domingo, 3 de dezembro de 2023

HISTÓRIA: O SEGREDO DA COBRA - SHENIPABU MIYUI - COM GABARITO

 História: O Segredo da Cobra

        Aconteceu assim:

        A mãe e o pai do menino saíram para tirar mudubim. O menino ficou com o avô em casa, flechando cobra pequena para amansar. Ele ficou flechando e a cobra foi crescendo, levantando devagarzinho.

        ─ Ah, o menino quer me matar! Eu vou é criar ele.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPS0kPtie7VuYH8BZTKzzSu_5r_Yj81m8Th9w0J4W8A9NcIZ1ukrJUTtprwP42ehqQ6KPCmpLO9WXgy_Ty3MIczJLFxsYuuL9062F1VjwN2kG9aPLvcY_3CfxepDQrWEWNHog3RLrwj4FERUUmiprPUw8PcPKlGyjZeA9BI7rAljF5aUDf8T2WkWHtepg/s320/IGARAP%C3%89.jpg


        A cobra carregou o menino, descendo no igarapé. Lá ficou à ruma.

        Chegaram o pai e a mãe do menino, caçaram ele e não encontraram. Caçaram a cobra que tinha descido no igarapé.

        ─ Pronto, então a cobra engoliu o menino.

        Já era tarde quando a cobra chegou com o menino. Então, disse:

        ─ Bem, menino, você quer me matar? Vamos matar o Jaminawa, né? Chama Kukuxinawa. O Kukuxinawa é valente para matar. Vamos embora!

        A cobra matou cutia e comeu. Na manhã seguinte foi baixando igarapé, igarapé, igarapé. De tarde, disse:

        ─ Vamos dormir aqui!

        No dia seguinte, matou namhu e comeu mais o menino. Dormiu. Quando o dia amanheceu, partiu de novo, mais ele. E o menino ia crescendo a cada dia. E eles foram baixando, baixando até chegar na boca do igarapé.

        ─ Chegamos no rio grande. Agora está perto para matar um Jaminawa, Kukuxinawa. Eles andam de noite, assim como lanterna.

        ─ Vamos ficar aqui. E vamos fazer flecha para matar.

        E foram ajeitando flecha e prepararam arpão para matar. Três dias passaram até ajeitarem flecha.

        ─ Agora nós vamos matar Kukuxinawa.

        Eles baixaram devagarinho e pararam para dormir. Kukuxinawa, diz, que vem passando de noite mesmo, caçando de noite mesmo. Dormiram em cima do uricuri novo, sentados, atrepados no pau.

        ─ Não conversa, senão Kukuxinawa nos mata de manhã.

        ─ Vamos embora. Vamos matar Kukuxinawa.

        Chegaram lá. Kukuxinawa estava dormindo de dia. Todos nus. Mulher mijando assim, com o filho nu. Outro bocado, todos pinicando. Eles ficaram espiando. De dia mesmo, pois diz que Kukuxinawa não enxergava como de noite.

        ─ Como nós fazemos?

        ─ Deixa. Quando dormirem, nós matamos.

        Os Kukuxinawa deitaram e dormiram. Então, a cobra e o menino mataram eles com cacete e com flecha. Mataram tudinho.

        O menino já estava um homão. Cresceu, cresceu... E ficou homem.

        ─ Bom, você já está matando gente. Agora nós vamos subir no outro igarapé. Nós vamos por aqui, subindo, subindo, subindo, bem na cabeceira.

        Passaram perto da boca e depois seguiram uma perna do igarapé.

        ─ Agora, nós vamos matar rancho para levar para sua mie.

        Ficaram no tapiri, matando veado, anta, porco... todos os bichos que passaram. Então muquiaram, muquiaram bem as carnes.

        ─ Agora, vamos fazer uma peira para levar as carnes dentro.

        Fizeram uma peira bem grande.

        ─ Cadê todas as carnes muquiadas? Onde você botou?

        ─ Está tudo aqui.

        ─ Você não pode com o peso.

        A cobra botou a peira nas costas e saíram andando, andando. Até que chegaram num campo bem perto da casa da mãe do menino.

        ─ Bem, vou deixar você aqui. Agora eu dou ao meu filho um arpão para matar caça. Vou ensinar o segredo. Você não vai contar para ninguém. Vou ensinar só para você. Faz assim como eu estou ensinando, mesmo! Pegue assim!

        ─ Tá.

        ─ Não vai dizer para ninguém, senão eu tomo de volta o arpão e você fica panema.

        ─ Tá.

        ─ Eu vou ficar por aqui, escutando. Não vou sair daqui.

        ─ Tá.

        ─ Quer levar tua carne? Pode levar. Entrega a tua mãe.

        O menino pegou a peira e carregou nas costas até sua mãe.

        ─ A mãe dele andava chorando, chorando, já com a cara inchada. Chorava, chorava.

        Mamãe, mamãe!

        ─ Você não é meu filho. Eu quero meu filho mesmo.

        ─ Sou eu mesmo, mamãe!

        ─ Não, filho de outro eu não quero. Eu quero meu filho mesmo. Não sei onde foi o meu filho. Estou com saudades.

        E continuou chorando de tarde, chorando. Pouco mais, a mãe virou e disse:

        ─ E ele! Meu filho, onde você andou? Como apareceu assim, meu filho?

        ─ Ah, mãe, foi cobra que me carregou. Eu fui com ela matar Kukuxinawa e matei.

        ─ E mesmo!?

        ─ Eu trouxe carne pra senhora poder comer.

        Diz que trouxe tanta carne que a mãe dele admirou. Guisou toda a carne e, todos que quiseram, comeram. Com dois dias de festas, acabou a carne.

        ─ Bem, mamãe, eu vou matar mais caça.

        ─ Vai.

        ─ Vi um rastro de anta e de porco.

        Matou de arpão. Matou seis porcos. Não andava muito não. Só no rastro mesmo, fazendo feito folha.

        ─ Mamãe, matei porco e anta.

        ─ Então teu pai vai buscar. Eu não vou. Vou só preparar a carne.

        Então o cunhado dele, diz que era o cunhado dele, foi mais ele buscar anta, veado, porco.

        O cunhado disse:

        ─ Rá, rá!! Como eu não sou feliz assim para matar veado, anta, rá, rá!

        Mangou do menino, o cunhado dele.

        O pai do menino viu:

        ─ Como foi que você matou tanta caça?

        ─ Como foi? Foi que a cobra me deu urucum para ficar feliz.

        ─ Foi?

        ─ Foi.

        ─ Então, corno a gente faz?

        ─ A gente passa o urucum e urna ruma de folha e mata com arpão.

        ─ Então me ensina, tá? Vamos embora.

        ─ Vou ensinar.

        Ele foi na frente. Lá, encontrou rastro de anta. Passou o urucum. E, cheio de folha no corpo, atirou o arpão. A anta não morreu, não. A cobra já tinha levado dele o segredo do urucum.

Organização dos professores indígena do Acre. Shenipabu Miyui. História dos antigos.

Entendendo a história:

01 – Quem ficou responsável pelo menino quando seus pais saíram?

      O avô ficou responsável pelo menino enquanto seus pais estavam fora.

02 – Qual foi a ocorrência da cobra quando viu que o menino estava flechando?

      A cobra decidiu criar o menino, em vez de matá-lo.

03 – Para onde a cobra levou o menino?

      A cobra levou o menino para o igarapé.

04 – Quem procurou e encontrou o menino?

      Os pais do menino procuraram por ele e resgataram a cobra no igarapé.

05 – O que a cobra propôs ao menino quando finalmente o trouxe de volta?

      A cobra fez com que eles matassem Jaminawa, chamando Kukuxinawa, um caçador valente.

06 – Como a cobra e o menino mataram os Kukuxinawa?

      Eles os mataram com cacete e flecha enquanto os Kukuxinawa dormiram durante o dia.

07 – O que a cobra ensinou ao menino antes de se separarem?

     A cobra ensinou ao menino o segredo do arpão e do urucum para caçar.

08 – Qual foi a ocorrência da mãe quando o menino voltou depois de ter sido carregado pela cobra?

      Inicialmente, a mãe não conheceu o menino e decidiu que era ele. Depois, ficou emocionado ao ver que era seu filho.

09 – Como o menino conseguiu caçar tanta carne depois que a cobra partiu?

      Usando o conhecimento da cobra sobre o urucum para atrair a caça e o segredo do arpão para caçar.

10 – Por que o pai do menino não teve sucesso ao tentar usar o urucum para caçar?

      A cobra havia levado embora o segredo do urucum, então quando o pai o usou, não teve sucesso na caçada.

 

 

 

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