sábado, 11 de julho de 2020

TEXTO - O POVO - EÇA DE QUEIROZ - COM GABARITO

Texto: O povo

         Eça de Queiroz

    Há no mundo uma raça de homens com instintos sagrados e luminosos, com divinas bondades do coração, com uma inteligência serena e lúcida, com dedicações profundas, cheias de amor pelo trabalho e de adoração pelo bem, que sofrem, e se lamentam em vão.

        Estes homens são o Povo.

        Estes homens, sob o peso do calor e do sol, transidos pelas chuvas, e pelo frio, descalços, mal nutridos, lavram a terra, revolvem-na, gastam a sua vida, a sua forca, para criar a pão, o alimento de todos.

        Estes são o Povo, e são os que nos alimentam.

        Estes homens vivem nas fábricas, pálidos, doentes, sem família, sem doces noites, sem um olhar amigo que os console, sem ter o repouso do corpo e a expansão da alma, e fabricam o linho, o pano, a seda, os estofos.

        Estes homens são o Povo, e são os que nos vestem.

        Estes homens vivem debaixo das minas, sem o sol e as doçuras consoladoras da Natureza, respirando mal, comendo pouco, sempre na véspera da morte, rotos, sujos, curvados, e extraem o metal, o minério, o cobre, o ferro, e toda a matéria das indústrias.

        Estes homens são o Povo, e são as que nos enriquecem.

        Estes homens, nos tempos de lutas e de crises, tomam as velhas armas da Pátria e vão, dormindo mal, com marchas terríveis, a neve, a chuva, ao frio, nos calores pesados, combater e morrer longe dos filhos e das mães, sem ventura, esquecidos, para que nós conservemos o nosso descanso opulento.

        Estes homens são o Povo, e são os que nos defendem.

        Estes homens formam as equipagens dos navios, são lenhadores, guardadores de gado, servos mal retribuídos e desprezados.

        Estes homens, são os que nos servem.

        E por isso que os que tem coração e alma, e amam a Justiça, devem lutar e combater pelo Povo.

        E ainda que não sejam escutados, tem na amizade dele uma consolação suprema.

  O povo. José Maria Eça de Queiroz. In: Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro.

                        Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 8ª Série – Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p. 132/4.

Entendendo o texto:

01 – O autor apresenta “O povo”. Que características são citadas?

      Instintos sagrados e luminosos, divinas bondades, inteligência serena e lúcida, com dedicações profundas.

02 – O lamento do povo é em vão? Por quê?

      Seu lamento não é ouvido pelas autoridades. Poucas reivindicações são atendidas.

03 – No desenvolvimento, o autor se refere a quatro tipos de homens, com relação a sua profissão. Cite-os.

      Lavradores, operários, mineiros, soldados.

04 – Indique o tipo de vida e de trabalho dos lavradores.

      Os lavradores sofrem com o calor do sol, com a chuva e o frio. Não têm boa alimentação e nem vestimentas dignas.

05 – Fale sobre a vida dos operários.

      Os operários vivem nas fábricas, pálidos porque não apanham a luz do sol. Muitas vezes sem família e maiores alegrias.

06 – Como trabalham os mineiros?

      Os mineiros vivem nas minas, respirando mal, sema luz do sol, e as belezas da natureza. Vivem sujos, rotos e curvados.

07 – A vida dos soldados é dura? Comprove com frases do texto.

      “Estes homens, nos tempos de lutas e crises, tomam as velhas armas da Pátria, e vão, dormindo mal, com marchas terríveis, à neve, à chuva, ao frio, nos calores pesados, combater e morrer longe dos filhos e das mães, sem ventura, esquecidos...”

08 – Entre esses homens há uma característica comum. Qual é ela?

      A vida muita sofrida.

09 – Quem deve lutar por esse povo sofrido?

      Aqueles que têm coração e sentimento (alma) e amam a justiça.

10 – Os que lutam pelo povo podem não ser ouvidos em suas reivindicações. Por quem?

      Pelas autoridades.

11 – Mesmo não sendo ouvidos, esses reivindicadores, em nome do povo, terão uma recompensa. Qual?

      A amizade do povo.


Um comentário:

  1. Escrito no século passado mas com uma actualidade como se fosse escrito hoje mesmo

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