Romance: Extraordinário – Fragmento
R. J. Palacio
Sei que não sou um garoto de dez anos
comum. Quer dizer, é claro que faço coisas comuns. Tomo sorvete. Ando de
bicicleta. Jogo bola. Tenho um Xbox. Essas coisas me fazem ser comum. Por
dentro. Mas sei que as crianças comuns não fazem outras crianças comuns saírem
correndo e gritando do parquinho. Sei que os outros não ficam encarando as
crianças comuns aonde quer que elas vão.
Se eu encontrasse uma lâmpada mágica e
pudesse fazer um desejo, pediria para ter um rosto comum, em que ninguém nunca
prestasse atenção. Pediria para poder andar na rua sem que as pessoas me vissem
e depois fingissem olhar para o outro lado. Sabe o que eu acho? A única razão
de eu não ser comum é que ninguém além de mim me enxerga dessa forma.
Mas agora meio que já me acostumei com
minha aparência. Sei fingir que não vejo as caretas que as pessoas fazem.
[...]
Mamãe e papai também não me acham
comum. Eles me acham extraordinário. Talvez a única pessoa no mundo que percebe
o quanto sou comum seja eu.
Aliás, meu nome é August. Não vou
descrever minha aparência. Não importa o que você esteja pensando, porque
provavelmente é pior.
[...]
As pessoas acham que não fui à escola
por causa da minha aparência, mas não é isso. É por causa de todas as vezes em
que fui operado. Vinte e sete desde que nasci. [..]. Foi por isso que meus pais
decidiram que seria melhor eu não ir para a escola. Mas estou bem mais forte
agora. [...].
— Você não acha que está pronto para ir
à escola, Auggie? — perguntou a mamãe.
— Não — respondi.
— Eu também não — concordou papai.
— Então é isso. Assunto encerrado —
concluí, dando de ombros, e sentei no colo dela, como se fosse um bebê.
— Só acho que você precisa aprender
mais do que eu posso ensinar — justificou-se a mamãe. — Quer dizer... Ah,
Auggie, você sabe como sou péssima com frações!
[...]
— Não quero ir — falei. Admito: eu fiz
uma voz igual a de um bebezinho.
— Você não tem que fazer nada que não
queira — disse o papai, chegando perto e me tirando da mamãe. Ele sentou no
outro lado do sofá, comigo no colo. — Não vamos obrigá-lo a fazer nada que não
queira.
—
Mas seria bom para ele, Nate — insistiu a mamãe.
— Não se ele não quiser ir — rebateu o
papai, olhando para mim. — Não se ele não estiver preparado.
[...]
Dava para ver que ela e o papai iam
brigar por causa daquilo. Eu queria que ele ganhasse a briga, mas parte de mim
sabia que a mamãe estava certa. E a verdade é que ela era mesmo péssima em
frações.
PALACIO, R. J.
Extraordinário. Trad. Raquel Agavino. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2013.
Fonte: Maxi: Séries Finais.
Caderno 2. Língua Portuguesa – 6º ano. 1.ed. São Paulo: Somos Sistemas de
Ensino, 2021. Ensino Fundamental 2. p. 99.
Entendendo o romance:
01 – Quem é o personagem principal do fragmento e qual é
a sua idade?
O personagem
principal é August, e ele tem dez anos.
02
– Por que August acha que não é um garoto comum?
August acredita
que não é um garoto comum porque outras crianças reagem de maneira diferente ao
vê-lo, geralmente saindo correndo e gritando ou encarando-o devido à sua aparência.
03
– Qual seria o desejo de August se ele encontrasse uma lâmpada mágica?
O desejo de August seria ter
um rosto comum, de modo que ninguém prestasse atenção nele e ele pudesse andar
na rua sem ser notado.
04
– Quantas cirurgias August fez desde que nasceu?
August fez vinte
e sete cirurgias desde que nasceu.
05
– Por que os pais de August decidiram que ele não iria à escola inicialmente?
Os pais de August
decidiram que ele não iria à escola inicialmente por causa das inúmeras cirurgias
que ele teve que fazer e porque ele ficava doente com frequência.
06
– Como August reage à ideia de ir para a escola?
August reage de
forma negativa à ideia de ir para a escola, dizendo que não quer ir e fazendo
uma voz de bebezinho.
07
– O que os pais de August discutem sobre ele ir para a escola?
Os pais de August
discutem sobre a importância de ele ir para a escola. A mãe acha que seria bom
para ele aprender coisas que ela não pode ensinar, enquanto o pai acredita que
ele não deve ser forçado a ir se não quiser.
08
– Como August se sente em relação à discussão dos pais sobre sua ida para a
escola?
August sente que
o pai deveria ganhar a discussão, mas parte dele sabe que a mãe está certa.
09
– Qual é a habilidade específica que a mãe de August admite não ter?
A mãe de August
admite que é péssima com frações.
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