Romance: O pequeno príncipe – Fragmento
[...]
E foi então que apareceu a raposa:
[...]
-- Vem brincar comigo, propôs o
principezinho. – Estou tão triste...
-- Eu não posso brincar contigo, disse
a raposa. – Não fui cativada ainda. [...]
-- Que quer dizer "cativar"? [...]
-- É uma coisa muito esquecida, disse a
raposa. – Significa "criar laços...” [...] - Tu não és para mim senão um
garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade
de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma
raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos
necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti
única no mundo...
-- Começo a compreender, disse o
principezinho. Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...
-- [...] se tu me cativas, minha vida
será como que cheia de sol. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo?
Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens
cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O
trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no
trigo... [...] Por favor... cativa-me! – disse ela. [...].
-- Que é preciso fazer? perguntou o
principezinho.
-- É preciso ser paciente - respondeu a
raposa. [...]
No dia seguinte o principezinho voltou.
-- Teria sido melhor voltares à mesma
hora, disse a raposa. Se tu vens, por
exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto
mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então,
estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas, se tu vens
a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... [...]. Assim
o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a
raposa disse:
-- Ah! Eu vou chorar.
-- A culpa é tua, [...] tu quiseste que
eu te cativasse...
-- Quis, disse a raposa.
-- Mas tu vais chorar! Disse o
principezinho.
-- Vou, disse a raposa.
-- Então, nãos sais lucrando nada!
-- Eu lucro, disse a raposa, por causa
da cor do trigo. [...] Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente
de um segredo. [...]
E voltou, então, à raposa:
-- Adeus, disse ele...
-- Adeus, disse a raposa. Eis o meu
segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível
para os olhos. [...] Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão
importante. [...] Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não
a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.
Tu és responsável pela rosa...
-- Eu sou responsável pela minha
rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
SAINT-EXUPÉRY, Antoine de. O
pequeno príncipe. Tradução de Dom Marcos Barbosa. 41. ed. Rio de Janeiro: Agir,
2015.
Fonte: Língua
Portuguesa – Estações – Ensino Médio – Volume Único. 1ª edição, São Paulo, 2020
– editora Ática – p. 96-7. (Fragmento).
Entendendo o romance:
01 – O que a presença de um
animal falante pode revelar sobre o teor da narrativa?
A presença do animal falante pode revelar
que se trata de uma narrativa de fantasia, repleta de ensinamentos sobre a
amizade e sobre as relações humanas de modo geral, o que a aproxima de gêneros
como as fábulas e os contos de fadas, que têm função moralizante.
02 – O que significa o verbo
cativar, segundo a raposa?
Significa “criar
laços...”, ou seja, estabelecer relação de afeto com alguém.
03 – A raposa afirma que cativar é uma “coisa muito esquecida”. Que ela pode ter dito isso? Qual é sua
opinião sobre essa afirmação? Acha que ela se aplica aos dias de hoje?
Resposta pessoal
do aluno. Sugestão: Provavelmente, a resposta da raposa reflete a dificuldade
de estabelecer laços, algo que pode ser aplicado às relações atuais.
04 – Por que a raposa diz ao
príncipe que, se for cativada, terá outro olhar sobre o campo de trigo?
Justifique sua resposta explicando a comparação feita pela personagem.
Porque o trigal
dourado fará a raposa se lembrar dos cabelos loiros do pequeno príncipe e passará
a ter um sentido afetivo para ela. A raposa compara o dourado dos cabelos do
príncipe à cor do trigo.
05 – Explique o segredo que
a raposa revela ao principezinho.
Significa que,
quando cativamos alguém, somos responsáveis pela felicidade dessa pessoa, pois
ela passa a fazer parte de nossa vida, de tal modo que nos cabe cuidar dela
para sempre.
06 – O que quer dizer se
tornar “eternamente responsável” pelo que se cativou”
Que o essencial é
invisível para os olhos, pois só se pode ver bem com o coração. Ou seja, uma
das coisas mais importantes na vida é o que sentimos, são nossos afetos.
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