domingo, 7 de agosto de 2022

REPORTAGEM: BOAS NOTÍCIAS - MARINA VERGUEIRO - COM GABARITO

 Reportagem: Boas Notícias

                         Há 10 anos, sarau tem poesia recitada, cantada e “no ar” na periferia de SP

Marina Vergueiro – 20/04/2011 – 07h01.

 

Fonte da imagem - https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7d7RvdbshWghrDyRYKZ5ly7TyHULibhgKy6M6H2WFWneUZAwd3YkKQZ6O198DysCfMjLIyCzoJYvhkMbkg7ZL1QYWPesU6MYS776rdijrwocPm5RrCI3TLKzMGyEvHPqRNlz8eVBaQ3IhpklOTLy_uNoFD-gMO70pPnez3vx19dz9gHX3AnlooQDg/s320/baloes.jpg

Balões com papéis contendo versos de poemas são soltos no ar em evento do Sarau da Cooperifa, na Zona Sul de São Paulo. Foto.

        Nas noites de quarta-feira no Bar do Zé Batidão, zona sul de São Paulo, “o silêncio é uma prece”. O poeta Sérgio Vaz faz questão de avisar que o sarau da Cooperifa “não é balada”. Um dos mais tradicionais saraus paulistanos, pioneiro na periferia da cidade, a Cooperifa encontrou endereço fixo nesse boteco de uma das esquinas do Jardim São Luiz.

        Segundo Vaz, o motivo é a falta de espaços públicos para exercer a cultura na periferia da capital paulista. “Não temos teatro, não temos museu, não temos centro cultural. O bar é onde a comunidade se reúne para falar do asfalto, do trator que precisa retirar o barranco, do lixo, do futebol...”, diz ele....

        Embora regado a muita cerveja e a uma caipirinha com mel batizada de “gostosinha”, a disciplina exerce um papel tão fundamental quanto a própria poesia na Cooperifa. Ao criar a cooperativa, há dez anos, a ideia de Vaz era “fazer a gentileza de recitar poesia para a comunidade e a comunidade [fazer] a gentileza de ouvir a poesia”. Para isso, segundo ele, não apenas o silêncio é imprescindível, mas o respeito a cada um dos poetas que se arrisca atrás do microfone. E, para que isso seja garantido, todos devem aplaudir a todos com a mesma intensidade.

        Desde 2001 a Cooperifa ajudou cerca de 30 poetas a lançarem seus livros, além de ter colaborado para que músicos e rappers gravassem se álbuns, entre eles F.I.N.O, Wesley Noog, Versão Popular e Jairo Periafricania.

        “A Cooperifa me mostrou que se eu quero ser escritor eu posso, não preciso pedir autorização para ninguém”

Jairo Periafricania

        “Comecei a fazer rap com 35 anos e a Cooperifa mudou minha vida porque me mostrou que se eu quero ser escritor eu posso, não preciso pedir autorização para ninguém”, conta Jairo, que em 2010 lançou o disco “O Sonho Não Envelhece” e há três anos dá aulas de rap na Fundação Casa.

        Já F.I.N.O, rapper há 13 anos, buscou a literatura para que pudesse “se informar mais e melhorar as letras”. A partir do Sarau da Cooperifa, que frequenta “religiosamente há 2 anos”, passou a se interessar por saraus e, durante a semana, faz uma verdadeira peregrinação pela periferia da cidade em busca de poesia. “Frequento o circuito inteiro: (sarau do) Ademar, (sarau da) Fundão, (sarau do) Binho, Sarau com Elas”, conta ele, que recentemente lançou o single “Que Vantagem Maria Leva?”, com participação da cantora e poeta da Cooperifa Camila Trindade.

        Além do rap, a poesia de Cordel causa algumas das reações mais entusiasmadas do público do sarau. Um dos poetas responsáveis por isso tem apenas 10 anos de idade. Luís Miguel de Araújo Guimarães, o Miguelzinho, provoca gargalhadas na plateia durante os cinco minutos que permanece com microfone na mão recitando uma das dez poesias que guarda na memória. “Às vezes eu demoro um pouquinho pra recitar porque eu decido na hora. O que vier na mente primeiro, eu conto”, diz o garoto, admirador de Patativa do Assaré e Chico Pedrosa. Miguelzinho costuma ir ao bar do Zé Batidão acompanhado do tio Toninho Poeta.

        Apesar desses "destaques" da Cooperifa, os aplausos atingem o ápice com a declamação de “Dona” Edite Marques. Uma das frequentadoras mais ativas da Cooperifa, essa senhora cega de 68 anos costuma passar de dez a quinze minutos recitando suas poesias favoritas – sejam versos de Castro Alves ou Cora Coralina –, todas memorizadas com a ajuda de um aparelho no qual escuta as gravações que uma sobrinha faz, em fita cassete.

        Noites especiais

        Quando começou, há dez anos, em uma fábrica abandonada no Taboão da Serra, o Sarau da Cooperifa contava com pouco mais de 15 poetas que se revezavam para ler cerca de 10 poesias cada. Atualmente, o sarau chega a receber aproximadamente 60 poetas por semana. Em algumas noites consideradas especiais, esse número pode chegar a 70 – e muitas vezes alguns ficam de fora porque as duas horas de poesia não são suficientes.

        Com a intenção de incentivar a leitura, Sérgio Vaz criou a “Chuva de Livros”, noite que acontece semestralmente em parceria com editoras e doadores, distribuindo livros aos frequentadores do sarau. A mais recente aconteceu em 31 de março deste ano, com o apoio da Companhia das Letras e presença do editor Luiz Schwarcz, que entregou os 250 livros doados à Cooperifa.

        Já uma das criações mais populares de Sérgio Vaz é a noite que ficou conhecida como “Ajoelhaço”, que ocorre todos os anos na quarta-feira anterior ao Dia Internacional da Mulher, na qual os homens se ajoelham diante das mulheres e pedem perdão aos pecados cometidos.

        No entanto, é na noite de "Poesia no Ar" que a Cooperifa reúne o maior número de pessoas. Em 2011, o evento distribuiu 500 bexigas de gás hélio para que os poetas prendessem suas poesias e as soltassem no céu de São Paulo. Ônibus de Porto Alegre, Guaratinguetá, Guarulhos e Parelheiros vieram a São Paulo para participar do “ataque poético aéreo”, como o definiu Sérgio Vaz.

        “Uma vez ouvi um cara falar no negócio de bala perdida na periferia. Fiquei imaginando uma ideia para que a gente pudesse levar a nossa poesia para outros quintais”, conta Vaz sobre o nascimento do “Poesia no Ar”.  Segundo ele, já houve registro de que bexigas chegaram ao bairro do Ipiranga, outro extremo da zona sul da cidade.

        Embora deficiente visual há 15 anos, Dona Edite considera essa noite uma das mais belas da Cooperifa.  “Eu sinto a emoção de colocar meu poema dentro da bexiga, de poder soltar no ar e sentir as pessoas perto de mim”, conta, emocionada.

VERGUEIRO, Marina. UOL/Entretenimento/Notícias. Disponível em: http://entretenimento.uol.com.br/ultnot/2011/04/20/ha-10-anos-sarau-reune-poesia-versada-cantada-e-no-ar-na-periferia-de-sp.jhtm. Acesso em: 22 jan. 2016.

             Fonte: Livro Língua Portuguesa – Trilhas e Tramas – Volume 1 – Leya – São Paulo – 2ª edição – 2016. p. 321-4.

Entendendo a reportagem:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Balada: gíria com o sentido de divertimento noturno dos centros urbanos, geralmente em bares, danceterias e shows.

·        Rap: abreviatura de rhythm and poetry, designa um tipo de poesia e/ou música popular urbana, de origem negra, com ritmo muito marcado e melodia simples.

·        Rapper: pessoa que compõe, recita ou acompanha um rap com gestos, mímica e passos de dança.

·        Single: composição musical considerada viável comercialmente para ser lançada e fazer sucesso.

02 – Você considera relevante e de interesse público o fato relatado nessa reportagem? Justifique sua resposta.

      Resposta pessoal do aluno.

03 – Justifique o uso da expressão “boas notícias” no título da reportagem.

      A expressão foi usada para destacar que a reportagem relata um fato positivo: a realização, já por dez anos, de um sarau literário na periferia da Zona Sul de São Paulo.

04 – Logo após o após o título aparecem as informações “20/04/2011 – 07h01”. O que elas indicam?

      Indicam a data (o registro do dia, mês e ano) e o horário (07h01) em que a reportagem foi postada no site intitulado UOL / Entretenimento / Notícias.

05 – Quem escreveu essa reportagem? O que seria, nos meios jornalísticos, uma colaboração?

      A repórter Marina Vergueiro, em colaboração para o UOL. Significa que a autora da reportagem apenas colabora, isto é, não é uma funcionária do veículo de comunicação.

06 – Releia o subtítulo da reportagem e explique:

a)   O uso da expressão “Há 10 anos”.

A expressão destaca que a iniciativa é duradoura, não se trata de um fato eventual.

b)   O uso de aspas em “no ar”?

Destacar o uso da expressão e indicar que ela está sendo usada em sentido figurado (se refere aos versos de poemas soltos em balões no céu de São Paulo).

07 – As fotos que ilustram uma reportagem geralmente são acompanhadas de um texto inserido abaixo ou ao lado delas. Pelos conhecimentos que você tem, responda:

a)   Como são chamados esses textos?

Legenda.

b)   Qual é sua função na reportagem?

Destacar, resumir e/ou explicar a imagem retratada e registrar a data em que a foto foi feita.

c)   Ao comparar a informação da legenda e a data em que a reportagem foi postada no site, o que é possível deduzir?

Que a foto foi feita sete dias antes de a reportagem ser postada no site.

08 – Leia:

        Lide (do inglês lead: conduzir, liderar) é o nome que se dá, nos meios jornalísticos, ao primeiro parágrafo de uma reportagem ou de uma notícia. Esse parágrafo também pode ser chamado “cabeça da matéria”. De acordo com o Novo Manual da Redação da Folha de S. Paulo, o lide pode ser noticioso e responder às principais questões a respeito do fato noticiado, como o que aconteceu, com quem, onde, quando, como, por que; pode também não ser fatual e usar outra estratégia para chamar a atenção do leitor.

        Baseando-se nessas informações, responda no caderno:

a)   Qual é o lide dessa reportagem?

“Nas noites de quarta-feira no Bar do Zé Batidão, zona sul de São Paulo, “o silêncio é uma prece”. O poeta Sérgio Vaz faz questão de avisar que o sarau da Cooperifa “não é balada”. Um dos mais tradicionais saraus paulistanos, pioneiro na periferia da cidade, a Cooperifa encontrou endereço fixo nesse boteco de uma das esquinas do Jardim São Luiz.”

b)   De acordo com o lide: o que, quando e onde acontece o fato relatado na reportagem?

O que acontece: um sarau da Cooperifa. Quando acontece: nas noites de quarta-feira. Onde acontece: no Bar do Zé Batidão, no Jardim São Luiz, na Zona Sul.

09 – Para redigir uma reportagem, os jornalistas costumam apresentar depoimentos de diferentes pessoas envolvidas nos fatos relatados. Um dos entrevistados da reportagem lida foi o poeta Sérgio Vaz. Na entrevista, ele deu um aviso, fez uma justificativa e uma crítica.

a)   Qual é o aviso?

Ele avisa que o sarau não é uma balada e esclarece que, embora aconteça em um bar, o sarau não é um mero divertimento noturno, mas um evento cultural e literário que exige silêncio para que as pessoas possam ouvir os poemas recitados ou cantados pelos poetas.

b)   Qual é a justificativa?

A justificativa é o sarau acontecer em um bar.

c)   Qual é a crítica?

A crítica é a ausência de espaços públicos na periferia da capital paulista onde os moradores possam realizar atividades culturais e discutir assuntos de interesse da comunidade, como “falar do asfalto, do trator que precisa retirar o barranco, do lixo, do futebol...”.

10 – Leia:

        Nos meios jornalísticos, olho é um recurso de edição usado para ressaltar os melhores trechos de textos mais longos e, assim, “arejar” a leitura. Em geral, o olho destaca frases relevantes e sugestivas. Para ganhar espaço, o olho pode apresentar pequenas alterações ou supressões de palavras.

        Baseando-se nas informações acima, reescreva no caderno o olho dessa reportagem e explique o porquê de ter sido dado destaque a esse trecho.

      “A Cooperifa me mostrou que se eu quero ser escritor eu posso, não preciso pedir autorização para ninguém”. O trecho destaca e resume uma declaração de um dos entrevistados, o rapper Jairo Periafricania.

11 – Leia:

        Intertítulo é um pequeno título empregado no interior de textos mais longos para facilitar a leitura e resumir o bloco de informações que se segue.

        A que o intertítulo “Noites especiais” faz referência?

      A outros eventos realizados pela Cooperifa, como o “Chuva de Livros” (distribuição semestral de livros aos frequentadores do sarau), o “Ajoelhaço” (que ocorre todos os anos na quarta-feira anterior ao Dia Internacional da Mulher) e o “Poesia no Ar” (evento em que os poetas prendem seus poemas em balões e soltam-nos no céu de São Paulo).

12 – No caderno, explique por que a linguagem informal foi utilizada neste trecho da reportagem:

        “Uma vez ouvi um cara falar no negócio de bala perdida na periferia”?

      Trata-se da transcrição da fala de um dos entrevistados, o poeta Sérgio Vaz.

 

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