Poema: Meu Sonho
Álvares de Azevedo
EU
Cavaleiro das armas escuras,
Onde vais pelas trevas impuras
Com a espada sanguenta na mão?
Porque brilham teus olhos ardentes
E gemidos nos lábios frementes
Vertem fogo do teu coração?
Cavaleiro, quem és? o remorso?
Do corcel te debruças no dorso....
E galopas do vale através...
Oh! da estrada acordando as poeiras
Não escutas gritar as caveiras
E morder-te o fantasma nos pés?
Onde vais pelas trevas impuras,
Cavaleiro das armas escuras,
Macilento qual morto na tumba?...
Tu escutas.... Na longa montanha
Um tropel teu galope acompanha?
E um clamor de vingança retumba?
Cavaleiro, quem és? — que mistério,
Quem te força da morte no império
Pela noite assombrada a vagar?
O FANTASMA
Sou o sonho de tua esperança,
Tua febre que nunca descansa,
O delírio que te há de matar!...
AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte
anos. Rio de Janeiro / Belo Horizonte: Garnier, 1994. p. 153-4.
Fonte: Língua
portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição –
Curitiba – 2010. p. 80.
Entendendo o poema:
01 – O poema apresenta certa
regularidade na distribuição dos versos. Identifique o critério de organização
dos versos no poema.
O poema é
composto por três estrofes de seis versos e uma estrofe de seis versos que
aparece “quebrada”, composta por duas estrofes de três versos.
02 – Faça a escansão dos
dois primeiros versos do poema. O poema apresenta que métrica?
Ca-va-lei-ro-das-ar-mas-es-cu-ras,
/ On-de-vais-pe-las-ter-vas-im-pu-ras. Trata-se de versos com métrica regular:
versos com nove sílabas poéticas, também chamados eneassílabos.
03 – O ritmo é uma das
marcas centrais desse poema. Releia o poema em voz alta e identifique a
estrutura rítmica que ele apresenta.
É provável que os
alunos precisam de ajuda para perceber a construção rítmica do poema. Nesse
caso, leia para a classe a primeira estrofe do poema acentuando com força as
sílabas tônicas e lendo com menos intensidade as sílabas átonas. Isso revelará
de forma evidente o ritmo do poema: são nove sílabas poéticas absolutamente
regulares: a terceira, a sexta e a nona são sempre pronunciadas com mais
intensidade.
Ca-va-LEI-ro-das-AR-mas-es-CU-ras/on-de-VAIS-pe-las-TER-vas-im-PU-ras/com-a
es-PA-da-san-GREN-ta-na-MÃO?/por-que-BRI-lham-teus-O-olhos-ar-DENtes/
e-ge-MI-dos-nos-LÁ-bios-fre-MEN-tes/ver-tem-FO-go-do-TEU-co-ra-ÇÃO?
04 – Faça o levantamento do
esquema de rimas do poema.
O poema apresenta um esquema de rimas
regular: AABCCB.
05 – O poema apresenta um
diálogo. Quem são os interlocutores desse diálogo?
O eu lírico,
apresentado como “eu” e um “fantasma”, que responde nos três últimos versos.
06 – Em que ambiente ocorre
o diálogo? Justifique com elementos do texto.
Num ambiente
campestre, durante a noite. Há um cavaleiro a galope, numa longa montanha, e
referências ao ambiente noturno – escuridão, treva, noite.
07 – O Romantismo, em
especial o ultrarromantismo, valorizava o mistério, o sinistro. De que modo o
ambiente identificado na resposta anterior contribui para a atmosfera de
mistério que predomina no poema?
As imagens
noturnas estão associadas, no poema de Álvares de Azevedo, ao mistério, como se
comprova pelo uso de termos como: remorso, caveiras, morto, vingança,
assombrada, febre, delírio, etc.
08 – Ao lado das imagens que
se referem ao mistério e ao sinistro, há palavras / imagens no poema que fazem
referência ao sentimento amoroso erótico. Identifique-as no texto.
O contexto geral do poema, associado ao
ritmo, faz com que algumas imagens adquiram conotação erótica: olhos ardentes,
gemidos, lábios frementes, fogo do teu coração.
09 – Escrever a paráfrase de um texto consiste em
recontar o texto usando suas próprias palavras. Mesmo quando se trata de
poemas, as paráfrases são feitas em parágrafos, não em versos. Esse
procedimento auxilia bastante na compreensão de textos mais simbólicos, em que
pode ser difícil apreender as ideias numa primeira leitura. Com o objetivo de
compreender melhor o poema lido, faça a paráfrase dele.
O sujeito poético
parece ser seguido por um cavaleiro que tem nas mãos uma espada suja de sangue.
Esse cavaleiro tem olhos ardentes, lábios frementes, ou seja, vibrantes. Ele
não consegue identificar quem é o cavaleiro e estabelece hipóteses: seria ele o
remorso, galopando no vale, por trevas impuras, pálido como um morto na tumba?
Pode ser também alguém que busca vingança, alguém misterioso, que assombra o
sujeito poético. O fantasma responde que é o sonho da esperança do sujeito
poético, uma febre que nunca descansa, um delírio que irá causar a morte do eu
lírico.
10 – Retome o título do
poema. Em sua opinião, ele é adequado? Justifique sua resposta.
Resposta pessoal
do aluno. Sugestão: Pode-se dizer que sim, pois o poema apresenta uma atmosfera
fantasiosa, uma situação que foge aos padrões da realidade, ou seja, uma
atmosfera onírica, isto é, de sonho. Por outro lado, é possível responder que a
atmosfera se aproxima à de um pesadelo, já que as sensações angustiosas são as
que predominam ao longo do poema.
11 – Um dos temas centrais
do ultrarromantismo é a conjugação de amor e morte, numa abordagem muitas vezes
erótica. É possível inferir que esse tema é trabalhado no poema? Justifique sua
resposta.
Sim. A partir do
diálogo entre o “Eu” e o “Fantasma”, é possível inferir que o temor do
cavaleiro vem do medo de amar, de seu erotismo, marcados pela febre, pela
angústia. Embora a ideia de morte esteja muito mais presente no poema que a
ideia de amor, que vem subentendida, é possível inferir que é o amor e a culpa
pela ideia de amar, pela descoberta do sexo, representada pela “impureza”, que
fazem com que o “Eu” se sinta delirante, febril.
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