História: Fumaça do Tabaco
Tekã Kuru, um jovem como nós, fez um
rapé de tabaco muito forte, o mais forte que tinha. Então, ele tomou o rapé.
Pegou o canudo de taboca, botou o tabaco na mão e aspirou. Ficou bêbado e
passou um ano na rede, ali deitado. Por isso que hoje em dia o tabaco é forte.
Passou um ano curtindo.
Tekã Kuru tinha uma esposa. Enquanto
ele ficou de porre de tabaco, sua mulher sempre andava para lá e para cá. Até
que começou a namorar com outro cara. Ela começou a ir muito ao roçado. Às
vezes, quando voltava, trazia um nambu. Botava na caçarola de barro e caía
depois na rede. Fazia que dormia e ficava rosnando como se tivesse pesadelo.
A mãe dela perguntava:
─ O que é que minha filha tem?
Pegava no punho da rede e balançava. A
filha fingia que acordava e fazia que era encantada. Mandava sua mie abrir a
panela. A velha abria e encontrava o nambu.
A filha fazia que estava estudando o
estudo para se pajé. Toda vez que vinha do roçado, aparecia com um macaco, um
jabuti e todas aquelas caças.
Parece que um dia, depois de um ano
dentro da rede, o marido não suportou mais. Levantou, pegou sua arma, flecha e
borduna e caminhou atrás da mulher.
Encontrou a mulher conversando com
outro cara. Tekã Kuru então empurrou a lança nas costas do homem, furou também
a mulher. Bateu depois com a borduna até que matou os dois.
Quando chegou em casa, a velha estava
esperando a filha.
─ É, minha sogra, parece que tua filha
tá morta.
A velha correu para o roçado e lá
encontrou os dois caídos.
Enquanto isso, Tekã Kuru sumiu.
Acompanhou ele como sua nova mulher uma prima. Foram andando, andando no mundo,
até chegarem em outra aldeia na casa de uma irmã dele. Atou sua rede e contou
para a irmã que tinha matado sua mulher. Passou ali uns três meses. Depois,
seguiu para outra aldeia, onde morava outra irmã. Ela estava viúva. Seu marido
tinha sido comido por um encantado. Nesse dia, Tekã resolveu partir uma lenha
para ajudar sua irmã, que lhe disse:
─ Não, meu irmão, não parte essa lenha
não, porque o bicho vem e come a gente.
O irmão não se importou. Pegou o
machado e começou a abrir a lenha.
A lenha afastava-se sozinha, O homem
tentou três vezes abrir a lenha, até que apareceu um homem encantado. Ele pegou
a borduna, bateu e firmou com a lança, até matar o encantado.
Passado ti m mês, foi para outra aldeia
e encontrou outra irmã viúva.
─ Irmão, eu não tenho mais marido.
Ontem, a onça comeu ele.
O irmão resolveu pegar essa onça.
Perguntou a que horas que ela atacava. A irmã Contou tudinho. Chegava de noite,
às doze horas. Quando a pessoa estava dormindo na rede, pegava ela de surpresa
e comia.
Então, o Irmão mandou cercar tudinho.
Cercou a casa da irmã e mandou ficar lá na rede a mulher dele e a irmã viúva.
Ele ficou na porta esperando até as doze horas. Quando quis dar no sono, ele
escutou a onça esturrar. Pegou a flecha. Quando viu o vulto do bicho, apertou a
flecha e flechou a onça. A onça caiu morta.
Passaram-se
mais dois meses. Tekã Kuru seguiu para outra aldeia, onde tinha outra irmã.
Esta, toda vez que tinha um filho, o gavião real levava para seu ninho, numa
samaúma grande no mato. Pegava o menino na hora que ela ia dar banho no
terreiro.
O
irmão resolveu pegar o gavião real para salvar seus sobrinhos. Mandou buscar
barro e fez uma boneca grande, tipo um menino. Cortou cabelo, colocou no boneco
e quando viu o gavião real chegando no pau da samaúma mandou a irmã banhar o
boneco no terreiro, como fazia com os filhos.
Assim a irmã fez. Quando viu o gavião
voando para pegar a criança, soltou a boneca e o bicho se atracou com o menino,
mas não pôde carregar. Pregou os dois pés e ficou enfiado no barro liguento. O
irmão veio e meteu o pau, matou o gavião real.
Passaram mais dois meses e o irmão
resolveu passear em outra aldeia onde estava sua outra irmã.
─ Não, não vá, não! Lá no meio cio
caminho tem um pica-pau que, quando começa a cantar, ninguém conseguiu sobreviver
ao seu canto.
O homem foi assim mesmo. Quando o
pica-pau chegou voando, cantando, foi morto pela sua borduna.
Chegou assim na casa de sua irmã.
Passados uns meses, resolveu seguir viagem para outra aldeia, visitar urna
outra irmã.
─ Não, não vá, não! No meio do caminho
tem uma casinha que faz escurecer, quando alguém vai chegando lá.
Ele assim mesmo decidiu ir. Seguiu seu
caminho e quando chegou no ponto que sua irmã falava, escureceu. Ele ficou lá
debaixo da casinha, atou a rede, convidou sua mulher para deitar, acendeu um
pedaço de sernambi para alumiar e escondeu a luz debaixo de urna panela. Quando
deu base de doze horas, ele ouviu bater de cima para baixo, descendo, um bicho
que comia gente. O bicho vinha descendo e, quando chegou pertinho da casa, o
homem abriu a panela, clareou a escuridão e meteu a flecha no animal que caiu,
“pof”, no chão.
Conseguiu chegar na casa de sua outra
irmã que disse espantada:
─ Como é que você vem chegando aqui?
Ali ninguém nunca passou. Ali some mesmo!
O irmão descansou lá uns dias e
resolveu continuar seu caminho para visitar outra irmã.
Chegou em outra aldeia, onde encontrou
sua irmã viúva, o marido morto por um macaco. Mais uma vez o irmão conseguiu
salvar a vida de sua família, matando o macaco preto com uma flechada certeira
no peito.
Continuou sua viagem para outra aldeia
e enfrentou desta vez um caboré encantado que conseguiu abater com a sua
borduna.
Desta aldeia, seguiu viagem para outra
aldeia para visitar uma outra irmã. No caminho, enfrentou um bicho encantado
com metro e meio de braço, de dois braços. Bateu no calcanhar e então o bicho
esmoreceu. Ele meteu o pau, derrubou ele. Matou e continuou o caminho até a
casa da irmã.
─ Como é que você chegou, meu irmão?
─ Matei o rapaz, matei o animal!
Após uns tempos, seguiu viagem, como de
costume, para outra aldeia. Mas, antes, ouviu conselho de sua irmã:
─ Não vai, não! Lá tem uma pessoa que
come fígado de gente.
Assim mesmo o homem viajou. Chegando
lá, encontrou sua irmã e seu cunhado animados esperando por ele. Atou sua rede
e deitou.
O cunhado disse:
─ Tua irmã vai cozinhar umas bananas.
Vamos tomar um banho. Tem um igarapezinho que dá muito bodó. Daquele bodó
amarelinho. Vamos pegar um bocado para comer com banana.
Os dois cunhados foram então para o
igarapé tomar banho. O irmão sempre com cuidado, observando o cunhado que
levava um pau. O homem levou sua borduna e, enquanto mergulhava, continuava
olhando com cuidado o seu cunhado.
Em plena claridade do sol, o cunhado pegou
o pau para bater nele, mas Tekã Kuru desviou e o cara errou. Tekã foi em
direção ao cunhado. Aguentou a borduna e derrubou ele, que foi bater no chão.
Pinpinou ele de borduna. Ele começou a gritar. Sua mulher chegou, viu a cena e
ficou olhando, esperta. Depois, pegou na saia, começou a dançar, dançar e
cantar na língua:
─ He, he, he, he...
Depois Tekã mandou sua mulher matar sua
própria irmã, por ser a esposa do homem que já estava morto, o que comia
fígado.
A mulher foi e matou sua cunhada. E os
dois continuaram sua viagem.
Tekã matou assim todos os animais e até
a sua irmã e o seu cunhado, aquele que comia fígado. Enfrentara, até então,
todos os perigos.
Um dia, em uma de suas viagens, um
conhecido seu matou um urubu para ele comer. Pelou o urubu bem peladinho e
convidou Tekã para comer. Dizia que era um gostoso mutum. No começo, Tekã
recusou, mas o cara insistiu. Até que ele, valentão, aceitou de comer o urubu.
Rasgou a carne bem lá de dentro, tirou um pedaço e comeu. Disse que amargava m
oito. Sentiu então q mie ia finalmente morrer.
─ Mulher, dessa vez vou cair.
Passado um mês, Tekã Kuru, que comeu
fígado de urubu, morreu.
Organização dos
professores indígena do Acre. Shenipabu Miyui. História dos antigos.
Entendendo a história:
01 – Por que Tekã Kuru ficou
um ano na rede após tomar o rapé de tabaco?
Ele ficou bêbado
e imobilizado devido à forte experiência de estupro, passando um ano em um
estado de torpor.
02 – O que aconteceu com a
esposa de Tekã Kuru enquanto ele estava "de porre de tabaco"?
Ela começou a namorar outro homem e
trouxe animais do roçado, fingindo ficar encantada quando confrontada pela mãe.
03 – Como Tekã Kuru reagiu ao
descobrir a traição da esposa?
Ele matou tanto a
esposa quanto o homem com quem ela estava envolvida.
04 – Para onde Tekã Kuru foi
depois de matar sua esposa e seu amante?
Ele melhora para
outras aldeias, visita suas irmãs e enfrenta desafios para proteger suas famílias.
05 – Quais perigos Tekã Kuru
imaginou durante suas viagens para salvar suas irmãs?
Enfrentou desde animais encantados até
pessoas perigosas, incluindo um que comia fígado humano.
06 – Como Tekã Kuru derrotou o
gavião real que levou seus sobrinhos?
Ele usou uma
estratégia com uma boneca, enganando o gavião para que este ficasse preso no
barro.
07 – Por que Tekã Kuru acabou
sendo envenenado e morreu?
Ele comeu fígado
de urubu, pensando ser mutum, o que acabou sendo fatal para ele.
08 – Quais foram as ações
finais de Tekã Kuru antes de sua morte?
Ele continua a
jornada, enfrentando perigos e eliminando ameaças até ser envenenado pelo
urubu.
09 – Qual foi o destino de
Tekã Kuru ao longo de suas viagens?
Ele desafiou,
desafios e perigos em várias aldeias, protegendo suas irmãs e familiares, mas
acabou encontrando sua morte devido ao envenenamento.
10 – Como essa história
reflete elementos da mitologia e tradições indígenas?
A história
envolve elementos míticos, desafios, ações heroicas e consequências ligadas à
cultura e à moralidade indígena, representando a jornada e os confrontos do
protagonista dentro desse contexto.
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