Poema: O Sertanejo Falando
João Cabral de Melo Neto
A fala a nível do sertanejo engana:
as palavras dele vêm, como rebuçadas
(palavras confeito, pílula), na glace
de uma entonação lisa, de adocicada.
Enquanto que sob ela, dura e endurece
o caroço de pedra, a amêndoa pétrea,
dessa árvore pedrenta (o sertanejo)
incapaz de não se expressar em pedra.
Daí porque o sertanejo fala pouco:
as palavras de pedra ulceram a boca
e no idioma pedra se fala doloroso;
o natural desse idioma fala à força.
Daí também porque ele fala devagar:
tem de pegar as palavras com cuidado,
confeitá-la na língua, rebuçá-las;
pois toma tempo todo esse trabalho.
(A
educação pela pedra, 1962-1965). Fonte: www.academia.org.br
O Sertanejo Falando (João Cabral de Melo Neto)
Entendendo o poema:
01 – É possível observar no
poema a ocorrência de suas funções da linguagem, que são:
a)
Referencial e poética.
b)
Fática e poética.
c)
Poética e metalinguística.
d)
Emotiva e metalinguística.
02 – O poema nos revela que
realidade?
A realidade de um
meio ambiente específico, da terra da educação pela pedra, terra em que “de
nascença a pedra entranha a alma”, terra do martírio dos apedrejados pelas forças
da natureza e pelas leis pedregosas da história.
03 – No verso: “As palavras
dele vêm como rebuçadas”, o que o eu lírico quis dizer?
Que a língua
imposta é insuficiente e inadequada como instrumentos de expressão e
comunicação no seu verdadeiro mundo, e por isso ele não quer obedecer às
fronteiras que essa língua lhe impõe.
04 – Em que verso o eu
lírico diz que é incapaz de se expressar nessa língua sem sofrer?
“As palavras de pedra ulceram a boca”.
05 – Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações sobre o poema.
(F) O eu lírico do poema é o próprio
sertanejo que reflete sobre sua forma de falar.
(V) A ideia dos quatro primeiros
versos da primeira estrofe é retomada nos quatro últimos da segunda; neles é
descrita a melodia aparentemente doce da fala do sertanejo.
(V) Os quatro últimos versos da
primeira estrofe estão relacionados aos quatro primeiros da segunda; neles é
descrita a essência rude do falar sertanejo.
(F) O sertanejo falando opõe-se aos
demais poemas de A educação pela pedra; nele João Cabral de Melo Neto apresenta
um rigor formal, uma preocupação com a estrutura do poema, ausente no restante
do livro.
A sequência correta de
preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é:
a)
V – V – V – F.
b)
F – V – F – V.
c)
V – F – V – V.
d)
F – F – F – V.
e)
F – V – V – F.
06 – Esse poema consta na
primeira parte de A educação pela pedra, considerada pelo autor sua obra
máxima. Depois de uma leitura atenta, responda:
a)
Qual o contraste entre a busca da palavra e o
resultado sua execução na boca do sertanejo?
A busca da palavra pelo sertanejo é, segundo o poema, um processo
árduo: “As palavras de pedra ulceram a boca / o natural desse idioma fala à
força”. No que se refere a sua execução na boca do sertanejo, “as palavras vêm,
como rebuscadas (...), na glace / de uma entonação lisa, de adocicada”, as
palavras enganam e parecem mais soltas e espontâneas do que realmente são.
Dessa forma, o contraste entre a busca áspera e o resultado na execução
aparentemente suave da língua pelo sertanejo fica evidente.
b)
A que se refere, no texto, a palavra ela, no
primeiro verso da segunda estrofe? Justifique sua resposta.
No primeiro verso da segunda estrofe, a palavra refere-se à fala do
sertanejo que, segundo o eu lírico, engana por parecer lisa e adocicada, quando
é, na verdade, ao natural, “falada à força”. Trata-se de um pronome pessoal
utilizado como elemento anafórico.
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