Poema: BIBLIOTECA VERDE
Carlos Drummond de Andrade– Papai, me compra a Biblioteca Internacional de Obras
Célebres.
– Meu filho, é livro demais para uma criança!...
– Compra assim mesmo, pai, eu cresço logo.
– Quando crescer, eu compro. Agora não.
– Papai, me compra agora. É em percalina verde,
Só 24 volumes. Compra, compra, compra!...
– Fica quieto, menino, eu vou comprar.
– Rio de Janeiro? Aqui é o Coronel.
Me mande urgente sua Biblioteca
bem acondicionada, não quero defeito.
Se vier com um arranhão, recuso. Já sabe:
Quero a devolução de meu dinheiro.
– Está bem, Coronel, ordens são ordens.
Segue a Biblioteca pelo trem-de-ferro,
fino caixote de alumínio e pinho.
Termina o ramal, o burro de carga
vai levando tamanho universo.
Chega cheirando a papel novo, mata
de pinheiros toda verde.
Sou o mais rico menino destas redondezas.
(Orgulho, não; inveja de mim mesmo)
Ninguém mais aqui possui a coleção das Obras Célebres.
Tenho de ler tudo. Antes de ler,
que bom passar a mão no som da percalina,
esse cristal de fluida transparência: verde, verde...
Amanhã começo a ler. Agora não.
Agora quero ver figuras. Todas.
Templo de Tebas, Osíris, Medusa, Apolo nu, Vênus nua...
Nossa Senhora, tem disso nos livros?!...
Depressa, as letras. Careço ler tudo.
A mãe se queixa: Não dorme este menino.
O irmão reclama: Apaga a luz, cretino! Espermacete cai na
cama, queima a perna, o sono.
Olha que eu tomo e rasgo essa Biblioteca
antes que pegue fogo na casa.
Vai dormir, menino, antes que eu perca a paciência e te
dê uma sova.
Dorme, filhinho meu, tão doido, tão fraquinho.
Mas leio, leio... Em filosofias tropeço e caio,
cavalgo de novo meu verde livro,
em cavalarias me perco, medievo;
em contos, poemas me vejo viver.
Como te devoro, verde pastagem!...
Ou antes carruagem de fugir de mim
e me trazer de volta à casa
a qualquer hora num fechar de páginas?
Tudo que sei é ela que me ensina.
O que saberei, o que não saberei nunca,
está na Biblioteca em verde murmúrio
de flauta-percalina eternamente.
(Carlos Drummond de
Andrade)
Entendendo o poema:
01 – No texto deparamo-nos
com um leitor que “devora” os livros que lê. Mas se a biblioteca é para esse eu
lírico um manancial de saber, por outro lado, decifrar o que nela está escrito
não assegura a seu leitor um conhecimento de tudo o que ela traduz. A leitura
não está unicamente inscrita no texto, pois ela depende da capacidade do leitor
de atribuir sentidos ao que lê. O(s) verso(s) que melhor traduz(em) esta
afirmação é(são):
a)
“– Meu filho, é livro demais para uma
criança! ... / – Compra assim mesmo, pai, eu cresço logo.”.
b)
“... Antes de ler, / que bom passar a mão no
som da percalina, / esse cristal...”.
c)
“Tudo que sei é ela que me ensina.
/ O que saberei, o que não saberei nunca, / está na Biblioteca em verde
murmúrio”.
d)
“Amanhã começo a ler. / Agora não”.
02 – A expressão que se
refere à Biblioteca Verde no plano denotativo é:
a)
“Mata / de pinheiros toda verde”.
b)
“Coleção / de Obras Célebres”.
c)
“Cristal / de fluida transparência”.
d)
“Verde pastagem”.
e)
“Carruagem / de fugir de mim”.
03 – O recurso gramatical
utilizado pelo autor para reproduzir um diálogo pode ser demonstrado através:
a)
Do emprego de verbos irregulares.
b)
Das construções com uso de vocativos.
c)
Da predominância de orações coordenadas.
d)
Do emprego de verbos no modo imperativo.
e)
Do uso do pronome oblíquo na primeira pessoa
do singular.
04 – Que crítica o poeta
faz?
Critica a leitura
que o mandaram fazer na escola.
05 – Por que o menino estava
motivado a ler a coleção de livros?
Porque era relato
de aventuras pelo narrador viajante, o que despertava o interesse do menino
leitor.
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