terça-feira, 14 de setembro de 2021

ARTIGO DE OPINIÃO: NÃO SOMOS MACACOS - BREILLER PIRES- COM GABARITO

 Artigo de opinião: Não somos macacos

Por: Breiller Pires

28/04/2014 às 14h27


  Sagaz a atitude de Daniel Alves ao comer a banana atirada por torcedores racistas na Espanha. Admirável também o apoio de seu companheiro Neymar.

        Dois jogadores da expressão de Daniel Alves e Neymar, admirados tanto na seleção quanto no Barcelona, manifestando-se publicamente contra o racismo, têm um peso enorme. Outros devem se manifestar também.

        O Brasil e o esporte carecem de um ídolo negro que tome partido, que não seja apenas espectador da realidade que o cerca e o oprime por causa de sua cor.

        Mas há uma distorção na campanha lançada por Neymar, com fotos e vídeo nas redes sociais: #SomosTodosMacacos

        O mote é não levar atos de racismo tão a sério, brincar com o preconceito até que o agressor se canse das ofensas.

        Não se deve, em nenhuma hipótese, banalizar a discriminação racial. O troco de Daniel Alves foi sanguíneo, sarcástico, mas precisa de um discurso forte e incisivo para complementá-lo.

        Eu não sou macaco. Nós não somos macacos. Ninguém merece ser chamado de macaco sob o estigma da segregação racial. Isso é grave e nunca pode ser relativizado.

        Será que Tinga, do Cruzeiro, deveria ter dado de ombros aos grunhidos racistas que seguiram seus passos no Peru e deixado pra lá? Ou que o árbitro Márcio Chagas, vítima de racismo no Rio Grande do Sul, não teria sido radical ao abandonar a carreira depois do episódio?

        No mundo ideal, quanto menos falarmos sobre racismo, mais teríamos avançado como sociedade. Porém, definitivamente, estamos muito longe desse mundo ideal.

        Enquanto isso, temos de protestar, sim, contra o racismo, a segregação, a discriminação racial. Gritar com todas as vozes e instrumentos diante de atos asquerosos como os sofridos recentemente por Neymar, Daniel Alves, Tinga, Arouca e Márcio Chagas.

        Só tiramos “o peso” do racismo quando o combatemos com vigor, quando admitimos que não alcançamos a era da democracia racial e, principalmente, cobramos sanções severas a quem enxerga o negro como um estranho, um bicho, não como ser humano.

        Entendo a ironia, mas a luta contra mais de um século de menosprezo vai muito além. Ignorar o preconceito ou debochar da estupidez do torcedor que atira uma banana ao gramado é dar as costas ao nosso passado de escravidão, que ainda se reflete em cores vivas no futebol, nas escolas, nas ruas, em nosso presente.

        Neymar disse, em começo de carreira, que não se enxerga como negro.

        Talvez por isso a discriminação que sofre em alguns campos da Europa o faça preferir tratar o assunto com desdém ao agressor, em vez de assumir seu papel social como craque, adotar uma postura combativa – de fato – ao racismo e reivindicar punição às autoridades do futebol.

        Desculpa aí, Neymar, mas não somos macacos.

PIRES, Breiller. Não somos macacos. Placar, 28 abr. 2014. Disponível em: http://placar.abril.com.br/blogs/bololo-mineires/2014/04/28/nao-somos-macacos/. Acesso em: 6 abr. 2015. BREILLER PIRES/PLACAR.COM/ABRIL COMUNICAÇÕES S/A.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 7º ano – Ensino Fundamental – IBEP 4ª edição São Paulo 2015 p. 79-80.

Entendendo o artigo de opinião:

01 – Que fato motivou o autor do artigo a expressar sua opinião?

      O fato de Neymar ter lançado a campanha “#SomosTodosMacacos”.

02 – Qual foi a intenção de Neymar ao lançar a campanha “#SomosTodosMacacos”.

      Ele quis apoiar a atitude de Daniel Alves contra o racismo e optou por fazê-lo por meio da ironia, da brincadeira.

03 – Considerando a ideia geral do texto, podemos concluir que Breiller Pires se posiciona a favor ou contra a campanha de Neymar? Por quê?

      Posiciona-se contra. Para o autor, a campanha banaliza a discriminação racial e não é forte e incisiva o bastante, não dá a devida dimensão ao problema.

04 – Releia o trecho a seguir:

        Não se deve, em nenhuma hipótese, banalizar a discriminação racial. O troco de Daniel Alves foi sanguíneo, sarcástico, mas precisa de um discurso forte e incisivo para complementá-lo.”

a)   Nesse parágrafo, é possível perceber a opinião de Breiller Pires sobre a campanha de Neymar. Qual é a principal crítica do autor a ela?

Segundo o autor, a campanha banaliza a discriminação racial.

b)   Considerando o contexto em que Daniel Alves comeu a banana, explique o uso do termo “sanguíneo” nesse trecho.

O uso do termo indica que a atitude do jogador foi tomada no calor do momento, de forma impetuosa.

05 – O autor deixa claro que é necessário “um discurso mais incisivo e forte” para combater o preconceito racial. Na sequência do texto, ele apresenta uma solução que, na opinião dele, amenizaria o problema. Que medida seria essa?

      Reivindicarmos punições mais severas para os que praticam atos racistas.

06 – Releia este trecho:

        “Entendo a ironia, mas a luta contra mais de um século de menosprezo vai muito além. Ignorar o preconceito ou debochar da estupidez do torcedor que atira uma banana ao gramado é dar as costas ao nosso passado de escravidão, que ainda se reflete em cores vivas no futebol, nas escolas, nas ruas, em nosso presente.”

a)   A que ironia o autor se refere?

Ele se refere à ironia contida na campanha de Neymar, que tenta satirizar atitudes racistas.

b)   De acordo com esse trecho, o que a atitude de Neymar significou em relação ao preconceito no Brasil?

A atitude do jogador significou virar as costas ao passado de escravidão de nosso país, que ainda tem reflexo nos dias de hoje, isto é, os negros ainda são tratados como inferiores em vários âmbitos sociais.

07 – Por que, segundo o autor, Neymar prefere tratar discriminação racial com desdém?

      O autor insinua que, por não se considerar negro, Neymar não se sentiria ofendido com esse tipo de atitude.

 

 

Um comentário: