quarta-feira, 29 de setembro de 2021

TEXTO: OS PSICO-HISTORIADORES (FRAGMENTO)- ISAAC ASIMOV - ENCICLOPÉDIA GALÁCTICA - COM GABARITO

 Texto: Os psico-historiadores (Fragmento)

       Hari Seldon – ...  Nascido no ano 11.988 da Era Galáctica: falecido em 12.069. As datas são mais conhecidas, em termos da atual Era da Fundação, como de – 79 a 1 E.F. Nascido numa família de classe média de Helicon, setor de Arcturus (onde seu pai, como reza uma lenda de autenticidade duvidosa, cultivava tabaco nas usinas hidropônicas do planeta), desde cedo revelou uma fantástica habilidade em matemática. Os relatos sobre sua habilidade são inumeráveis e, alguns deles, contraditórios. Dizem que, aos dois anos de idade, ele...

        ...  Sem dúvida, suas maiores contribuições foram no campo da psico-história. Quando Seldon começou, este campo era pouco mais do que um conjunto de axiomas vagos; ele o transformou numa ciência estatística profunda...

        ... A maior autoridade existente para saber detalhes de sua vida é a biografia escrita por Gaal Dornick que, quando jovem, conheceu Seldon dois anos antes da morte do grande matemático. A história do encontro...

Enciclopédia galáctica

Capitulo 1

        Seu nome era Gaal Dornick, e ele era apenas um caipira que nunca havia visto Trantor antes. Isto é, não na vida real. Ele já o vira muitas vezes em hipervídeo e, ocasionalmente, em incríveis reportagens tridimensionais cobrindo uma coroação imperial ou a abertura de um Conselho Galáctico. Muito embora tivesse vivido toda a sua vida no mundo de Synnax, que orbitava uma estrela na periferia da Corrente Azul, ele não estava isolado da civilização. Naquela época, nenhum lugar na Galáxia estava.

        Havia quase vinte e cinco milhões de planetas habitados na Galáxia então, e nenhum deles deixava de prestar obediência ao Império cujo trono ficava em Trantor. Era o último meio século no qual essa afirmação poderia ser feita.

        Para Gaal, a viagem era o clímax indubitável de sua vida jovem e acadêmica. Ele já havia estado no espaço antes, e por isso essa jornada, como viagem em si, pouco significava para ele. Na verdade, sua única viagem anterior tinha sido até o único satélite de Synnax para obter os dados sobre a mecânica de deslocamento de meteoros de que precisava para sua dissertação, mas viagem espacial era tudo a mesma coisa; não importava se a pessoa viajava meio milhão de quilômetros ou muitos anos-luz.

        Ele havia se preparado só um pouquinho para o Salto pelo hiperespaço, um fenômeno que as pessoas não experimentavam em viagens interplanetárias simples. O Salto permanecia, e provavelmente assim seria para sempre, o único método prático de viajar entre as estrelas. A viagem pelo espaço comum não podia ser mais rápida do que a da luz comum (um pouco de conhecimento científico que pertencia aos poucos itens conhecidos desde a aurora esquecida da história humana), e isso teria significado muitos anos no espaço até mesmo entre os sistemas habitados mais próximos. Através do hiperespaço, essa região inimaginável que não era espaço nem tempo, nem matéria nem energia, nem algo nem nada, era possível atravessar a extensão da galáxia no intervalo entre dois instantes de tempo.

        Gaal havia esperado pelo primeiro desses saltos com um pouco de medo no estômago, e acabou não sendo nada além de um ínfimo tremor, um pequeno solavanco interno que cessou um instante antes que ele pudesse ter certeza de que o havia sentido.

        E isso foi tudo.

        E, depois, tinha ficado apenas a nave, grande e reluzente, a produção de 12 mil anos de progresso imperial; e ele próprio, com seu doutorado em matemática recém-obtido e um convite do grande Hari Seldon para ir a Trantor e se juntar ao vasto, e um tanto misterioso, Projeto Seldon.

        O que Gaal esperava, depois da decepção do Salto, era aquela primeira visão de Trantor. Ele ficou espreitando o Mirante. As persianas de aço eram erguidas em momentos anunciados e ele estava sempre ali, observando o brilho forte das estrelas, apreciando o incrível enxame nebuloso de um aglomerado estelar, como um gigantesco enxame de vaga-lumes apanhados em pleno voo e paralisados para sempre.  Em um momento havia a fumaça fria, azul-embranquecida de uma nebulosa gasosa a cinco anos-luz da nave, espalhando-se pela janela como leite, preenchendo o aposento com um tom gelado, e desaparecendo de vista duas horas depois, após outro Salto.

        A primeira visão do sol de Trantor foi a de uma partícula dura e branca totalmente perdida dentro de uma miríade de outras, e reconhecível somente porque fora apontada pelo guia da nave. As estrelas eram espessas, ali no centro galáctico. Mas, a cada Salto, ele brilhava mais, superando o resto, fazendo com que elas empalidecessem e reduzissem o brilho.

        Um oficial apareceu e disse:

        – O mirante ficará fechado durante o resto da viagem. Preparar para o pouso.

        Gaal o seguiu, puxando a manga do uniforme branco com o símbolo da Espaçonave-e-Sol do Império.

        – Seria possível me deixar ficar? Eu gostaria de ver Trantor – ele perguntou.

        O oficial sorriu e Gaal ficou vermelho. Lembrou-se de que falava com um sotaque provinciano.

        – Vamos pousar em Trantor pela manhã – respondeu o oficial.

        – Eu quis dizer que queria vê-lo do espaço.

        – Ah. Desculpe, meu rapaz. Se isto aqui fosse um iate espacial, poderíamos dar um jeito. Mas estamos descendo voltados para o sol. Você não gostaria de ficar cego, queimado e cheio de cicatrizes de radiação ao mesmo tempo, gostaria?

        Gaal começou a se afastar.

        O oficial disse, atrás dele:

        – De qualquer maneira, Trantor seria apenas uma mancha cinza, garoto. Por que é que você não faz uma excursão espacial assim que chegar lá? São bem baratinhas.

        Gaal olhou para trás.

        – Muito obrigado.

        Era infantil se sentir decepcionado, mas a infantilidade é uma coisa que acontece quase tão naturalmente a um homem quanto a uma criança, e Gaal sentiu um nó na garganta. Ele nunca vira Trantor se descortinando em toda a sua incredibilidade, grande como a vida, e não imaginara que teria de esperar mais ainda para isso.

ASIMOV, Isaac. Fundação. Tradução Fabio Fernandes. São Paulo: Aleph, 2009, p. 12-15.

Fonte: Língua Portuguesa – Programa mais MT – Ensino fundamental anos finais – 9° ano – Moderna – Thaís Ginícolo Cabral. p. 14-19.

Entendendo o texto:

01 – Retome as hipóteses que você levantou na subseção Antes de ler:

a)   Converse com seus colegas e o professor sobre como você imaginou a viagem das pessoas de um planeta a outro no futuro e sobre como o livro descreve a viagem de Gaal.

Resposta pessoal do aluno.

b)   Que hipóteses você levantou sobre o título da primeira parte do livro? Com base na leitura da 1ª parte do texto, é possível deduzir o conceito de psico-historiador?

Resposta pessoal do aluno.

02 – Nessa edição do texto, os editores trocaram as palavras Superespaço e Supervídeo, tal como foram escritas originalmente pelo autor, por Hiperespaço e Hipervídeo. O que justificaria essa troca?

      A troca feita pelos editores se justificaria pelo fato de tornar o texto mais acessível ao maior número possível de leitores de hoje em dia.

03 – Antes de lermos o Capítulo 1, encontramos um hipertexto, um texto que antecede a leitura do início da história. Como ele foi organizado e o que revela ao leitor?

      Esse hipertexto está organizado em forma de verbete, no caso da “Enciclopédia Galáctica” e faz a ambientação da história para o leitor, apresentando dois de seus principais personagens, o jovem Gaal Dornick e o misterioso cientista Hari Seldon.

04 – Enquanto lemos o primeiro capítulo, vamos, pouco a pouco, conhecendo um dos principais personagens do romance, o jovem Gaal Dormick. Que informações obtemos sobre ele no início dessa leitura?

      Gaal é retratado como um jovem pesquisador caipira que vive em Synnax, astro que orbita uma estrela na periferia da Corrente Azul, longe, portanto, dos grandes centros da Galáxia; encontra-se apreensivo por fazer uma viagem até Trantor, considerado a sede do Império que comandava vinte e cinco milhões de planetas habitados na Galáxia. Também informa que ele faz uma pesquisa de doutorado sobre a movimentação de meteoros e que ele parece estar ansioso com a viagem feita pelo espaço, com um pouco de medo do que pode ocorrer no caminho e apreensivo sobre o misterioso e vasto Projeto Seldon.

05 – Ao longo do primeiro capítulo da saga Fundação, há menção a diferentes cenários espaciais. Quais são? Eles existem de fato ou foram criados pelo autor do livro?

      Trantor, a sede do Império Galáctico; Synnax, o local de onde Gaal veio; e a Corrente Azul, além de diversas referências a nebulosas. Esses lugares são fictícios.

06 – Um aspecto fascinante das narrativas de ficção científica é a descrição de cenários intergalácticos ou futuristas que não existem, mas podemos imaginar quando lemos essas histórias. Em que parte do trecho essa descrição é feita pelo narrador quando Gaal chega a Trantor?

      Quando Gaal chega a Trantor, o narrador descreve o que ele vê do espaço pela janela da nave da seguinte forma:

“[...] era aquela primeira visão de Trantor. Ele ficou espreitando o Mirante. As persianas de aço eram erguidas em momentos anunciados e ele estava sempre ali, observando o brilho forte das estrelas, apreciando o incrível enxame nebuloso de um aglomerado estelar, como um gigantesco enxame de vaga-lumes apanhados em pleno voo e paralisados para sempre.  Em um momento havia a fumaça fria, azul-embranquecida de uma nebulosa gasosa a cinco anos-luz da nave, espalhando-se pela janela como leite, preenchendo o aposento com um tom gelado, e desaparecendo de vista duas horas depois, após outro Salto.

        A primeira visão do sol de Trantor foi a de uma partícula dura e branca totalmente perdida dentro de uma miríade de outras, e reconhecível somente porque fora apontada pelo guia da nave. As estrelas eram espessas, ali no centro galáctico. Mas, a cada Salto, ele brilhava mais, superando o resto, fazendo com que elas empalidecessem e reduzissem o brilho.”

07 – Ao fazer sua viagem, Gaal realiza uma espécie de Salto no hiperespaço que possibilita uma viagem com tranquilidade entre regiões distantes umas das outras por diversos anos-luz. O que seria a velocidade da luz? É possível, hoje, realizarmos viagens como essa?

      A medida de anos-luz faz referência à distância percorrida pela luz durante um ano, ou seja, à velocidade de 300 mil km/s, maneira como se organiza a velocidade da luz. A luz das estrelas, para chegar à Terra, por exemplo, viaja cerca de 300.000 km por segundo. Asimov retrata um futuro distante em que o ser humano poderá realizar viagens com essa velocidade naturalmente, o que ainda hoje é impossível.

08 – Por que Gaal é descrito pelo narrador e pelo funcionário da nave como um caipira?

      O termo caipira geralmente carrega um sentido pejorativo e preconceituoso, ligado à falta de refinamento ou de informação. Na obra Fundação, Trantor é o centro de um Império intergaláctico num futuro em que a raça humana colonizou quase toda a galáxia. Por viver longe do centro do império e não estar acostumado com viagens espaciais, Gaal é retratado pelo narrador e por esse personagem como um caipira. Isso também fica evidenciado no trecho em que Gaal pede ao oficial que o deixe no Mirante para observar Trantor, mas este o alerta sobre a questão do Sol, que pode queimá-lo, e o informa da possibilidade de uma excursão “baratinha”.

 

 

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