Poema: Dizes-me: tu és mais alguma cousa
Alberto Caieiro
Dizes-me: tu és mais alguma
cousa
Que uma pedra ou uma planta.
Dizes-me: sentes, pensas e
sabes
Que pensas e sentes.
Então as pedras escrevem
versos?
Então as plantas têm ideias
sobre o mundo?
Sim: há diferença.
Mas não é a diferença que
encontras;
Porque o ter consciência não
me obriga a ter teorias sobre as cousas:
Só me obriga a ser
consciente.
Se sou mais que uma pedra ou
uma planta? Não sei.
Sou diferente. Não sei o que
é mais ou menos.
Ter consciência é mais que
ter cor?
Pode ser e pode não ser.
Sei que é diferente apenas.
Ninguém pode provar que é
mais que só diferente.
Sei que a pedra é a real, e
que a planta existe.
Sei isto porque elas
existem.
Sei isto porque os meus
sentidos mo mostram.
Sei que sou real também.
Sei isto porque os meus
sentidos mo mostram,
Embora com menos clareza que
me mostram a pedra e a planta.
Não sei mais nada.
Sim, escrevo versos, e a
pedra não escreve versos.
Sim, faço ideias sobre o
mundo, e a planta nenhumas.
Mas é que as pedras não são
poetas, são pedras;
E as plantas são plantas só,
e não pensadores.
Tanto posso dizer que sou
superior a elas por isto,
Como que sou inferior.
Mas não digo isso: digo da
pedra, «é uma pedra»,
Digo da planta, «é uma
planta»,
Digo de mim «sou eu».
E não digo mais nada. Que
mais há a dizer?
CAIEIRO, Alberto. In:
PESSOA, Fernando. Obra poética. Rio de Janeiro: Cia José Aguilar Editora, 1969,
p. 234.
Fonte: Livro – Língua
Portuguesa – Heloísa Harue Takazaki – ensino médio – Coleção Vitória-Régia –
Volume único – IBEP. 2004, p. 22-3.
Entendendo o poema:
01 – Fernando Pessoa é o
poeta português que foi citado na canção “Língua” de Caetano Veloso – “Gosto do
Pessoa na pessoa”. Releia os primeiros versos do poema. Observe que o poeta
parece dirigir-se a alguém. Depois da leitura de todo o poema, é possível
inferir: quem pode ser esse interlocutor?
O próprio poeta.
02 – Que dúvidas ele revela
nessa primeira estrofe?
Sobre as
diferenças que existem (ou não) entre as pedras, plantas e o homem.
03 – Na segunda, terceira e
quarta estrofes, o poeta desenvolve as ideias apresentadas na primeira estrofe,
respondendo às questões sobre as pedras e plantas, comparadas a ele, poeta. De
acordo com esses versos, que diferenças são reconhecidas?
A diferença
consiste na consciência que o homem possui. Porém essa diferença, segundo o
poeta, nada mais é que apenas uma diferença. Isso não daria, ao homem
superioridade, por exemplo.
04 – Observe, na quinta e
sexta estrofes, a repetição dos verbos sei e existir e da
expressão meus sentidos. O que o poeta sabe? O que leva o poeta ao
conhecimento das coisas e dele mesmo?
Sabe da
existência de si, das pedras e plantas. A diferença que separa homens de pedras
e plantas é o que lhe dá conhecimento das coisas e dele mesmo.
05 – Cada um possui uma
identidade, uma essência que os distingue dos demais. Mas nenhuma dessas
particularidades leva à ideia de superioridade ou inferioridade. Que verso
exemplificaria tal ideia?
“Ter consciência é mais que ter cor?”.
06 – O que você sabe sobre
Literatura?
Resposta pessoal
do aluno.
07 – Para você quais são as
diferenças existente entre textos literários e não-literários?
Resposta pessoal do aluno.
08 – Qual a importância da Literatura
para você?
Resposta pessoal do aluno.
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