Entrevista: "HÁ UMA GERAÇÃO SEM PALAVRAS”
José Paulo Paes
A
malhação física encanta a juventude com seus que pode ser bom. Mas seria ainda melhores se eles se preocupassem um pouco
mais com os “músculos cerebrais”, porque, como diz o poeta e tradutor José
Paulo Paes, “produzem satisfações infinitamente superiores”.
Marili Ribeiro
-- O
senhor já disse que a identidade nacional estava abalada pelo desrespeito à
língua portuguesa. A situação continua a mesma ou se agravou?
-- Temos hoje o que poderíamos
classificar de uma geração sem palavras. O jovem em geral tem um vocabulário
limitado e quase não tem o costume de conversar. Hoje eles vivem experiências
praticamente idênticas. Eles assistem ao mesmo filme, jogam o mesmo videogame,
torcem para os mesmos times ou um time diferente que nem chega a ser tão
diferente assim. De modo que eles não têm o que comunicar um ao outro. A
conversa deles é legal, ou então é isso aí. É uma espécie de linguagem
enfática, de confirmação. Com isso eles vão perdendo a capacidade de formular o
pensamento. A questão da língua não é tanto a questão da correção gramatical. O
principal da língua é a capacidade de expressão, de construir pensamentos e de
transmiti-los, fazendo-os inteligíveis. Esta capacidade é que está se perdendo
progressivamente. A gente conversa com um jovem e vê que o falar dele é
interrompido a todo o momento. Muitas vezes ele não chega a completar a frase.
(...)
-- Por
que o que é mais fácil, digerível, atinge mais rápido as pessoas?
-- Tudo vai depender do ambiente em que
se vive. Se o indivíduo tem suas qualidades e virtualidades estimuladas vai
desenvolve-las, caso contrário elas ficarão adormecidas. Um exemplo de luta
contra a inércia muito presente na atual juventude pode ser vista na
preocupação com a malhação, a ginástica e o esporte. É evidente que a ginástica
interior é muito mais cansativa. Os músculos da inteligência são mais difíceis
de adestrar, mas dão satisfações muito maiores. (...)
-- Some-se
a isso o que o senhor chama nossa síndrome do mazombismo...
-- No Brasil estamos vivendo uma época
de total mazombismo. É o Brasil da capital Miami. Que bom se fosse Brasil
capital Atenas, ou Moscou. Cidades culturais. Mas é Miami. Na linguagem nós
temos o chamado latim do marketing, que é o inglês. Eu tenho uma proposta que
seria a de nós adotarmos o inglês como língua nacional, para podermos estudar o
português como segunda língua. Aí todos a aprenderiam.
Jornal do Brasil,
Caderno B, Rio de Janeiro, 28 dez.
1996, p. 6.
Fonte: Português – Uma proposta para
o letramento – Ensino fundamental – 8ª série – Magda Soares – Ed. Moderna, 2002
– p. 169/172.
Entendendo a entrevista:
01 – Explique a frase do
entrevistado que dá título à entrevista: “Há
uma geração sem palavras”.
a)
Recorde o conceito de geração, e determine: a
que geração o entrevistado se refere?
Refere-se à geração jovem.
b)
Calcule a idade que o entrevistado tinha
quando deu a entrevista e conclua: a que geração ele pertencia?
À geração idosa; a aproximadamente duas gerações depois da geração
jovem. (Tinha 70 anos: 1996 – 1926).
c)
Explique o significado que o entrevistado
atribui à expressão “sem palavras”.
Vocabulário limitado, dificuldade de expressar o pensamento, frases
incompletas.
02 – O entrevistado afirma
que os jovens “quase não têm o costume de conversar”, que “não têm o que
comunicar um ao outro”.
a)
Segundo o entrevistado, qual é causa de os
jovens não terem o que comunicar um ao outro?
Vivem experiências praticamente idênticas, veem, fazem, sentem as
mesmas coisas.
b)
Você concorda que os jovens não têm o costume
de conversar, não têm o que comunicar um ao outro? Justifique sua resposta.
Resposta pessoal do aluno.
03 – O entrevistado
caracteriza a linguagem dos jovens como uma “linguagem enfática, de
confirmação”. Com base nos exemplos que o entrevistado dá – as expressões
legal, é isto aí –, explique o que ele chama de linguagem enfática, de
confirmação.
Uma linguagem
feita de expressões que apenas realçam e aprovam o que o outro diz.
04 – Localize, na
entrevista, o trecho em que o entrevistado fala do que ele considera ser “o
principal da língua”.
a)
Segundo o entrevistado, “a questão da língua
não é tanto a questão da correção gramatical”. Se essa fosse “a questão da
língua”, o que se esperaria da linguagem dos jovens?
Uma linguagem de acordo com as normas gramaticais.
b)
Levando em conta aquilo que o entrevistado
considera “o principal da língua”, o que se espera da linguagem dos jovens?
Que seja capaz de expressar o pensamento de forma inteligível,
compreensível.
05 – Releia o início da
resposta do entrevistado à segunda pergunta: ela fala dos estímulos que o jovem
recebe, hoje, de seu ambiente, para lutar “contra a inércia”. Explique.
a)
A atual juventude recebe estímulos para lutar
contra que tipo de inércia? Lutar como?
Contra a inércia do corpo; lutar malhando, fazendo ginástica,
praticando esporte.
b)
Infere-se das palavras do entrevistado que a
juventude atual não recebe
estímulos para lutar contra que tipo de inércia?
Contra a inércia da mente, da inteligência.
06 – Na resposta à segunda
pergunta, o entrevistado se refere a uma “ginástica interior”, e a “músculos da
inteligência”.
a)
A ginástica exercita o corpo; a “ginastica
interior” exercita o quê?
Exercita a mente, a inteligência.
b)
A que se refere a expressão “músculos da
inteligência”?
Aos pensamentos, ideias, reflexões.
c)
Segundo o entrevistado, os “músculos da
inteligência são mais difíceis de adestrar mas dão satisfações muito maiores”:
quais satisfações?
O prazer de conhecer, de compreender; O prazer de ler; O prazer de
descobrir, inventar, criar...
07 – Em sua resposta à
última pergunta, o entrevistado reclama do “Brasil capital Miami”, e deseja um
“Brasil capital Atenas, ou Moscou”.
a)
Nessas expressões, Miami simboliza o quê?
Atenas e Moscou simbolizam o quê?
Miami – o modo de vida norte-americano; o consumismo, a tecnologia,
o progresso material.... Atenas e Moscou – a cultura, as tradições e valores
intelectuais, morais...
b)
O que caracteriza um “Brasil capital Miami”?
Um Brasil que privilegia o progresso material, o desenvolvimento
tecnológico, o consumismo....
c)
O que caracterizaria um “Brasil capital
Atenas, ou Moscou”?
Um Brasil que privilegiaria o desenvolvimento cultural, os valores
intelectuais, a preservação das tradições.
08 – O entrevistado afirma
que “no Brasil estamos vivendo uma época de total mazombismo”. Explique:
estamos vivendo uma época de quê?
De nostalgia por não sermos iguais aos
Estados Unidos, de desejo de sermos como os países mais desenvolvidos.
09 – O entrevistado chama a
língua inglesa de “latim do marketing”. Para explicar essa expressão, leia as
informações:
LATIM
– Durante o Império Romano, a língua latina dominou grande parte do mundo;
até o século XVIII, o latim foi língua de prestígio, usada para a comunicação
entre eruditos, cientistas, intelectuais.
MARKETING
– Nesta expressão, significa: conjunto de ações que visam influenciar as
pessoas quanto a determinada ideia, marca, pessoa, produto, etc.
Conclua: por que o inglês é chamado,
hoje, de “latim do marketing”?
O inglês é o
latim de hoje, porque é o que foi o latim: uma língua de prestígio, que domina
quase todas as áreas de comunicação; é uma língua de marketing porque sua
supremacia exerce influência sobre as pessoas para que assumam as
características, os valores, os produtos, os comportamentos das culturas em que
o inglês é a língua oficial, principalmente os Estados Unidos.
10 – Em suas últimas
palavras, o entrevistado usa de ironia.
a)
Ao propor que se adote o inglês como língua
nacional, o entrevistado diz o contrário do que realmente pensa. O que é que
ele, na verdade, pensa?
Pensa que o inglês não deveria ter tanto prestígio, que é necessário
valorizar a língua nacional, o português.
b)
A proposta feita pelo entrevistado cria um
efeito humorístico: por quê?
É uma proposta absurda, irrealizável, por isso se torna cômica,
engraçada; tem efeito humorístico também porque ridiculariza a importância que
as pessoas atribuem ao inglês, em detrimento de sua própria língua.
Nenhum comentário:
Postar um comentário