domingo, 15 de maio de 2022

POEMA: SONHANDO - ÁLVARES DE AZEVEDO - COM GABARITO

 Poema: SONHANDO   

             Álvares de Azevedo

Hier, la nuit d’été, que nous prêtait ses voiles, Était digne de toi, tant elle avait d’étoiles!

VICTOR HUGO

Na praia deserta que a lua branqueia,
Que mimo! que rosa! que filha de Deus!
Tão pálida... ao vê-la meu ser devaneia,
Sufoco nos lábios os hálitos meus!
        Não corras na areia,
        Não corras assim!
        Donzela, onde vais?
        Tem pena de mim!

A praia é tão longa! e a onda bravia
As roupas de gaza te molha de escuma...
De noite, aos serenos, a areia é tão fria...
Tão úmido o vento que os ares perfuma!
        És tão doentia...
        Não corras assim...
        Donzela, onde vais?
        Tem pena de mim!

A brisa teus negros cabelos soltou,
O orvalho da face te esfria o suor,
Teus seios palpitam — a brisa os roçou,
Beijou-os, suspira, desmaia de amor!
        Teu pé tropeçou...
        Não corras assim...
        Donzela, onde vais?
        Tem pena de mim!

E o pálido mimo da minha paixão
Num longo soluço tremeu e parou,
Sentou-se na praia, sozinha no chão,
A mão regelada no colo pousou!
        Que tens, coração
        Que tremes assim?
        Cansaste, donzela?
        Tem pena de mim!

Deitou-se na areia que a vaga molhou.
Imóvel e branca na praia dormia;
Mas nem os seus olhos o sono fechou
E nem o seu colo de neve tremia...
        O seio gelou?...
        Não durmas assim!
        O pálida fria,
        Tem pena de mim!

Dormia: — na fronte que níveo suar...
Que mão regelada no lânguido peito...
Não era mais alvo seu leito do mar,
Não era mais frio seu gélido leito!
        Nem um ressonar...
        Não durmas assim...
        O pálida fria,
        Tem pena de mim!

Aqui no meu peito vem antes sonhar
Nos longos suspiros do meu coração:
Eu quero em meus lábios teu seio aquentar,
Teu colo, essas faces, e a gélida mão...
        Não durmas no mar!
        Não durmas assim.
        Estátua sem vida,
        Tem pena de mim!

E a vaga crescia seu corpo banhando,
As cândidas formas movendo de leve!
E eu vi-a suave nas águas boiando
Com soltos cabelos nas roupas de neve!
        Nas vagas sonhando
        Não durmas assim...
        Donzela, onde vais?
        Tem pena de mim!

E a imagem da virgem nas águas do mar
Brilhava tão branca no límpido véu...
Nem mais transparente luzia o luar
No ambiente sem nuvens da noite do céu!
        Nas águas do mar
        Não durmas assim...
        Não morras, donzela,
        Espera por mim!

AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. São Paulo: Klick, 1999.

Fonte: Livro – Viva Português 2° – Ensino médio – Língua portuguesa – 1ª edição 1ª impressão – São Paulo – 2011. Ed. Ática. p. 89-92.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Devanear: sonhar, fantasiar.

·        Escuma: espuma.

·        Fronte: a face, o rosto de uma pessoa.

·        Gaza: gaze, tecido leve e transparente.

·        Gélido: gelado.

·        Níveo: relativo a neve; que tem cor de neve, muito branco.

·        Regelado: congelado, gelado.

·        Ressonar: respirar durante o sono.

·        Vaga: onda.

02 – Releia a primeira estrofe do poema e faça o que se pede:

a)   Descreva o ambiente onde se encontra o eu lírico. Que palavras ou expressões são usadas para compor esse ambiente?

O eu lírico encontra-se numa praia deserta iluminada apenas pela luz da lua. Palavras: praia deserta, lua branqueia, na areia.

b)   Descreva a pessoa que ele avista. Quais palavras ou expressões são usadas para apresenta-la?

Segundo o eu lírico, é uma jovem muito bonita e pálida. Palavras: mimo, rosa, filha de Deus, tão pálida, donzela.

c)   Descreva a sensação provocada no eu lírico por essa pessoa. Que palavras ou expressões revelam esse sentimento?

A visão da jovem faz o eu lírico fantasiar, sonhar, mas ele sufoca a manifestação de sua emoção; “ao vê-la meu ser devaneia”, “sufoco nos lábios os hálitos meus!”, “tem pena de mim!”.

03 – O que a donzela está fazendo, quando o eu lírico a vê na praia? Entre a primeira a última estrofe, que mudanças acontecem com ela?

      Quando o eu lírico a vê, a donzela está correndo. Nas estrofes seguintes, percebemos que ela continua correndo, aproxima-se do mar, tropeça, ainda corre, para, senta-se no chão, deita-se imóvel e morre, seu corpo boia suavemente.

04 – Qual é a reação do eu lírico diante do que vê acontecer com a donzela: ele intervém ou mantém-se como espectador?

      O eu lírico, ao longo do poema, apenas lamenta a aparente “fuga” da jovem, como espectador.

05 – Do ponto de vista das características da segunda geração da poesia romântica brasileira, o que você entende dos versos: “Não morras, donzela, / espera por mim!”?

      Esses versos podem ser compreendidos como um pedido do eu lírico para que a jovem não morra antes de conhece-lo e de saber de seu amor ou para que aguarde ainda um momento antes de morrer, porque ele pretende juntar-se a ela na morte.

06 – Releia a penúltima estrofe e responda às questões:

a)   Observe a pontuação no interior dos versos. Ela proporciona uma leitura entrecortada ou fluida? Justifique sua resposta.

A ausência de pontuação no interior dos versos torna-os fluidos.

b)   Releia a penúltima estrofe em voz alta, percebendo a presença de vogais nasais (por exemplo, em banhando, cândidas, donzelas, mim, etc.), das consoantes m, n, s e das rimas em –ando e –eve. Depois escreva no caderno qual das alternativas abaixo apresenta algo que é descrito na estrofe e reiterado pela sonoridade e pela fluidez dos versos.

   O desespero do eu lírico diante da mulher amada morta.

·        O furor das ondas que quebravam na praia arrastando sem piedade a donzela ao mar.

·        O movimento suave das ondas envolvendo o corpo morto da donzela.

·        O cansaço da donzela depois de ter corrido por toda a praia.

 

 

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