Crônica: Sketch. Dois homens tramando um assalto
Luís Fernando Veríssimo
-- Valeu, mermão? Tu traz o berro que
nóis vamo rendê o caixa bonitinho. Engrossou, enche o cara de chumbo. Pra
arejá.
-- Podes crê. Servicinho manero. É só
entrá e pegá.
-- Tá com o berro aí?
-- Tá na mão.
Aparece o guarda
-- Ih, sujou. Disfarça, disfarça...
O guarda passa por eles.
-- Discordo terminantemente. O
imperativo categórico de Hegel chega a Marx diluído pela fenomenologia de
Feuerbach.
-- Pelo amor de Deus! Isso é o mesmo
que dizer que Kierkegaard não passa de um Kant com algumas sílabas a mais. Ou
que os iluministas do século 18...
O guarda se afasta.
-- O berro, tá recheado?
-- Tá.
-- Então vamlá!
VERISSIMO, Luís Fernando. O Estado de S. Paulo, 8 mar. 1998.
Fonte: Livro – Viva
Português 1° – Ensino médio – Língua portuguesa – 2ª edição 1ª impressão – São
Paulo – 2014. p. 101.
Entendendo a crônica:
01 – Para representar por
escrito a variante coloquial, algumas palavras e expressões sofreram alterações
a fim de indicar na grafia a sonoridade que apresentam na linguagem oral.
Indique exemplos de palavras com reduções nas formas infinitas, ressaltando
assim que a última sílaba é a tônica.
As palavras
rendê, arejá, entrá, pegá, tá.
02 – Indique exemplos de
gírias referentes à ideia de assalto, crime.
As palavras
chumbo, berro, servicinho.
03 – A crônica, na mudança
brusca de variante linguística é motivada por qual razão?
Pela chegada do policial.
04 – Quais são as marcas
linguísticas, ou seja, os termos que comprovam a mudança de variante?
Os termos
terminantemente, imperativo categórico, fenomenologia, iluministas, além dos
nomes Hegel, Marx, Feuerbach, Kierkegaard e Kant, referentes a filósofos.
05 – Qual é o grupo que os
assaltantes passam a representar no momento em que mudam a variante?
Um grupo de intelectuais ou de pessoas que
discutem filosofia.
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