Poema em prosa: Ocaso no mar
Cruz e Sousa
Num fulgor d’ouro velho o sol tranquilamente
desce para o ocaso, no limite extremo do mar, d’águas calmas, serenas, dum
espesso verde pesado, glauco, num tom de bronze.
No céu, de um desmaiado azul, ainda
claro, há uma doce suavidade astral e religiosa.
Às derradeiras cintilações doiradas do
nobre Astro do dia, os navios, com o maravilhoso aspecto das mastreações, na
quietação das ondas, parecem estar em êxtase na tarde.
Num
esmalte de gravura, os mastros, com as vergas altas lembrando, na
distância, esguios caracteres de música, pautam o fundo do horizonte
límpido.
Os navios, assim armados, com a
mastreação, as vergas dispostas por essa forma, estão como a fazer-se de vela,
prontos a arrancar do porto.
Um ritmo indefinível, como a errante
etereal expressão das forças originais e virgens, inefavelmente desce, na tarde
que finda, por entre a nitidez já indecisa dos mastros...
Em pouco as sombras densas envolvem
gradativamente o horizonte em torno, a vastidão das vagas.
Começa, então, no alto e profundo
firmamento silencioso, o brilho frio e fino, aristocrático das estrelas.
Surgindo através de tufos escuros de
folhagem, além, nos cimos montanhosos, uma lua amarela, de face chara de chim,
verte um óleo luminoso e dormente em toda a amplidão da paisagem.
Disponível em: http://dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000076.pdf.
Acesso em: 27 abr. 2016.
Fonte: Língua Portuguesa – Se liga na
língua – Literatura, Produção de texto, Linguagem – 2 Ensino Médio – 1ª edição
– São Paulo, 2016 – Moderna – p. 127.
Entendendo o poema em prosa:
01 – De acordo com o texto,
qual o significado das palavras abaixo:
·
Fulgor: brilho.
·
Ocaso: pôr do sol.
·
Glauco: verde-azulado.
·
Mastreações: conjuntos de mastros.
·
Vergas: vigas.
·
Etereal: sublime, divina.
·
Inefavelmente: de forma indescritível.
·
Chim: chinês.
02 – Os poemas simbolistas
caracterizam-se pelo uso de palavras incomuns, de um vocabulário não coloquial,
sofisticado. Relacione essa afirmação ao poema “Ocaso no mar” e justifique sua resposta com exemplos.
No poema “Ocaso no mar”, Cruz e Sousa utiliza
vocabulário incomum, não coloquial, sofisticado, tal como referido na
afirmação. Exemplos: “Fulgor”, “Ocaso”, “Glauco”, “eteral”, “inefavelmente”,
etc.
03 – Que fenômeno natural
está sendo descrito no poema de Cruz e Sousa?
O poema descreve
o pôr do sol no mar e o início da noite, com o surgimento da lua e das
estrelas.
04 – Os simbolistas
valorizavam a ideia de sugestão. Encontre em “Ocaso no mar” exemplos que confirmam essa afirmação.
No poema “Ocaso
no mar”, em lugar de simplesmente descrever o pôr do sol no mar e o início da
noite, o poeta sugere esses fenômenos. O sol não é apenas amarelo: há nele um
“fulgor d’ouro velho”, o mar é “dum espesso verde pesado”, “num tom de bronze”.
No céu, há uma doce suavidade astral e religiosos”, etc.
05 – Que recursos utilizados
por Cruz e Sousa intensificam a sonoridade do poema?
Em algumas
passagens, Cruz e Sousa faz uso de aliterações e assonâncias.
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