado, quando o seu senhor lhe disse:

        “Tu és escravo ou banqueiro?”.

        Vendo a tristeza do escravo o senhor disse:

        “Comprei pra ti este monte de ossos. Quem sabe tu não começas uma fábrica de botões e te transformas num industrial? Pois parece que escravo tu não queres ser”.

        Odedirã nada respondeu e guardou os ossos.

        Logo, logo, passaram por ali emissários do rei. Uma grande desgraça se abaterá sobre o reino. O príncipe herdeiro havia morrido e, se isso não bastasse, mercenários sem escrúpulos tinham roubado o esqueleto do príncipe morto.

        Os soldados procuravam os ossos por todo o país, será que alguém sabia dos despojos principescos?

        Odedirã foi para dentro e voltou com uma caixa.

        “Aqui estão os restos de nosso amado príncipe, ele disse. “Foram abandonados aqui por ladrões em fuga”, completou.

        O rei ficou muito grato pela recuperação do esqueleto do filho.

        Os ossos foram enterrados na capital do reino com todas as solenidades funerárias costumeiras.

        Odedirã e seu senhor foram levados aos funerais como convidados especiais, como salvadores da pátria.

        Ao final da cerimônia, o rei libertou o escravo Odedirã adotou-o como filho e o declarou seu príncipe herdeiro.

        Odedirã deu um pouco de dinheiro ao seu antigo senhor para que ele voltasse para casa e disse-lhe:

        “Quando eu era teu escravo, só para me roubar vivias perguntando o que eu era. Mas nunca soubeste o que eu queria ser. Eu não queria ser dono de granja, não queria ser fazendeiro nem banqueiro. Muito menos industrial. Eu só queria ser rei”.

        E entrou no palácio abraçado com o pai adotivo...

                     Reginaldo Prandi, Os príncipes do destino, história da mitologia afro-brasileira. São Paulo. Cosac & Naifi, SP. 2001.

Fonte: Coleção Desafio Língua Portuguesa – 5° ano – Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Roberta Vaiano – 1ª edição – São Paulo, 2021 – Moderna – p. MP122-MP127.

Entendendo o conto:

01 – De acordo com o conto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Defumou (a carne): secou, exposto à fumaça.

·        Mercenários: pessoas que trabalham apenas por dinheiro.

·        Sem escrúpulos: sem integridade de caráter.

·        Despojos principescos: restos do príncipe.

·        Solenidades funerárias: cerimônias de enterro.

02 – Releia. “Odedirã um dia ganhou um pintinho de um vizinho. Ele o criou até que se tornasse uma galinha.”. Os pronomes ele e o retomam palavras já usadas no trecho. Identifique-as.

      Ele retoma “Odedirã” e o retoma “pintinho”.

03 – Responda às seguintes questões sobre as personagens do texto.

a)   Quem são o protagonista e o antagonista do texto?

O escravo é o protagonista, e o senhor, o antagonista.

b)   Qual trecho do texto mostra o obstáculo a ser enfrentado pelo protagonista?

“[...] que vivia perseguido pelo seu senhor”.

c)   Quais atitudes do antagonista atrapalham o protagonista?

O senhor matou os animais e roubou o dinheiro do escravo.

d)   Em sua opinião, por que o homem teve essas atitudes?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Por ser senhor de Odedirã, ele não considerava os sentimentos deste e não queria vê-lo prosperar.

04 – Qual era a reação de Odedirã ao saber das maldades de seu senhor?

      Odedirã se entristecia, mas não reagia.

05 – Leia novamente.

        “Um dia, voltando da roça, encontrou o seu senhor muito bem-vestido.

        Ele comprara ricas roupas, sapatos finos e belas joias.

        O escravo percebeu com que dinheiro tudo havia sido comprado [...]”.

a)   A palavra destacada substitui quais outras palavras no trecho lido? Copie-as.

“ricas roupas, sapatos finos e belas joias”.

b)   Explique a que conclusão Odedirã chegou ao encontrar seu senhor muito bem vestido.

Odedirã concluiu que seu senhor, com o dinheiro que havia roubado dele, comprou roupas, sapatos finos e joias.

c)   O que você acha da atitude do homem com o escravo? Converse com os colegas a respeito disso.

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Era uma atitude inadequada e que é necessário haver uma conduta ética e humanitária nas relações entre as pessoas.

06 – Releia.

        “[...] Uma grande desgraça se abaterá sobre o reino. O príncipe herdeiro havia morrido e, se isso não bastasse, mercenários sem escrúpulos tinham roubado o esqueleto do príncipe morto.”

a)   A palavra destacada refere-se a dois acontecimentos. Indique-os.

O príncipe morreu e Mercenários roubaram seu esqueleto.

b)   No texto, foram usadas três outras palavras para indicar o esqueleto do príncipe. Quais foram?

Ossos, despojos e restos.

07 – As frases a seguir resumem os acontecimentos finais da história. Numere-as, ordenando-os corretamente.

(2) Os ossos foram enterrados na capital do reino.

(4) O rei libertou o escravo Odedirã, adotou-o como filho e o declarou seu príncipe herdeiro.

(1) O rei ficou muito grato pela recuperação do esqueleto do filho.

(5) Odedirã deu um pouco de dinheiro ao seu antigo senhor para que ele voltasse para casa.

(3) Odedirã e seu senhor foram levados aos funerais como convidados especiais.

domingo, 29 de maio de 2022

MITO: ORIXANLÁ CRIA A TERRA - REGINALDO PRANDI - COM GABARITO

 Mito: Orixanlá cria a Terra.

    No começo, o mundo era todo pantanoso e cheio d’água, um lugar inóspito, sem nenhuma serventia.

        Acima dele havia o Céu, onde viviam Olorum e todos os orixás, que ás vezes desciam para brincar nos pântanos insalubres.

        Desciam por meio de teias de aranha penduradas no vazio. Ainda não havia terra firme, nem o homem existia.

        Um dia Olorum chamou à sua presença Orixanlá, o Grande Orixá. Disse-lhe que queria criar terra firme lá embaixo e pediu-lhe que realizasse tal tarefa.

        Para a missão, deu-lhe uma concha marinha com terra, uma pomba e uma galinha com pés de cinco dedos.

        Orixanlá desceu ao pântano e depositou a terra da concha. Sobre a terra pôs a pomba e a galinha e ambas começaram a ciscar. Foram assim espalhando a terra que viera na concha até que terra firme se formou por toda parte.

        Orixanlá voltou a Olorum e relatou-lhe o sucedido. Olorum enviou um camaleão para inspecionar a obra de Oxalá e ele não pôde andar sobre o solo que ainda não era firme. O camaleão voltou dizendo que a Terra era ampla, mas ainda não suficientemente seca.

        Numa segunda viagem o camaleão trouxe a notícia de que a terra era ampla e suficientemente sólida, podendo-se agora viver em sua superfície. O lugar mais tarde foi chamado de Ifé, que quer dizer ampla morada.

        Depois Olorum mandou Orixanlá de volta à terra para plantar árvores e dar alimentos e riquezas ao homem. E veio a chuva para regar as árvores.

        Foi assim que tudo começou. Foi ali, em Ifé, durante uma semana de quatro dias, que Orixanlá criou o mundo e tudo o que existe nele.  

Reginaldo Prandi. Mitologia dos Orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p. 5502-3.

         Fonte: Língua Portuguesa – Caminhar e transformar – Aos finais do ensino fundamental – 1ª edição – São Paulo – FTD, 2013. p. 59-61.

Entendendo o mito:

01 – Quem são os personagens do mito Orixanlá cria a Terra?

      Os orixás – Olorum e Orixanlá – e o camaleão.

02 – O mito lido explica a criação da Terra.

a)   Quem criou a Terra, segundo o mito?

Os deuses Olorum e Orixanlá.

b)   Como a Terra foi criada?

Com a terra de uma concha, uma galinha e uma pomba. As aves ciscaram e espalharam a terra.

03 – Olorum enviou o camaleão à Terra duas vezes.

a)   Como estava a Terra na primeira visita do camaleão?

A Terra estava ampla, mas ainda não estava firme.

b)   Como ela estava na segunda visita?

A Terra continuava ampla, mas agora bem firme.

04 – Releia um trecho do mito e observe os substantivos sublinhados e as palavras antes deles.

        “[...] Olorum enviou um camaleão para inspecionar a obra de Oxalá e ele não pôde andar sobre o solo que ainda não era firme. O camaleão voltou dizendo que a Terra era ampla, mas ainda não suficientemente seca.” Que palavras aparecem antes dos substantivos sublinhados?

      Um, a, o.

MITO: O DIA EM QUE O ARCO-ÍRIS ESTANCOU A CHUVA - REGINALDO PRANDI - COM GABARITO

 Mito: O DIA EM QUE O ARCO-ÍRIS ESTANCOU A CHUVA

            Quando havia escravidão em nosso país, milhares de africanos que pertenciam aos povos iorubás foram caçados e trazidos ao Brasil para trabalhar como escravos.

        Assim como outros africanos aqui escravizados, os iorubás, que também são chamados nagôs, trouxeram seus costumes, suas tradições, seus deuses, os orixás. E, até hoje, muitas dessas tradições dos antigos nagôs estão vivas, tanto no Brasil como na própria África. Fazem parte delas as histórias de Ifá.

        Ifá, o Adivinho, aquele que conhece todas as histórias já acontecidas e as que ainda vão acontecer, conta que na antiga África negra, em tempos imemoriais, vivia a mais velha das mulheres, a mais antiga de todas.

        Ela era tão arcaica que até ajudou Oxalá a criar a humanidade, emprestando-lhe a lama do fundo do lago onde ela vive para que ele moldasse o primeiro ser humano.

        Apesar de velha, era mulher bela e formosa, era uma deusa, e Nanã era seu nome. Teve dois filhos, um muito bonito, o outro feio.
O filho feio é conhecido pelo nome de Omulu, o outro, o belo, nós o chamamos de Oxumarê.

        O príncipe Oxumarê usava roupas vistosas tingidas de todas as cores, que realçavam ainda mais sua beleza e o faziam invejado por todos. Aonde quer que fosse, era sempre admirado por sua formosura e pelo luxo de seus trajes. Esse gosto pelas roupas alegres herdara do pai, conhecido como o homem da capa multicolorida.

        Contam muitas histórias sobre Oxumarê e dizem que ele costuma aparecer ora na forma de uma cobra, ora como o próprio arco-íris enfeitando o céu.

        Pois bem, dizem que houve um tempo em que a Terra foi quase destruída pela Chuva. Chovia o tempo todo, o solo ficou todo encharcado, os rios pularam fora de seus leitos, de tanta água. As plantas e os animais morriam afogados, a umidade e o mofo se alastravam por todos os lugares, a doença e a morte prosperavam.

        A chuva é benfazeja, mas não pode durar para sempre, sabia muito bem Oxumarê. Então, o jovem filho de Nanã, que nunca tinha tido simpatia pela Chuva, apontou seu punhal de bronze para o alto
e com ele fez um grande corte em arco no céu, ferindo a Chuva e interrompendo sua ação.

        A Chuva parou de cair e alagar tudo aqui embaixo, e o Sol pôde brilhar de novo, refazendo a vida. Desde então, quando chove em demasia, Oxumarê risca o céu com seu punhal de bronze
para estancar as águas que caem das alturas. Quando isso acontece, todos podem ver o belo príncipe no céu vestido com suas roupas multicoloridas. Todos podem vê-lo na forma do arco-íris.
Na língua africana de Oxumarê, aliás, seu nome quer dizer exatamente isso: o Arco-Íris. Quando não está chovendo, 
Oxumarê vive na Terra.

        Muitos dizem que Oxumarê foi posto no firmamento
por sua própria mãe Nanã, a Sábia, para que, de lá do alto, todos pudessem admirar sua beleza.

        Dizem também que foi por causa de sua formosura que Oxumarê acabou transformado numa cobra. Tudo porque Xangô, o Trovão, rei da cidade de Oió, encantou-se com as cores do Arco-Íris.

        Para poder admirar Oxumarê quando bem quisesse, Xangô planejou aprisioná-lo para sempre.

        O rei Trovão chamou Oxumarê em seu palácio e, quando o jovem príncipe entrou na sala do trono, os soldados do rei fecharam todas as portas e janelas. O príncipe das cores não podia fugir de Xangô, estava encurralado, preso, impedido de subir ao firmamento.

        Oxumarê ficou desesperado. Quem estancaria a Chuva, se ele permanecesse preso? Quem salvaria a humanidade da fúria das águas? Quem impediria as enchentes, as enxurradas destruidoras, as avalanches de terra encharcada? Quem frearia a destruição das colheitas por excesso de água? Quem livraria o homem da fome, da morte?

        Oxumarê, o Arco-Íris, implorou a Olorum. Olorum, o Senhor Supremo, ouviu o prisioneiro e, com pena dele, transformou-o numa cobra. A cobra então deslizou pelo chão da sala do palácio e, com facilidade, escapou pela fresta sob a porta. Ficou livre para sempre.

        Por isso Oxumarê vive no firmamento e vive no solo. Vive no Céu e na Terra. Ele é ambíguo, é misterioso. Temos medo quando o vemos rastejar pelo chão feito um réptil asqueroso, e nos encantamos com suas cores luxuosas esparramadas em arco no horizonte. Ele é o príncipe-serpente, a cobra que rasga o céu. É o Senhor do Arco-Íris.

            Reginaldo Prandi. OXUMARÊ, O ARCO-IRIS. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2004. p. 9-11.

      Fonte: Língua Portuguesa – Caminhar e transformar – Aos finais do ensino fundamental – 1ª edição – São Paulo – FTD, 2013. p. 55-9.

Entendendo o mito:

01 – No início do texto menciona-se Ifá, o Advinho. Quem é Ifá e o que ele faz?

        Ifá é um contador de histórias e é ele que narra o mito de Oxumarê.

02 – Releia este trecho.

        “Ifá, o Adivinho, aquele que conhece todas as histórias já acontecidas e as que ainda vão acontecer, conta que na antiga África negra, em tempos imemoriais, vivia a mais velha das mulheres, a mais antiga de todas.

        Ela era tão arcaica que até ajudou Oxalá a criar a humanidade, emprestando-lhe a lama do fundo do lago onde ela vive para que ele moldasse o primeiro ser humano.”.

a)   Que informações são dadas nesse trecho sobre o tempo em que se passa a história?

Em tempos imemoriais.

b)   É possível determinar o tempo em que o mito acontece? Por quê?

Não. Porque são tempos imemoriais, muito antigos.

c)   Que informações demonstram o quanto a deusa Nanã era velha?

Era a mais antiga de todas as mulheres e ajudou Oxalá a criar a humanidade.

d)   Que outro deus é mencionado no trecho?

Oxalá, o criador da humanidade.

03 – Quais são as características de Oxumarê invejadas pelos outros?

      Ele é bonito e se veste com roupas ricas e coloridas.

04 – Sobre os personagens, assinale as alternativas corretas.

(X) Todos os personagens são deuses.

(   ) Oxumarê é humano e os outros são deuses.

(X) Existe um senhor supremo, Olorum.

(X) Nanã é a mulher mais velha de todas e também uma deusa.

05 – Sublinhe no mito o trecho que mostra os problemas que a chuva estava provocando.

      “[...] Chovia o tempo todo, o solo ficou todo encharcado, os rios pularam fora de seus leitos, de tanta água. As plantas e os animais morriam afogados, a umidade e o mofo se alastravam por todos os lugares, a doença e a morte prosperavam.”

06 – Como Oxumarê estancou a Chuva?

      Cortando o céu com seu punhal e transformando-se em arco-íris.

07 – Pode-se afirmar que Oxumarê foi um herói? Por quê?

      Sim, já que seu ato trouxe benefícios ao povo.

08 – O mito que você leu explica que fenômeno da natureza?

      O surgimento do arco-íris.

09 – Por que Xangô prendeu Oxumarê?

      Porque queria poder admirar sua beleza a qualquer tempo.

10 – Como Oxumarê se livrou da prisão?

      Ele foi transformado em cobra por Olorum e conseguiu escapar por uma fresta.

11 – Se Oxumarê continuasse prisioneiro, o que aconteceria?

      A chuva não pararia e provocaria inúmeras tragédias.

 

 

domingo, 22 de maio de 2022

LENDA: AS ESTRELAS NOS OLHOS DOS MENINOS - REGINALDO PRANDI - COM GABARITO

 Lenda: AS ESTRELAS NOS OLHOS DOS MENINOS

           Reginaldo Prandi

        Naquele tempo, a noite era completamente escura, nenhuma estrela brilhava no firmamento, não havia estrelas.

        Na aldeia indígena, fogueiras eram acesas logo que escurecia, e as famílias se reuniam em torno delas para se esquentar do frio da noite, comer e descansar.

        As mulheres assavam pedaços de pirarucus e tucunarés pescados no dia e cozinhavam nas cinzas ovos de tartaruga que recolhiam dos ninhos na areia das margens dos rios. Os homens falavam da guerra e contavam vantagem. No entorno da aldeia era a escuridão e o mistério. O que vinha de lá era o pio da coruja, o miado da onça, o canto do Jurutaí.

        [...]

        Numa noite, quando foram preparar as comidas, as mulheres descobriram que os ovos de tartaruga que tinham colhido haviam desaparecido...

        Noutra noite, a história se repetiu: os ovos tinham sido roubados.

        Algumas noites depois o roubo aconteceu de novo, e as mulheres resolveram tirar a limpo esses sumiços estranhos.
Escondidas atrás de uns arbustos, elas observaram os meninos roubarem os ovos e saírem sorrateiramente para o mato. Foram no encalço deles e viram quando se enfiaram na floresta e, numa clareira, prepararam o fogo para assar os ovos roubados. Eles queriam come-los sem ter que dividir com os outros.

        As mulheres começaram a gritar, e os meninos, surpreendidos, correram. As mulheres correram atrás. Proferiram ameaças e prometeram castigos severos.

        Para escapar das punições, os meninos pediram ao beija-flor que amarrasse um cipó no céu. O beija-flor atendeu ao pedido, e eles começaram a subir. Já estavam bem no alto quando as mulheres chegaram ao local da fuga para o firmamento. Elas não tiveram dúvidas: subiram atrás deles.

        Para não serem alcançados pelas mulheres, os meninos cortaram o cipó logo abaixo deles, e as mulheres se precipitaram lá de cima. No chão, antes de se esborracharem, foram transformadas em animais da floresta. Os meninos, por sua vez, ficaram presos no céu sem ter como descer.

        Desde então, eles olharam a terra lá do céu. No escuro da noite, brilham para sempre os olhos arregalados dos meninos. Foi assim que a noite acabou se enchendo de estrelas. São os olhos dos meninos.

                          Reginaldo Prandi. Ilustração de Pedro Rafael. Contos e lendas da Amazônia. São Paulo: Companhia das letras, 2011.

        Fonte: livro – Língua portuguesa – Buriti mais português – 4° ano – ensino fundamental – Anos iniciais – 1ª edição, São Paulo, 2017. Moderna. p. 62-6.

Entendendo a lenda:

01 – Substitua a palavra destacada por outra, sem mudar o sentido da frase. Nenhuma estrela brilhava no firmamento.

      Nenhuma estrela brilhava no céu.

02 – Explique o significado do título “As estrelas nos olhos dos meninos”.

      Segundo o texto, as estrelas são os olhos arregalados dos meninos. Podemos vê-los quando olham a terra lá do céu, brilhando no escuro da noite.

03 – O que aconteceria com os meninos se as mulheres os alcançassem?

      As mulheres “Proferiam ameaças e prometiam castigos severos”, o que leva a crer que os meninos seriam punidos, caso elas os alcançassem.

04 – O que os meninos fizeram?

      Os meninos roubaram os ovos de tartaruga que as mulheres tinham colhido.

05 – Por que eles fizeram isso?

      Eles queriam comê-los sem ter que dividir com os outros.

06 – Você conhece outro mito (lenda) que explique o surgimento de um elemento da natureza?

      Resposta pessoal do aluno.

07 – Os Bororos explicam o surgimento das estrelas por meio de:

(   ) Conhecimentos científicos. (X) Crenças de seu povo.

08 – Numere os acontecimentos na sequência correta.

(6) Os meninos pediram ajuda ao beija-flor e subiram ao céu por um cipó.

(3) As mulheres viram os meninos roubarem os ovos.

(1) Numa noite, os ovos de tartaruga desapareceram.

(2) O roubo dos ovos continuou por mais noites.

(7) Os meninos cortaram o cipó e ficaram presos no céu sem ter como descer.

(4) As mulheres começaram a gritar e os meninos começaram a correr.

(5) As mulheres foram atrás deles.

09 – Releia.

        “[...] No entorno da aldeia era a escuridão e o mistério. O que vinha de lá era o pio da coruja, o miado da onça, o canto do Jurutaí.” Duas palavras, nesse trecho, justificam a criação do mito. Quais são elas?

      Escuridão e mistério.

10 – Leia esta frase observando as ações nela descritas.

        “Os meninos fugiram, subindo por um cipó em direção ao céu”.

a)   Qual é a causa dessas ações?

O roubo dos ovos de tartaruga.

b)   Qual é a consequência dessas ações?

Os meninos ficaram para sempre no céu e seus olhos viraram estrelas.

11 – No trecho abaixo, o que significa a expressão tirar a limpo? Marque a resposta correta.

        “Algumas noites depois o roubo aconteceu de novo, e as mulheres resolveram tirar a limpo esses sumiços estranhos.”

(X) Esclarecer.    (   ) Limpar.    (   ) Retirar.

12 – Circule a palavra que tem sentido semelhante ao da palavra destacada.

        (Escondidas) atrás de uns arbustos, elas observaram os meninos roubarem os ovos e saírem sorrateiramente para o mato.” Por que as personagens agiram assim?

      Os meninos, porque faziam algo errado; As mães, para se certificarem do que os meninos faziam.

13 – Releia estes trechos.

·        Numa noite [...], as mulheres descobriram que os ovos de tartaruga que tinham colhido haviam desaparecido.

·        Noutra noite, a história se repetiu.

·        Algumas noites depois o roubo acontece de novo.

Que informação as expressões em destaque dão ao leitor?

      As expressões indicam a sequência temporal (noite após noite) em que os acontecimentos ocorreram.

 

 

 

 

 

 

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

CONTO: O BAILE DO CAIXEIRO VIAJANTE - REGINALDO PRANDI - COM GABARITO

 CONTO: O BAILE DO CAIXEIRO VIAJANTE

                Reginaldo Prandi

  Sábado é dia de baile, tanto na roça quanto na cidade.

  Numa cidade pequena do interior o baile é sempre um grande acontecimento. Melhor situação para namorar e para arranjar namorado não tem.

          O sábado é um dia muito propício para o nascimento de grandes amores. Pois foi num baile de sábado que o moço de fora apaixonou-se por uma donzela da terra. Foi mais ou menos assim que aconteceu.

          Leôncio, sim, era esse o seu nome. Conheço bem sua incrível história de amor.

          Leôncio era um caixeiro-viajante da capital e vinha à cidade uma vez por mês prover de mercadorias as vendas do lugar. Ia e voltava no mesmo dia, mas houve algum problema com sua condução e daquela vez ele teve que dormir na cidade.

         Cidade pequena, sem muitos atrativos, o que se poderia fazer à noite para distração?

         Era dia de baile na cidade, um sábado especial, e uma orquestra de fora tinha sido contratada.

         O moço do hotel que servia o jantar comentou:

         — Seu Leôncio, este baile o senhor não pode perder.

          E não podia mesmo, mal sabia ele.

          Leôncio mandou passar o terno e foi ao baile.

          Gostava de dançar, sabia até dar uns bons passos, mas era tímido, relutava em tirar as moças.

          Passou boa parte do tempo de pé, apreciando, bebericando um vermute só para ter o que fazer com as mãos.

          Por volta de meia-noite sentiu que chegava o sono e pensou em se retirar. Foi quando viu Marina entrar no salão. Ficou sabendo depois que seu nome era Marina.

          Marina chegou só e, ao entrar, passou junto a Leôncio. Bem perto dele ela parou e se virou para trás.

         — Oh! Deixei cair minha chave no chão.

          Ela falava consigo mesma, distraída que estava, mas para Leôncio, que tudo ouviu atentamente, suas palavras funcionaram como uma deixa. Ele se abaixou rapidamente, pegou a chave do chão e a estendeu à sua dona.

            Antes que ela dissesse qualquer coisa ele falou:

          — Pode agradecer com uma contradança, senhorita.

          — Marina, meu nome é Marina. Sim, vamos dançar.

          Dançaram aquela contradança e mais outra e outras mais. Dançaram o resto da noite, até o baile terminar.

          Parecia que os dois eram velhos parceiros de dança, tão leves e tão graciosos eram seus passos.

          Leôncio se sentia completamente enlevado, como se o encontro com a bela dançarina fosse um presente enviado pelo céu. Presente que ele nem merecia, chegou a pensar. Agradeceu à providência ter permanecido na cidade. Já nem queria ir embora no dia seguinte.

           Em nenhum momento Marina fez menção de o deixar para encontrar amigos ou conhecidos no salão. Ele tinha a sensação de que ela fora ao baile só por ele, de que era com ele que queria dançar a noite toda.

            Não teria namorado, noivo, marido?

            Muitas paixões chegam enquanto se dança.

            Leôncio apaixonou-se por Marina ao dançar com ela. Então, a orquestra tocou a música de encerramento e o baile acabou, já era alta madrugada. Leôncio insistiu em acompanhar a moça até sua casa. Ela aceitou a companhia, era perto, iriam a pé. Estava frio lá fora, uma fina garoa molhava as calçadas. Na portaria do clube Leôncio pegou a capa que tinha deixado ali guardada. Ele tinha uma capa da qual nunca se separava. Viaja a muitos lugares diferentes, enfrentando os climas mais imprevisíveis. A capa era sempre o abrigo garantido.

            Leôncio ofereceu a capa à companheira para que se protegesse do mau.

         — Para você não se resfriar, faz frio. Ela aceitou, vestiu o sobretudo e os dois foram andando pelas calçadas. Caminhavam de mãos dadas, como namorados, falavam pouco, só o essencial.

            Próximo à saída da cidade, a moça disse ao caixeiro-viajante:

        — Despedimo-nos aqui. E explicou por quê:

        — Não fica bem você ir comigo até onde moro.

       — Está bem, como quiser – ele consentiu. Começando a despir o sobretudo, ela disse:

       — Leve sua capa.

       — Não fique com ela. Está frio. E completou:

       — Depois você me devolve. Era difícil para Leôncio deixar a moça ir, mas havia a possibilidade do amanhã e do futuro todo. Ele propôs, com o coração na mão:

       — Amanhã, às oito da noite, em frente à matriz?

       Ela assentiu e o beijou.

      A garoa fria tinha se transformado em densa neblina, mal se vislumbrava a luz dos postes de iluminação.

       O silêncio reinava soberano.

       Um cão uivou ao longe.

       Leôncio viu Marina desaparecer na bruma da madrugada.      Com as mãos nos bolsos e o corpo retesado pela friagem, o caixeiro retornou ao hotel.

        O dia seguinte foi de grande ansiedade, mas inicialmente a noite chegou para Leôncio. Muito antes da hora marcada lá estava ele em frente à igreja esperando por Marina. Só quando o relógio da matriz bateu doze badaladas Leôncio aceitou com tristeza que ela não viria mais. Temeu que alguma coisa grave tivesse acontecido. Tinha certeza de que ela gostara dele tanto quanto ele gostara dela.

         Alguma coisa grave teria acontecido.

         Ele ia descobrir.

         Era tarde e só restava ir dormir, mas na manhã seguinte, mal se levantou, já foi perguntando pela moça. Na rua, no largo da matriz, em todo lugar, interrogava sobre a moça e nada.

         Estranhamente ninguém sabia dizer quem era ela. Numa cidade pequena todo mundo se conhece, todos sabem da vida de todos, todos se controlam, vigiam-se uns aos outros. A fofoca é cultivada como se fosse uma obrigação, como se representasse um dever cívico.

          Uma linda moça da cidade vai ao baile desacompanhada, dança a noite toda com um desconhecido e ninguém sabe quem ela é?

          Ele continuou perguntando por sua dançarina. Foi aos armazéns e lojas que tinha como clientes, descrevia a moça, dizia seu nome e ninguém sabia dizer quem era a donzela.

        — Aquela com quem dancei ontem a noite toda.

         Ninguém tinha visto.

         Desanimado, voltou para sua hospedagem.

        Então um velho se apresentou, era um empregado do hotel, empregado que Leôncio nunca tinha visto, nem nessa nem em outras estadas na cidade. Era alto, magro e de uma palidez desconcertante.

          O velho empregado do hotel lhe disse:

           — Moço, conheci uma tal Marina igualzinha à sua.

          E completou, baixando a voz respeitosamente:

          — Mas ela está morta, morreu há muito tempo.

         Disse que a moça pereceu num desastre de carro, quando estava fugindo para se casar com um caixeiro-viajante, casamento que a família dela não queria, de jeito nenhum.

          Leôncio ficou chocado com a história, que absurdo! Imaginar que se tratava da mesma pessoa!

           — Nem pensar. Eu a tive nos braços a noite toda! Mas o velho funcionário insistiu:

           — No túmulo dela tem a fotografia, quer ver?

        — Não pode ser, é um disparate, mas quero ver. O velho não se fez de rogado. Em poucos minutos estavam os dois subindo a ladeira que levava ao afastado cemitério da cidade. Com a cabeça girando, cheio de dúvidas e incertezas, Leôncio se perguntava:

         — O que é que eu estou fazendo aqui? Chegaram ao portão do campo-santo e o velho disse a Leôncio que entrasse sozinho. Não gostava de cemitérios, desculpou-se. Explicou como chegar ao túmulo da moça, despediu-se com uma reverência e foi embora.

          Não foi difícil para o caixeiro-viajante encontrar a campa que seu acompanhante descreveu com precisão. A tardinha se fora, escurecia, a noite já caía sobre o cemitério. A neblina voltava a descer e esfriara um pouco.

          Leôncio sentia frio, tremia, mas podia enxergar perfeitamente. Estava de pé diante da tumba. E o retrato da defunta que ali jazia era mesmo o dela. “Aqui descansa em paz Marina, filha querida”, era o que dizia a inscrição em letras de bronze, havia muito tempo enegrecidas, fixadas sobre o mármore gasto da lápide mortuária.

           O olhar aturdido de Leôncio desviou-se do retrato, não queria ver mais o rosto amado aprisionado na pedra pela morte.

           Triste desdita a do viajante, havia mais coisa para ver ali. Uma tragédia nunca se completa sem antes multiplicar o desespero. O olhar de Leôncio subiu em direção à parte alta do sepulcro.

          Na cabeceira do jazigo estava uma peça que lhe era bastante familiar.

          Sentiu um calafrio lhe percorrer a espinha, tinha as pernas bambas, o coração disparado.

          Aproximou-se mais do túmulo para ver melhor.

          Estendida sobre a sepultura, à sua espera, repousava sua inseparável capa.

Entendendo o texto

01.Quais são os personagens principais do texto?

          Leôncio e Marina.

02.Quais os outros personagens que aparecem na história?

O moço do hotel que servia o jantar e um velho que era empregado do hotel.

4) Qual o local onde se passa a história?

     Numa cidade pequena do interior.

5) Em qual espaço acontece o fato mais importante da história?

     Em um baile.

6) Em que tempo acontece este conto?

     a) Em alguns dias.

     b) Apenas numa noite.

     c) Apenas numa madrugada.

Justifique sua resposta copiando o trecho do conto.

    Era dia de baile na cidade, um sábado especial.

7) Por que o texto recebeu este título? Copie do texto um trecho que justifique sua resposta.

    Porque o caixeiro viajante foi a um baile. “Leôncio mandou passar o terno e foi ao baile.”

8) Este conto pode ser classificado em:

a) Conto fantástico.

b) Conto de terror.

c) Conto de mistério.

9) Em qual parte do texto tem o início do conflito no conto? Conflito é a parte que indica algo a ser resolvido. Indique quando ele surge e copie-o.

O conflito surge quando a Marina não comparece ao encontro com o caixeiro.

        “O dia seguinte foi de grande ansiedade, mas inicialmente a noite chegou para Leôncio. Muito antes da hora marcada lá estava ele em frente à igreja esperando por Marina. Só quando o relógio da matriz bateu doze badaladas Leôncio aceitou com tristeza que ela não viria mais.”

O conflito surge quando a Marina não comparece ao encontro com o caixeiro.

  10) Em qual parte do texto temos o clímax? O clímax é a parte mais intensa do conto. Escreva com suas palavras esta parte do texto.

Resposta pessoal.

11) Qual é o desfecho do conto? Desfecho é o final da história. Explique com as suas palavras.

Resposta pessoal.

Fonte: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/gestar/tpportugues/tp4.pdf. Acesso em 27/08/19