Carta: A Maria Júlia
José Romildo
Recife, 7 de maio de 1990
Prezada Maria Júlia,
Bem que gostaria de ver a cara de
surpresa que você deve estar fazendo enquanto lê este meu bilhetinho. Será que
você ainda se lembra de mim? Vou ajudar: eu sou aquele pernambucano que falou
com você nas férias, lá no Rio de Janeiro, junto da estátua do Cristo Redentor.
E então, já se lembrou? A gente conversou durante mais de duas horas. Falamos
de muitas coisas, mas, principalmente, de livros. Pois é exatamente por causa
de livro que resolvi escrever para você. Hoje de manhã eu decidir dar um pouco
d ordem à minha estante, para ver se achava nela algum espaço para uns livros
novos que andei comprando. Não sou organizado, sabe, e tenho muita preguiça de
colocar os livros em ordem alfabética ou separados por assunto. O resultado é
uma confusão dos diabos: história com romance policial, matemática com inglês,
álbum de retratos misturado com revista de esportes.
Pois foi no meio dessa anarquia (como
diz minha mãe) que encontrei as Histórias extraordinárias, de Edgar Allan Poe.
Ao ver o livro, lembrei logo de você. Quer saber por quê? Você me disse, lá no
Rio, que nunca tinha lido uma história policial, e que não tinha o menor
interesse por esse tipo de livro. Confesso que, na hora, fiquei muito espantado
e pensei assim comigo: “Oxente, como é que alguém diz que gosta de ler e nunca
se interessou por histórias policiais?” Eu adoro, simplesmente adoro, uma boa
trama (sabe o que é?), um mistério bem misterioso, um segredo bem guardado.
Esse livro do Poe (eu acho que a pronúncia é “pôu”) é muito bom, Maria Júlia,
mas muito bom mesmo. Como já li e reli mais de dez vezes, achei que podia
passar um tempo sem ele. É por isso que estou te mandando o livro. Se você ler
e gostar, pode ficar com ele, é um presente. Se ler e não gostar tanto quanto
eu, não se aperreie, pode me devolver, foi um empréstimo.
Na hora de escrever no envelope, pintou
a dúvida: eu só sei o teu nome, mas não tenho o teu endereço. Foi aí que me
lembrei que você disse que sua mãe trabalha na agência dos Correios de Dores do
Indaiá. Espero que minha ideia de escrever para lá tenha funcionado...
Fico por aqui. Um abraço. Até qualquer
dia.
José Romildo.
BAGNO, M.; RESENDE,
S. M. Os nomes do amor. São Paulo: Moderna, 1993, p. 5-6.
Fonte: Língua Portuguesa. Linguagens no
Século XXI. 5ª série. Heloísa Harue Takazaki. Ed. IBEP. 1ª edição, 2002. p.
33-4.
Entendendo a carta:
01 – Quem escreveu a carta?
De onde ela foi escrita?
José Romildo, de
Recife. Pernambuco.
02 – Para quem é a carta?
Onde mora esse destinatário?
Para Maria Júlia,
da cidade de Dores do Indaiá.
03 – Eles já se conheciam?
Explique.
Sim,
encontraram-se uma vez, quando estavam de férias no Rio de Janeiro.
04 – O que levou José
Romildo a escrever para ela?
O fato de ela ter
dito que não gostava de histórias policiais. Ele resolveu lhe mandar um livro.
05 – Há palavras ou
expressões que você não conhece na carta de José Romildo? Quais?
Resposta pessoal
do aluno.
06 – Que idade você supõe
que eles tinham?
A idade dos dois
está, aproximadamente, entre 12 e 18 anos. Isso pode ser comprovado através da
linguagem usada (confusão dos diabos, pintou uma dúvida), das referências à
escola e aos pais.
07 – Em alguns trechos, José
Romildo faz perguntas para Maria Júlia como se ela estivesse conversando
diretamente com ele. Em que trechos isso acontece? Copie-os em seu caderno.
“E então, já se
lembrou?”; “Quer saber por quê?”; “Sabe o que é?”
Obg
ResponderExcluir