domingo, 29 de maio de 2022

MITO: O DIA EM QUE O ARCO-ÍRIS ESTANCOU A CHUVA - REGINALDO PRANDI - COM GABARITO

 Mito: O DIA EM QUE O ARCO-ÍRIS ESTANCOU A CHUVA

            Quando havia escravidão em nosso país, milhares de africanos que pertenciam aos povos iorubás foram caçados e trazidos ao Brasil para trabalhar como escravos.

        Assim como outros africanos aqui escravizados, os iorubás, que também são chamados nagôs, trouxeram seus costumes, suas tradições, seus deuses, os orixás. E, até hoje, muitas dessas tradições dos antigos nagôs estão vivas, tanto no Brasil como na própria África. Fazem parte delas as histórias de Ifá.

        Ifá, o Adivinho, aquele que conhece todas as histórias já acontecidas e as que ainda vão acontecer, conta que na antiga África negra, em tempos imemoriais, vivia a mais velha das mulheres, a mais antiga de todas.

        Ela era tão arcaica que até ajudou Oxalá a criar a humanidade, emprestando-lhe a lama do fundo do lago onde ela vive para que ele moldasse o primeiro ser humano.

        Apesar de velha, era mulher bela e formosa, era uma deusa, e Nanã era seu nome. Teve dois filhos, um muito bonito, o outro feio.
O filho feio é conhecido pelo nome de Omulu, o outro, o belo, nós o chamamos de Oxumarê.

        O príncipe Oxumarê usava roupas vistosas tingidas de todas as cores, que realçavam ainda mais sua beleza e o faziam invejado por todos. Aonde quer que fosse, era sempre admirado por sua formosura e pelo luxo de seus trajes. Esse gosto pelas roupas alegres herdara do pai, conhecido como o homem da capa multicolorida.

        Contam muitas histórias sobre Oxumarê e dizem que ele costuma aparecer ora na forma de uma cobra, ora como o próprio arco-íris enfeitando o céu.

        Pois bem, dizem que houve um tempo em que a Terra foi quase destruída pela Chuva. Chovia o tempo todo, o solo ficou todo encharcado, os rios pularam fora de seus leitos, de tanta água. As plantas e os animais morriam afogados, a umidade e o mofo se alastravam por todos os lugares, a doença e a morte prosperavam.

        A chuva é benfazeja, mas não pode durar para sempre, sabia muito bem Oxumarê. Então, o jovem filho de Nanã, que nunca tinha tido simpatia pela Chuva, apontou seu punhal de bronze para o alto
e com ele fez um grande corte em arco no céu, ferindo a Chuva e interrompendo sua ação.

        A Chuva parou de cair e alagar tudo aqui embaixo, e o Sol pôde brilhar de novo, refazendo a vida. Desde então, quando chove em demasia, Oxumarê risca o céu com seu punhal de bronze
para estancar as águas que caem das alturas. Quando isso acontece, todos podem ver o belo príncipe no céu vestido com suas roupas multicoloridas. Todos podem vê-lo na forma do arco-íris.
Na língua africana de Oxumarê, aliás, seu nome quer dizer exatamente isso: o Arco-Íris. Quando não está chovendo, 
Oxumarê vive na Terra.

        Muitos dizem que Oxumarê foi posto no firmamento
por sua própria mãe Nanã, a Sábia, para que, de lá do alto, todos pudessem admirar sua beleza.

        Dizem também que foi por causa de sua formosura que Oxumarê acabou transformado numa cobra. Tudo porque Xangô, o Trovão, rei da cidade de Oió, encantou-se com as cores do Arco-Íris.

        Para poder admirar Oxumarê quando bem quisesse, Xangô planejou aprisioná-lo para sempre.

        O rei Trovão chamou Oxumarê em seu palácio e, quando o jovem príncipe entrou na sala do trono, os soldados do rei fecharam todas as portas e janelas. O príncipe das cores não podia fugir de Xangô, estava encurralado, preso, impedido de subir ao firmamento.

        Oxumarê ficou desesperado. Quem estancaria a Chuva, se ele permanecesse preso? Quem salvaria a humanidade da fúria das águas? Quem impediria as enchentes, as enxurradas destruidoras, as avalanches de terra encharcada? Quem frearia a destruição das colheitas por excesso de água? Quem livraria o homem da fome, da morte?

        Oxumarê, o Arco-Íris, implorou a Olorum. Olorum, o Senhor Supremo, ouviu o prisioneiro e, com pena dele, transformou-o numa cobra. A cobra então deslizou pelo chão da sala do palácio e, com facilidade, escapou pela fresta sob a porta. Ficou livre para sempre.

        Por isso Oxumarê vive no firmamento e vive no solo. Vive no Céu e na Terra. Ele é ambíguo, é misterioso. Temos medo quando o vemos rastejar pelo chão feito um réptil asqueroso, e nos encantamos com suas cores luxuosas esparramadas em arco no horizonte. Ele é o príncipe-serpente, a cobra que rasga o céu. É o Senhor do Arco-Íris.

            Reginaldo Prandi. OXUMARÊ, O ARCO-IRIS. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2004. p. 9-11.

      Fonte: Língua Portuguesa – Caminhar e transformar – Aos finais do ensino fundamental – 1ª edição – São Paulo – FTD, 2013. p. 55-9.

Entendendo o mito:

01 – No início do texto menciona-se Ifá, o Advinho. Quem é Ifá e o que ele faz?

        Ifá é um contador de histórias e é ele que narra o mito de Oxumarê.

02 – Releia este trecho.

        “Ifá, o Adivinho, aquele que conhece todas as histórias já acontecidas e as que ainda vão acontecer, conta que na antiga África negra, em tempos imemoriais, vivia a mais velha das mulheres, a mais antiga de todas.

        Ela era tão arcaica que até ajudou Oxalá a criar a humanidade, emprestando-lhe a lama do fundo do lago onde ela vive para que ele moldasse o primeiro ser humano.”.

a)   Que informações são dadas nesse trecho sobre o tempo em que se passa a história?

Em tempos imemoriais.

b)   É possível determinar o tempo em que o mito acontece? Por quê?

Não. Porque são tempos imemoriais, muito antigos.

c)   Que informações demonstram o quanto a deusa Nanã era velha?

Era a mais antiga de todas as mulheres e ajudou Oxalá a criar a humanidade.

d)   Que outro deus é mencionado no trecho?

Oxalá, o criador da humanidade.

03 – Quais são as características de Oxumarê invejadas pelos outros?

      Ele é bonito e se veste com roupas ricas e coloridas.

04 – Sobre os personagens, assinale as alternativas corretas.

(X) Todos os personagens são deuses.

(   ) Oxumarê é humano e os outros são deuses.

(X) Existe um senhor supremo, Olorum.

(X) Nanã é a mulher mais velha de todas e também uma deusa.

05 – Sublinhe no mito o trecho que mostra os problemas que a chuva estava provocando.

      “[...] Chovia o tempo todo, o solo ficou todo encharcado, os rios pularam fora de seus leitos, de tanta água. As plantas e os animais morriam afogados, a umidade e o mofo se alastravam por todos os lugares, a doença e a morte prosperavam.”

06 – Como Oxumarê estancou a Chuva?

      Cortando o céu com seu punhal e transformando-se em arco-íris.

07 – Pode-se afirmar que Oxumarê foi um herói? Por quê?

      Sim, já que seu ato trouxe benefícios ao povo.

08 – O mito que você leu explica que fenômeno da natureza?

      O surgimento do arco-íris.

09 – Por que Xangô prendeu Oxumarê?

      Porque queria poder admirar sua beleza a qualquer tempo.

10 – Como Oxumarê se livrou da prisão?

      Ele foi transformado em cobra por Olorum e conseguiu escapar por uma fresta.

11 – Se Oxumarê continuasse prisioneiro, o que aconteceria?

      A chuva não pararia e provocaria inúmeras tragédias.

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário