sexta-feira, 24 de julho de 2020

POEMA: O SERTANEJO FALANDO - JOÃO CABRAL DE MELO NETO - COM GABARITO

Poema: O Sertanejo Falando

             João Cabral de Melo Neto

A fala a nível do sertanejo engana:
as palavras dele vêm, como rebuçadas
(palavras confeito, pílula), na glace
de uma entonação lisa, de adocicada.
Enquanto que sob ela, dura e endurece
o caroço de pedra, a amêndoa pétrea,
dessa árvore pedrenta (o sertanejo)
incapaz de não se expressar em pedra.


Daí porque o sertanejo fala pouco:
as palavras de pedra ulceram a boca
e no idioma pedra se fala doloroso;
o natural desse idioma fala à força.
Daí também porque ele fala devagar:
tem de pegar as palavras com cuidado,
confeitá-la na língua, rebuçá-las;
pois toma tempo todo esse trabalho.

                               (A educação pela pedra, 1962-1965). Fonte: www.academia.org.br O Sertanejo Falando (João Cabral de Melo Neto)

Entendendo o poema:

01 – É possível observar no poema a ocorrência de suas funções da linguagem, que são:

a)   Referencial e poética.

b)   Fática e poética.

c)   Poética e metalinguística.

d)   Emotiva e metalinguística.

02 – O poema nos revela que realidade?

      A realidade de um meio ambiente específico, da terra da educação pela pedra, terra em que “de nascença a pedra entranha a alma”, terra do martírio dos apedrejados pelas forças da natureza e pelas leis pedregosas da história.

03 – No verso: “As palavras dele vêm como rebuçadas”, o que o eu lírico quis dizer?

      Que a língua imposta é insuficiente e inadequada como instrumentos de expressão e comunicação no seu verdadeiro mundo, e por isso ele não quer obedecer às fronteiras que essa língua lhe impõe.

04 – Em que verso o eu lírico diz que é incapaz de se expressar nessa língua sem sofrer?

      “As palavras de pedra ulceram a boca”.

05 – Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações sobre o poema.

(F) O eu lírico do poema é o próprio sertanejo que reflete sobre sua forma de falar.

(V) A ideia dos quatro primeiros versos da primeira estrofe é retomada nos quatro últimos da segunda; neles é descrita a melodia aparentemente doce da fala do sertanejo.

(V) Os quatro últimos versos da primeira estrofe estão relacionados aos quatro primeiros da segunda; neles é descrita a essência rude do falar sertanejo.

(F) O sertanejo falando opõe-se aos demais poemas de A educação pela pedra; nele João Cabral de Melo Neto apresenta um rigor formal, uma preocupação com a estrutura do poema, ausente no restante do livro.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é:

a)   V – V – V – F.

b)   F – V – F – V.

c)   V – F – V – V.

d)   F – F – F – V.

e)   F – V – V – F.

06 – Esse poema consta na primeira parte de A educação pela pedra, considerada pelo autor sua obra máxima. Depois de uma leitura atenta, responda:

a)   Qual o contraste entre a busca da palavra e o resultado sua execução na boca do sertanejo?

A busca da palavra pelo sertanejo é, segundo o poema, um processo árduo: “As palavras de pedra ulceram a boca / o natural desse idioma fala à força”. No que se refere a sua execução na boca do sertanejo, “as palavras vêm, como rebuscadas (...), na glace / de uma entonação lisa, de adocicada”, as palavras enganam e parecem mais soltas e espontâneas do que realmente são. Dessa forma, o contraste entre a busca áspera e o resultado na execução aparentemente suave da língua pelo sertanejo fica evidente.

b)   A que se refere, no texto, a palavra ela, no primeiro verso da segunda estrofe? Justifique sua resposta.

No primeiro verso da segunda estrofe, a palavra refere-se à fala do sertanejo que, segundo o eu lírico, engana por parecer lisa e adocicada, quando é, na verdade, ao natural, “falada à força”. Trata-se de um pronome pessoal utilizado como elemento anafórico.

 





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