sábado, 22 de agosto de 2020

CRÔNICA: PATCHWORK - MARTHA MEDEIROS - COM GABARITO

 Crônica: PATCHWORK                       

    Martha Medeiros

   Eu acho a maior graça nesses anúncios ou reportagens que segmentam as pessoas por estilo, para facilitar a escolha de presentes. Para o pai esportista, para a mãe que vive correndo, para o namorado poliglota, para a namorada hare krishna...

        E você, qual é seu estilo?

        O meu estilo é o clássico – esportivo – praiano – urbano – roqueiro – casual – elétrico – aventureiro – viajandão – racional – romântico – sensato – internacional – cultural – marombeiro –divertido – indiano – inglês – caseiro – diurno – ansioso – e – pacato. Seja qual for o presente que você me der, vai acertar na mosca.

        Qualquer estilo que a gente cultive é farsa. Impor um rótulo a si mesmo é o que de pior podemos fazer. A gente se acostuma a privilegiar um lado acentuado que temos – workaholic, por exemplo – e nos apresentarmos ao mundo como tal. Vale para outras “etiquetas”: surfista, rato de biblioteca, perua, seminarista. É atrás de uma dessas máscaras que você se esconde?

        Surfistas que ficam gatésimos de terno e gravata e guardam embaixo da cama pilhas de livros sobre filosofia. Ratas de biblioteca que passam a noite dançando funk com um grupo da pesada. Peruas que praticam natação quatro vezes por semana. Seminaristas que levam no braço uma tatuagem igual à da Angelina Jolie: que estilos são esses?

        É o estilo que eu mais adoro: faço-eu-mesmo. É o cara que não criou um estilo, ele é o estilo. Não há influência de revistas, modismos e tendências. Ele é o estilo-contradição, estilo-surpresa, estilo-sem-estilo. Acho que foi Aristóteles (olha eu fazendo o estilo intelectual) que disse que estilo não existe, que o estilo é uma emancipação do seu próprio ser.

        Ou você tem um estilo próprio, que forçosamente será múltiplo, como é a nossa alma verdadeira, ou você adota um estilo, e ele será monótono e nauseante. Estilo bom é estilo exclusivo, inclassificável. Ou você deixa ele nascer naturalmente em você ou passará ganhando os mesmos presentes a vida inteira.

MEDEIROS, Martha. Montanha-russa: crônicas. Porto Alegre: L&PM, 2011.

Entendendo a crônica:

01 – No primeiro parágrafo, a cronista se dirige ao seu interlocutor. Em que trecho do texto isso aparece explicitamente?

      “E você, qual é seu estilo?”

02 – No segundo parágrafo, a cronista brinca com as palavras, criando uma superpalavra com o uso do hífen. Qual o significado dessa palavra?

      Ele criou um neologismo (palavra criada de termos novos, adaptação de termo para traduzir algum invento).

03 – Por que a cronista afirma que “Seja qual for o presente que você me der, vai acertar na mosca.”? (Segundo parágrafo).

      Ela se classificou com todos os estilos, então qualquer presente combina com ela.

04 – Que palavra está relacionada a Máscaras, no terceiro parágrafo?

      Está relacionado a farsa, ou seja, impor rótulos a si mesmo é muito ruim, mostra a falta de personalidade.     

05 – Qual a função das aspas na palavra “etiquetas”, no terceiro parágrafo?

      A função das aspas é destacar a palavra “etiquetas” no texto, informando que além dos estilos citados existe outras “etiquetas”, que não foram mencionadas.

06 – Que neologismo aparece no quarto parágrafo?

      Gatésimos. A palavra gato + uma forma de superlativo com desinência em “ésimo”. Por não existir, foi criada, daí o neologismo.

07 – O último parágrafo do texto está construído com orações coordenadas alternativas. Que conectivo introduz a ideia contida nessas orações?

      O conectivo é ou no sentido de alternância

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