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sexta-feira, 27 de maio de 2022

AUTOBIOGRAFIA: BARTOLOMEU C.QUEIROZ E CAROLINA M. DE JESUS - COM GABARITO

 Autobiografia: Bartolomeu C. Queiroz e Carolina M. de Jesus

Texto 1

     Bartolomeu C. Queiroz

        ... das saudade que não tenho

        Nasci com 57 anos. Meu pai me legou seus 34, vividos com duvidosos amores, desejos escondidos. Minha mãe me destinou ser 23, marcados com traições e perdas. Assim, somados, o que herdei foi a capacidade de associar amor ao sofrimento... Morava numa cidade pequena do interior de Minas, enfeitada de rezas, procissões, novenas e pecados. Cidade com sabor de laranja-serra-d’água, onde minha solidão já pressentida era tomada pelo vigário, professora, padrinho, beata, como exemplo de perfeição.

        [...]

Bartolomeu Campos Queiroz. In: Fanny Abramovich (Org.). O mito da infância feliz. São Paulo: Summus, 1983. p. 27.

Texto 2

        Carolina Maria de Jesus

        Carolina Maria de Jesus morava em uma favela e escreveu um livro de muito sucesso na década de 1960, Quarto de despejo.

       Carolina Maria de Jesus foi uma figura ímpar. Viveu sozinha, com três filhos – um de cada pai – em uma favela na cidade de São Paulo, desde 1947. Descendente de africanos, nasceu em 1914, em Sacramento, um vilarejo rural no Estado de Minas Gerais, e foi à escola apenas até o segundo ano primário. Trabalhou na roça com a mãe, desde muito cedo. Depois, ambas foram empregadas domésticas. Já em São Paulo, na favela do Canindé, como catadora de papel e mãe de três filhos, escrevia folhas e folhas de histórias reais e imaginadas. Um dia, um jovem jornalista teve acesso a estes escritos e conseguiu ajudá-la a publicar seu Quarto de despejo, em 1960. O sucesso foi imediato. Vendeu o equivalente, naquele ano, a Jorge Amado. Seu livro foi publicado em 13 línguas, em mais de 40 países.

        [...]

José Carlos Sebe Bom Meihy e Robert M. Lvine. Cinderela negra: A saga de Carolina Maria de Jesus. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1994. p. 17.

Fonte: Língua Portuguesa – Caminhar e transformar – Aos finais do ensino fundamental – 1ª edição – São Paulo – FTD, 2013. p. 44-46.

Entendendo a autobiografia:

01 – Em qual dos textos:

a)   Autor e biografado são as mesmas pessoas?

Texto 1.

b)   O autor é diferente do biografado?

Texto 2.

02 Assinale com A as palavras que indicam que o autor é o biografado e com B as que indicam que o autor não é o biografado.

(B) Trabalhou.

(A) Meu.

(A) Nasci.

(B) Seu.

(B) Nasceu.

(A) Herdei.

03 – Releia o texto 1 e responda.

a)   De que período da vida o autor relata fatos?

Da infância.

b)   Como foi para ele esse período de sua vida? Selecione um trecho que comprove sua resposta.

Foi um tempo de infelicidade: “[...] o que herdei foi a capacidade de associar amor ao sofrimento...” / “[...] minha solidão já pressentida [...]”.

04 – Releia o texto 2 e numere as informações na ordem em que aparecem.

(6) Publicou o livro Quarto de despejo.

(2) Carolina de Jesus estudou até o segundo ano.

(4) Morava na favela do Canindé, catava papel e escrevia suas histórias.

(1) Nasceu em Sacramento, Minas Gerais, em 1914.

(5) Um jovem jornalista teve acesso aos seus escritos.

(3) Trabalhou na roça e foi empregada doméstica.

 

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

CONTO: LER, ESCREVER E FAZER CONTA DE CABEÇA - BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIRÓS - COM GABARITO

       LER, ESCREVER E FAZER CONTA DE CABEÇA
  
    “A professora gostava de vestido branco, como os anjos de maio. Carregava sempre um lenço dobrado dentro do livro de chamada ou preso no cinto, para limpar as mãos, depois de escrever no quadro-negro. Paninho bordado com flores, pássaros, borboletas. Ela passava o exercício e, de mesa em mesa, ia corrigindo. Um cheiro de limpeza coloria o ar quando ela passava. Sua letra, como era bem desenhada, amarradinha uma na outra!
         (...)
         Ninguém tinha maior paciência, melhor sabedoria, mais encanto. E todos gostavam de aprender primeiro, para fazê-la feliz. Eu, como já sabia ler um pouco, fingia não saber e aprendia outra vez. Na hora da chamada, o silêncio ficava mais vazio e o coração quase parado, esperando a vez de responder “presente”. Cada um se levantava, em ordem alfabética e, com voz alta, clara, vaidosa, marcava sua presença e recebia uma bolinha azul na frente do nome. Ela chamava o nome por completo, com o pedaço da mãe e o pedaço do pai. Queria ter mais nome, pra ela me chamar por mais tempo.
        O giz, em sua mão, mais parecia um pedaço de varinha mágica de fada, explicando os mistérios. E, se economizava o quadro, para caber todo o ponto, nós também aproveitávamos bem as margens do caderno, escrevendo nas beiradinhas das folhas. Não acertando os deveres, Dona Maria elogiava a letra, o raciocínio, o capricho, o aproveitamento do caderno. A gente era educado para saber ser com orgulho. Assim, a nota baixa não trazia tanta tristeza.
         (...)
         Nas aulas de poesia, Dona Maria caprichava. Abria o caderno, e não só lia os poemas, mas escrevia fundo em nossos pensamentos as ideias mais eternas. Ninguém suspirava, com medo da poesia ir embora: Olavo Bilac, Gabriela Mistral, Alvarenga Peixoto e “Toc, toc, tamanquinhos”. Outras vezes declamava poemas de um poeta chamado Anônimo. Ele escrevia sobre tudo, mas a professora não falava de onde vinha nem onde tinha nascido.
        E a poesia ficava mais indecifrável.

QUEIRÓS, Bartolomeu Campos de.  Ler, escrever e fazer conta de cabeça.
São Paulo: Global, 2004. pp. 34-35.

1.   Pelo texto é possível inferir que o narrador:
a)  (  ) Se interessava mais pela professora, seu modo de se vestir e escrever no quadro, do que pela aula em si.
b)  (X) Tinha uma profunda admiração pela professora e se esforçava em aprender, também, para agradá-la.
c)  (  ) Não se interessava pelas aulas que não fossem de poesia.
d)  (  ) Era o melhor aluno da classe.

2.   Assinale o trecho em que o autor usa o recurso da comparação para descrever poeticamente a forma como ele via o gosto da professora se vestir:
a)  (  ) Carregava sempre um lenço dobrado dentro do livro de chamada ou preso no cinto, para limpar as mãos, depois de escrever no quadro-negro.
b)  (  ) Paninho bordado com flores, pássaros, borboletas.
c)  (X) A professora gostava de vestido branco, como os anjos de maio.
d)  (  ) O giz, em sua mão, mais parecia um pedaço de varinha mágica de fada, explicando os mistérios.

3.   Assinale o trecho em que está expressa uma relação de finalidade:
a)  (X) E todos gostavam de aprender primeiro, para fazê-la feliz.
b)  (  ) Ninguém tinha maior paciência, melhor sabedoria, mais encanto.
c)  (  ) O giz, em sua mão, mais parecia um pedaço de varinha mágica de fada, explicando os mistérios.
d)  (  ) Ela chamava o nome por completo, com o pedaço da mãe e o pedaço do pai.

4. A conjunção adversativa mas comumente indica ideias opostas. No trecho a seguir, no entanto, seu uso, associado à expressão “não só” sugere outra ideia, que não é a de oposição. Assinale a alternativa que expressa a ideia sugerida no seguinte trecho:
      “Abria o caderno, e não só lia os poemas, mas escrevia fundo em nossos pensamentos as ideias mais eternas.”
a) ( ) Concessão.  b)(X) Adição.     c)(  ) Oposição. d) (  ) Comparação.

5.   Por meio do trecho “E a poesia ficava mais indecifrável.”, é possível inferir:
a)  (  ) Para o narrador, o nome do autor dos poemas é fundamental para compreendê-las.
b)  (   ) A professora lia poesias muito difíceis para seus alunos.
c)  (X) O fato de ser indecifrável, para o narrador, é inerente à poesia e, como o “autor chamado Anônimo” tratava de temas diversos e não era possível saber sua origem, essas poesias eram ainda mais indecifráveis.
d)  (  ) Ele não gostava das poesias do “Anônimo”, porque não as conseguia compreender.

6. No trecho “A gente era educado para saber ser com orgulho. Assim, a nota baixa não trazia tanta tristeza.”, o termo em destaque pode ser substituído, sem alterar o sentido, por:
a) (  ) Entretanto. 
b) ( X ) Desse modo. 
c) (   )  Mas. 
d) (  )  Ainda que.

7. A ideia de proporção sugerida pelo trecho: “E, se economizava o quadro, para caber todo o ponto, nós também aproveitávamos bem as margens do caderno, escrevendo nas beiradinhas das folhas.” significa que:
a) (X) À medida que a professora economizava espaço para escrever no quadro, os alunos economizavam espaço em seus cadernos.
b) (   ) A condição para que os alunos escrevessem menos era a de que a professora diminuísse o tamanho de sua letra no quadro.
c) (   ) Os alunos escreviam fora das margens para economizar o caderno porque a professora pedia, escrevendo sem deixar espaços no quadro.
d) (  ) Os alunos não deviam escrever nas “beiradinhas das folhas”, mas como a professora não fazia margens no quadro, eles não respeitavam as do caderno.


quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

TEXTO: LOUVOR DA MANHÃ - BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIRÓS- COM GABARITO

Texto: Louvor da manhã

   [...] Era silencioso o amor. Podia-se adivinhá-lo no cuidado da mãe enxaguando as roupas nas águas de anil. Era silencioso, mas via-se o amor entre seus dedos cortando a couve, desfolhando repolhos, cristalizando figos, bordando flores de canela sobre o arroz –doce nas tigelas.
        Lia-se o amor no corpo forte do pai, em seu prazer pelo trabalho, com sua mansidão para com os longos domingos. Era silencioso, mas escutava-se o amor murmurando – noite adentro – no quarto do casal. A casa, sem forro, deixava vazar esse murmúrio com o aroma de fumo e canela, que invadia lençóis e dúvidas, para depois filtrar-se por entre telhas.
    Experimentava-se o amor quando, assentados ao calor da cozinha, pai e mãe falavam de distâncias, dos avós, das origens, dos namoros, dos casamentos.
        E, quando o sono chegava, para cada menino em cada tempo, era o amor que carregava cada filho nos braços para a cama, ajeitando o cobertor debaixo do queixo.
        [...] Em tardes de domingo, sempre muito longas e vestidas de sossego, a mãe se fazia criança para os filhos. 
        Ao pé da escada, junto da porta da cozinha, estava o tanque.
        De cimento cinza, ele guardava a água fria que despencava do morro, escorregando dentro dos bambus – veias cristalinas. A umidade favorecia viver e crescer ali, musgos verdes, tapetes por onde pequenas formigas passavam, arrastando montes de folhas. Mesmo o olhar se sentia acariciado por veludo assim tão fino.
        Com anilinas para doces a mãe coloria as águas no tanque, uma cor de cada vez, e mergulhava as alvas galinhas legornes em banho colorido: azul, verde, amarelo, vermelho, roxo. Em pouco tempo o quintal, como por milagre, era pátio e castelo, povoado de aves – legornes agora raras – desenhadas em livro de fadas. Ficava tudo encantamento. Não havia livro, mesmo aqueles vindos de muito longe, com história mais bonita do que as que a mãe sabia fazer. Não era difícil para Antônio imaginar-se príncipe e filho de mágicos. 
        Quando o dia ameaçava esconder o sol, entre seios e montanhas, aquele inofensivo bando, filho do arco-íris que morava na cabeça da mãe, se empoleirava nos galhos até não poder mais, com seus antigos moradores vestindo roupa nova de festa, feita pela mãe; pensava na árvore de Natal que não tardaria a brotar no canto da sala, com sombra protegendo presentes.
        No outro dia, o barulho do milho na cuia trazia para junto dos meninos um arco-íris faminto e já meio desbotado pela noite e seu sereno. Mas ficava a certeza de que a mãe, em qualquer momento, brincaria de outra coisa. 

                                                        Bartolomeu Campos de Queirós

Entendendo o Texto:

01 – Segundo o texto, o amor era silencioso na casa de Antônio. O que significa isso?
      O amor não era expresso em palavras, não era declarado, percebe-se sua presença pelos gestos e pelas atitudes da mãe e do pai.

02 – Em que momento ocorria a manifestação silenciosa do amor?
      Nas atividades comuns do cotidiano: nos instantes de lazer da família, na bate-papo na cozinha da casa ou a noite, na hora de dormir.

03 – Na casa de Antônio, pais e filhos mantinham-se unidos, cultivando um profundo amor. Como os pais buscam manter os laços familiares que julgavam tão importantes?
      Falando das pessoas importantes da vida deles já falecidas, da história da família para manter viva o passado e realizando com satisfação as tarefas de casa.

04 – “Não havia livro, mesmo aqueles vindos de muito longe, com história mais bonita do que as que a mãe sabia fazer". Qual é a diferença entre contar uma história e fazer uma história?
      Contar uma história é narrar somente, enquanto que fazer uma história é dá vida aos personagens para que se torne algo concreto.

05 – O que significa a expressão 'filho do arco-íris que morava na cabeça da mãe”?
      Era o bando de pintinhos/galinhas que a mãe pintava porque sua imaginação achava que era um arco-íris.

06 – No texto, quais elementos permitem identificar o lugar em que Antônio vive como uma região rural?
      O cheiro do fumo, a água não encanada, galinhas, montanhas, etc.

07 – Esse texto mostra que a mãe dava afeto aos filhos e também participava da vida deles, inventando brincadeiras. De que forma ela tornava concretas as histórias que imaginava?

      Ela usava as galinhas e transformava o quintal em um livro.