quarta-feira, 8 de julho de 2020

CRÔNICA: OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - ÉRICO VERÍSSIMO - COM GABARITO

Crônica: Olhai os lírios do campo

            Érico Veríssimo

        Estive pensando muito na fúria com que os homens se atiram à caça do dinheiro.  É essa a causa principal dos dramas, das injustiças, da incompreensão da nossa época.  Eles esquecem o que têm de mais humano e sacrificam o que a vida lhes oferece de melhor: as relações de criatura para criatura.  De que serve construir arranha-céus se não há mais almas humanas para morar neles?

        Quero que abras os olhos, Eugênio, que acordes enquanto é tempo.  Peço-te que pegues a minha Bíblia que está na estante de livros, perto do rádio, leias apenas o Sermão da Montanha.  Não te será difícil achar, pois a página está marcada com urna tira de papel.  Os homens deviam ler e meditar esse trecho, principalmente no ponto em que Jesus nos fala dos lírios do campo, que não trabalham nem fiam, e no entanto nem Salomão em toda a sua glória jamais se vestiu como um deles.

        Está claro que não devemos tomar as parábolas de Cristo ao pé da letra e ficar deitados à espera de que tudo nos caia do céu.  É indispensável trabalhar, pois um mundo de criaturas passivas seria também triste e sem beleza.  Precisamos, entretanto, dar um sentido humano às nossas construções.  E quando o amor ao dinheiro, ao sucesso, nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do céu.

        Não penses que estou fazendo o elogio do puro espírito contemplativo e da renúncia, ou de que o povo deva viver narcotizado pela esperança da felicidade na "outra vida". Há na terra um grande trabalho a realizar. É tarefa para seres fortes, para corações corajosos. Não podemos cruzar os braços enquanto os aproveitadores sem escrúpulos engendram os monopólios ambiciosos, as guerras e as intrigas cruéis. Temos que fazer-lhes frente. É indispensável que conquistemos este mundo, não com as armas do ódio e da violência e sim com as armas do amor e da persuasão. Considere a vida de Jesus. Ele foi antes de tudo um homem de ação e não um puro contemplativo.

        Quando falo em conquista, quero dizer a conquista de uma situação decente para todas as criaturas humanas, a conquista da paz digna, através do espírito de cooperação.

        E quando falo em aceitar a vida não me refiro à aceitação resignada e passiva de todas as desigualdades, malvadezas, absurdos e misérias do mundo. Refiro-me, sim a aceitação da luta necessária, do sofrimento que essa luta nos trará, das horas amargas a que ela forçosamente nos há de levar.

              Olhai os lírios do campo. Érico Veríssimo.

                        Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 8ª Série – Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p. 108/9.

Entendendo a crônica:

01 – Na sua opinião qual é o principal motivo de tantas injustiças entre os homens?

      Resposta pessoal do aluno.

02 – O que Érico Veríssimo quis afirmar com a frase: “É indispensável trabalhar, pois um mundo de criaturas passivas seria também triste e sem beleza?

      Que o trabalho é básico na vida do homem.

03 – Humanizar o mundo e os homens é um trabalho para quem?

      Para os fortes e corajosos.

04 – Explique o pensamento da personagem em relação ao mundo e a sua conquista.

      Todos devem ter um modo de vida decente, sem preconceitos e injustiça.

05 – A expressão “disposição para a luta” é usada no texto com que palavra?

      Com a palavra aceitação.

06 – Você concorda com a ideia de que o homem deve aceitar todos os sofrimentos aqui na Terra, por que a felicidade o espera no “céu”?

      Não. Jamais o homem deve ser passivo. Assim ele fará o jogo do sistema. É preciso lutar contra a maré.

07 – O que deveria ser mais importante para o homem: ter mais ou ser mais? Por quê?

      Ser mais. Os bens materiais são passageiros.

08 – Qual seria a maior fonte de felicidade pessoal?

      Gostar-se e gostar espontaneamente das pessoas.

 


 


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