Reportagem: Educação sexual para jovens: O que as escolas devem ensinar?
John McManusDa BBC News
18/03/2015 17h49
Um debate vem sendo travado na
Grã-Bretanha depois de o governo anunciar um novo projeto de lei que determina
que crianças a partir de 11 anos comecem a ter aulas de educação sexual, mais
especificamente aulas sobre consentimento em relações sexuais.
O objetivo expresso é fazer com que os
alunos tenham "uma melhor compreensão sobre a sociedade em que vivem, para
que assim possam tomar decisões de uma maneira mais bem informada e ficarem
mais seguros."
Segundo o governo, para que isso
aconteça, é fundamental para o jovem entender o que é dar ou receber um
consentimento sexual, saber perceber quando algo ou alguém passou dos limites e
ter informações sobre a quem recorrer quando isso acontece.
O Ministério da Educação britânico quer
colocar em prática dois objetivos diferentes para o programa.
O primeiro é dar aos jovens ferramentas
para navegar por situações românticas normais com pessoas do seu convívio, em
um cenário em que um ou os dois envolvidos possam ir longe demais com algo que
eles não estão maduros para entender completamente.
Presentes
e afeto
No outro caso, a situação é mais complexa,
já que a ideia é preparar o jovem para que identifique e se proteja de abusos
ou de exploração por parte de um adulto.
Segundo os parlamentares, a importância
de ensinar esses temas aos jovens foi evidenciada recentemente, quando veio à
tona um caso de estupro sistemático de adolescentes por um grupo de homens
adultos.
Outras evidências mostravam como jovens
frequentemente não conseguiam determinar claramente as barreiras pessoais que
eles deveriam e/ou gostariam de impor.
Por exemplo, um estudo mostrou que uma
em cada cinco garotas disse achar certo quando o parceiro dizia que roupa ela
deveria ou não usar.
O governo britânico acredita que os
alunos devem começar a aprender sobre consentimento sexual antes de serem sexualmente
ativos.
Escolas
brasileiras
Especialistas britânicos, no entanto,
criticaram a proposta do governo, pelo fato de o programa não ser obrigatório
nas escolas. No Brasil, as críticas vão no mesmo sentido, já que há programas
isolados sobre educação sexual tanto na rede pública como nas escolas
particulares, mas não há um projeto sistemático no currículo dos alunos.
Para a educadora sexual e diretora do
Instituto Kaplan, Maria Helena Vilela, o Brasil já caminhou na questão da educação
sexual, mas ainda tem um longo caminho pela frente.
"No âmbito das escolas públicas,
já se tentou criar um parâmetro para que a educação sexual fosse um tema
transversal, ou seja, atravessasse diversas matérias. Mas sem verbas e nem
capacitação suficientes, o projeto não foi adiante", diz a educadora.
"Mas especialmente na rede
estadual, há instituições que promovem programas de educação sexual, porque é
na escola pública onde se vê a gravidez na adolescência de perto e,
consequentemente, a evasão escolar das meninas que ficam grávidas."
Para Vilela, no entanto, nas escolas
particulares isso não ocorre com tanta frequência: "Porque elas abortam ou
mudam de escola."
Esse é um dos motivos pelos quais,
segundo a educadora, mesmo as escolas que teriam verba para investir em
educação sexual não o fazem. "Muitos diretores também acreditam que o
problema é dos pais, e não deles".
Angústia
sexual
Segundo Vilela, que coordena programas
sobre o tema, primeiro é preciso se estabelecer qual o objetivo pretendido com
o projeto.
"Esse projeto britânico joga luz
na questão do consentimento, certo? E aqui no Brasil, o que queremos? Quais as
prioridades? Tratar de gravidez precoce? De doenças sexualmente transmissíveis
(DST), de diversidade sexual?"
Para a educadora também é necessário
deixar claro que projetos de educação sexual não estimulam a sexualidade
precoce, como muitos acreditam.
"Os jovens vão aprender de
qualquer forma. Então é preciso criar condições para se perceber onde está o
risco, minimizá-lo, e dar ferramentas para que eles lidem melhor com o corpo
para tomar decisões mais espertas."
Além de disso, ela explica que educação
sexual não é apenas para prevenir gravidez ou DSTs, mas também para ajudar o
jovem a absorver o conteúdo escolar.
"A educação sexual diz respeito à
relação do jovem com ele mesmo, algo muito importante durante a puberdade,
quando cada dúvida faz ele se desconcentrar do que está se ensinando. Uma garota
na dúvida se está ou não grávida ou se vai menstruar, um garoto pensando em
detalhes sobre a primeira relação sexual.... Eles não vão se preocupar com a
matéria que o professor está dando. Qual é a importância da aula de Matemática
ou de Física perto das suas dúvidas? Nenhuma. Por isso que a angústia sexual
mina o aprendizado.”
Questionado pela BBC Brasil sobre o
ensino de educação sexual nas escolas, o Ministério da Educação afirmou que
apoia e incentiva "projetos nas áreas de educação em direitos humanos,
prevenção e enfrentamento ao preconceito, à discriminação e à violência no
ambiente escolar".
Impacto
real
Mas essas aulas têm mesmo efeito?
Estudos feitos nos Estados Unidos indicam que os alunos que participaram dessas
classes atrasam sua primeira experiência sexual e têm maior probabilidade de
usarem camisinha ou outro método anticoncepcional.
No entanto, levantamentos divulgados
pela Unesco – que analisou estudos em 87 países – eram mais ambíguos.
De acordo com a Unesco, educação sobre
sexualidade pode levar a um comportamento sexual mais tardio e mais responsável
ou, dependendo de como for aplicado, pode não ter um impacto claro nesse
comportamento.
MCMANUS, John.
Educação sexual para jovens: O que as escolas devem ensinar? [Da BBC News]. UOL
Educação, 18 mar. 2015. Disponível em: http://educação.uol.com.br/noticias/bbc/2015/03/18/educacao-sexual-para-jovens-o-que-as-escolas-devem-ensinar.htm.
Acesso em: 1° abr. 2015.
Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 9º
ano – Ensino Fundamental – IBEP 4ª edição São Paulo 2015 p. 72-4.
Entendendo a reportagem:
01 – Em seu caderno, anote as ideias que você julga essenciais ou as que
mais lhe chamaram atenção no texto lido.
Resposta pessoal do aluno.
02 – Em quantas partes a reportagem foi dividida? Em seu caderno, anote
os subtítulos que a compõem.
Em cinco partes. Os subtítulos são: “Presentes e
afeto”; “Escolas brasileiras”; “Angústia sexual” e “Impacto real”.
03 – Que fato deu origem a reportagem?
O debate gerado na Grã-Bretanha depois de o governo
anunciar um novo projeto de lei que determina que crianças a partir de 11 anos
comecem a ter aulas de educação sexual.
04 – Em sua opinião, por que esse fato foi abordado de forma mais
aprofundada em uma reportagem, em vez de ser simplesmente noticiado?
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Pelo
teor polêmico do fato e por sua relevância, a opção foi veiculá-lo por meio de
uma reportagem, gênero que permite uma análise mais aprofundada, com a opinião
de especialistas, por exemplo.
05 – De acordo com o texto, o objetivo do projeto de lei é proporcionar
aos alunos “uma melhor compreensão sobre a sociedade em que vivem, para que
assim possam tomar decisões de uma maneira mais bem informada e ficarem mais
seguros”. Você acha que esse é um objetivo válido?
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Sim,
pois essas são preocupações bastante relevantes atualmente.
06 – O texto afirma que a educação sexual não está presente de forma
sistemática no currículo das escolas brasileiras.
a) Em sua opinião, a ausência de iniciativas desse tipo pode ser considerada um problema?
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Trata-se de um
problema.
b) Existe algum tipo de iniciativa relacionada à educação sexual em sua escola?
Resposta pessoal do aluno.
07 – A reportagem conta com algumas falas da educadora sexual Maria
Helena Vilela.
a) Em sua opinião, por que essa pessoa foi convidada para opinar sobre o tema abordado no texto?
Porque ela é uma especialista no assunto e pode fornecer
informações confiáveis aos leitores.
b) Que efeito é gerado pela inserção das falas de Maria Helena com relação à credibilidade das informações veiculadas pela reportagem?
As falas de Maria Helena aumentam a credibilidade
das informações, pois ela é uma especialista no tema abordado.
c) Aponte quais são, de acordo com Maria Helena, algumas das questões que poderiam ser priorizadas em projetos de educação sexual no Brasil.
Gravidez precoce, doenças sexualmente
transmissíveis, questões de diversidade sexual.
d) Para você, essas questões são relevantes? Você se sentiria à vontade em discuti-las na escola? Explique.
Resposta pessoal do aluno.
08 – Em sua opinião, iniciativas ligadas à educação sexual podem ter
impacto real na vida dos jovens? Explique.
Resposta pessoal do aluno.
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