domingo, 26 de junho de 2022

TEXTO(FRAGMENTO): A NOVA E A VELHA ÁFRICA - GEOFFREY PARRINGER - COM GABARITO

 Texto: A NOVA E A VELHA ÁFRICA

        “Há sempre algo de novo em África”, disse o escritor romano Plínio. O aparecimento de novos Estados africanos nas últimas décadas origina frequentemente notícias de primeira página nos jornais, mas as tradições deste continente são tão antigas como quaisquer outras, e algumas das mais remotas formas de vida humana foram recentemente descobertas no vale do Grande Rift, na África Oriental. Existem ainda sobreviventes das raças de pigmeus e bosquímanos, povos dos mais antigos da história humana. E, por detrás das modernas doutrinas políticas, há inúmeros mitos e lendas que constituem parte fundamental da maneira de pensar das populações africanas.

        A África é um vasto continente, que se divide naturalmente em duas partes principais. O chamado Norte de África, que se estende do Egipto a Marrocos, e da foz do Nilo até à Etiópia, pertence na sua maior parte ao mundo mediterrânico e tem como religiões básicas o Cristianismo e o Islamismo, que determinam mentalidades e histórias próprias. O deserto do Saara e as florestas tropicais formavam uma barreira intransponível aos europeus, que procuravam conhecer o resto da África, até que os portugueses, na saga dos descobrimentos, contornaram o cabo da Boa Esperança, no final do século XV.

        [...]

        As mitologias grega e indiana são apoiadas por vasta literatura, nascida de tradições orais preservadas em livros, escritos ao longo dos séculos. Para se ficar a conhece-las, é suficiente ler essas obras. No estudo da mitologia africana surge logo à partida um obstáculo de monta: não há livros antigos. Há incontáveis histórias, já que todas as raças africanas adoram conta-las, mas que nunca foram passadas ao papel até aos tempos modernos. E mesmo as coleções hoje existentes estão incompletas.

        [...]

        Como a arte era a única “escrita” conhecida em toda a África Tropical, foi usada para interpretar a vida em todos os seus aspectos. Foi aplicada na vida religiosa, que aliás não se dissociava de outras facetas da vida, para dar significado e função espiritual a objetos destinados em cerimónias ou mesmo em ritos individuais. Foi usada para ilustrar provérbios e para expressar a sabedoria popular. Deste modo, a arte africana proporciona uma espécie de literatura sacra, realçando a beleza e a solenidade da face do homem. É profundamente expressiva e, no entanto, modesta. Não existem grandes templos desafiando os céus, pois a falta de pedras macias e a inexistência de explosivos para quebrar as rochas graníticas eram realidades inelutáveis. A arte africana preocupa-se com a vida humana: os rostos e imagens retratam a natureza do homem e as suas atividades. O homem e a mulher como um casal, às vezes como gémeos, indicam o núcleo da família africana; mesmo quando a poligamia é prática corrente, o casal continua a ser a unidade básica. A interdependência entre o homem e a mulher é fielmente retratada, tanto na escultura como na mitologia.

Geoffrey Parringer. África; Biblioteca dos grandes mitos e lendas universais. Trad. Raul de Sousa Machado. Lisboa: Verbo, 1987. p. 7-9.

          Fonte: Português em outras palavras – 8ª série – Maria Sílvia Gonçalves – ed. Scipione – São Paulo, 2002. 4ª edição. p. 50-2.

Entendendo o texto:

01 – Qual a grande contradição atual do continente africano?

      A convivência simultânea do antigo (mitos, lendas, maneiras de pensar) com o moderno (novas doutrinas políticas).

02 – Que descobertas recentes obrigaram o mundo ocidental a repensar seu preconceito contra a África?

      As mais remotas formas de vida humana foram encontradas em escavações na África.

03 – Veja a frase: “Por ser uma sociedade ágrafa, a África não pôde preservar suas tradições”. Você concorda com essa afirmação? Por quê?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Não, uma vez que, mesmo não tendo escrita, a cultura africana preservou-se por meio da oralidade ou da arte.     

04 – Qual o papel da arte na cultura africana?

      A arte tornou possível a interpretação da vida africana em todos os seus aspectos.

05 – O que o caráter humanístico da arte africana nos revela sobre esse povo?

      A beleza, a grandeza do africano está na sua simplicidade e religiosidade.

06 – “Traduza” a palavra poligamia a partir dos radicais gregos que a compõem.

      Poli = muitos; gamia = casamento.

07 – O que os adjetivos intransponível e inelutável têm em comum? O que poderia facilitar a compreensão do significado dessas palavras?

      Ambos têm prefixo in-, indicando negação, e sufixo –vel, indicando possibilidade de praticar ou sofrer uma ação. Detendo-nos no radical, poderíamos entender as palavras como: intransponível = o que não pode ser transposto; inelutável = aquilo contra o que não se pode lutar.

08 – Encontre no texto uma palavra cujo plural não segue a orientação geral e não aparece no final. Procure descobrir como essa palavra se formou para entender o plural diferente.

        A palavra quaisquer tem plural em seu interior e não no final porque é formada pelo pronome qual (que faz plural quais), seguido do verbo querer conjugado no presente do indicativo.

09 – Você já trabalhou com textos expositivos nas séries anteriores. Já sabe, portanto, que determinadas construções são comuns nesse tipo de texto. É o caso de frases formadas com o verbo haver, empregado com o sentido de existir, e com verbos na voz passiva. Identifique no texto frases em que isso ocorre e explique em seu caderno as razões do emprego desse tipo de construção.

      “... há inúmeros mitos e lendas que constituem...”; “Há incontáveis histórias ...”; “Foi usada para interpretar a vida”; “Foi aplicada na vida religiosa ...”.

      Nos textos expositivos, costumam-se afirmar fatos sem atribuí-los a um sujeito gramatical, como se eles tivessem vida própria. Daí o emprego constante do verbo haver, no sentido de existir. O emprego do sujeito paciente, na voz passiva, também se justifica pelo fato de não se julgar importante citar o agente da ação, frequentemente omitido nesse tipo de construção sintática.

10 – O trecho do livro “África” que você leu foi traduzido em Portugal.

a)   Identifique nele uma construção típica da sintaxe lusitana.

“Para se ficar a conhece-las, é suficiente ler essas obras”.

b)   Reescreva-a de forma abrasileirada.

No Brasil, seria mais comum dizer-se: Para que se possa conhece-las, é suficiente ler essas obras.

11 – Você conhece palavras pertencentes ao português de Portugal que não são aqui utilizadas ou que no português do Brasil têm outro significado? Cite algumas, se souber.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Bicha no lugar de fila; Autocarro no lugar de ônibus; Autogolo que para nós é gol contra; Pastilhas elásticas é chiclete; Rebuçado é pirulito; Capachinho é peruca e Papai Natal é Papai-Noel.

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