Artigo de opinião: Bebida na adolescência
ROSELY SAYÃO
[...]
OS MESMOS PAIS QUE ENSINAM O FILHO A
BEBER NÃO O ENSINAM SOBRE OS CUIDADOS QUE PODEM REDUZIR SEUS EFEITOS
Pesquisas recentes constatam que o
álcool é a droga mais usada por adolescentes. O pior é que o consumo vem
aumentando, principalmente entre os mais novos e as meninas: quase metade dos
jovens de 12 a 17 anos já usou bebida alcoólica. Nos anos 1980, o consumo
iniciava-se entre os 16 e 17 anos. Atualmente, ocorre entre os 12, 14 anos, e o
uso frequente tem crescido. Por que os jovens têm bebido cada vez mais e mais
cedo? Vamos levantar hipóteses e refletir a respeito a fim de nos responsabilizarmos
pela questão. Em primeiro lugar, a presença de bebidas alcoólicas na vida
cotidiana dos jovens é vista por eles como corriqueira e inofensiva. Muitos
acham que o problema surge apenas com a ingestão em demasia, quando se tornam
inconvenientes ou se aproximam do que eles chamam de "PT" (perda total)
– perda dos sentidos ou coma.
Contribuem muito para essa percepção os
belos comerciais de bebidas. Mais do que um produto, vendem um estilo de vida
almejado pelos jovens: beleza, alegria, popularidade, azaração, etc. Aliado a
esse poderoso instrumento, surge outro muito eficaz: o aval dos pais.
Muitos adultos acreditam que oferecer bebida aos filhos em casa é uma atitude
aconselhável e dão festas para os menores nas quais permitem que haja bebida,
por exemplo.
Aliás, para muitos jovens, faz parte
das festas o ritual do "esquenta": antes do evento, reúnem-se em
pequenos grupos para beber na casa de um deles – sei de casos, inclusive, em
que os pais que recebem os amigos do filho participam do momento festivo
introdutório- ou em locais públicos, com bebidas trazidas de casa ou compradas
em supermercados. Aí está outro fator que leva os jovens a crerem que a
ingestão de bebida alcoólica é inofensiva: apesar de sua venda ser proibida a
menores de 18 anos, a lei não é respeitada. Muitos estabelecimentos comerciais –
notadamente supermercados – as vendem sem pedir documentos aos jovens e muitos
adultos aceitam o pedido deles para passar a bebida em sua compra. Eu já fui
abordada em um supermercado por três adolescentes que pediram que eu colocasse
duas garrafas de vodca em minha esteira. Diante da recusa, pediram para outra
pessoa e foram atendidos.
Os jovens bebem, entre outros motivos,
porque o álcool provoca euforia, desinibição e destrava os mais tímidos. Mas,
depois, afeta a coordenação motora, os reflexos e o sono, além de interferir na
percepção do que o jovem considera certo e errado. Já conversei com garotas que
tiveram a primeira experiência sexual sob efeito do álcool e se arrependeram. Os
mesmos pais que ensinam o filho a beber não o ensinam sobre os cuidados que
podem reduzir seus efeitos, como alimentar-se bem antes, não misturar
diferentes tipos de bebida e ingerir muita água.
Os menores de 18 anos sempre
encontrarão maneiras de transgredir as proibições para o uso de bebida
alcoólica. Entretanto, temos ajudado para que isso não seja visto por eles como
transgressão. E, talvez, esse seja nosso maior equívoco.
ROSELY SAYÃO. Como
Educar Meu Filho? Folha de S. Paulo, São Paulo, 16 fev. 2009. Caderno
Equilíbrio.
Fonte: Língua
portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição –
Curitiba – 2010. p. 195-6.
Entendendo o artigo de
opinião:
01 – Segundo a autora do
artigo de opinião, por que muitos jovens acham que a presença do álcool em suas
vidas é “corriqueira e inofensiva”? O que contribui para essa percepção?
Porque acham que
os problemas relacionados ao álcool surgem apenas com a sua ingestão exagerada,
que torna as pessoas inconvenientes ou causa perda dos sentidos ou coma.
Contribuem para essa percepção os comerciais de bebidas, que são muito
sedutores, o aval dos próprios pais e o desrespeito à lei que proíbe a venda do
produto para menores de 18 anos.
02 – Segundo o texto, que
motivos levam os jovens a ingerir álcool? E quais as consequências geradas pelo
consumo das bebidas alcoólicas?
Segundo o texto,
os jovens bebem, entre outros motivos, porque o álcool provoca euforia,
desinibição e destrava os mais tímidos. As consequências de seu consumo são as
dificuldades na coordenação motora, a diminuição dos reflexos e o sono. Além
disso, a bebida interfere na percepção do que o jovem considera certo e errado.
03 – Releia com atenção o
último parágrafo do texto.
a) A quem a autora se dirige?
Aos adultos de modo geral e, especialmente, aos pais e responsáveis
por jovens e adolescentes.
b) Qual é o “recado” transmitido por ela aos seus supostos interlocutores?
A autora diz que os jovens sempre tentarão transgredir as regras
para consumir bebidas alcoólicas e os adultos frequentemente não encaram essa
atitude como uma transgressão. Esse seria um grave equívoco que incentivaria o
seu consumo.
04 – Reflita sobre o consumo
abusivo de álcool. Você já acompanhou alguma situação em que a ingestão de
bebidas alcoólicas teve consequências indesejáveis? Que ações acha que devem
ser realizadas para evitar o consumo irresponsável das bebidas alcoólicas?
. Resposta
pessoal do aluno. Sugestão: As ações podem ser: o cumprimento da lei, o
esclarecimento sobre os danos causados pela bebida, o fim das propagandas de
bebidas na televisão, etc.
Nenhum comentário:
Postar um comentário