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sábado, 29 de novembro de 2025

CONTO: PASSEIO - JOÃO ANZANELLO CARRASCOZA - COM GABARITO

 Conto: Passeio

           João Anzanello Carrascoza

        Aconteceu que o pai, à mesa de jantar, disse de repente: Sábado vamos lá. A menina, mais rápida que o irmão, perguntou, Lá onde, pai?, e ele, Não posso falar, é surpresa, e o garoto, Fala, pai, aonde a gente vai?, e ele, já vendo a felicidade futura dos filhos, sorriu, enigmático, Sábado, à tarde!, e continuou a comer, como se nada tivesse acontecido – o mundo de sempre funcionando. Aquela era só a notícia, a hora de vivê-la seria adiante; a mãe, mesmo sem saber qual o plano do marido, disse, em seu auxílio, A semana passa depressa!, e, com efeito, já estavam em sua metade.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgm7mTCVDhlhxQStD9joZxFfmLQ5xgCtQmwzsUByvs4Num6YyM7Fb6IW-I2LeqdNddDMp7BfxrCyAov2-umnM3VX-aTRsdh6Vd-oNP3OjbzcCfmVPY_ImNe1Yo2aQXPjwJBHNCjz6qFSFaFuU4frUh_LC8BUM4rCoUMby2E6vY6aiFi4LP0F6F0oSh7N5k/s320/playcenter-4.jpeg


         Mas os filhos queriam tudo imediato da vida e ficaram atiçados, aquele “láˮ tinha sido vento em brasa, eles ardiam de curiosidade, o garoto mais, por ser menor; a menina, no seu canto, esperta, pensando, pensando, Vou descobrir! Fosse a praça, redonda, onde alugavam bicicleta e faziam piquenique; ou o parque, grande, de tanto verde, que não entrava de uma só vez em seus olhos; já estariam contentes. Mas lá, lá onde seria?

        Não podiam se conter, os dois estavam além dessa noite. E era hora de dormir. Como manter a calma com aquela alegria, ainda sem forma, lá na frente? Sonhavam sem sono em suas camas. Reviravam-se, igual, nas dobras do lençol e da imaginação.

        Sorriam no escuro, só sentindo essa dúvida boa, onde?, onde?. O pai era mesmo de revelar aos poucos, para que vissem tudo, devagar, na sua inteireza. O cansaço, contudo, pedia-lhes mais corpo. E ganhou. O garoto foi o primeiro a dormir: arquitetava desejos e fatos, mesclando-os quando, de súbito, já ressonava alto; a respiração forte, no sonho certamente ele corria, era a sede dos dias seguintes. A menina, em seguida: nos lábios, o som silente de umas palavras adivinhas: shopping, karaokê, Playcenter. O que seria? O passeio, misterioso! Mas como são grossas as camadas da certeza, a menina não podia penetrá-las e ficou só na sua superfície, inventando lugares menores, se comparados à realidade. Bocejou uma vez. Duas. Dormiu.

        E, de súbito, já era o dia seguinte.

        E depois a noite desse dia.

        E logo outro dia.

        E a sua noite correspondente.

        No meio dessas horas todas, entre sol e sono, os dois irmãos reouviam, na memória, o anúncio do pai, Sábado vamos lá, e experimentavam a mesma feliz aflição, de saber já o quê e o quando, mas não o onde ainda encoberto. E como o eco retornava, também se reesqueciam, tinham as suas urgências. Mas aí, de repente, relembravam. O garoto rodeava o pai, Aonde a gente vai?, a menina jogava verde com a mãe, Na quermesse?, insistiam, insistiam, e nada. Melhor era viver sem expectativas a chegada do sábado.

        E esperaram assim, sem perceber, cuidando do que era próprio de sua idade ‒ os deveres da escola, o direito às brincadeiras. E o sábado chegou.

        Dia claro, o sol abriu cedo a manhã. Ninguém se lembrava do passeio, mas o passeio estava lá nas suas profundezas. Bastava atirar a primeira palavra para acordá-lo, e foi o pai — só podia ser ele — quem o fez no café da manhã, dizendo: Vamos sair às três!

        E aí o sorriso de um canto a outro da mesa, a curiosidade vívida das crianças, o mistério, enfim, com a sua hora do parto marcada.

        Ainda havia uma chance de descobrir, e o garoto não a deixou passar, Posso levar skate? O pai, Melhor não. A resposta já reduzia as opções, não era campo, praça, parque. A menina perguntou, Posso levar um gibi? O pai, Lá você não vai querer ler, e completou, só se for no caminho. E antes que replicassem, ele completou, é meio longe, vamos de ônibus! A mãe observava os filhos, também ignorava qual o programa, e achou prudente perguntar, Preparo uns lanches?, ao que o marido respondeu, Não, não precisa, a gente come lá!

        O mistério prosseguia. O pai com o novelo da surpresa só para ele. Então, cada um foi gastar com alguma coisa a leveza de seu sábado: o garoto com o cachorro no quintal, a menina com seus CDs, a mãe com as providências para o almoço. Assim, o devagar das horas passou depressa enquanto eles ocupavam as mãos e, sobretudo, a mente.

        E pronto: já era o tempo de ir.

        A mãe queria tirar umas dúvidas: Com que roupa? O marido, à porta do quarto, Confortável, e ela, Vestido ou calça jeans?, e ele, Vestido, e ela, Bolsa grande ou pequena?, e ele, Pequena, e ela, com um fiozinho de impaciência, Mas, afinal, aonde vamos?, e ele, Mais uns minutos e você saberá.

        Deu a hora combinada.

        Lá foi a família. O pai à frente, rebocando a mulher e os filhos até o ponto de ônibus. Esperaram em pé, o orgulho no olhar. Passou um, passou outro. Era o terceiro. O pai viu, É aquele, e acenou, vamos, vamos! O ônibus encostou e abriu a porta: entraram, rápidos, e se sentaram ao fundo. A realidade junto, generosa naquele instante, passeio iniciado. Os dois irmãos continuavam sem saber onde era lá, mas já provavam uma alegria modesta. E trataram de engordá-la: uma freada do ônibus os atirou um sobre o outro, e eis que riram, gargalharam. A mãe de olho, Cuidado, segurem firme!, o pai feliz também, era isso o que desejava, os filhos daquele jeito, o bom da diversão era ela toda ‒ o caminho.

        Primeiro, da janela, viram o bairro de sempre, Olha, olha, o supermercado, a igreja, a escola: tudo há muito conhecido, embora fosse um ver novo, com o contentamento. Depois, o ônibus os levou pela primeira vez a umas ruas nervosas, edifícios velhos dos dois lados, até desembocar numa praça cercada de árvores. Aí foram dar numa avenida de tráfego veloz, depois passaram por uns bairros bonitos; parecia outra cidade: casarões imponentes, alamedas, jardins. E essa outra cidade os via dentro do ônibus, à espera do que vinha. O garoto provocava a menina para aumentar a graça da viagem; o pai e a mãe sorrindo-se e, de repente, de mãos dadas, o vento suave nos cabelos.

        Então, uma sombra enorme cobriu a avenida por onde o ônibus seguia e, depois de sumir, deixou-a como antes. Logo à frente, puderam ver no céu o que era — Nossa! —, um avião. Rasante, planava quase a tocar os prédios: o ventre bojudo de metal, as asas estalando ao sol, o som trovejando atrás feito um rabicho. Admiradas, as crianças esticaram os olhos para ver no seu rever o avião, imenso, sumindo sobre os edifícios, era lá o seu pouso. Até então tinham visto os aviões só pequenos, no muito alto do céu, entre nuvens, sem os detalhes de agora e — descobriam, naquele momento — que eram, em verdade, sempre grandes. Tão despropositada era essa visão, que cutucaram o pai e a mãe perguntando o óbvio, se também tinham visto, como se o avião fosse um passarinho e só o olhar atento, de criança, pudesse percebê-lo na paisagem.

        O ônibus fez urna curva, pegou urna rua lateral e eis um novo redemoinho de excitação: no horizonte, vindo da esquerda, outro avião sobrevoava baixinho os edifícios e seguia rugindo para a mesma direção. O pai disse, É no próximo ponto!, e se levantou com a mãe. Os filhos o imitaram com atraso, flertando ainda o avião em seus pormenores, o bico, as asas…

        Saltaram do ônibus no meio de uma longa avenida. Atravessaram-na por uma passarela e, já do outro lado, caminharam algum tempo. Antes que o pai dissesse, os irmãos já sabiam. Era lá, o pleno passeio. O coração deles estremecia, com os primeiros encantos… Dali, podiam avistar a entrada principal do aeroporto, a torre de controle, um trecho da pista onde um avião taxiava lentamente, sem que soubessem se era sua partida ou chegada. Também não importava: só queriam vê-lo, com os olhos da certeza, aquele era o instante, sem o antes e o depois, o imediato real ‒ o avião, sólido, movia-se, mais e mais, fora da neblina do sonho. A família, igualmente, seguia devagarinho pela calçada, rumo ao seu destino.

        O pai, no comando, conduziu-os à área de desembarque. Gente e mais gente afluía de várias direções, com bolsas a tiracolo, mochila às costas, malas sobre carrinhos. O frenesi excitava e entontecia. A mãe se pôs entre os filhos, dando-lhes as mãos para que não se perdessem entre as pessoas. Chegaram a uma porta de vidro, que se abriu, automaticamente. Entraram. O pai, Vamos, é lá em cima, e seguiu para a escada rolante, margeando os guichês das companhias aéreas.

        Subiram, a curiosidade acelerada. Um andar mais calmo, e também eles num novo estado, acima. Ali, o mirante. Uma aglomeração de pessoas em frente à imensa janela panorâmica. Todas para ver além do vão do seu dia. Os irmãos achataram o nariz no vidro, como se quisessem transpô-lo. Latejava nos dois a felicidade, e era muita: até incômoda. Assistiam àquele trecho do mundo, inteiros, que tudo o mais era de força menor. O quadro se fazia e se refazia, móvel: dezenas de jatos estacionados com as portas abertas; ao redor, um ir e vir de tratores e ônibus, o sol atrás dos prédios, e, tocando a pista, agora pousava um avião, Olha lá, olha lá! Chegava, enfim, a hora máxima.

CARRASCOZA, João Anzanello. Passeio. Aquela água toda. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2018. p. 66-74.

Fonte: Set Brasil. Ensino Fundamental, anos finais, 7º ano, livro 2. Thaís Ginícolo Cabral – São Paulo: Moderna, 2019. p. 13-15.

Entendendo o conto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

-- Frenesi: atividade, agitação interna.

-- Playcenter: nome de um parque de diversão que funcionou na cidade de São Paulo, de 1973 a 2012.

-- Silente: silencioso.

02 – Qual é a surpresa que o pai anuncia à família à mesa de jantar?

      O pai anuncia que no sábado eles iriam "lá", um lugar misterioso que ele não revela para manter a surpresa e atiçar a curiosidade dos filhos.

03 – Por que o mistério sobre o lugar do passeio desperta tanta curiosidade e aflição nas crianças?

      O mistério causa uma "feliz aflição" nas crianças porque elas sabiam o quê (o passeio) e o quando (sábado à tarde), mas não o onde, o que as faz sonhar acordadas e tentar, sem sucesso, adivinhar o destino.

04 – Que lugares a menina chega a imaginar que poderiam ser o destino do passeio?

      A menina chega a cogitar que o passeio poderia ser no shopping, no karaokê ou no Playcenter.

05 – Quais foram as dicas dadas pelo pai que ajudaram as crianças e a mãe a reduzir as opções do destino, pouco antes de saírem?

      O pai deu as seguintes dicas: Não era bom levar skate (eliminando campo, praça, parque). Não seria um lugar onde se gostaria de ler (gibi), exceto no caminho. Era meio longe, e eles iriam de ônibus. Não precisava preparar lanches, pois eles comeriam lá.

06 – Qual é o meio de transporte utilizado pela família para ir ao local misterioso?

      A família se dirige ao local de destino de ônibus.

07 – Durante a viagem de ônibus, o que acontece que aumenta a alegria e a diversão das crianças?

      Uma freada do ônibus atirou os dois irmãos um sobre o outro, o que os fez rir e gargalhar, percebendo que "o bom da diversão era ela toda ‒ o caminho".

08 – O que a família vê pela primeira vez de uma forma grandiosa e detalhada, o que os leva a questionar os pais?

      Eles veem um avião em voo rasante, com "o ventre bojudo de metal, as asas estalando ao sol", o que os faz descobrir que os aviões eram, na verdade, sempre grandes e não apenas pequenos pontos no céu como viam antes.

09 – Ao saltarem do ônibus e caminharem pela passarela, as crianças conseguem, finalmente, identificar qual é o destino. Que lugar é esse?

      O destino do passeio é o aeroporto.

10 – Qual é a primeira coisa que as crianças veem no aeroporto que lhes traz o "imediato real"?

      Eles avistam a entrada principal do aeroporto, a torre de controle e "um trecho da pista onde um avião taxiava lentamente".

11 – Onde o pai conduz a família para que todos possam assistir plenamente ao movimento do aeroporto e de seus aviões?

      O pai os conduz ao mirante, no andar de cima, em frente à imensa janela panorâmica, onde podiam ver a pista, os jatos estacionados e o pouso de um avião.

 

 

domingo, 30 de junho de 2024

CONTO: DEPRESSA - JOÃO ANZANELLO CARRASCOZA - COM GABARITO

 Conto: Depressa

            João Anzanello Carrascoza

        Eu ia correndo à vida. Aos sete, a gente é assim. Pula de um doce pra um brinquedo. De um brinquedo pra uma tristeza. Tudo rápido, no demorado da infância. O pai chegava, Olha o que eu trouxe pra você!, e abria a mão: um punhado de balas Chita! O mundo, então, era aquele sabor em minha boca, eu concentrado em mastigar, querendo outra, e mais outra, satisfeito de estar ali, fiel ao meu instante. [...]

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiiFfCR1VSfBaMFJsh_Tqa1RNVNJjVB-JpVMk1j2EcKPWgoO2AL4nd7aB1vdCnw_Xduw0Zi9Kz5Z9iqvZ_i3vd17J63X3x74gmj28Yx7sqkl7f5iunSyzAqMe_OS9FJKt-_RcTDAoIAqmSQBN5DXKUY9Ds3s2CXxn4-cHIxluCKGWKD83z-uiVLQ40dmkU/s320/balas-chita-doce.png

        Assim era um dia, o outro também: eu despertava, me enfiava no uniforme e no menino que me cabia, o café da manhã vinha a mim, eu e meu irmão indo pra escola, o caminho um sobe e desce que andava em nós; na rua pensávamos no encontro com os amigos no portão; no portão já íamos rascunhando o que aprenderíamos na sala de aula; na sala de aula já recolhendo o tempo, como uma corda, pra trazer mais rápido o recreio – e nele viver pequenas alegrias. [...]

        Então, numa manhã, veio do Rio de Janeiro a tia Imaculada e com ela a prima Teresa, que eu não conhecia. Chegamos da escola, a tia na cozinha ajudava a mãe a fazer o almoço, Oi, oi, beijo em mim, beijo em meu irmão, ele já indo guardar a mochila, eu ali, e lá no quintal ela, Teresa, menina. Vi, feliz, a novidade, mas, em seguida, desvi.

        la pegar a direção do quarto, quando a tia disse, Vai falar com a sua prima, e a mãe, Deixa de ser bicho do mato, e aí eu fui, meio resignado, meio à vontade. A Teresa estava lá, calada, à sombra da mangueira. Tão calada que eu pensei, mesmo sem sermos íntimos, Ela tá triste. Eu nem sabia ler a tristeza nas pessoas. Eu ainda errava no meu olhar. Mas aí eu me acerquei, no máximo de meu quieto, como se dizendo, Oi, eu tô aqui. Ela mirava o chão, sincera com as formigas. Ergueu a cabeça. Sorriu. Na minha impaciência, eu ia correr com as palavras, oferecendo um assunto pra nós. Mas, estranhamente, senti uma calmaria, quase de sono. Olhei bem pra ela. Pra ver tudo, nos detalhes. A cor dos olhos, o nariz arrebitado, a boca bonita, os dentes brancos clarinhos, tudo o que, pra mim, era o jeito dela. E, foi aí, de repente, que eu perdi toda a pressa do mundo.

 CARRASCOZA, João Anzanello. Depressa. Em: Aos 7 e aos 40. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2016. p. 7-10. 

Entendendo o conto:

01 – Qual é a principal característica da infância retratada no início do conto?

      A principal característica da infância retratada é a rapidez e a constante mudança de interesses, pulando de uma atividade para outra, como de um doce para um brinquedo.

02 – Como o narrador descreve a rotina matinal dele e de seu irmão?

      O narrador descreve a rotina matinal dele e de seu irmão como algo repetitivo: acordar, vestir o uniforme, tomar café da manhã e ir para a escola, onde já pensam nos amigos e nas atividades do dia.

03 – Quem são as novas personagens introduzidas na história e qual é a reação inicial do narrador?

      As novas personagens introduzidas são a tia Imaculada e a prima Teresa. A reação inicial do narrador à chegada de Teresa é de curiosidade seguida por um desvio, indicando uma certa hesitação ou desconforto.

04 – Qual foi a reação da tia Imaculada e da mãe do narrador ao perceberem sua hesitação em falar com Teresa?

      A tia Imaculada e a mãe do narrador encorajaram-no a falar com Teresa, com a tia dizendo para ele ir falar com a prima e a mãe pedindo para ele deixar de ser "bicho do mato".

05 – Como o narrador descreve a prima Teresa quando ele finalmente se aproxima dela?

      O narrador descreve Teresa como uma menina calada, à sombra da mangueira, olhando para as formigas, com uma expressão que ele interpretou como tristeza, embora ele não soubesse ao certo como ler as emoções das pessoas.

06 – Qual mudança ocorre no narrador quando ele começa a observar Teresa de perto?

      Quando o narrador começa a observar Teresa de perto, ele sente uma calma inesperada, quase como se estivesse sonolento, e perde toda a pressa que normalmente sentia.

07 – Qual é o significado do título "Depressa" no contexto do conto?

      O título "Depressa" reflete a rapidez com que o narrador vivia sua infância, sempre apressado em suas atividades. No entanto, ao conhecer Teresa, ele experimenta um momento de calma e desaceleração, contrastando com sua pressa habitual.

 

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

CRÔNICA: UMA LIÇÃO INESPERADA - JOÃO ANZANELLO CARRASCOZA - COM GABARITO

 Crônica: Uma lição inesperada

                 João Anzanello Carrascoza

  No último dia de férias, Lilico nem dormiu direito. Não via a hora de voltar à escola e rever os amigos. Acordou feliz da vida, tomou o café da manhã às pressas, pegou sua mochila e foi ao encontro deles. Abraçou-os à entrada da escola, mostrou o relógio que ganhara de Natal, contou sobre sua viagem ao litoral. Depois ouviu as histórias dos amigos e divertiu-se com eles, o coração latejando de alegria.

      Aos poucos, foi matando a saudade das descobertas que fazia ali, das meninas ruidosas, do azul e branco dos uniformes, daquele burburinho à beira do portão. Sentia-se como um peixe de volta ao mar. Mas, quando o sino anunciou o início das aulas, Lilico descobriu que caíra numa classe onde não havia nenhum de seus amigos.

      Encontrou lá só gente estranha, que o observava dos pés à cabeça, em silêncio. Viu-se perdido e o sorriso que iluminava seu rosto se apagou. Antes de começar, a professora pediu que cada aluno se apresentasse. Aborrecido, Lilico estudava seus novos companheiros. Tinha um japonês de cabelos espetados com jeito de nerd. Uma garota de olhos azuis, vinda do Sul, pareceu-lhe fria e arrogante. Um menino alto, que quase bateu no teto quando se ergueu, dava toda a pinta de ser um bobo. E a menina que morava no sítio? A coitada comia palavras, olhava-os assustada, igual a um bicho-do-mato. O mulato, filho de pescador, falava arrastado, estalando a língua, com sotaque de malandro. E havia uns garotos com tatuagens umas meninas usando óculos de lentes grossas, todos esquisitos aos olhos de Lilico. A professora? Tão diferente das que ele conhecera... Logo que soou o sinal para o recreio, Lilico saiu a mil por hora, à procura de seus antigos colegas. 

      Surpreendeu-se ao vê-los em roda, animados, junto aos estudantes que haviam conhecido horas antes. De volta à sala de aula, a professora passou uma tarefa em grupo. Lilico caiu com o japonês, a menina gaúcha, o mulato e o grandalhão. Começaram a conversar cheios de cautela, mas paulatinamente foram se soltando, a ponto de, ao fim do exercício, parecer que se conheciam há anos. Lilico descobriu que o japonês não era nerd, não: era ótimo em Matemática, mas tinha dificuldade em Português. A gaúcha, que lhe parecera tão metida, era gentil e o mirava ternamente com seus lindos olhos azuis. O mulato era um caiçara responsável, ajudava o pai desde criança e prometeu ensinar a todos os segredos de uma boa pescaria. O grandalhão não tinha nada de bobo. Raciocinava rapidamente e, com aquele tamanho, seria legal jogar basquete no time dele.       

       Lilico descobriu mais. Inclusive que o haviam achado mal-humorado quando ele se apresentara, mas já não pensavam assim. Então, mirou a menina do sítio e pensou no quanto seria bom conhecê-la. Devia saber tudo de passarinhos. Sim, justamente porque eram diferentes havia encanto nas pessoas. Se ele descobrira aquilo no primeiro dia de aula, quantas descobertas não haveria de fazer no ano inteiro? E, como um lápis deslizando numa folha de papel, um sorriso se desenhou novamente no rosto de Lilico.

João Anzanello Carrascoza

(Nova Escola, dez 2000.)

Fonte: Livro- Ler, entender, criar – Língua Portuguesa – 6ª série – Ed.Ática,2003.p.179/180.

Entendendo a crônica

1)   A leitura do texto permite identificar a expectativa de um menino no seu retorno ao primeiro dia de aula.

A palavra que contradiz essa expectativa é

         A) tédio.

         B) ansiedade.

         C) excitação.

         D) euforia.

         E) alegria.

 

2)Tomando como base o texto “Uma lição inesperada”, considere as afirmativas abaixo:

 I - É uma narrativa que possui como protagonista um menino.

 II – É um texto essencialmente descritivo, como se pode comprovar na passagem “Aos poucos, foi matando a saudade das descobertas que fazia ali, das meninas ruidosas, do azul e branco dos uniformes...”

 III - Há predomínio de narrador personagem com características de onisciência.

 IV - As ações se desenvolvem num tempo cronológico e num espaço físico marcado por ambiente escolar e de relações interpessoais.

 Acerca das afirmações, observa-se que

A) apenas II é correta.

B) I, II e IV são corretas.

C) I e IV são corretas.

D) II e III são corretas.

E) todas as afirmativas são corretas.

 

3) A partir de uma leitura atenta do texto base, chega-se à conclusão de que há uma caracterização errônea das personagens em

A) o japonês - cabelos espetados com jeito de nerd.

B) a gaúcha - gentil e possuía lindos olhos azuis.

C) o mulato - um caiçara responsável.

D) o grandalhão – raciocínio rápido.

E) Lilico - mal humorado.

4) O narrador, ao descrever a menina que morava no sítio, além de utilizar a expressão “bicho do mato” diz que ela ‘comia palavras’. O objetivo pretendido pelo narrador, ao se utilizar desses recursos, foi de

A) mostrar a ignorância da menina.

B) demonstrar o medo sentido pela menina.

C) evidenciar o ambiente assustador da sala de aula.

D) enfatizar o comportamento dos colegas.

E) precisar o caráter tímido e calado da menina.

 

5) A opção que ilustra, adequadamente, o espaço físico em que se desenrola a narrativa é

A) “No último dia de férias...”

B) “De volta à sala de aula, a professora passou uma tarefa em grupo...”

C) “Acordou feliz da vida, tomou o café da manhã às pressas...”

D) “Então, mirou a menina do sítio e pensou no quanto seria bom conhecê-la”

E) “...quantas descobertas não haveria de fazer no ano inteiro?”

 

6) Em “Sentia-se como um peixe de volta ao mar.”, a comparação grifada tem o mesmo valor de

A) em casa.

B) fora de casa.

C) um peixe.

D) desorientado.

E) como o mar.

7) Ao expressar a ideia no período “Sim, justamente porque eram diferentes havia encanto nas pessoas.”, o narrador

A) demonstra sua aversão aos diferentes colegas de turma.

B) exulta as diferenças e sua aceitação no relacionamento com os colegas.

C) mostra que as diferenças eram um empecilho nas relações com os colegas.

D) mostra que o encanto dos colegas não está nas diferenças.

E) demonstra repúdio e asco contra os colegas.

 

8) No trecho: “Então, mirou a menina do sítio e pensou no quanto seria bom conhecê-la.”, os verbos destacados possuem correspondência semântica em

A) virou, memorizou.

B) refletiu, viu.

C) observou, refletiu.

D) virou, observou.

E) refletiu, memorizou.

9) Lilico descobriu que todos tinham características positivas e, portanto, cada um tinha uma contribuição importante no grupo.

A) O que menina que morava no sítio tinha a oferecer para a turma?

      Ensinar tudo sobre os passarinhos.

B) E o colega alto?

     Raciocinava rapidamente e, com aquele tamanho, seria legal jogar basquete no time dele.

C) E o mulato, filho de pescadores, o que poderia dar aos meninos da turma?

    Ensinar a todos os segredos de uma boa pescaria.

D) O que o surpreendeu na garota gaúcha?

      Que não era metida, e sim gentil e o mirava ternamente com seus lindos olhos.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

CONTO: MEDO - JOÃO ANZANELLO CARRASCOZA - COM GABARITO

 CONTO: MEDO

                   João Anzanello Carrascoza


   Era só um garoto. Com pai, mãe, irmão. Mas, quando deu os primeiros passos, apoiando-se nos móveis da casa, sentiu-se só no mundo. Precisava dos outros para ir além de si. E tinha medo. Nem muito nem pouco. Do seu tamanho. Como o uniforme escolar que vestia. No futuro seria um homem, o medo iria se encolher; ou ele, já grande, não se ajustaria mais à sua medida. Por ora, estava ali, naquela manhã fria, indo para a escola, o olhar em névoa, as mãos dentro do bolso da jaqueta. O que o salvava era a mochila presa às costas. O peso dos cadernos e dos livros o curvava, obrigando-o a erguer a cabeça, fazendo-o parecer até um pouco insolente. O que fazer com a sua condição? Apenas levá-la consigo! Andava às pressas, tentando se proteger do vento que, na direção contrária, enregelava seu rosto. Queria aprender urgentemente. Crescer o tornaria maior que o seu medo. E, sem que soubesse, a lição daquele dia o esperava no sorriso de Diego, aluno mais velho, que ele nem conhecia ainda – quase um homem, diriam os pais, a considerar a altura, a penugem do bigode, os braços rijos. Na ignorância das horas por vir – que desejava fossem, senão tranquilas, suportáveis –, o menino passou pelo portão em meio aos outros colegas – vindos também ali para mover a roda da fortuna, antes de serem moídos por ela –, e seguiu pelo pátio até a sua sala. A professora, mulher miúda, de fala doce, o perturbava. Já nas primeiras aulas, percebeu que ela não era só voz leve e olhar compreensivo. A sua paciência, como giz, vivia se quebrando. Por que ela agia daquela maneira? Não sabia. O menino com seu medo, o tempo todo. Na hora da chamada, erguia a mão e abaixava furtivamente a cabeça, como se a sua presença fosse um insulto. Se a professora fazia uma pergunta, antes de respondê-la, escutava a risada de um colega, o sussurro de outro, e então pressentia que iria falhar, o que de fato acontecia: ele, paralisado, sem resposta alguma, sob o olhar da classe inteira. Tropeçava no perigo que ele próprio, e não o mundo, deixava em seu caminho. Queria não ser daquele jeito. Mas era. Às vezes, entristecia-se até nas horas de alegria: quando jogava futebol com o irmão e perdia. Ou, quando, no parque de diversões, se negava a ir na montanha-russa, no chapéu mexicano. Era tudo o que sonhava. Experimentar aqueles abismos. Mas não conseguia. Vai, filho!, a mãe o incentivava. Eu vou com você, o pai prometia. Fitava o irmão que subia no brinquedo, acenava lá de cima, gritava e se divertia, enquanto ele se segurava firme no seu medo, inteiramente fiel. Se vivia inquieto na sala de aula pela certeza de se ver, de repente, numa situação que o intimidaria, às vezes se esquecia de seu desconforto, encantado com o universo que a professora lhe abria, as letras do alfabeto, os desenhos na lousa, um trecho de música que ela cantava, uma graça que fazia. E aí ele ria, ria com sinceridade, e, subitamente, se reencontrava, menino-menino. No intervalo, aquela calma provisória, quando o pátio se inundava de alunos. Na multidão, ninguém o notava, nada tinha a recear, era a sua hora macia. E assim foi até aquela manhã. Pegava seu sanduíche, quando percebeu que um garoto, o maior de todos, se acercava. Espantou- -se, ao dar a primeira mordida no pão e ver o outro à sua frente – tão desproporcional se comparado aos demais alunos – o corpo comprido, a voz firme, Eu sou o Diego, e sorrindo, Você é do primeiro ano, não é? Ele confirmou com a cabeça, para não responder de boca cheia. E, logo que o outro disse, Eu nunca te vi aqui!, o menino sentiu que estava diante de um desafio, como se num quarto escuro, o dedo no interruptor pronto para acender a luz. Diego o observava com mais fome nos olhos do que na boca, seguia o movimento de suas mandíbulas, à espera da merecida mordida. Tá bom o sanduíche? perguntou, e o menino respondeu Tá, e quis saber, Você já comeu o seu?, o que só serviu para alargar a vantagem de Diego, Não, nunca trago lanche, eu sou pobre. O menino perguntou, Quer um pedaço?, pensando que o outro se contentaria com a oferta, nem supunha que o gesto o conduziria mais depressa a seu destino; era uma entrega superior à que ele imaginava. Diego o mirou, satisfeito, e apanhou o pão com voracidade. Sentou-se no chão e se pôs a comer em silêncio, um silêncio faminto que pedia o olhar do mundo – tanto que o menino, ao seu lado, degustou a cena, orgulhoso por lhe saciar a fome. Se antes era frágil, casca de ovo, agora ele se sentia forte.

Descobria uma grande vida dentro de si. Porque, antes que continuassem a conversa, ele sabia: fizera um amigo. E Diego, que conhecia melhor essa cartilha, levantou-se e disse agradecido, Se alguém mexer com você, me avise! Com a amizade de Diego, e a sua força a favorecê-lo, ninguém o afrontaria. Imaginava ter um trunfo, mas também podia ser um erro. Como adivinhar? Estava lá para aprender. E aprendeu rápido a lição que Diego lhe deu, na semana seguinte, ao dizer, Minha mãe tá doente, precisa de remédio e a gente não tem dinheiro. O menino – para mostrar que era bom aprendiz – superou a culpa e entregou ao outro, dias depois, umas cédulas que pegara às escondidas da bolsa da mãe. E então começou um tempo em que o perigo era a estabilidade que Diego lhe garantia. Os dois ficavam juntos no intervalo e quase sempre encontravam-se no fim da aula no portão da escola. O amigo o acompanhava até a casa, cumprindo a sua parte no pacto, e recebia em troca o que lhe faltava: o sanduíche, o estojo de lápis coloridos, os pacotes de figurinhas. Diego sorria. E olhava para ele em silêncio no momento da paga – como um aluno que desafia o mestre. O coração do menino batia alto, incapaz de acordar a desconfiança que o embalava. Diego sorria – e sonhava. Sonhava com uma bicicleta. A amizade entre eles atingiu o ápice no dia em que Diego se meteu numa briga, quando outro marmanjo, no intervalo, esbarrou sem querer no garoto e derrubou-lhe a garrafa de suco. Diego vingou o amigo – e foi suspenso da escola por uma semana. O menino viu no episódio a prova de que o outro lhe era plenamente leal. E nem precisou pensar numa recompensa: Diego a cobrou ao retornar às aulas, dizendo que precisava de mais dinheiro para as injeções que a mãe, agora, tinha de tomar. Era a vez do menino, a sua prova. E apesar da angústia, ele mostrou que sabia tudo de gratidão: manteve-se aferrado à sua mentira ao ver o irmão de cabeça baixa, a mãe chorando, o pai de lá para cá à procura do dinheiro que sumira da carteira. E, então, sentado na soleira da porta de casa, dias depois, o garoto viu Diego lá no fim da rua, pedalando uma bicicleta. Diego acenou de longe e, ao se aproximar, abriu um sorriso para o amigo. Ele se ergueu vacilante, apoiando-se na parede. Agora, estava mais sozinho do que nunca. E sentiu medo. Muito medo.

 João AnzAnello CArrAsCozA. Aquela água toda. São Paulo: Cosac Naify, 2012. p. 33-36.

Desvendando o texto

1. O conto “Medo” inicia-se com a apresentação do protagonista.

     a) O que o narrador destaca ao afirmar que “Era só um garoto”?

         O narrador destaca o fato de o protagonista ainda ser uma criança, de não ter muitas experiências.

     b) Que mudança de sentido ocorreria se o narrador tivesse dito Era um garoto só? Esse novo sentido ainda caberia no conto?

        A mudança indicaria que o protagonista era solitário. Esse novo sentido também caberia no conto, já que, embora tendo uma família, o menino sentia-se sempre sozinho.

     c) O protagonista não é chamado pelo nome. Que efeito de sentido é criado pela referência a ele apenas como “garoto” ou “menino”?

Sugestão: Reforça-se a ideia de que ele é frágil, de que ainda não se impõe diante dos outros nem se destaca em momento algum.

2. Um dos principais espaços do conto é a escola.

   a) Como o garoto se relacionava com a professora e com os colegas?

 O garoto sentia-se intimidado diante da professora e dos colegas. Embora gostasse de alguns momentos da aula, ele tinha medo de ser exposto e transformava reações corriqueiras da professora e dos colegas em algo opressivo e que lhe causava sofrimento.

    b) Como você interpretou o trecho: “Tropeçava no perigo que ele próprio, e não o mundo, deixava em seu caminho”.

Sugestão: O menino não enfrentava problemas criados por outras pessoas; com o medo que tinha, ele criava situações que se tornavam insuportáveis para si mesmo.

3. A relação com a família também é explorada no conto. Releia o seguinte trecho.

“Fitava o irmão que subia no brinquedo, acenava lá de cima, gritava e se divertia, enquanto ele se segurava firme no seu medo, inteiramente fiel.”(linhas 35-37)

a)   Sugira um par de palavras que possam exprimir a diferença entre o comportamento dele e o do irmão.

Sugestões: covardia × coragem; medo × ousadia; tensão × relaxamento; apatia × vivacidade etc.

b)   A expressão segurava firme refere-se ao garoto, mas ficaria mais adequada se fizesse referência ao irmão. Justifique essa afirmação.

Essa expressão ficaria mais adequada se fizesse referência ao irmão do garoto, que estava em um brinquedo de um parque de diversões e, portanto, deveria segurar firme para não cair.

c)   Qual é o efeito de sentido provocado pelo uso inesperado dessa expressão para referir-se ao protagonista em vez do irmão?

O uso inesperado dessa expressão reforça a contraposição entre as duas crianças.

 4. A narrativa está centrada no relacionamento de amizade do protagonista com Diego.

a)   A amizade entre ambos é marcada por uma troca. O que Diego esperava do amigo?

Diego esperava receber sanduíches, álbum de figurinhas, dinheiro etc

b)   Que argumentos Diego usava para obter o que desejava?

Diego dizia ser pobre e precisar de dinheiro para os remédios da mãe.

c)   O que o protagonista esperava de Diego?

O protagonista esperava proteção.

d)   Como Diego estimulou essa amizade? Cite uma situação que comprove sua resposta.

Diego passou a comportar- -se como um defensor, o que pode ser notado, por exemplo, quando ele acompanhou o protagonista até a casa dele no final da aula ou quando se envolveu em uma briga com alguém que havia, involuntariamente, derrubado a garrafa de suco do garoto.

e)   Relacione as características físicas de Diego ao papel que ele passou a desempenhar na vida do outro.

Diego era um menino mais velho, maior do que os demais, já apresentando algumas características de homem, o que contribuiu para a construção de uma figura protetora.

5. O desfecho do conto evidencia o efeito dessa amizade sobre o protagonista.

a)   Explique por que a amizade dele com Diego passou a ameaçar suas relações familiares.

Para sustentar a amizade, o protagonista passou a roubar dinheiro dos pais e a permitir que o irmão fosse considerado culpado em vez dele.

b)   O narrador afirma que, ao dar o sanduíche a Diego, o menino realizou “uma entrega superior à que ele imaginava” (linha 60). Por quê?

Com aquele gesto, o menino inaugurava uma relação de troca que se estenderia para outras situações.

6. O conto “Medo” não segue a forma comum das narrativas.

a)    Como, normalmente, as frases são organizadas nas narrativas? Qual é a novidade desse conto?

Comumente, as frases formam parágrafos, mas nesse conto há um bloco único.

 b)    Nas narrativas em geral, como são apresentadas as falas de personagens?

               Elas são apresentadas após travessão ou entre aspas.

c)    Que recurso foi usado para diferenciar a fala dos personagens da fala do narrador nesse conto?

As falas são diferenciadas pela mudança no tipo de letra (itálico).

 d)    Considerando o que é contado, por que você acha que o texto tem essa forma?

              Resposta pessoal.

      7. Releia o desfecho do conto e responda às questões.

     “E, então, sentado na soleira da porta de casa, dias depois, o garoto viu Diego lá no fim da rua, pedalando uma bicicleta. Diego acenou de longe e, ao se aproximar, abriu um sorriso para o amigo. Ele se ergueu vacilante, apoiando-se na parede. Agora, estava mais sozinho do que nunca. E sentiu medo. Muito medo.”

a)   O que motiva a reação do protagonista?

Ao ver Diego na bicicleta, ele entendeu que não tivera um amigo de verdade, mas alguém interessado nas vantagens materiais que ele poderia proporcionar.

 b)   O desfecho remete a uma lembrança relatada no início do conto. Identifique-a.

A lembrança de o menino dando seus primeiros passos, apoiando-se nos móveis da casa e sentindo-se muito só e com medo.

   c)   Por que você acha que foi feita uma associação entre o desfecho e o trecho inicial do conto?

Resposta pessoal. Espera-se que os alunos reconheçam que o desfecho mostra um novo momento de insegurança, em que o garoto, a partir daquela aprendizagem, experimenta a solidão e o medo em grau máximo.