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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

CRÔNICA: NÃO DÊ COMIDA AOS ANIMAIS - GISELDA LAPORTA NICOLELIS - COM GABARITO

 Crônica: Não dê comida aos animais

               Giselda Laporta Nicolelis

    Adílson chegou ao zoológico, feliz da vida. Era uma linda tarde de sol e ele economizara a semana toda para ver os animais. Deixara até de andar de ônibus e fora a pé para a escola! Agora, com certeza, ia se divertir pra valer.

        O zoo estava cheio de gente. Famílias inteiras sentadas nos bancos ou passeando pelas alamedas, num clima de muita festa.

        Animado, jogou o resto das pipocas dentro da jaula do leão, que olhou com indiferença para as pipocas e com arrogância para o menino.

        Foi então que viu, lá embaixo, no fundo de um fosso, uns animais engraçados que pareciam lontras, com caudas grandes e achatadas. Eram seis, semienrolados uns nos outros, no seu habitat predileto: água!

        Curioso, leu a tabuleta:

        ARIRANHAS: carnívoros da família dos mustelídeos (Pterunura brasiliensis). Habitam os grandes rios do Brasil.

        NOME VULGAR: “onça-d’água”.

        Na sua frente, uma grade alta separava os visitantes dos animais. Por que seria? Uns bichinhos tão inofensivos tomando sol... Por certo só comiam peixes.

        Será que também gostavam de pipoca? Pena que tivesse gasto todo o saquinho com o leão lá da jaula. Dariam uns belos animais de estimação!

        E uma ideia se formava na sua cabeça... Por que não pular a grade (nem era tão alta assim pra um garoto como ele, acostumado a ser goleiro nas peladas do campinho) e ir lá embaixo, ver se elas eram mesmo tão pacatas quanto pareciam aqui de longe? Deviam ter umas pernas tão curtas e ser tão molengas que jamais alcançariam um moleque na corrida, mas nunca!...

        Olhou à sua volta: ninguém por perto. É a tua chance, Adílson! Sem pensar duas vezes, saltou rapidamente a grade e começou a descer o paredão que dava para o fosso. As ariranhas nem se mexeram, continuavam dormindo tranquilas.

        Ralou os joelhos na descida, nem ligou. Estava emocionante demais. Quando contasse pros colegas, eles nem iam acreditar! Um bando de frouxos... nunca que iam ter a coragem dele!

        Quando estava quase lá embaixo, uma das ariranhas o farejou e ergueu a cabeça. Mas logo mais dormia, aparentemente indiferente.

        Foi andando em direção aos bichos... bem de fininho. Eles continuavam dormindo... ou pareciam... Entrou pela água do fosso e foi chegando perto, determinado a encostar a mão naqueles dorsos peludos que brilhavam ao sol...

        A ariranha maior tornou a farejá-lo, erguendo novamente a cabeça. Só que dessa vez não voltou a dormir. Encarou-o. E ele sentiu a fúria no olhar do animal, mistura de medo e raiva ao mesmo tempo. Como num passe de mágica, a ariranha firmou o longo pescoço de lontra e emitiu um rugido que soou como alerta para as demais, que se desenrolaram uma das outras e puseram-se, num átimo, em posição de sentido! Ele agora tinha pela frente as ariranhas prontas para o ataque. Por trás, o paredão do fosso que o levaria à segurança e à liberdade...

        Um grito soou lá de cima, uma voz de mulher, apavorada:

        -- Deus, tem um menino no fosso, façam alguma coisa!

        Recobrando o próprio domínio sobre o espanto e o medo, o garoto tentou correr. Virou-se e preparou os músculos para escalar de uma só vez o paredão salvador. Mas as ariranhas foram mais rápidas. Certeiras, atiraram-se contra o menino, que tentava escapar. Adílson ainda gritou, transido de pavor:

        -- Socorro!

        João, que passeava com a família no zoo, abriu caminho:

        -- Sou policial, deixem-me passar!

        -- O menino caiu no fosso! – gritou a mulher, desesperada. – Ariranhas estão comendo ele vivo!

        João debruçou-se sobre a grade, um arrepio pelo corpo. O menino tinha o rosto virado para cima, pedindo socorro, enquanto tentava se livrar dos bichos... Era um garoto moreno, de olhos angustiados, que se debatia entre a vida e a morte... E alguma coisa precisava ser feita, urgentemente... Olhou ao seu redor.

        Os outros não faziam nada, impotentes.

        Chamar a segurança do zoo, quanto tempo levaria?... Minutos preciosos que poderiam significar a vida para o garoto lá embaixo... Poderia ser seu filho numa situação dessas... Todos olhando e ninguém fazendo nada!...

        Ainda ouviu o grito de sua mulher quando pulou a grade e começou a descer o paredão:

        -- Não, não vá!...

        Ele já descia, agarrando-se às pedras e a uma pequena árvore fincada ali quase por acaso. O garoto gritava, desesperado, ambos os braços nas bocas das ariranhas. João gritou:

        -- Aguente firme, estou indo! Vou te salvar, aguente firme!

        A mulher e os filhos, estáticos de pavor, olhavam tudo lá de cima do paredão.

        Os demais o animavam.

        -- Depressa, moço! Mais depressa, o garoto não aguenta mais!

        Num último arranco deu conta do paredão. Atirou-se na água. As ariranhas viraram-se para encarar o novo inimigo, largando o menino por instantes.

        Foi sua chance. Agarrou o garoto e correu com ele para o paredão, gritando:

        -- Suba rápido, o mais rápido que você puder!

        O garoto tentou escalar o paredão, escorado em João. Caiu, rolou por terra.

        João ergueu-o, sacudiu-o:

        -- É nossa única chance! Vamos, temos de subir!

        Um homem pulou a grade do fosso, amparou-se na pequena árvore e gritou para João, lá embaixo:

        -- Dá aqui o garoto que eu puxo ele!

        João ergueu o garoto e, num supremo esforço, colocou-o sobre os ombros, enquanto o outro se esforçava para agarrar as mãos de Adílson.

        Começou a puxá-lo para cima e, quando o garoto finalmente firmou as pernas no paredão, João, com um suspiro de alívio, preparou-se para subir. Foi então que sentiu os focinhos molhados e as patas pegajosas nas suas costas, e uma força brutal arrastando-o pelas pedras, enquanto a mulher gritava desesperada:  

        -- Façam alguma coisa, elas pegaram meu marido!...

        -- Vou chamar ajuda – disse alguém e saiu correndo da multidão.

        A mulher continuo gritando:

        Façam alguma coisa, alguém atire nelas, peço amor de Deus! Elas estão matando o meu marido!

        Lá embaixo, João ainda resistia... Desarmado, seu corpo sob as ariranhas que, enfim, davam vazão a toda sua fúria. João lutou, gritou, se debateu e, finalmente, não reagiu mais.

NICOLELIS, Giselda Laporta. Histórias verdadeiras. São Paulo: Scipione, 1994, p. 27-32.

                     Fonte: Língua Portuguesa – Coleção Mais Cores – 5° ano – 1ª ed. Curitiba 2012 – Ed. Positivo p. 117-122.

Entendendo a crônica:

01 – Ao ler o texto, você percebeu, nas informações apresentadas na tabuleta, que os animais possuem nomes científicos (que é o seu registro na literatura científica) e vulgares (modo popular pelo qual são conhecidos).

·        Família a que pertencem: família dos mustelídeos.

·        Nome científico: Pterunura brasilienses.

·        Nome vulgar: Onça-d’água.

02 – Escolha três animais de sua preferência e pesquise as informações a seguir.

·        Família a que pertencem: Resposta pessoal do aluno.

·        Nome científico: Resposta pessoal do aluno.

·        Nome vulgar: Resposta pessoal do aluno.

03 – Discuta com seus colegas e professor as questões a seguir.

·        O que levou o policial a tentar salvar o menino? Em sua opinião, esse herói agiu de modo correto ao arriscar sua própria vida? Por quê?

Resposta pessoal do aluno.

·        Você conhece alguém que já colocou sua vida em risco para tentar socorrer alguém? Conte como isso aconteceu.

Resposta pessoal do aluno.

04 – Em todos os zoológicos, existem tabuletas afixadas, solicitando aos visitantes que não deem comida aos animais. Em sua opinião, por que há pessoas que não respeitam essa solicitação?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Por falta de instrução ou porque é um pessoa que não gosta de respeitar as regras.

05 – Agora, imagine que o diretor do zoológico precisa escrever nas tabuletas frases que levem os visitantes a perceber o perigo que os animais enjaulados apresentam. Ajude-o, elaborando três frases. Lembre-se de que você deve dar conselhos, como este: “Não dê comida aos animais”.

        Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Não suba nas grades é perigoso; Não encoste nas grades, pode ser arriscado; Não tire fotos com flash, eles podem assustar; etc.

06 – O policial dessa história arriscou a própria vida para salvar a de um menino. Como ele, muitos outros profissionais arriscam-se diariamente para manter a segurança e a tranquilidade das pessoas. Em equipe, indiquem outros profissionais que arriscam sua vida em benefício das pessoas.

      Resposta pessoal do aluno.

 

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

CONTO: ESPERANÇA(FRAGMENTO)-GISELDA LAPORTA NICOLELIS - COM GABARITO

Conto: Esperança (fragmento)
                            Giselda Laporta Nicolelis

        -- Criança? – Marcelo deu um salto e saiu correndo pra atender o telefone.
        -- É o Marcelo?
        -- Sou sim. Como é seu nome? Você quer o Buscapé?
        -- Espere um pouco. Eu me chamo Wanderlei mas quem vai falar com você é o Claudinei, o meu irmão.
        -- Oi, Marcelo.
        -- Oi, Claudinei. Quantos anos você tem?
        -- Treze.
        -- Ah, que bom! Você quer o Buscapé?
        -- Quero – disse o menino. – Eu preciso muito de um cachorro. Quando a minha mãe leu a notícia pra mim no jornal eu pensei: “Agora eu resolvo tudo”.
        -- Resolve o quê? Por que você não leu sozinho?
        -- Sabe, eu sou cego. Preciso de um cão guia. Mas sou pobre, não posso comprar um cachorro de raça. Será que o Buscapé consegue fazer isso?
        -- É muito difícil? – quis saber o Marcelo.
        -- Não é fácil, não. O cão precisa parar antes de atravessar a rua, antes de um buraco, qualquer coisa perigosa. Andar sempre na minha frente para me avisar. Com ele eu podia sair sozinho, ser livre.
        -- E se eu treinasse o Buscapé pra você? – ofereceu o Marcelo, num impulso. – Sabe, ele só obedece a mim, quando obedece. Nós tínhamos que nos encontrar pra ele ir acostumando com você.
        -- Puxa, ia ser bom! – animou-se o Claudinei. – Por que você não vem até a minha casa? Pra você é mais fácil.
        -- Dê seu endereço e telefone – pediu o menino.
        -- Telefone eu não tenho. Estou falando do orelhão da esquina. Tome nota do endereço.
        -- Clau, Claudinei, amanhã sem falta eu vou aí na sua casa.
        [...]
        Tocaram a campainha da casa e veio atender um menino mais ou menos do tamanho do Marcelo, moreno de cabelos crespos.
        -- Por favor, o Claudinei está?
        -- Sou eu.
        -- Eu sou o Marcelo.
        -- Oi, Marcelo – o menino sorriu –, você trouxe o Buscapé?
        -- Trouxe sim e a dona Fátima, minha professora, veio junto.
        -- Como vai, Claudinei? – perguntou a professora.
        -- Muito bem, e a senhora? Vamos entrar?
        Na sala, o Buscapé se enfiou embaixo da cadeira do Marcelo.
        -- Se você não tivesse contado eu nem ia perceber que você não enxergava – disse o Marcelo.
        -- Ah, por aqui eu ando muito bem. Mas meu sonho é sair por aí, em liberdade, atravessar avenidas, levar uma vida normal, entende? Mamãe é medrosa, com o Buscapé aposto que ela deixa eu ir.
        -- Você vai à escola? – quis saber dona Fátima.
        -- Vou, claro, só que os meus livros são todos em braile. Eu estou na quinta série e vou ser advogado.
        -- Braile? – estranhou o Marcelo. – Que é isso?
        -- É uma escrita especial para ser lida com os dedos – explicou a professora. – Você encontra facilmente os livros, Claudinei?
        -- Que nada, às vezes, é difícil, não existem. O meu irmão então copia os livros em braile pra mim. Ele está na mesma classe.
        -- Na mesma classe?
        -- Ele é mais novo dois anos, eu estou um pouco atrasado. Nós conseguimos uma licença especial para ficar na mesma classe para ele me ajudar nas provas. Eu faço as provas em braile e ele passa para a linguagem comum.
        -- Puxa, ele tem de ser honesto pra burro, hein? – falou o Marcelo. – É difícil aprender braile?
        -- Um pouco. Mas foi o único jeito de eu poder frequentar a escola.
        -- Muito bem pensado – aplaudiu a professora. – Tenho certeza que você e o Buscapé serão grandes amigos. Afinal vocês precisam um do outro.
        -- Tomara. Vamos treinar ele, Marcelo?
        -- Mãos à obra. A senhora espera, dona Fátima?
        -- Mamãe saiu mas já volta – avisou o Claudinei.
        -- Não se preocupem comigo. Vão treinar e boa sorte.
        [...]
        Mas tarde na hora da saída, foi aquele rebuliço.
        -- Segura o Buscapé – gritou o Marcelo para o Claudinei.
        -- Tô segurando – falou o menino, usando todas as suas forças para conter o cachorro que esperneava.
        -- Depressa, Marcelo – pediu o Claudinei, abrindo só um pouco o portão para a professora e o menino passarem.
        Nessa altura, o Buscapé deu um arranco e livrou-se do Vanderlei. Mas fecharam o portão bem no focinho dele. Mesmo assim ficou latindo e uivando, como um condenado, até o carro sumir de vista.

   NICOLELIS, Giselda Laporta. Um dono para Buscapé.
São Paulo, Moderna, 1983. p. 21-7.
Entendendo o conto:
01 – Pelo texto dá para perceber algumas funções de um cão guia. Quais são elas?
      Ele precisa parar antes de atravessar a rua, antes de um buraco, ficar atento a coisas perigosas.

02 – O que Marcelo propôs ao Claudinei?
      Treinar o cão Buscapé para guia-lo.

03 – Que tipo de cão normalmente é utilizado nessas tarefas?
      Cão de raça.

04 – Como é Claudinei fisicamente?
      Moreno de cabelos crespos.

05 – Qual é o sonho de Claudinei? O que ele quer ser?
      Seu sonho é andar livremente. Quando crescer quer ser advogado.

06 – Por que foi difícil encontrar uma escola que aceitasse o Claudinei?
      Porque geralmente as escolas convencionais não possuem uma infraestrutura adequada ao ensino de deficientes físicos.

07 – Como reagiu o Buscapé na saída de Marcelo? Por que ele reagiu assim?
      Ficou latindo e uivando, porque não queria se separar de Marcelo.