Crônica: Síndrome de Carrapato
Walcyr Carrasco
GOSTO
DE PASSEAR EM LOJAS. Em vez de me esfalfar em monótonas pistas de exercício,
tento ativar a musculatura andando em shoppings ou em ruas comerciais. Pensei
até em criar um método de emagrecimento desse tipo. Seria um sucesso, mesmo que
não tirasse a barriga de ninguém. Admiro uma coisa, outra. Eventualmente,
compro. Mas está ficando difícil. Não sei se é a crise, mas os vendedores andam
com síndrome de carrapato. Grudam. Entro na loja e imediatamente vem alguém com
um sorriso de orelha a orelha.
—
Posso ajudar?
Tenho vontade de dizer que estou
muito bem, não preciso de ajuda. Sorrio. — Só estou olhando.
Caminho, tentando desfrutar a
visão de copos, roupas, o que seja. O
vendedor corre atrás.
— Este até está com preço
promocional.
—
Obrigado.
Tento fugir, ele insiste.
— É só até amanhã.
Quase
grito que já sei. Continuo a sorrir e dou dois passinhos. O vendedor dá dois
passinhos atrás de mim e fica parado logo atrás, como um falcão observando a
presa. Perco toda a vontade de continuar na loja. Vou embora, diante da cara
decepcionada. Existe o tipo que faz questão de perguntar o nome e dizer o seu.
Dali a pouco, se resolvo perguntar o preço:
— Qual é mesmo seu nome?
Se é para se fazer de simpático,
por que não tenta um esforço de memória?
Há o que tenta se enturmar a
qualquer custo. Outro dia, procurava uma
mochila para viagem. Vi uma
bolsa de lona perfeita na vitrine.
— Quero essa aqui.
A mocinha correu para mostrar
uma maior e mais cara.
— Esta é quase o mesmo preço, e
é maior.
— Obrigado, mas prefiro a
menor.
Abriu a bolsa na minha frente.
—
A alça é de couro muito bom.
— Sei. Vou levar.
—
Viaja muito?
Sinto-me em um interrogatório.
Resolvo não dar trela.
—
Pouco. .
— Vai para o Guarujá?
— Não. Ao Rio.
— Costuma ir muito para o Rio?
— Às vezes.
Entrego
o cartão de crédito. As perguntas continuam. Não respondo e saio, provavelmente
com fama de antipático. Pior foi o rapaz de uma grife de roupas masculinas.
— Gostei dessa calça. Tem meu
número?
— Humm... experimente esta aqui.
Dois números menor. A braguilha
mal fechava. Ele sorri, falso.
— Ficou muito bom.
Olho no espelho. Se respirasse
mais fundo, era capaz de estourar o botão
da cintura.
— Não serviu.
— Garanto que está ótima. Usando
número menor, Você fica mais magro.
Quase atiro as calças no nariz
dele. Juro nunca mais pisar na loja — é horrível quando tentam nos fazer de
bobos.
Vitoriosa foi uma vendedora de
um shopping carioca. Escolhi a mercadoria exposta. Cheguei ao balcão decidido.
— Quero o "maio da vitrine.
Qual o meu número?
Percorreu minha silhueta com um
leve sorriso nos lábios.
— Grande.
Imaginei que a causa do sorriso
fosse a barriga. Mandei trazer. Pediu no estoque, com toda a naturalidade.
— Quer experimentar?
— Acho que não precisa.
Saquei o talão de cheques. Só
então notei que a padronagem não conferia.
— Não é este aqui. É ó azul.
:— Mas o azul é sunga!
Abriu
o pacote, desfraldando uni maio feminino inteiriço, ideal para uma mãe de
família de classe média. Perplexo, descobri a causa da confusão. Homem, no Rio,
usa sunga. Maio sempre é feminino. Nós, paulistanos, é que falamos um termo ou
outro. Ainda tentei argumentar:
— Você acha que eu, peludo desse
jeito, ia usar maio de alcinha?
Sem se constranger, a diaba
respondeu:
— O senhor pediu, eu vendi.
Fiquei imaginando a cena. Eu,
com minhas pernas cabeludas, experimentando um maio listrado e ela dizendo:
— Ah, ficou bom, sim. É
exatamente o seu número!
Levei a sunga. Pelo menos dessa
vez a vendedora tinha savoir-faire.
Entendendo o texto
Foco Narrativo:
01. Qual é a abordagem principal
do autor ao descrever suas experiências em lojas?
A) A busca por produtos específicos.
B) A relação com
os vendedores.
C) A preferência por shoppings.
D) A luta contra a síndrome de carrapato.
Temática Central:
02. O que o autor sugere como
método de emagrecimento no início da crônica?
A)
Dieta rigorosa.
B) Exercícios monótonos.
C) Passeios em
shoppings.
D) Método de emagrecimento não mencionado.
Comportamento dos
Vendedores:
03. Como o autor se sente em
relação aos vendedores que insistem após ele dizer "só estou
olhando"?
A) Irritado.
B) Empolgado.
C) Agradecido.
D) Desinteressado.
Interação com
Vendedores:
04. Como o autor reage quando um
vendedor pergunta sobre seu nome?
A)
Diz seu nome imediatamente.
B) Ignora a pergunta.
C) Pergunta o nome do vendedor.
D) Finge não lembrar seu próprio nome.
Estratégias de
Vendedores:
05. Qual é a estratégia
utilizada pelo vendedor ao mostrar uma bolsa maior e mais cara?
A) Desconto especial.
B)
Elogios à qualidade.
C) Comparação de
preço.
D) Venda persuasiva.
Atitude do Autor
diante das Perguntas dos Vendedores:
06. Como o autor reage quando o
vendedor tenta se enturmar fazendo perguntas pessoais?
A) Responde detalhadamente.
B) Ignora as perguntas.
C) Dá respostas evasivas.
D) Fica desconfortável.
Rejeição de
Produtos:
07. Por que o autor decide nunca
mais pisar em uma loja de roupas masculinas?
A) Tamanho inadequado.
B) Preço elevado.
C) Vendedor insistentemente persuasivo.
D) Má qualidade das roupas.
Confusão na Compra:
08. O que acontece quando o
autor pede um maiô na loja?
A)
O vendedor faz uma confusão na cor.
B) O vendedor não encontra o produto.
C) O vendedor
sugere um produto feminino.
D) O autor decide não comprar nada.
Interação Cômica com
a Vendedora:
09. Como o autor reage à
sugestão da vendedora sobre o maiô feminino?
A) Fica constrangido.
B) Ri da situação.
C) Argumenta com a vendedora.
D) Aceita a sugestão sem contestar.
Conclusão e Atitude
Final:
10. Qual é a atitude do autor
diante da situação da compra do maiô?
A) Retorna o produto.
B) Compra o maiô feminino.
C) Leva uma sunga.
D) Desiste da compra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário