domingo, 7 de agosto de 2022

ARTIGO DE OPINIÃO: ORTOGRAFIA É LEI? ALDO BIZZOCCHI - COM GABARITO

 Artigo de opinião: Ortografia é lei?

                             Aldo Bizzocchi

    Toda lei estabelece deveres e proibições, bem como sanções a quem a transgride. A ortografia oficial da língua portuguesa é uma lei, votada pelo Congresso e sancionada pelo Executivo, mas que não prevê punições ao seu descumprimento. Por que obedecer a ela então?

        Se um comerciante afixar um cartaz com erros ortográficos na fachada de sua loja (existem muitos casos assim, alguns até hilários), estará ele sujeito a multa? (Só para lembrar: uma lei que previa multas para placas e cartazes com erros de português, inclusive de gramática, entrou em vigor em São Paulo há alguns anos, mas nunca “pegou”, provavelmente por falta de fiscais qualificados.)

        Se um escrivão de polícia transcrever com erros de grafia o depoimento de uma testemunha, pode o advogado da outra parte pedir a anulação desse depoimento? Se um jornal, livro ou revista sair com erro ortográfico – o que não é incomum –, pode o leitor exigir o seu dinheiro de volta e mesmo acionar o Procon?

        Evidentemente, a resposta a todas essas perguntas é não. Então que lei é essa que não precisa ser cumprida, exceto por medo de uma sanção social (ser tachado de ignorante)? A rigor, a única situação em que um erro ortográfico implica punição juridicamente inquestionável são os concursos públicos. Parece então que a grafia “correta” das palavras é muito mais uma questão de hábito do que de legislação. Tanto que muitas línguas sequer têm uma ortografia oficial, o que há são hábitos de escrita arraigados, que todos seguem apenas para facilitar a comunicação.

        O novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que tanta celeuma tem levantado, sobretudo em Portugal, procura unificar por força de lei a grafia do português quando o inglês, idioma bem mais influente e difundido do que o nosso, tem duas grafias tradicionais (a britânica e a norte-americana) e nenhuma oficial. Isso parece coisa da nossa cultura legiferante.

BIZZOCCHI, Aldo. Ortografia é lei? São Paulo, 15 out. 2012. Disponível em: http://revistalingua.com.br/textos/blog-abizzocchi/ortografia-e-lei-271797-1.asp. Acesso em: 19 ago. 2015.

             Fonte: Livro Língua Portuguesa – Trilhas e Tramas – Volume 1 – Leya – São Paulo – 2ª edição – 2016. p. 218-221.

Entendendo o artigo de opinião:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Procon: sigla de Programa de Proteção e Defesa do Consumidor, órgão vinculado à Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, responsável por políticas de proteção e defesa do consumidor.

·        Implica: ocasiona, envolve, provoca.

·        Arraigado: enraizado, permanente, fixo; que mantém a mesma ideia, opinião ou hábito. 

·        Celeuma: discussão veemente, embate de ideias, discordância.

·        Cultura legiferante: hábitos e costumes baseados excessivamente em leis; excesso de legislação na vida cotidiana das pessoas.

02 – Ao escrever seus textos, você costuma ter dúvidas quanto à grafia das palavras?

      Resposta pessoal do aluno.

03 – Em sua opinião, o que pode motivar dúvidas desse tipo?

      Resposta pessoal do aluno.

04 – Você sabia que a ortografia oficial da língua portuguesa é regida por uma lei?

      Resposta pessoal do aluno.

05 – Uma contradição pode ser definida como incoerência entre uma afirmação atual e uma afirmação anterior. Identifique e explique a contradição apresentada na introdução do artigo de opinião.

      Aldo Bizzocchi apresenta uma contradição no trecho “A ortografia oficial da língua portuguesa é uma lei, votada pelo Congresso e sancionada pelo Executivo, mas que não prevê punições ao seu descumprimento”. Ao fazer tal afirmação, o autor revela uma incoerência no próprio conceito de lei, já que, conforme exposto, “Toda lei estabelece deveres e proibições, bem como sanções a quem a transgride”. O uso da conjunção mas expressa esse contraponto, essa quebra na expectativa: uma lei descumprida deveria prever punições, mas não é o que ocorre no caso da ortografia.

06 – No desenvolvimento de sua tese, o articulista apresenta algumas situações hipotéticas, como a do comerciante e a do escrivão que cometem erros ortográficos. Com que objetivo, provavelmente, ele utiliza essa estratégia argumentativa?

      Provavelmente, para apresentar situações hipotéticas e provar que, de modo geral, o descumprimento da lei não acarreta punição.

07 – O autor descreve algumas situações em que o desrespeito às normas ortográficas pode gerar problemas. Que problemas são esses?

      Preconceito contra aqueles que não as seguem; reprovação em concursos públicos.

08 – Em sua opinião, que outros problemas o descumprimento das normas ortográficas pode acarretar?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Dificilmente as incorreções ortográficas são punidas juridicamente e que atitudes de discriminação contra quem comete esse tipo de erro não se justificam.

09 – Qual é a conclusão apresentada no penúltimo parágrafo do texto?

      Aldo Bizzocchi conclui que as normas ortográficas podem ser mais uma questão de hábito do que de legislação. Ele cita exemplos de línguas que não têm ortografia oficial, mas mantêm hábitos arraigados de grafia apenas para facilitar a comunicação.

10 – No último parágrafo do artigo, o autor contrapõe a ortografia do português à do inglês. Explique a que conclusão ele chega ao fazer esse contraponto.

      No último parágrafo, o autor questiona a validade do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, criado com o objetivo de unificar a grafia do português nos países lusófonos. Como contraponto, ele cita o inglês, língua que tem duas grafias tradicionais (a britânica e a estadunidense), mas nenhuma oficial. Com isso, conclui que o esforço de unificação da grafia do português se deve à “cultura legiferante” do Brasil, um país regido por um número excessivo de leis que quase nunca são cumpridas.

11 – Qual é o principal objetivo do artigo de opinião “Ortografia é lei?”, de Aldo Bizzocchi?

      Convencer o leitor de que a legislação em relação à ortografia não funciona.

12 – Leia novamente estes trechos:

       Se um comerciante afixar um cartaz com erros ortográficos na fachada de sua loja [...].

·        Se um escrivão de polícia transcrever com erros de grafia [...].

·        Se um jornal, livro ou revista sair com erro ortográfico [...].

        Com que objetivo o autor do artigo pode ter empregado esse tipo de oração condicional?

      Provavelmente, para levar o leitor a questionar a validade da lei que regulamenta a ortografia.

13 – Releia estes outros trechos:

·        Ortografia é lei?

·        Por que obedecer a ela então?

        Explique o efeito produzido pelo emprego dessas frases interrogativas no artigo de opinião.

      O emprego dessas frases interrogativas é uma estratégia argumentativa. Ao utilizá-las, o autor busca a adesão do leitor à sua tese.

14 – Que recursos estilísticos predominam na construção do texto? Cite pelo menos dois e dê exemplos.

      O autor emprega, principalmente, a ironia e o humor. A ironia, por exemplo, está presente na pergunta “Se um comerciante afixar um cartaz com erros ortográficos na fachada de sua loja (existem muitos casos assim, alguns até hilários), estará ele sujeito a multa?”. O humor também é construído na suposição de que os erros ortográficos não seriam punidos pela escassez de pessoas capazes de seguir a norma ortográfica: “[...] uma lei que previa multa [...] entrou em vigor [...], mas nunca ‘pegou’, provavelmente por falta de fiscais qualificados.”

15 – Na língua portuguesa, um mesmo fonema pode ser grafado com letras diferentes. Leia:

·        Então que lei é essa que não precisa ser cumprida, exceto por medo de uma sanção social (ser tachado de ignorante)?

·        O país vivia de expedientes, isto é, de cinquenta em cinquenta anos, descobria-se nele um produto que ficava sendo a sua riqueza. Os governos taxavam-no a mais não poder [...].

BARRETO, Lima. Os Bruzundangas. São Paulo: Ática, 1998. p. 29.

        O que você observou em relação à grafia e ao sentido das palavras destacadas?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Essas palavras são homônimas homófonos, ou seja, palavras idênticas na pronúncia, mas diferentes na grafia e no significado. O ch em tachar tem o sentido de “pôr tacha ou defeito em alguém, acusar, censurar, notar; Em taxar significa “tributar, colocar preço, aplicar multa ou taxa, etc. os dois representam o mesmo fonema.

16 – Estabeleça a diferença de sentido entre as palavras homófonas a seguir:

a)   Caçar e cassar – Caçar: perseguir animais silvestres a tiro, a rede, para aprisionar ou matar; procurar, buscar. Cassar: tornar nulo ou sem efeito.

b)   Acender e ascender – Acender: pôr fogo, fazer arder; queimar, incendiar. Ascender: subir; elevar-se; erguer-se.

c)   Seção e sessão – Seção: parte de um todo, segmento. Divisão. Sessão: espaço de tempo que dura uma reunião, um congresso, um encontro, um espetáculo; a realização de um trabalho, a apresentação de um filme, de uma peça teatral, etc.

d)   Apreçar e apressar – Apreçar: perguntar ou pesquisar o preço de algo; ajustar o preço, atribuir grande preço ou valor. Apressar: tornar rápido ou mais rápido, acelerar; antecipar; abreviar.

17– Leia este verbete:

Sanção. Do latim sanctione, “ato de tornar santo, respeitado.”

S. f.

1. Aprovação dada a uma lei pelo chefe do Estado. 2. Parte da lei em que se apontam as penas contra infratores dela. 3. Pena ou recompensa com que se tenta garantir a execução de uma lei [...].

        Com base nessas acepções, explique o sentido das palavras destacadas em cada item:

a)   Toda lei estabelece deveres e proibições, bem como sanções a quem a transgride.

Sanções: penas, punições com que se procura garantir a execução de uma lei.

b)   A ortografia oficial da língua portuguesa é uma lei, votada pelo Congresso e sancionada pelo Executivo, mas que não prevê punições ao seu descumprimento.

Sancionada: que foi aprovada, oficializada, assinada, garantida pelo Poder Executivo.

c)   Então que lei é essa que não precisa ser cumprida, exceto por medo de uma sanção social (ser tachado de ignorante)?

Sanção (social): pena, punição ou recriminação da sociedade a quem transgride ou não cumpre uma lei.

 

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