quinta-feira, 6 de agosto de 2020

POEMA: HOMEM COMUM - FERREIRA GULLAR - COM GABARITO

Poema: Homem Comum    

   Ferreira Gullar

Sou um homem comum
de carne e de memória
de osso e esquecimento

ando a pé, de ônibus, de táxi, de avião,
e a vida sopra dentro de mim
pânica, a vida sopra de mim de modo assustador,
feito a chama de um maçarico
e pode
subitamente
cessar.

Sou como você
feito de coisas lembradas
e esquecidas
rostos e
mãos, o quarda-sol vermelho ao meio-dia
em Pastos-Bons
defuntas alegrias flores passarinhos
facho de tarde luminosa
nomes que já nem sei
bandejas bandeiras bananeiras
tudo
misturado
essa lenha perfumada
que se acende
e me faz caminhar
Sou um homem comum
brasileiro, maior, casado, reservista,
e não vejo na vida, amigo,
nenhum sentido, senão
lutarmos juntos por um mundo melhor.
Poeta fui de rápido destino.
Mas a poesia é rara e não comove
nem move o pau-de-arara.
Quero, por isso, falar com você,
de homem para homem,
apoiar-me em você
oferecer-lhe o meu braço
que o tempo é pouco
e o latifúndio está aí, matando.

Que o tempo é pouco
e aí estão o Chase Bank,
a IT & T, a Bond and Share,
a Wilson, a Hanna, a Anderson Clayton,
e sabe-se lá quantos outros
braços do polvo a nos sugar a vida
e a bolsa
Homem comum, igual
a você,
cruzo a Avenida sob a pressão do imperialismo.
A sombra do latifúndio
mancha a paisagem
turva as águas do mar
e a infância nos volta
à boca, amarga,
suja de lama e de fome.

Mas somos muitos milhões de homens
comuns
e podemos formar uma muralha
com nossos corpos de sonho e margaridas.

Ferreira Gullar

Entendendo o poema:

01 – Para alargar e definir a imagem de “homem comum”, o autor não se utiliza:

a)   De comparações.

b)   Do efeito dos adjetivos.

c)   Da construção de versos livres.

d)   Da força dos verbos.

e)   Da beleza dos substantivos saudosistas.

02 – Nos últimos 5 versos, o poeta faz um hino de louvor a:

a)   Sermos pessoas comuns, do dia-a-dia.

b)   Vermos algum sentido na vida.

c)   Não nos desesperamos.

d)   Sermos pessoas ajustadas e felizes.

e)   Sermos gente, povo solitário e unido.

03 – No poema, ocorre uma aproximação entre a realidade social e o fazer poético, frequente no modernismo. Nessa aproximação, o eu lírico atribui à poesia um caráter de:

a)   Agregação construtiva e poder de intervenção na ordem instituída.

b)   Força emotiva e capacidade de preservação da memória social.

c)   Denúncia retórica e habilidade para sedimentar sonhos e utopias.

d)   Ampliação do universo cultural e intervenção nos valores humanos.

e)   Identificação com o discurso masculino e questionamento dos temas líricos.

04 – De acordo com o poema, quem é e como é o homem comum?

      Ele é de carne (busca coisas materiais); e de memória (busca coisas imateriais).

05 – O que se opõe a esse homem?

      O tempo é pouco...

06 – Observe o seguinte trecho do poema: “Ando a pé, de ônibus, de táxi, de avião e a vida sopra dentro de mim pânica / feito a chama de um maçarico”. No texto lido, o termo “pânica” tem o seguinte valor sintático e semântico:

a)   Predicativo do sujeito – sentido de assustada.

b)   Predicativo do sujeito – sentido de estática.

c)   Adjunto adnominal – sentido de amedrontada.

d)   Adjunto adverbial de modo- sentido de apavorada.

e)   Predicativo do sujeito – sentido de esquecida.

07 – Homem comum:

“Sou um homem comum
de carne e de memória
de osso e esquecimento.
e a vida sopra dentro de mim
pânica
feito a chama de um maçarico
e pode
subitamente
cessar.
[...]

Mas somos muitos milhões de homens
comuns
e podemos formar uma muralha
com nossos corpos de sonho e margaridas.”

Nos versos em destaque, o sujeito poético:

a)   Convida seus iguais a lutar por uma vida mais justa e digna.

b)   Relativiza a fragilidade humana diante da possibilidade de união.

c)   Deslumbra-se diante de sua capacidade de se tornar diferente dos demais.

d)   Traduz um sentimento melancólico e pessimista diante da fragilidade humana.

e)   Vê, na coletividade, o anonimato como algo que esfria ao ânimos para sonhos e lutas sociais.

08 – O que o sujeito poético nesse poema procura?

      Procura-se identificar e por isso vai em busca da sua identidade.

09 – O sujeito poético se apresenta como resultado das experiências que viveu. Que caminhos ele mapeou?

      Percursos materiais (representados pela carne) e imateriais (simbolizados pela memória).

10 – O eu lírico se aproxima do universo do leitor demonstrando partilhar com ele experiências cotidianas. Cite-as.

      “Ando a pé, de ônibus, de táxi, de avião”.

 

 


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