quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

CRÔNICA: SÍNDROME DE CARRAPATO - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Síndrome de Carrapato

               Walcyr Carrasco

GOSTO DE PASSEAR EM LOJAS. Em vez de me esfalfar em monótonas pistas de exercício, tento ativar a musculatura andando em shoppings ou em ruas comerciais. Pensei até em criar um método de emagrecimento desse tipo. Seria um sucesso, mesmo que não tirasse a barriga de ninguém. Admiro uma coisa, outra. Eventualmente, compro. Mas está ficando difícil. Não sei se é a crise, mas os vendedores andam com síndrome de carrapato. Grudam. Entro na loja e imediatamente vem alguém com um sorriso de orelha a orelha.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjcYXweeW3OrPjzVyApxMAl-w8XMafu5uLOP6qHr1DWIYqFa6ewGIcZ8bWcGRY8qsAyv5ZQ1X9eEQi1GXRydiSz3c3g6e8NLEvel1_D8ihGatlqEccQmDxGCj_6M4agIK95ZQhlaeVwHRnc-f4SsUVN0usPOKG1d6Bn7ne8AF61Qmlcfbp51yublVX2A18/s320/CLIENTE.jpg


— Posso ajudar?

Tenho vontade de dizer que estou muito bem, não preciso de ajuda. Sorrio. — Só estou olhando. 

Caminho, tentando desfrutar a visão de copos, roupas, o que seja. O

vendedor corre atrás.

— Este até está com preço promocional.

         — Obrigado.        

Tento fugir, ele insiste.

— É só até amanhã.

Quase grito que já sei. Continuo a sorrir e dou dois passinhos. O vendedor dá dois passinhos atrás de mim e fica parado logo atrás, como um falcão observando a presa. Perco toda a vontade de continuar na loja. Vou embora, diante da cara decepcionada. Existe o tipo que faz questão de perguntar o nome e dizer o seu. Dali a pouco, se resolvo perguntar o preço:

— Qual é mesmo seu nome?

Se é para se fazer de simpático, por que não tenta um esforço de memória?

Há o que tenta se enturmar a qualquer custo. Outro dia, procurava uma

mochila para viagem. Vi uma bolsa de lona perfeita na vitrine.

— Quero essa aqui.

A mocinha correu para mostrar uma maior e mais cara.

— Esta é quase o mesmo preço, e é maior.

— Obrigado, mas prefiro a menor.   

Abriu a bolsa na minha frente.

         — A alça é de couro muito bom.    

— Sei. Vou levar.

         — Viaja muito?            

Sinto-me em um interrogatório. Resolvo não dar trela.

         — Pouco. .

— Vai para o Guarujá?

— Não. Ao Rio.

— Costuma ir muito para o Rio?

— Às vezes.

Entrego o cartão de crédito. As perguntas continuam. Não respondo e saio, provavelmente com fama de antipático. Pior foi o rapaz de uma grife de roupas masculinas.

— Gostei dessa calça. Tem meu número?

— Humm... experimente esta aqui.

Dois números menor. A braguilha mal fechava. Ele sorri, falso.

— Ficou muito bom.

Olho no espelho. Se respirasse mais fundo, era capaz de estourar o botão

da cintura.

— Não serviu.

— Garanto que está ótima. Usando número menor, Você fica mais magro.                   

Quase atiro as calças no nariz dele. Juro nunca mais pisar na loja — é horrível quando tentam nos fazer de bobos.

Vitoriosa foi uma vendedora de um shopping carioca. Escolhi a mercadoria exposta. Cheguei ao balcão decidido.

— Quero o "maio da vitrine. Qual o meu número?

Percorreu minha silhueta com um leve sorriso nos lábios.

— Grande.

Imaginei que a causa do sorriso fosse a barriga. Mandei trazer. Pediu no estoque, com toda a naturalidade.

— Quer experimentar?

— Acho que não precisa.

Saquei o talão de cheques. Só então notei que a padronagem não conferia.

— Não é este aqui. É ó azul.

:— Mas o azul é sunga!

Abriu o pacote, desfraldando uni maio feminino inteiriço, ideal para uma mãe de família de classe média. Perplexo, descobri a causa da confusão. Homem, no Rio, usa sunga. Maio sempre é feminino. Nós, paulistanos, é que falamos um termo ou outro. Ainda tentei argumentar:

— Você acha que eu, peludo desse jeito, ia usar maio de alcinha?

Sem se constranger, a diaba respondeu:

— O senhor pediu, eu vendi.

Fiquei imaginando a cena. Eu, com minhas pernas cabeludas, experimentando um maio listrado e ela dizendo:

— Ah, ficou bom, sim. É exatamente o seu número!

Levei a sunga. Pelo menos dessa vez a vendedora tinha savoir-faire.

Entendendo o texto

Foco Narrativo:

01. Qual é a abordagem principal do autor ao descrever suas experiências em lojas?

      A) A busca por produtos específicos.

      B) A relação com os vendedores.

     C) A preferência por shoppings.

     D) A luta contra a síndrome de carrapato.

Temática Central:

02. O que o autor sugere como método de emagrecimento no início da crônica?

     A) Dieta rigorosa.

     B) Exercícios monótonos.

    C) Passeios em shoppings.

    D) Método de emagrecimento não mencionado.

Comportamento dos Vendedores:

03. Como o autor se sente em relação aos vendedores que insistem após ele dizer "só estou olhando"?

     A) Irritado.

     B) Empolgado.

     C) Agradecido.

     D) Desinteressado.

Interação com Vendedores:

04. Como o autor reage quando um vendedor pergunta sobre seu nome?

      A) Diz seu nome imediatamente.

      B) Ignora a pergunta.

     C) Pergunta o nome do vendedor.

     D) Finge não lembrar seu próprio nome.

Estratégias de Vendedores:

05. Qual é a estratégia utilizada pelo vendedor ao mostrar uma bolsa maior e mais cara?

     A) Desconto especial.

     B) Elogios à qualidade.

    C) Comparação de preço.

    D) Venda persuasiva.

Atitude do Autor diante das Perguntas dos Vendedores:

06. Como o autor reage quando o vendedor tenta se enturmar fazendo perguntas pessoais?

     A) Responde detalhadamente.

     B) Ignora as perguntas.

     C) Dá respostas evasivas.

     D) Fica desconfortável.

Rejeição de Produtos:

07. Por que o autor decide nunca mais pisar em uma loja de roupas masculinas?

     A) Tamanho inadequado.

     B) Preço elevado.

     C) Vendedor insistentemente persuasivo.

     D) Má qualidade das roupas.

Confusão na Compra:

08. O que acontece quando o autor pede um maiô na loja?

      A) O vendedor faz uma confusão na cor.

      B) O vendedor não encontra o produto.

      C) O vendedor sugere um produto feminino.

      D) O autor decide não comprar nada.

Interação Cômica com a Vendedora:

09. Como o autor reage à sugestão da vendedora sobre o maiô feminino?

    A) Fica constrangido.

    B) Ri da situação.

    C) Argumenta com a vendedora.

    D) Aceita a sugestão sem contestar.

Conclusão e Atitude Final:

10. Qual é a atitude do autor diante da situação da compra do maiô?

     A) Retorna o produto.

     B) Compra o maiô feminino.

    C) Leva uma sunga.

    D) Desiste da compra.

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário