Crônica: Morreram mais três operários? Sem problema. É só repor – Fragmento
Leonardo Sakamoto
Três trabalhadores morreram, neste
sábado (30), nas obras da hidrelétrica de Belo Monte. Um silo para
armazenamento de cimento com capacidade para 1.200 toneladas caiu sobre
Denivaldo Soares Aguiar, José da Conceição Ferreira da Silva e Pedro Henrique
dos Santos Silva. Um inquérito foi instaurado para identificar as causas do
acidente.
O Consórcio Construtor Belo Monte
afirmou que se “solidariza com a dor dos familiares e está prestando todo o
apoio às famílias”. Aliás, deve haver um Modelo de Aviso de Óbito à Imprensa
usado por toda a empresa de construção civil quando questionada sobre
trabalhadores mortos sob sua responsabilidade.
É incrível como as notas públicas são
iguais.
Ou são as empresas que são sempre as
mesmas?
Bem, daí você lê a informação, pensa
“puxa, que coisa” e segue.
Operários morrem em “acidentes” em
obras de Norte a Sul do país. Mas é mais fácil se indignar com denúncias de
(desavergonhada) corrupção envolvendo empresas de construção civil do que com
as mortes de seus operários. Elas são vistas como efeitos colaterais. Afinal de
contas, é um pequeno custo a pagar diante do progresso.
Pois a ponte precisa ficar pronta. O
estádio precisa ficar pronto. A fábrica precisa ficar pronta. A hidrelétrica
precisa ficar pronta. Meu apartamento novo precisa ficar pronto.
[...].
SAKAMOTO, Leonardo. Publicado em: 30 maio 2015. Disponível em: http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2015/05/30/morreram-mais-tres-operarios-sem-problema-e-so-repor. Acesso em: 14 out. 2015. (Fragmento).
Fonte: Língua
Portuguesa. Se liga na língua – Literatura – Produção de texto – Linguagem.
Wilton Ormundo / Cristiane Siniscalchi. 1 Ensino Médio. Ed. Moderna. 1ª edição.
São Paulo, 2016. p. 324-325.
Entendendo a crônica:
01 – Que fato motivou a
escrita dessa crônica?
A morte de três
operários nas obras de construção da usina hidrelétrica de Belo Monte.
02 – A crônica associa o fato
particular citado a uma análise mais geral da sociedade. O que o texto destaca?
O texto destaca
que, embora as mortes de operários estejam sendo frequentes, elas não comovem a
sociedade.
03 – A ironia é o principal recurso de construção da
crônica. Que palavra do título ajuda o leitor a perceber esse uso?
A palavra mais indica que a morte é
frequente e contrasta com a sugestão insensível de mera reposição.
04 – Por que o cronista empregou aspas em "acidentes"?
As aspas chamam a atenção para o caráter irônico da
palavra acidentes; o cronista não concorda com o uso dela para indicar mortes
tão frequentes.
05 – No penúltimo parágrafo, o cronista analisa a relação que os brasileiros
têm tido com as notícias sobre a área da construção civil. O que ele demonstra?
O cronista demonstra que os brasileiros
se indignam com notícias sobre a corrupção, mas veem com maturidade a morte de
operários.
06 – Releia o último parágrafo do trecho transcrito. O que o cronista
provavelmente pretende ao empregar o pronome meu?
O cronista pretende levar a discussão das mortes na
construção civil para a realidade próxima do cidadão comum, dele mesmo e do leitor.
07 – Explique por que o parágrafo de introdução revela um comportamento
inverso aquele que é criticado na crônica.
O cronista, no primeiro parágrafo, cita o
nome completo dos operários mortos, evitando trata-los apenas como números,
como tem feito a sociedade.
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