Crônica: PATCHWORK
Eu acho a maior graça nesses anúncios
ou reportagens que segmentam as pessoas por estilo, para facilitar a escolha de
presentes. Para o pai esportista, para a mãe que vive correndo, para o namorado
poliglota, para a namorada hare krishna...
E você, qual é seu estilo?
O meu estilo é o clássico – esportivo –
praiano – urbano – roqueiro – casual – elétrico – aventureiro – viajandão –
racional – romântico – sensato – internacional – cultural – marombeiro –divertido
– indiano – inglês – caseiro – diurno – ansioso – e – pacato. Seja qual for o
presente que você me der, vai acertar na mosca.
Qualquer estilo que a gente cultive é
farsa. Impor um rótulo a si mesmo é o que de pior podemos fazer. A gente se
acostuma a privilegiar um lado acentuado que temos – workaholic, por exemplo –
e nos apresentarmos ao mundo como tal. Vale para outras “etiquetas”: surfista,
rato de biblioteca, perua, seminarista. É atrás de uma dessas máscaras que você
se esconde?
Surfistas que ficam gatésimos de terno
e gravata e guardam embaixo da cama pilhas de livros sobre filosofia. Ratas de
biblioteca que passam a noite dançando funk com um grupo da pesada. Peruas que
praticam natação quatro vezes por semana. Seminaristas que levam no braço uma
tatuagem igual à da Angelina Jolie: que estilos são esses?
É o estilo que eu mais adoro:
faço-eu-mesmo. É o cara que não criou um estilo, ele é o estilo. Não há
influência de revistas, modismos e tendências. Ele é o estilo-contradição,
estilo-surpresa, estilo-sem-estilo. Acho que foi Aristóteles (olha eu fazendo o
estilo intelectual) que disse que estilo não existe, que o estilo é uma
emancipação do seu próprio ser.
Ou você tem um estilo próprio, que
forçosamente será múltiplo, como é a nossa alma verdadeira, ou você adota um
estilo, e ele será monótono e nauseante. Estilo bom é estilo exclusivo,
inclassificável. Ou você deixa ele nascer naturalmente em você ou passará ganhando
os mesmos presentes a vida inteira.
MEDEIROS, Martha. Montanha-russa: crônicas. Porto Alegre:
L&PM, 2011.
Entendendo a crônica:
01 – No primeiro parágrafo,
a cronista se dirige ao seu interlocutor. Em que trecho do texto isso aparece
explicitamente?
“E você, qual é seu estilo?”
02 – No segundo parágrafo, a
cronista brinca com as palavras, criando uma superpalavra com o uso do hífen.
Qual o significado dessa palavra?
Ele criou um
neologismo (palavra criada de termos novos, adaptação de termo para traduzir
algum invento).
03 – Por que a cronista
afirma que “Seja qual for o presente que
você me der, vai acertar na mosca.”? (Segundo parágrafo).
Ela se
classificou com todos os estilos, então qualquer presente combina com ela.
04 – Que palavra está
relacionada a “Máscaras”, no
terceiro parágrafo?
Está relacionado
a farsa, ou seja, impor rótulos a si mesmo é muito ruim, mostra a falta
de personalidade.
05 – Qual a função das aspas
na palavra “etiquetas”, no terceiro parágrafo?
A função das aspas é destacar a palavra “etiquetas” no texto,
informando que além dos estilos citados existe outras “etiquetas”, que não
foram mencionadas.
06 – Que neologismo aparece
no quarto parágrafo?
Gatésimos. A
palavra gato + uma forma de superlativo com desinência em “ésimo”. Por não
existir, foi criada, daí o neologismo.
07 – O último parágrafo do
texto está construído com orações coordenadas alternativas. Que conectivo
introduz a ideia contida nessas orações?
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