quinta-feira, 3 de julho de 2025

ARTIGO DE OPINIÃO: MINHA HISTÓRIA COMO PROFESSORA - ROSA MARIA MONSANTO GLÓRIA - COM GABARITO

 Artigo de opinião: Minha história como professora

                Rosa Maria Monsanto Glória

        A todos os professores deste enorme país, por tudo que representam para os seus alunos, especialmente aqueles que conseguem perceber a relevância do seu papel. A todos que de um modo ou de outro contribuíram para que a cada dia eu me tornasse mais o que sou hoje: PROFESSORA

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5gKYgUkpEU6kPcsEbj_pTgknIdFNJPA6k13_V1HOJzzNLi2Q6xqVPXUF3FsGlAxmtdSXDUP41Mo_7G05xVxknmjZEXjQmT4ogAe8wlElJh7Xtj5hq1v9ahDq2zLYCkzvlrnoa7xXhbH5u-X8LLej2YH5C6XkHoB3RlnK2gzgJjdmnXOLw0eMUT_TfWpg/s320/professora-lousa-quadro-negro.jpg


        É engraçado como a escola sempre esteve muito presente na minha vida. Parando agora para refletir melhor, já nem sei se ela não tem sido minha própria vida. Bem, nem quero me aprofundar nisso, para não correr o risco de fazer com que pensem (ou que os que me conhecem, confirmem) que eu seja maluca...

        Pra começo de conversa, vou contar como começou esta obsessão, penso, como para a maioria das crianças pequenas e sem muitos recursos financeiros (para não dizer pobres) da minha geração.

        As escolas de educação infantil eram "artigo de luxo". As públicas eram poucas e muito concorridas e as particulares eram para os ricos ou para os filhos de mães que trabalhavam fora, coisa que, pelo menos perto de onde eu morava, não era muito comum. Lembro-me de que na rua onde eu morava nenhuma mãe trabalhava fora. Portanto, como eu não atendia a nenhum desses critérios, nem era rica, nem minha mãe trabalhava fora, não fui para o "Jardim" – era assim que se dizia na época. Porém, vocês nem podem imaginar como eu sonhava em ir para a escola, na verdade eu queria mesmo era ir para o "Grupo" – como se chamavam as escolas de Ensino Fundamental –, as escolas de verdade, onde a gente aprendia a ler e a escrever.

        Na rua onde morava e moro até hoje, havia meninas mais velhas que eu, que já iam para a escola de uniforme e "mala", enquanto eu, criancinha, como elas diziam, ficava em casa sonhando com o dia em que pudesse ir também.

        Tenho a nítida lembrança do dia em que minha mãe foi fazer a matrícula no 1° ano e começou então a providenciar as coisas para que eu fosse para a escola. Ela mesma costurou minha saia com tecido xadrezinho de preto e branco com uma prega na frente e minhas camisas branquinhas com gola e bolso com o distintivo do Grupo. Também havia os sapatos tipo colegial preto e as meias brancas até os joelhos. Mas o que mais me fascinou, o que mais me encantou foi a mala preta que ganhei do meu avô. Ela era maravilhosa, tinha um cheirinho bom de couro, dentro dela cabia um mundo de coisas: os cadernos novos, o estojo, os livros que com certeza a professora pediria para comprar, enfim, tudo que fosse preciso para uma menina que queria muito ir para a escola.

        Chegou o grande dia, nem dormi direito, tamanha era a minha ansiedade. Quando deu a hora de ir para a escola, tenho certeza de que se não fosse pelo fato de minha mãe me levar pela mão, o que as pessoas veriam pela rua seria uma meninazinha de laço na cabeça – a única de uniforme no primeiro dia de aula – flutuando até chegar à porta da escola, sendo ancorada por uma grande mala preta, levando ali todos os seus sonhos.

        A vida seguiu em frente, eu adorava a escola, as professoras, os colegas de classe. Ia para lá num período e no outro brincava de escola e de outras coisas também. Durante todo o primário não tive nenhuma falta, ia todos os dias, chovesse ou fizesse sol. Não suportava a ideia de ter de faltar por qualquer que fosse o motivo, nem mesmo quando nasceu minha irmãzinha e era emenda de feriado. Quando chegavam as férias, que naquele tempo eram muito mais longas, principalmente se a gente fechasse as notas, eu ficava eufórica nos primeiros dias, até mesmo meio exibida, pois sempre fechava as notas com médias altas e era muito elogiada por isso – porém depois de uma ou duas semanas o que eu mais queria era que elas acabassem. Morria de saudades de tudo, até mesmo da merendeira que era muito ranzinza e brigava se a gente deixasse uma gotinha de sopa no prato... Da professora, então, nem se fale! E para passar o tempo eu engraxava minha mala e deixava tudo arrumado lá dentro, tornando a fazer isso muitas vezes durante as férias. Agora, adulta, penso que a escola cumpria, para mim e para as outras crianças, um papel extremamente importante: ela era o principal espaço de convivência social que tínhamos; nós de fato frequentávamos a escola, alguns de nós frequentavam a igreja, brincávamos juntos e nada mais, pelo menos para mim era assim. Não tinha shopping, festinhas, balé, natação, judô, inglês...Tinha a escola.

        Cresci mais e ela continuou sendo minha fiel companheira, fazia parte da fanfarra, do grupo de teatro, do coral, ia às aulas de educação física no período oposto ao da aula regular. Se tinha gincana, lá estava eu. Arrecadar prendas para a festa junina era uma farra. Dos desfiles cívicos, eu participava também. No campeonato de handebol entre as escolas do bairro, é claro que eu ia, mas só para torcer, pois era péssima atleta.

        Já não levava minha malinha preta, afinal no ginásio não ficava bem, o que os meninos iriam pensar?! Mas os sonhos continuavam comigo e a escola ainda fazia parte deles. Estava definido: seria professora.

        Fui para o curso de magistério, numa das escolas mais concorridas da minha cidade, depois de ter sofrido a espera da segunda chamada do exame "vestibulinho". Estava radiante e orgulhosa de mim mesma, afinal não era nada fácil entrar para aquela escola (pública) – mesmo que tivesse conseguido a vaga na segunda lista, ainda assim era motivo de glória. Fui para o primeiro dia de aula na escola nova com o coração aos pulos, como quando tinha sete anos, ia de uniforme e minha malinha agora se transformara numa bolsa esportiva – Tiger –, como era moda na época, novamente presente do meu avô. Na "mala", caderno universitário, estojinho, carteira com alguns trocados, passe escolar e a certeza de que seguia pelo caminho certo, seria professora, a melhor que pudesse ser.

        Os quatro anos que passei naquela escola foram "os melhores da minha vida", pelo menos é o que eu pensava na época. Tinha aulas pela manhã, e quase todas as tardes ficava por lá também, um dia era educação física, no outro, estágio, nos outros eram trabalhos na biblioteca (a mais amada que eu já frequentei) ou na sala de estágio, outro espaço maravilhoso da escola que chegava a causar uma pontinha de inveja aos outros alunos dos outros cursos, afinal só as professoras e as "meninas do magistério" tinham uma sala para trabalhos e reuniões. Ali vivi muitas coisas importantes da minha vida, conheci muitas pessoas, tive professores que me fizeram ver a vida de outra forma e acreditar ainda mais nesta profissão, fiz amizades duradouras, o primeiro namorado, ri, chorei, cantei, dancei, amei, vivi... Estar ali naquela escola, utilizar todos aqueles espaços, participar de tudo que me fosse possível, viver intensamente aquele lugar era tudo que eu sempre sonhei, era a escola que cabia na minha malinha de sonhos.

        O curso acabou: estava formada, era professora. Na cabeça o sonho realizado e a certeza de continuar vivendo a escola todos os dias. Nas mãos, não mais uma malinha, mas uma sacola cheia de materiais e livros que certamente seriam úteis no meu trabalho com os meus alunos. Meu Deus, como era lindo me ouvir dizer: meus alunos!

        Começou então outra etapa da minha vida. Agora era adulta, professora formada, como diziam meus pais, mas como deixar de ser aluna? Não podia, isso seria insuportável. Então lecionava durante o dia e fazia pedagogia à noite – perfeito, era professora, mas era também aluna.

        Com a primeira escola, vieram muitas alegrias, mas também muitas decepções. Lutei muito contra o desânimo, a acomodação e a hostilidade dos que pensavam que escola era lugar apenas de se cumprir horário e programa de ensino, que só mesmo na cabecinha de uma recém-formada caberia a ideia que "aqueles alunos" teriam jeito. Como podem imaginar, estava eu numa escola de periferia, com uma classe de alunos repetentes por muitos anos porque não sabiam ler e escrever, levava comigo muita vontade e uma sacola cheia de materiais bonitinhos, feitos por minhas próprias mãos, que animavam os alunos pela sua beleza e os fazia sentir-se "cuidados" pela sua professora, o que era bom, mas que pouco contribuía para que aprendessem mais. Durante aquele ano, o conteúdo da mala variou muito: a incerteza quase sempre estava presente, assim como a força de vontade e a insistência que partilhavam espaço com livrinhos de história, a cartilha da pipoca, alguns joguinhos para trabalhar matemática e às vezes alguns docinhos, brinquedinhos e roupas para as crianças.

        Já no curso de pedagogia, tudo era muito diferente do que eu tinha vivido na escola. Havia muitas pessoas numa sala, quase todos os alunos eram mais velhos que eu e as relações eram mais superficiais. Os professores também eram diferentes, eles falavam para grandes massas de alunos, a maioria de nós não tinha nome para eles, mas eles falavam de coisas que eu achava muito interessantes e anotava tudo no caderno. Descobri que a faculdade era uma escola muito diferente da escola que eu queria para viver, embora aprendesse muito nela e tivesse algumas gostosuras: as paqueras, os bate-papos com alguns colegas, o bolinho de queijo da cantina e a sexta-feira...

        Esse ano, o primeiro como professora, foi definitivo para o meu "casamento" com a escola. Nele tive a oportunidade de experimentar pela primeira vez na vida o que é "quebrar a cara". Cheguei cheia de sonhos e boa vontade, sabia que estava fazendo diferença para aqueles alunos, pois me empenhava muito para isso, mas descobri também que, só com isso na minha malinha, pouco poderia contribuir para de alguma forma "ajudar a mudar seus destinos", fadados ao fracasso. Pobres e fracassados – parece que era isso que queriam escrever nas linhas de suas mãos e eu pouco podia, pouco sabia fazer para ajudá-los a fugir deste destino. Não pensem que só chorei durante esse ano, também sorri e cantei com minha turma, fui dura, brava algumas vezes, afinal queria muito que aprendessem, vibrei com suas conquistas e me senti parte de suas vidas. E no final do ano muitos deles estavam diferentes e sabiam ler e escrever.

        Depois disso, muitos outros vieram, muitos outros alunos, crianças e adultos povoaram minha vida. Outras escolas se sucederam à primeira – não muitas, pois fui aprendendo a ganhar raízes, também fui encontrando parceiros mais interessantes e interessados em melhorar suas práticas, tanto nas escolas estaduais como nas municipais por onde passei. E, sendo assim, fui cada vez mais acreditando que aquele era meu lugar. E pela minha inseparável malinha – que ora era uma sacola, ora era o próprio porta-malas do carro – passaram muitas coisas diferentes: livros, jogos, tesoura, cola, papéis, cadernos (muitos), sucatas, rótulos, sementes, fitas K7, fitas de vídeo... e muitos, muitos textos, alguns tão difíceis que eu começava a ler e os deixava de lado, outros que eu devorava com minhas parceiras, outros ainda que eu achava impossível serem de fato sérios... Só sei que, ao lado disso tudo, dentro da malinha compartilhavam do mesmo espaço coisas materiais e muitas coisas nem sempre palpáveis: dúvidas, certezas, conflitos, alegrias, descontentamento, euforia, paixão, satisfação e muita busca.

        Cada vez sabia mais que o que me movia era estar dentro da escola, não importava muito se de educação infantil, 1ª a 4ª série ou se de jovens e adultos: aquele espaço de convivência intensa entre as pessoas e das pessoas com o conhecimento é o que me satisfazia. Até que um dia surge uma oportunidade – única, é o que diziam as pessoas de modo geral. Estava eu, pela primeira vez na vida, frente a frente com a possibilidade de sair da escola que até então, com maior ou menor intensidade, sempre tinha sido o único "palco por onde andei". Havia a chance de integrar a equipe técnica da Secretaria de Educação, que era muito respeitada pela maioria dos professores da rede municipal. Fiquei numa dúvida cruel: por um lado estava tendo uma possibilidade de crescer na carreira dentro de uma rede pública de que eu gostava muito e me orgulhava de fazer parte, por outro teria de abrir mão do "aconchego reconfortante" da escola e me atirar rumo ao desconhecido.

        Demorei muito a me decidir. Nunca imaginei que fosse tão sofrido ter de tomar decisões. Como eu poderia ser tão ingrata e abandonar quem sempre me acolheu tão bem, como seria capaz de viver sem aquele burburinho gostoso de escola quando tem gente, quando tem vida? Mas também, como perder essa oportunidade – única – que acenava para mim como uma chance de conhecer mais, estudar mais... Optei, então, depois de muitas noites sem dormir, muito choro e dores de cabeça, por entrar por essa nova porta que se abria a minha frente, porém não poderia imaginar minha vida sem alunos, e assim continuei sendo professora de jovens e adultos no período noturno.

        Outra etapa da minha vida se iniciava. Estava diante de uma nova função nunca antes por mim vivida, que só conhecia do lado de cá, o de professora que observava de longe o que faziam as pessoas da equipe técnica. O início não foi nada fácil. O primeiro dia novamente parecia com aquele, daquela meninazinha de laço no cabelo que deixava o conforto do lar para aventurar-se num mar de incertezas, levando em sua malinha agora um coração apertado, mas também ansioso pela novidade que se mostrava fascinante, pois acenava com a possibilidade do convívio com outras pessoas e outros saberes. Tinha então novos afazeres, graças a Deus, todos relacionados à escola.

         No primeiro ano, penso que engordei "uma tonelada", tamanha era minha ansiedade em fazer tudo da melhor forma possível. Sentia um medo enorme de não "dar conta do recado", de não ser capaz de contribuir de fato para que os outros professores pudessem trabalhar melhor... De verdade eu acreditava que se eu fizesse tudo direitinho, todos iriam gostar de estudar e procurar mudar suas práticas (quanta pretensão!). Minha mala agora tinha ficado superchique, parecia uma executiva, com pasta de pelica bege, presente não mais do meu avô, que infelizmente já havia partido, mas de minha mãe, que estava muito orgulhosa da sua jovem filha. Dentro dela? Proposta curricular, textos e mais textos teóricos, os mais recentes que conseguia, para serem fartamente distribuídos aos professores, durante minhas visitas às escolas.

        Além disso, tinha outro ponto, que era ao mesmo tempo um alento e um desafio: fazer parte de uma equipe composta de professoras que, como eu, eram novas nessa função e por isso também estavam construindo seu papel e seu lugar no grupo. Isso era bom porque estávamos "buscando nosso lugar ao sol" e por isso tínhamos de nos ajudar mutuamente – e o único jeito que conhecíamos para fazer isso era estudando. Mas, por outro lado, todas sabíamos que para nos tornarmos uma equipe não bastava compartilhar a mesma sala e os mesmo problemas a resolver... Era preciso muito mais. E todas, de modo geral, se esforçavam para isso, o que também foi um aprendizado. Embora muitas vezes tivesse pensado no quanto tinha sido uma idiota em deixar o "conforto pobrezinho do meu lar" para me arriscar por "mares nunca dantes navegados", de certa forma tudo isso me seduzia e, como também não sou de "abandonar o barco", segui em frente. Foram anos de estudo e desafios e minha malinha, fiel escudeira, que me acompanhava de porta em porta, de escola em escola, carregou uma variedade imensa de papéis, registros, relatórios, ideias, projetos, observações... Fui aprendendo – pelo menos creio que sim – a contribuir um pouco mais com o trabalho dos meus colegas professores, tentei ser parceira deles e, nesse caminhar, nunca deixei de respirar escola. Fui aprendendo, nesses anos de trabalho, assim como minhas colegas de equipe, a definir melhor o meu papel. Já sei que, para que a educação se transforme, não basta apenas distribuir aos professores uma infinidade de textos de fundamentação teórica: para que os textos façam sentido, é preciso um trabalho de formação contínua, de discussão real sobre a prática pedagógica.

        Recebi, então, recentemente, um convite maravilhoso, o mais sedutor de toda a minha vida profissional, que tinha como ingredientes: escola, professores, alunos e formadores. Além disso, poderia conciliar esta ação com o trabalho que vinha fazendo com as escolas de meu município. Então, continuando a acreditar que a escola é por excelência o lugar em que as grandes mudanças na vida dos alunos acontecem, eu e minha malinha nos aventuramos por outros mares – claro que sem deixar de retornar ao porto seguro, onde eu fiz minha morada que é a secretaria onde trabalho. Comecei então a trabalhar com formação de professores. Na mala – agora de viagem, com rodinhas para facilitar o transporte "do peso do saber" – carregava algumas roupas, que variavam conforme a estação; muitos livros, literários e teóricos; fitas de vídeo, cadernos para as anotações, uma pauta a ser discutida e uma imensa vontade de contribuir de alguma forma com o trabalho dos professores deste país. Esta possibilidade me encantou e mudou radicalmente meu jeito de pensar a escola. Estava vivendo um momento único e, com ele, a possibilidade de conhecer pessoas – as mais diferentes, com as mais diferentes experiências – e fazer parte de um trabalho coletivo de fato, estudar e aprender...

        Isso tudo me parecia o paraíso, era muito mais do que um dia eu havia sonhado...

        Mas, quem foi que disse que os sonhos não se tornam realidade e podem ser mais maravilhosos ainda?

        Na sequência desse convite, na verdade como consequência dele, recebi outro. Agora sim, um convite que aquela meninazinha, que nem sequer frequentou o jardim, não poderia jamais imaginar. Participar da equipe pedagógica do Programa de Formação de Professores Alfabetizadores! Esse era o presente mais lindo que um dia alguém poderia me dar. Agora teria de me afastar um pouco do meu porto seguro, visto que a viagem era longa – a princípio isto me assustou, mas agora, já mais experiente, tenho certeza de que "navegar é preciso" e que quando eu voltar trarei na mala muitas coisas boas para compartilhar com os companheiros em terra.

        Estou aqui então, carregando nas mãos uma mala cheia de bons sonhos, sonhados e construídos a muitas mãos e cabeças, por um grupo de professoras que acredita que é possível pensar e fazer educação neste país. Nesta mala estão depositadas muitas esperanças, não de milagres ou mágicas, visto que o que carrega é conhecimento, mas de possibilidades de mudança. E eu? Aprendi que a escola com certeza é minha vida e que quero viver ainda muito, até que um dia, bem velhinha, possa abrir minha malinha e olhar lá dentro todas as recordações boas que esta profissão me deu de presente.

Rosa Maria Monsanto Glória.

Fonte: Letra e Vida. Programa de Formação de Professores Alfabetizadores – Coletânea de textos – Módulo 3 – CENP – São Paulo – 2005. p. 47-53.

Entendendo o artigo:

01 – Qual a principal motivação da autora para querer ir à escola na infância, considerando sua condição socioeconômica?

      Para a autora e a maioria das crianças de sua geração sem muitos recursos, a escola de educação infantil era "artigo de luxo". Sua principal motivação para querer ir à escola, especificamente ao "Grupo" (Ensino Fundamental), era o desejo de aprender a ler e a escrever, algo que ela observava nas meninas mais velhas.

02 – Qual objeto se tornou um símbolo da ansiedade e dos sonhos da autora em seu primeiro dia de aula, e por quê?

      A mala preta que ganhou de seu avô foi o objeto mais fascinante. Ela representava um "mundo de coisas" que caberiam dentro dela – cadernos, estojos, livros – e era o âncora de todos os seus sonhos de menina que ansiava por ir à escola.

03 – Como a autora se sentia durante as férias escolares, e o que essa atitude revela sobre sua relação com a escola?

      Nos primeiros dias de férias, a autora ficava eufórica, mas após uma ou duas semanas, sentia muita saudade da escola. Ela passava o tempo engraxando sua mala e arrumando suas coisas, o que revela o quanto a escola era um espaço vital e central em sua vida, não apenas para o aprendizado, mas para a convivência social.

04 – Qual foi a decisão de carreira da autora na adolescência e como ela se sentiu ao ser aprovada para o curso de Magistério?

      Na adolescência, ela definiu que seria professora. Ao ser aprovada no "vestibulinho" para o curso de Magistério, mesmo na segunda chamada, ela se sentiu radiante e orgulhosa, pois era difícil ingressar naquela escola pública concorrida.

05 – Descreva a importância da escola durante os anos de Magistério da autora.

      Os quatro anos de Magistério foram descritos como "os melhores da minha vida". A escola foi um espaço onde ela viveu intensamente, participando de atividades extracurriculares, utilizando diversos espaços (como a biblioteca e a sala de estágio), fazendo amizades duradouras e tendo professores que a fizeram acreditar ainda mais na profissão.

06 – Qual foi a principal "decepção" e aprendizado da autora em seu primeiro ano como professora em uma escola de periferia?

      A autora enfrentou a hostilidade e o desânimo de colegas que não acreditavam no potencial dos alunos repetentes. Ela descobriu que apenas sua boa vontade e materiais bonitos eram insuficientes para "ajudar a mudar seus destinos", percebendo que a transformação exigia mais do que isso. Apesar das dificuldades, muitos de seus alunos aprenderam a ler e escrever.

07 – De que forma o curso de Pedagogia se diferenciava da experiência escolar que a autora almejava para sua vida?

      No curso de Pedagogia, a autora encontrou um ambiente com muitas pessoas, relações mais superficiais e professores que falavam para "grandes massas", sem conhecer os alunos individualmente. Embora aprendesse muito, ela percebeu que a faculdade era "uma escola muito diferente da escola que eu queria para viver".

08 – Qual foi a "dúvida cruel" que a autora enfrentou ao receber o convite para a Secretaria de Educação?

      Ela ficou dividida entre a possibilidade de crescer na carreira em uma rede pública que ela admirava e a necessidade de abrir mão do "aconchego reconfortante" da escola, o "burburinho gostoso" dos alunos e a convivência que tanto a satisfazia.

09 – Como a autora conciliava sua nova função na Secretaria de Educação com sua paixão por lecionar?

      Mesmo assumindo a nova função na equipe técnica da Secretaria de Educação, a autora não abriu mão de ser professora. Ela continuou lecionando para jovens e adultos no período noturno, garantindo que sua vida ainda tivesse a presença e o convívio com alunos.

10 – O que o último convite recebido pela autora (para o Programa de Formação de Professores Alfabetizadores) simboliza para ela e para sua "malinha"?

      Esse convite é o "presente mais lindo", algo que a "meninazinha que nem sequer frequentou o jardim" jamais poderia imaginar. Simboliza a concretização de seus sonhos em uma escala maior. Sua "malinha", agora de viagem com rodinhas, passa a carregar não apenas materiais e livros, mas muitas esperanças e possibilidades de mudança, representando sua contínua busca por contribuir com a educação do país.

 

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