segunda-feira, 10 de junho de 2024

CONTO: A ABÓBORA MENINA - TERESA LOPES - COM GABARITO

Conto: A Abóbora Menina

             Teresa Lopes

 Brotara do solo fecundo de um quintal enorme, de uma semente que mestre Crisolindo comprara na venda. Despontava por entre uns pés de couve e mais algumas abóboras, umas suas irmãs, outras suas parentes mais afastadas.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjesQB1P9uc28vDjDtv2RdIFw-j3XJLL7yIyarQfhgP1WX7a2bYwPHHpGfk5eWWZ1enYD2QCdX9rEWxv7vHr6bC9FkvM4XNu2BxZjOJx9jMRuTjA1hf3PHbzRN4rNBsKzzF5YnhZlvXImQ3MLtN0haftj3WSwpdJkt88mkjwLQtdxNzkuHaz0wF3KrTw08/s320/abobora-menina-flor.jpg


Tratada com o devido esmero, adubada à maneira, depressa cresceu e se tornou em bela moçoila, roliça e corada.

Os dias corriam serenos. Enquanto o sol brilhava, tudo era calma naquele quintal. Sombra dos pés de couve, rega a horas devidas, nada parecia faltar para que todos fossem felizes.

As suas conversas eram banais: falavam do tempo, de mestre Crisolindo e nunca, mas nunca, do futuro que os aguardava.

Mas Abóbora Menina, em vez de se dar por satisfeita com a vida que lhe havia sido reservada, vivia entristecida e os seus dias e as suas noites eram passados a suspirar.

Desde muito cedo que a sua atenção se virara para as borboletas de cores mil que bailavam sobre o quintal. E sempre que alguma pousava perto de si, a conversa não era outra se não esta:

― Dizei-me, menina borboleta, como fazeis para voar?

― Ora, menina abóbora, que quereis que vos diga? Primeiro fui ovo quase invisível, depois fui crisálida e depois, olhe, depois alguém me pôs estas asas e assim voei.

― Como eu queria ser como vós e poder sair daqui, ver outros quintais.

― Que me conste, vós fostes semente e vosso berço jaz debaixo desta terra negra e quente. Nunca por aí andamos, minhas irmãs e eu.

A borboleta levantava voo e Abóbora Menina suspirava. E suspirava. E de nada serviam os consolos de suas irmãs, nem o consolo dos pés de couve, nem o consolo dos pés de alface que cresciam ali perto e que todas as conversas ouviam.

Certo dia passou por aqueles lados uma borboleta mais viajada e foi pousar mesmo em cima da abóbora. De novo a mesma conversa, os mesmos suspiros.

Tanta pena causou a abóbora à borboleta, que esta acabou por lhe confessar:

― Já que tamanho é vosso desejo de voar e dado que asas nunca podereis vir a ter, só vos resta uma solução: deixai-vos levar pelo vento sul, que não tarda nada aí estará.

― Mas como? Não vedes que sou roliça? Não vedes que tenho engordado desde que deixei de ser semente?

E a borboleta explicou à Abóbora Menina o que ela devia fazer.

A única solução seria cortar com o forte laço que a ligava àquela terra-mãe e deixar-se levar pelo vento.

Ele não tardaria, pois umas nuvens suas conhecidas assim lhe haviam garantido. Mais adiantou a borboleta que daria uma palavrinha ao tal vento, por sinal seu amigo e aconselhou todos os outros habitantes do quintal a segurarem-se bem quando ele chegasse.

Ninguém gostou da ideia à exceção da nossa menina.

― Vamos perder-te! ― lamentavam-se as irmãs.

― Nunca mais te veremos. ― sussurravam os pés de alface.

― Acabarás por mirrar se te desprendes do solo que te deu sustento.

Mas a abóbora nada mais queria ouvir. E logo nessa noite, quando todos dormiam, Abóbora Menina tanto se rebolou no chão, tantos esticões deu ao cordão que lhe dera vida, que acabou por se soltar e assim permaneceu, liberta, aguardando o vento sul com todos os sonhos que uma abóbora ainda menina pode ter na sua cabeça.

Não esperou muito, a Abóbora Menina. Dois dias passados, logo pela manhãzinha, o vento chegou. E com tal força, que a todos surpreendeu.

Mestre Crisolindo pegou na enxada e resguardou-se em casa. As flores e as hortaliças, já prevenidas, agarraram-se ainda mais à terra.

Só a abóbora se alegrou e, peito rosado aberto à tempestade, aguardou paciente a sorte que a esperava.

Quando um remoinho de vento pegou nela e a ergueu nos ares, qual balão liberto das mãos de um menino, não sentiu nem medo, nem pena de partir.

― Adeus, minhas irmãs!... Adeus, meus companheiros!...

― Até... um... dia!...

E voou direitinha ao céu sem fim!...

Para onde seguiu? Ninguém sabe.

Onde foi parar? Ninguém imagina.

Mas todos sabem, naquele quintal, que dali partiu, numa bela tarde de vento, a abóbora menina mais feliz que algum dia poderá haver.

 

LOPES, T. Histórias que acabam aqui: contos para a infância. Edições ArcosOnline.com. p. 5-8.

Disponível em: <https://bit.ly/2O8C1f4>. Acesso em: 30 ago. 2018.

 

Entendendo o texto

01. De onde brotou a Abóbora Menina?

      a) De uma árvore mágica.

      b) De uma semente comprada na venda.

      c) De um presente de uma borboleta.

     d) De um feitiço realizado por mestre Crisolindo.

02. Como era o ambiente no quintal onde a Abóbora Menina cresceu?

     a) Agitado e cheio de movimento.

    b) Silencioso e abandonado.

    c) Calmo e sereno.

    d) Perigoso e cheio de predadores.

03. Com quem a Abóbora Menina gostava de conversar?

    a) Com as nuvens.

    b) Com as borboletas.

    c) Com os pássaros.

   d) Com as formigas.

04. O que a Abóbora Menina desejava mais do que tudo?

    a) Crescer ainda mais.

    b) Ser comida pelo mestre Crisolindo.

    c) Voar e ver outros quintais.

    d) Ser a abóbora mais bonita do quintal.

05. O que a borboleta mais viajada sugeriu à Abóbora Menina para realizar seu desejo de voar?

    a) Que esperasse a chegada do vento sul.

    b) Que pedisse ajuda ao mestre Crisolindo.

    c) Que usasse suas folhas como asas.

    d) Que esperasse a próxima chuva.

06. Como a Abóbora Menina conseguiu se soltar do solo?

     a) O mestre Crisolindo a soltou.

     b) A borboleta cortou o cordão que a prendia.

     c) Ela se rebolou e deu esticões no cordão que a prendia.

     d) O vento sul a arrancou diretamente do solo.

07. O que os outros habitantes do quintal achavam da ideia da Abóbora Menina de se soltar?

     a) Ficaram entusiasmados e quiseram fazer o mesmo.

     b) Ficaram tristes e preocupados.

     c) Não se importaram.

     d) Ficaram com inveja.

08. O que fez a Abóbora Menina na noite em que decidiu se soltar?

    a) Chamou todas as borboletas para ajudá-la.

    b) Dormiu profundamente.

    c) Se rebolou e se soltou do cordão que a prendia ao solo.

    d) Pediu ao mestre Crisolindo para a soltar.

09. Qual foi a reação da Abóbora Menina ao ser levantada pelo vento?

    a) Sentiu medo e arrependimento.

    b) Ficou confusa e desorientada.

    c) Sentiu-se alegre e sem medo.

    d) Ficou triste por deixar suas irmãs.

10. Para onde a Abóbora Menina foi levada pelo vento?

    a) Para um quintal próximo.

    b) Para um lugar desconhecido.

    c) Para a casa do mestre Crisolindo.

    d) Para o céu e nunca mais foi vista.

11.  Localize e escreva pelo menos três expressões usadas no conto para indicar a passagem do tempo.

"Os dias corriam serenos."

"Logo nessa noite."

"Dois dias passados, logo pela manhãzinha."

12. Qual foi a postura da Abóbora Menina diante da vida?

     a) O tempo todo ela teve medo diante do desconhecido.

     b) Ela demonstrava ingratidão com os cuidados recebidos de mestre Crisolindo.

    c) Ela poderia ter se contentado com a vida que tinha, mas foi em busca de seus sonhos.

    d) Ela teve apenas sorte, pois não tomou nenhuma atitude para conquistar seus sonhos.

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