Conto: O PLANETA DO PEQUENO PRÍNCIPE PRETO
Fragmento adaptado.
Rodrigo França
Em um minúsculo planeta mora um menino
preto com uma árvore Baobá.
O menino gosta muito de regar a Baobá,
que é sua única companheira.
— Vocês só estão me ouvindo, mas não
conseguem me ver. Estou atrás do tronco de uma árvore, da Baobá. É uma árvore
linda, imensa, gigante. Estou de braços abertos tentando envolvê-la, mas não
consigo. Precisaria de duas, três, quatro... De muita gente. Abraçar a Baobá é
uma troca de força, de energia. Sabe quando a bateria está fraca? Então, eu
venho aqui e recarrego.
Ah, já ia esquecendo: eu sou o Príncipe
deste planeta. A Baobá disse que sou o Pequeno Príncipe. Ela é a Grande
Princesa.
Este planeta é tão pequeno que só
cabemos nós dois aqui. Em breve seremos três. Comparado a um planeta chamado
Terra, aqui é tão pequeno que parece um grão de areia. Existem outros planetas
espalhados por esse infinito Universo. Conheço alguns, mas o meu sonho é
conhecer todos, um a um. Saber quem mora nesses lugares e o que fazem. Enquanto
faço isso, deixo a semente da Baobá, porque quero espalhar por aí o que tenho
de mais precioso: ela e o UBUNTU.
Foi uma promessa que fiz para a Baobá.
Mas, para sair daqui preciso aproveitar as ventanias, que só aparecem de vez em
quando. Então, quando elas aparecem, eu saio voando, voando.
Eu não sei quem veio primeiro. O
planeta ou a Baobá. Ela é uma árvore sagrada, milenar. Está há tanto tempo
aqui…
A Baobá gosta
do solo seco, mas eu rego todos os dias com água morna. Não gosto de ver
ninguém com sede. As amizades também devem ser regadas todos os dias. Nem
com muita água, nem com pouca.
Deixe-me contar um segredo: uma vez por
ano, numa única noite, nasce uma solitária flor de cabeça para baixo, e a Baobá
explode de vida e alegria.
A flor dura poucas horas e fede igual a
carniça, mas é linda demais. Eu acho engraçado, porque a Baobá é ao contrário.
Os galhos são secos para cima, parecem raízes. As folhas só brotam quando
chove. Parece até que caiu do céu, de ponta-cabeça.
Devo tanto à Baobá, sabe? Sabedoria é
comida que nos alimenta.
Existe uma coisa chamada
ancestralidade. Antes dessa árvore, existiu outra árvore, antes existiu outra
árvore, e mais outra, outra e outra… Antes de mim vieram os meus pais, os meus
avós, os meus bisavós, os meus tataravós, os meus ta-ta-taravós… Todos eram reis,
rainhas.
Como pode existir o hoje, o agora, se
você não conhece o seu passado, a sua origem, as suas características? É assim
que a gente conhece a nossa ancestralidade. Isso é sabedoria e ancestralidade
A minha pele é da cor desse solo.
Quando eu rego fica mais escuro, cor de chocolate, de café quentinho. As cores
são diferentes, iguais aos lápis de cor. Tem gente que fala que existe um lápis
“cor de pele”. Como assim? A pele pode ter tantos tons…
Eu sou negro! Um pouco mais claro que
alguns negros e um pouco mais escuro que outros. É como a cor verde… Tem o
verde-escuro e o verde-claro, mas nenhum dos dois deixa de ser verde. Eu gosto
muito da minha cor e dos meus traços.
Minha boca é grande e carnuda.
Olhe o meu sorriso, como é simpático e
bonito!
Eu tenho nariz de batata. Eu adoro
batata e adoro meu nariz.
Meus olhos são escuros como a noite.
Também existem olhos claros, mas gosto dos meus olhos como eles são. Porque são
meus.
Meu cabelo não é ruim. Ele não fala mal
de ninguém. Antes eu cortava meu cabelo bem baixinho, mas agora estou deixando
crescer. Quero que fique para cima igual aos galhos da Baobá. Vai crescer,
crescer, crescer… Vai ficar forte, brilhoso, volumoso. Olhe para o céu! Ele
será o limite.
Rodrigo França. O
Pequeno Príncipe Preto. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2020.
Fonte: Coleção Desafio
Língua Portuguesa – 5° ano – Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Roberta
Vaiano – 1ª edição – São Paulo, 2021 – Moderna – p. MP052 – Mpo054.
Entendendo o conto:
01 – Quem é o narrador da
história?
a) A Baobá.
b) A Grande Princesa.
c) O Pequeno Príncipe.
02 – Quem faz companhia ao
menino no planeta em que ele habita?
a) O pai e a mãe do príncipe.
b) Uma árvore grande e sagrada.
c) Vários reis e rainhas, avós do príncipe.
03 – É possível perceber que a
Baobá é, de fato, enorme porque:
a) O Pequeno Príncipe não consegue envolver a árvore com os braços abertos.
b) Apenas uma pessoa conseguiria envolver a árvore com os braços abertos.
c) Baobás costumam ser árvores não muito grandes.
04 – A árvore chama o menino
de Pequeno Príncipe porque:
a) Esse é o apelido que outras árvores deram ao menino.
b) Ele é o único príncipe que já existiu no planeta.
c) Ele é uma criança de quem ela gosta muito.
05 – Quem veio primeiro: a
árvore ou o planeta?
a) O menino não sabe se quem veio primeiro foi a árvore ou o planeta.
b) O menino tem uma certeza de que o planeta veio primeiro.
c) O menino acha que foi a árvore, pois ela está há muito tempo no planeta.
06 – Como é a Baobá e o
Pequeno Príncipe? Reconte como o menino descreve a si mesmo e a árvore.
A Baobá é uma
árvore linda e imensa, gosta de solo seco, é uma árvore sagrada, milenar. O
menino é negro, tem boca grande e carnuda, sorriso simpático e bonito, nariz de
batata, olhos escuros e cabelos que “não é ruim”.
07 – Releia o trecho em que o
menino fala de amizade.
“A Baobá gosta do solo seco, mas eu rego todos os dias com água morna. Não gosto de ver ninguém com sede. As amizades também devem ser regadas todos os dias. [...]”. Como o menino alimenta a amizade que tem com a árvore Baobá?
Ele a rega todos
os dias com água morna para demonstrar seu afeto.
08 – No trecho: “Meu cabelo
não é ruim. Ele não fala mal de ninguém.”, podemos dizer que a segunda
afirmação é inusitada porque faz uma crítica. O que o menino está criticando?
O menino está
criticando o modo preconceituoso como muitas se referem ao cabelo das pessoas
negras, dizendo que é “ruim” por ser crespo ou encaracolado.
09 – Releia o trecho abaixo:
“A Baobá gosta do solo seco, mas eu rego todos os dias com água
morna”. Reescreva esse trecho, substituindo as palavras destacadas por
sinônimos.
A Baobá gosta do solo árido/desértico,
contudo eu rego todos os dias com água morna.
10 – Releia o trecho abaixo: “A
minha pele é da cor desse solo. Quando eu rego fica mais escuro,
cor de chocolate, de café quentinho. As cores são diferentes, iguais aos lápis
de cor. Tem gente que fala que existe um lápis “cor de pele”.
Como assim?
a) Em que situações costumamos empregar o verbo regar?
Usa-se o verbo regar ao falar da ação de molhar ou umedecer
as plantas e a terra.
b) Por que o menino não concorda com a existência de um lápis “cor de pele”?
Porque ele sabe que há muitos tons de pele, e o chamado lápis “cor
de pele” refere-se a apenas um tom.
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