Poema: Homem Comum
Ferreira GullarSou um homem comum
de carne e de memória
de osso e esquecimento
ando a pé, de ônibus, de táxi, de avião,
e a vida sopra dentro de mim
pânica, a vida sopra de mim de modo assustador,
feito a chama de um maçarico
e pode
subitamente
cessar.
Sou como você
feito de coisas lembradas
e esquecidas
rostos e
mãos, o quarda-sol vermelho ao meio-dia
em Pastos-Bons
defuntas alegrias flores passarinhos
facho de tarde luminosa
nomes que já nem sei
bandejas bandeiras bananeiras
tudo
misturado
essa lenha perfumada
que se acende
e me faz caminhar
Sou um homem comum
brasileiro, maior, casado, reservista,
e não vejo na vida, amigo,
nenhum sentido, senão
lutarmos juntos por um mundo melhor.
Poeta fui de rápido destino.
Mas a poesia é rara e não comove
nem move o pau-de-arara.
Quero, por isso, falar com você,
de homem para homem,
apoiar-me em você
oferecer-lhe o meu braço
que o tempo é pouco
e o latifúndio está aí, matando.
Que o tempo é pouco
e aí estão o Chase Bank,
a IT & T, a Bond and Share,
a Wilson, a Hanna, a Anderson Clayton,
e sabe-se lá quantos outros
braços do polvo a nos sugar a vida
e a bolsa
Homem comum, igual
a você,
cruzo a Avenida sob a pressão do imperialismo.
A sombra do latifúndio
mancha a paisagem
turva as águas do mar
e a infância nos volta
à boca, amarga,
suja de lama e de fome.
Mas somos muitos milhões de homens
comuns
e podemos formar uma muralha
com nossos corpos de sonho e margaridas.
Ferreira
Gullar
Entendendo o poema:
01 – Para alargar e definir
a imagem de “homem comum”, o autor não se utiliza:
a)
De comparações.
b)
Do efeito dos adjetivos.
c)
Da construção de versos livres.
d)
Da força dos verbos.
e)
Da beleza dos substantivos saudosistas.
02 – Nos últimos 5 versos, o
poeta faz um hino de louvor a:
a)
Sermos pessoas comuns, do dia-a-dia.
b)
Vermos algum sentido na vida.
c)
Não nos desesperamos.
d)
Sermos pessoas ajustadas e felizes.
e)
Sermos gente, povo solitário e unido.
03 – No poema, ocorre uma
aproximação entre a realidade social e o fazer poético, frequente no
modernismo. Nessa aproximação, o eu lírico atribui à poesia um caráter de:
a)
Agregação construtiva e poder de
intervenção na ordem instituída.
b)
Força emotiva e capacidade de preservação da
memória social.
c)
Denúncia retórica e habilidade para
sedimentar sonhos e utopias.
d)
Ampliação do universo cultural e intervenção
nos valores humanos.
e)
Identificação com o discurso masculino e
questionamento dos temas líricos.
04 – De acordo com o poema,
quem é e como é o homem comum?
Ele é de carne
(busca coisas materiais); e de memória (busca coisas imateriais).
05 – O que se opõe a esse
homem?
O tempo é pouco...
06 – Observe o seguinte
trecho do poema: “Ando a pé, de ônibus, de táxi, de avião e a vida sopra dentro
de mim pânica / feito a chama
de um maçarico”. No texto lido, o termo “pânica”
tem o seguinte valor sintático e semântico:
a)
Predicativo do sujeito – sentido de
assustada.
b)
Predicativo do sujeito – sentido de estática.
c)
Adjunto adnominal – sentido de
amedrontada.
d)
Adjunto adverbial de modo- sentido de
apavorada.
e)
Predicativo do sujeito – sentido de
esquecida.
07 – Homem comum:
“Sou um homem comum
de carne e de memória
de osso e esquecimento.
e a vida sopra dentro de mim
pânica
feito a chama de um maçarico
e pode
subitamente
cessar.
[...]
Mas somos muitos milhões de homens
comuns
e podemos formar uma muralha
com nossos corpos de sonho e margaridas.”
Nos versos em destaque, o
sujeito poético:
a)
Convida seus iguais a lutar por uma
vida mais justa e digna.
b)
Relativiza a fragilidade humana diante da
possibilidade de união.
c)
Deslumbra-se diante de sua capacidade de se
tornar diferente dos demais.
d)
Traduz um sentimento melancólico e pessimista
diante da fragilidade humana.
e)
Vê, na coletividade, o anonimato como algo
que esfria ao ânimos para sonhos e lutas sociais.
08 – O que o sujeito poético
nesse poema procura?
Procura-se identificar e por isso vai em
busca da sua identidade.
09 – O sujeito poético se
apresenta como resultado das experiências que viveu. Que caminhos ele mapeou?
Percursos
materiais (representados pela carne) e imateriais (simbolizados pela memória).
10 – O eu lírico se aproxima
do universo do leitor demonstrando partilhar com ele experiências cotidianas.
Cite-as.
“Ando a pé, de
ônibus, de táxi, de avião”.
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