terça-feira, 14 de setembro de 2021

REPORTAGEM: JOVENS QUE NÃO ESTUDAM NEM TRABALHAM: ESCOLHA OU FALTA DE OPÇÕES? MARIANA KAIPPER CERATTI - COM GABARITO

 Reportagem: Jovens que não estudam nem trabalham: escolha ou falta de opções?

             Novo estudo ouve brasileiros fora da escola e do mercado de trabalho e conclui que eles estão presos em barreiras relacionadas à pobreza e ao gênero

MARIANA KAIPPER CERATTI

Brasília – 17 MAR 2018 – 21:38

        No Brasil, 11 milhões de jovens, quase um quarto da população entre 15 e 29 anos, não estudam nem trabalham. Em um país cuja força de trabalho está ficando mais velha e começará a diminuir em 2035, um diálogo como esse soa preocupante. Para jogar luz sobre os jovens que não estudam nem trabalham, pesquisadores do Banco Mundial fizeram 77 entrevistas qualitativas [...] com jovens pernambucanos de 18 a 25 anos, moradores tanto de zonas urbanas quanto das rurais.

        O resultado é o estudo Se já é difícil, imagina para mim..., lançado nesta semana, no Rio de Janeiro. Segundo a autora, Miriam Müller, é preciso desconstruir o termo “nem-nem”, que não reflete as muitas diferenças entre esses jovens e joga sobre eles um enorme estigma.

        “A culpa não é dos jovens. O estudo mostra que algumas condições relacionadas à pobreza e ao gênero produzem um conjunto de barreiras difíceis de superar. Essas limitações prejudicam sobretudo as mulheres, que se veem afetadas na capacidade de imaginar seus futuros, perseverar e ter resiliência”, avalia a cientista social alemã.

        O fenômeno dos jovens fora da escola e do mercado de trabalho não é exclusividade brasileira: o documento lembra que ele persiste na América Latina e no Caribe, com consequências desafiadoras.

        Trabalhos anteriores feitos na região sugerem, por exemplo, que o problema pode ameaçar a produtividade e o crescimento econômico a longo prazo. Além disso, como 66% dos nem-nens latino-americanos e caribenhos são mulheres, o tema também pode contribuir para uma transmissão intergeracional da desigualdade de gênero.

        Discriminação e falta de apoio

        Os jovens brasileiros considerados “nem-nens” ou “desengajados” têm diversas razões para estar assim. A primeira delas é o que as autoras chamam de barreiras à motivação interna, ou seja, falta de aspiração ou predisposição para voltar aos estudos ou ao trabalho. Nesse perfil, encontram-se principalmente as mulheres casadas e com filhos pequenos, vivendo sob normas sociais que reforçam seu papel de cuidadoras e restringem suas oportunidades econômicas.

        No segundo grupo, estão aqueles que expressaram motivação para voltar a trabalhar ou estudar, mas não tomaram uma providência porque lhes faltam as ferramentas necessárias para realizar essa aspiração. Embora muitos dos entrevistados tenham se inscrito no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ou enviado currículos, não deram continuidade a esses esforços.

        “Como esses jovens não tiveram contato com pessoas cujas carreiras fossem interessantes, não conseguiram encarar suas aspirações como algo realista nem receberam informações sobre como realizá-las. A escola tampouco os apoiou”, informa o documento.

        Por último, o estudo conta a história de jovens que, embora tenham se esforçado para estudar ou trabalhar, desistiram por causa de barreiras externas. Entre elas, os desafios de conciliar emprego e sala de aula, poucos recursos financeiros ou qualificação, falta de transporte público seguro para se locomover entre uma atividade e outra, e a crise econômica do país. As que já são mães ainda relataram a discriminação que sofreram por parte de potenciais empregadores.

        Muito além dos cursos técnicos

        Depois de ouvir esses jovens, suas frustrações e necessidades, as pesquisadoras fizeram uma série de recomendações de políticas públicas para fortalecer a capacidade dos jovens de aspirarem a objetivos, criar e levar adiante seus projetos de vida.

        Segundo as autoras, provavelmente é insuficiente aumentar a oferta de cursos técnicos com o objetivo de viabilizar a participação dos jovens no mercado de trabalho se isso não estiver associado a intervenções que:

·        Facilitem o acesso a informações sobre oportunidades e como elas podem concretamente mudar suas vidas;

·        Incutam um sentimento de pertencimento e preparação entre os jovens que sentem que as oportunidades disponíveis não são para eles;

·        Ofereçam programas de apoio ou de mentoria para ajudar esses jovens a lidar com as dificuldades associadas ao cumprimento de objetivos.

        A promoção das aspirações relacionadas a trabalho e educação, principalmente entre as mulheres, é uma importante porta de entrada para programas e políticas públicas, acrescenta o relatório: “Muitas das mulheres entrevistadas não conseguem imaginar uma vida em que seu papel não seja somente o de uma cuidadora.”

        Finalmente, o documento propõe intervenções específicas para as áreas rurais, onde a divisão do trabalho ainda se baseia muito no gênero. No campo, ainda é preciso conscientizar sobre possibilidades de trabalho além da agricultura e conectar os jovens a oportunidades, garantindo mobilidade a preços acessíveis entre a zona rural e os centros urbanos.

        Tudo isso pode fazer a diferença para os futuros integrantes da força de trabalho do país, donos de um potencial que o país não pode mais desperdiçar.

Mariana Kaipper Ceratti é produtora on-line do Banco Mundial.

CERATTI, Mariana K. Jovens que não estudam nem trabalham: escolha ou falta de opções? El Paris, Brasília, 17 mar. 2018. Disponível em: https://bit.ly/2lQcFoq. Acesso em: 29 set. 2018.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 9º ano – Ensino Fundamental – IBEP 5ª edição – São Paulo, 2018, p. 230-3.

Entendendo a reportagem:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Estigma: considerado ou definido como indigno; desonroso.

·        Intergeracional: que se realiza entre duas ou mais gerações; comportamentos intergeracionais.

·        Perseverar: não desistir com facilidade.

·        Resiliência: capacidade de superar os problemas que aparecem.

02 – Que fato originou a reportagem?

      O resultado do estudo Se já é difícil, imagina para mim..., de Miriam Muller, pesquisadora do Banco Mundial. Esse estudo, lançado em março de 2018, no Rio de Janeiro, aponta as causas de quase um quarto da população, entre 18 e 29 anos, não estudar nem trabalhar.

03 – O estudo Se já é difícil, imagina para mim... faz análise do presente, mas com projeção para o futuro, caso alguma medida não seja tomada para resolver essa situação. Responda:

a)   Por que o Banco Mundial considerou o grande percentual de jovens que não trabalham nem estudam como um problema que pode impactar todo o país?

O problema pode ameaçar a produtividade e o crescimento econômico do país a longo prazo, visto que em 2035 a população brasileira será formada de pessoas idosas.

b)   Esse fenômeno é apenas brasileiro? Explique.

De acordo com o Banco Mundial, esse fenômeno ocorre em toda a América Latina e no Caribe, em especial com as mulheres jovens, que são 66% do total.

c)   Qual é a questão controversa discutida no estudo? Qual tese é defendida pelos pesquisadores?

A questão controversa é se os jovens não estudam nem trabalham por escolha ou falta de oportunidade; a tese é que esse fenômeno ocorre por falta de oportunidade para esses jovens.

04 – Releia o depoimento de Miriam Muller, autora do estudo, e responda:

        “[...] Segundo a autora, Miriam Müller, é preciso desconstruir o termo “nem-nem”, que não reflete as muitas diferenças entre esses jovens e joga sobre eles um enorme estigma.”

        “A culpa não é dos jovens. O estudo mostra que algumas condições relacionadas à pobreza e ao gênero produzem um conjunto de barreiras difíceis de superar. Essas limitações prejudicam sobretudo as mulheres, que se veem afetadas na capacidade de imaginar seus futuros, perseverar e ter resiliência”, avalia a cientista social alemã.

a)   De acordo com a autora do estudo, quais são as causas desse fenômeno?

Os pesquisadores defendem que se trata de falta de oportunidade, causada pelas desigualdades econômicas e de gênero, que produzem barreiras internas e externas difíceis de superar.

b)   Por que esse problema atinge mais as mulheres? O que esse problema pode acarretar à sociedade em longo prazo?

“Essas limitações prejudicam sobretudo as mulheres, que se veem afetadas na capacidade de imaginar seus futuros, perseverar e ter resiliência”. O que, em longo prazo, pode possibilitar a transmissão dessa falta de perspectiva às gerações futuras e aumentar a desigualdade de gênero.

c)   O que significa o termo “nem-nem”? Por que o termo “nem-nem” pode refletir preconceito em relação a esses jovens?

Os jovens brasileiros considerados “nem-nens” ou “desengajados”. Porque não reflete a diferença que há entre esses jovens, as condições sócio-históricas e econômicas e as várias formas de discriminação a que estão expostas. Segundo a pesquisadora, essa expressão estigmatiza os jovens, dificultando mais ainda a visualização de perspectivas.

d)   Você concorda ou discorda da pesquisadora? Por quê?

Resposta pessoal do aluno.

05 – A pesquisa foi realizada por meio de entrevistas com 77 jovens pernambucanos de 18 a 25 anos, moradores tanto de áreas urbanas quanto rurais. A “falta de apoio” e “discriminação” são duas barreiras apontadas pelo estudo. Responda:

a)   Como a falta de apoio pode dificultar jovens mulheres com filhos a estudar e se profissionalizar? Em sua opinião, isso pode ser considerado discriminação de gênero? Explique.

As mulheres jovens acabam sendo responsabilizadas sozinhas pelo cuidado dos filhos, o que dificulta sua permanência na escola ou no trabalho. Resposta pessoal do aluno.

b)   Segundo informações do documento, como a falta de modelos de sucesso na comunidade e de apoio da escola desmotivou a continuidade de estudos e de profissionalização de alguns jovens?

A falta de contato com pessoas cujas carreiras fossem bem-sucedidas, bem como a falta de apoio da escola fizeram com que alguns jovens se desanimassem diante de aspirações que, segundo eles, achavam impossíveis de realização.

c)   Quais os desafios encontrados pelos jovens pobres para estudar e trabalhar?

Embora tenham se esforçado para estudar ou trabalhar, desistiram pelo desafio de conciliar emprego e sala de aula, poucos recursos financeiros ou qualificação, falta de transporte público seguro para se locomover entre uma atividade e outra e a crise econômica do país.

d)   Em sua opinião, quais formas de discriminação esses jovens podem sofrer ao buscar trabalho, especialmente as mulheres com filhos?

Resposta pessoal do aluno.

06 – Muitos planos de governo, durante a eleição, enfatizaram a criação e oferta de cursos técnicos e profissionalizantes para resolver esse problema social. Responda:

a)   Por que as pesquisadoras apontam que a oferta de cursos técnicos não é suficiente para resolver o problema? Explique.

Segundo as autoras, provavelmente é insuficiente aumentar a oferta de cursos técnicos se isso não estiver associado a promoção das aspirações relacionadas a trabalho e educação, principalmente entre as mulheres.

b)   Quais intervenções devem ser feitas, segundo o estudo, associadas ao aumento da oferta de cursos técnicos?

Facilitar o acesso a informações sobre oportunidades e de que maneira elas podem concretamente mudar suas vidas; incutir um sentimento de pertencimento e preparação entre os jovens que sentem que as oportunidades disponíveis não são para eles; oferecer programas de apoio ou de mentoria para ajudar esses jovens a lidar com as dificuldades associadas ao cumprimento de objetivos.

c)   Você concorda ou discorda das propostas do estudo? Explique.

Resposta pessoal do aluno.

07 – Por que essas propostas de intervenção são essenciais para a implementação de políticas específicas para as mulheres de acordo com o relatório?

      Porque muitas das mulheres entrevistadas não conseguem imaginar uma vida em outro papel que não seja de cuidadora. Além disso, essas aspirações podem ser transmitidas para outras gerações.

08 – Por que os jovens da área rural precisam ter propostas de ações específicas? Quais são as propostas de intervenção apontadas pelo relatório do estudo?

      No campo, ainda é preciso conscientizar sobre possibilidades de trabalho além da agricultura e conectar os jovens a oportunidades, garantindo mobilidade a preços acessíveis entre a área rural e os centros urbanos.

09 – A qual conclusão você chegou em relação à questão controversa, à tese e aos argumentos apresentados pelo estudo? Explique.

      Resposta pessoal do aluno.

 

 

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