Artigo de opinião: Não somos macacos
Por: Breiller Pires
28/04/2014 às 14h27
Sagaz a atitude de Daniel Alves ao comer a banana atirada por torcedores racistas na Espanha. Admirável também o apoio de seu companheiro Neymar.
Dois jogadores da expressão de Daniel
Alves e Neymar, admirados tanto na seleção quanto no Barcelona, manifestando-se
publicamente contra o racismo, têm um peso enorme. Outros devem se manifestar
também.
O Brasil e o esporte carecem de um
ídolo negro que tome partido, que não seja apenas espectador da realidade que o
cerca e o oprime por causa de sua cor.
Mas há uma distorção na campanha
lançada por Neymar, com fotos e vídeo nas redes sociais: #SomosTodosMacacos
O mote é não levar atos de racismo tão
a sério, brincar com o preconceito até que o agressor se canse das ofensas.
Não se deve, em nenhuma hipótese,
banalizar a discriminação racial. O troco de Daniel Alves foi sanguíneo,
sarcástico, mas precisa de um discurso forte e incisivo para complementá-lo.
Eu não sou macaco. Nós não somos
macacos. Ninguém merece ser chamado de macaco sob o estigma da segregação
racial. Isso é grave e nunca pode ser relativizado.
Será que Tinga, do Cruzeiro, deveria
ter dado de ombros aos grunhidos racistas que seguiram seus passos no Peru e
deixado pra lá? Ou que o árbitro Márcio Chagas, vítima de racismo no Rio Grande
do Sul, não teria sido radical ao abandonar a carreira depois do episódio?
No mundo ideal, quanto menos falarmos
sobre racismo, mais teríamos avançado como sociedade. Porém, definitivamente,
estamos muito longe desse mundo ideal.
Enquanto isso, temos de protestar, sim,
contra o racismo, a segregação, a discriminação racial. Gritar com todas as
vozes e instrumentos diante de atos asquerosos como os sofridos recentemente
por Neymar, Daniel Alves, Tinga, Arouca e Márcio Chagas.
Só tiramos “o peso” do racismo quando o
combatemos com vigor, quando admitimos que não alcançamos a era da democracia
racial e, principalmente, cobramos sanções severas a quem enxerga o negro como
um estranho, um bicho, não como ser humano.
Entendo a ironia, mas a luta contra
mais de um século de menosprezo vai muito além. Ignorar o preconceito ou
debochar da estupidez do torcedor que atira uma banana ao gramado é dar as
costas ao nosso passado de escravidão, que ainda se reflete em cores vivas no
futebol, nas escolas, nas ruas, em nosso presente.
Neymar disse, em começo de carreira,
que não se enxerga como negro.
Talvez por isso a discriminação que
sofre em alguns campos da Europa o faça preferir tratar o assunto com desdém ao
agressor, em vez de assumir seu papel social como craque, adotar uma postura
combativa – de fato – ao racismo e reivindicar punição às autoridades
do futebol.
Desculpa aí, Neymar, mas não somos
macacos.
PIRES, Breiller. Não
somos macacos. Placar, 28 abr. 2014. Disponível em: http://placar.abril.com.br/blogs/bololo-mineires/2014/04/28/nao-somos-macacos/.
Acesso em: 6 abr. 2015. BREILLER PIRES/PLACAR.COM/ABRIL COMUNICAÇÕES S/A.
Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 7º
ano – Ensino Fundamental – IBEP 4ª edição São Paulo 2015 p. 79-80.
Entendendo o artigo de opinião:
01 – Que fato motivou o autor do artigo a expressar sua opinião?
O fato de Neymar ter lançado a campanha “#SomosTodosMacacos”.
02 – Qual foi a intenção de Neymar ao lançar a campanha
“#SomosTodosMacacos”.
Ele quis apoiar a atitude de Daniel Alves contra o
racismo e optou por fazê-lo por meio da ironia, da brincadeira.
03 – Considerando a ideia geral do texto, podemos concluir que Breiller
Pires se posiciona a favor ou contra a campanha de Neymar? Por quê?
Posiciona-se contra. Para o autor, a
campanha banaliza a discriminação racial e não é forte e incisiva o bastante,
não dá a devida dimensão ao problema.
04 – Releia o trecho a seguir:
“Não
se deve, em nenhuma hipótese, banalizar a discriminação racial. O troco de
Daniel Alves foi sanguíneo, sarcástico, mas precisa de um discurso forte e
incisivo para complementá-lo.”
a) Nesse parágrafo, é possível perceber a opinião de Breiller Pires sobre a campanha de Neymar. Qual é a principal crítica do autor a ela?
Segundo o autor, a campanha banaliza a discriminação racial.
b) Considerando o contexto em que Daniel Alves comeu a banana, explique o uso do termo “sanguíneo” nesse trecho.
O uso do termo indica que a atitude do jogador foi tomada no calor
do momento, de forma impetuosa.
05 – O autor deixa claro que
é necessário “um discurso mais incisivo e forte” para combater o preconceito
racial. Na sequência do texto, ele apresenta uma solução que, na opinião dele,
amenizaria o problema. Que medida seria essa?
Reivindicarmos
punições mais severas para os que praticam atos racistas.
06 – Releia este trecho:
“Entendo
a ironia, mas a luta contra mais de um século de menosprezo vai muito além.
Ignorar o preconceito ou debochar da estupidez do torcedor que atira uma banana
ao gramado é dar as costas ao nosso passado de escravidão, que ainda se reflete
em cores vivas no futebol, nas escolas, nas ruas, em nosso presente.”
a) A que ironia o autor se refere?
Ele se refere à ironia contida na campanha de Neymar, que tenta
satirizar atitudes racistas.
b) De acordo com esse trecho, o que a atitude de Neymar significou em relação ao preconceito no Brasil?
A atitude do jogador significou virar as costas ao passado de
escravidão de nosso país, que ainda tem reflexo nos dias de hoje, isto é, os
negros ainda são tratados como inferiores em vários âmbitos sociais.
07 – Por que, segundo o
autor, Neymar prefere tratar discriminação racial com desdém?
O autor insinua
que, por não se considerar negro, Neymar não se sentiria ofendido com esse tipo
de atitude.
Obrigada me ajudou a
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