quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

CRÔNICA: O AMOR DEIXA MUITO A DESEJAR - ARNALDO JABOR - COM GABARITO

 Crônica: O amor deixa muito a desejar

               Arnaldo Jabor

[...]

Eu devia ter uns 6 anos, no máximo. Foi meu primeiro dia de aula no colégio, lá no Meier, onde minha mãe me levou, pela Rua 24 de Maio, coberta de folhas de mangueira que o vento derrubava. Fiquei sozinho, desamparado, sem pai nem mãe no colégio desconhecido. No pátio do recreio, crianças corriam. Uma bola de borracha voou em minha direção e bateu em meu peito. 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqdAKCTLUIUo-tYcpZ6jErz5FtKwyKKEihJOsB5XEeCfCcjLsVl3-f_K9fAhTnCVB4KSQNAi4CNhdah3PnsZeozTImGpBZNJoG14BxlfbaYv9Lqay90Y-c_wFTAac1kaWJ1fNR70KLaip6LTZiKvUKXvZ-xNtpbW_UHj4CsKHXwK_2EJn4754T3eq7k4c/s3750/O%20Primeiro%20Dia%20de%20Aula%20de%20Matheus!.jpg


Olhei e vi uma menina morena, de tranças, com olhos negros, bem perto, me pedindo a bola e, nesse segundo, eu me apaixonei. Lembro-me de que seu queixo tinha um pequeno machucado, como um arranhão com mercúrio-cromo, lembro-me que ela tinha um nariz arrebitado, insolente e que, num lampejo, eu senti um tremor desconhecido, logo interrompido pelo jogo, pela bola que eu devolvi, pelos gritos e correria do recreio. Ela deve ter me olhado no fundo dos olhos por uns três segundos mas, até hoje, eu me lembro exatamente de sua expressão afogueada e vi que ela sentira também algum sinal no corpo, alguma informação do seu destino sexual de fêmea, alguma manifestação da matéria, alguma mensagem do DNA. Recordando minha impressão de menino, tenho certeza de que nossos olhos viram a mesma coisa, um no outro. Senti que eu fazia parte de um magnetismo da natureza que me envolvia, que envolvia a menina, que alguma coisa vibrava entre nós e senti que eu tinha um destino ligado àquele tipo de ser, gente que usava trança, que ria com dentes brancos e lábios vermelhos, que  era diferente de mim e entendi vagamente que, sem aquela diferença, eu não me completaria. Ela voltou correndo para o jogo, vi suas pernas correndo e ela se virando com uma última olhada.

Misteriosamente, nunca mais a encontrei naquela escola. Lembro-me que me lembrei dela quando vi aquele filme Love Story, não pelo medíocre filme, mas pelo rosto de Ali McGraw, que era exatamente o rosto que vivia na minha memória. Recordo também, com estranheza, que meu sentimento infantil foi de “impossibilidade”; aquele rosto me pareceu maravilhoso e impossível de ser atingido inteiramente, foi um instante mágico ao mesmo tempo de descoberta e de perda. Escrevendo agora, percebo que aquela sensação de profundo “sentido” que tive aos 6 anos pode ter marcado minha maneira de ser e de amar pelos tempos que viriam. Senti a presença de algo belíssimo e inapreensível que, hoje, velho de guerra, arrisco dizer que talvez seja essa a marca do amor: ser impossível. [...]

(Disponível em: http://pensador.uol.com.br/cronica_do_amor_arnaldo_jabor/. Acesso em: 20/11/2015.)

 

Entendendo o texto

01. Qual a idade do narrador no primeiro dia de aula no colégio descrito na crônica?

      A) 10 anos.

      B) 6 anos.

      C) 12 anos.

      D) 8 anos.

  02. Como o narrador se sentiu ao ser atingido pela bola de borracha?

     A) Assustado.

     B) feliz.

     C) Apaixonado.

     D) Desinteressado.

03.  O que chamou a atenção do narrador na menina que ele pediu a bola?

      A) Cabelos loiros.

      B) Olhos azuis.

     C) Tranças.

     D) Roupas coloridas.

04. Qual é a lembrança específica do narrador do rosto da menina?

     A) Um pequeno machucado no queixo.

     B) Olhos verdes.

     C) Nariz pequeno.

    D) Lábios finos.

05.  Como o narrador descreveu a sensação que teve ao olhar nos olhos da menina?

     A) Desinteresse.

     B) Medo.

    C) Tremor desconhecido.

    D) Raiva.

06. O que o narrador sentiu ao ver a menina pela primeira vez?

     A) Amor à primeira vista.

     B) Curiosidade.

     C) Indiferença.

     D) Nostalgia.

07.  Qual foi o fato da menina ao olhar nos olhos do narrador?

     A) Sorriu.

    B) Ficou assustado.

    C) Ficou indiferente.

    D) Correu para longe.

08. Como o narrador descreve a sensação ao gravar da menina ao assistir ao filme Love Story?

     A) Tristeza.

     B) Alegria.

     C) Desprezo.

     D) Estranheza.

09. Qual é a conclusão do narrador sobre o amor ao longo da crônica?

      A) O amor é fácil de compreender.

     B) O amor é belo, mas alcançá-lo é impossível.

     C) O amor é passageiro.

     D) O amor é uma ilusão.

 


 

 

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