POEMA: LUNDU
DO ESCRITOR DIFÍCIL
Mário de Andrade
Eu sou um escritor difícil
Que a muita gente enquizila,
Porém essa culpa é fácil
De se acabar duma vez:
É só tirar a cortina
Que entra luz nesta escurez.
Cortina de brim caipora,
Com teia caranguejeira
E enfeite ruim de caipira,
Fale fala brasileira
Que você enxerga bonito
Tanta luz nesta capoeira
Tal-e-qual numa gupiara.
Misturo tudo num saco,
Mas gaúcho maranhense
Que pára no Mato Grosso,
Bate este angu de caroço
Ver sopa de caruru;
A vida é mesmo um buraco,
Bobo é quem não é tatu!
Eu sou um escritor difícil,
Porém culpa de quem é!...
Todo difícil é fácil,
Abasta a gente saber.
Bajé, pixé, chué, ôh "xavié"
De tão fácil virou fóssil,
O difícil é aprender!
Virtude de urubutinga
De enxergar tudo de longe!
Não carece vestir tanga
Pra penetrar meu caçanje!
Você sabe o francês "singe"
Mas não sabe o que é guariba?
— Pois é macaco, seu mano,
Que só sabe o que é da estranja.
(ANDRADE, Mário. In:
Poesias completas. São Paulo, Círculo do Livro, 1976. p. 286-7).
Entendendo o poema:
01 – Pesquise o significado
das seguintes palavras:
·
Lundu: dança de origem africana segundo Aurélio Buarque de Holanda,
desde meados do século XIX, lundu passou a ser também uma canção (modinha) de
caráter cômico.
·
Enquizila: aborrece, importuna; variante da palavra quizila, de origem
africana.
·
Escurez: o mesmo que escuridão; Mário de Andrade preferia as formas
escurez e escureza.
·
Caipora: que traz azar; palavra de origem tupi (caa, ‘mato’; porá,
‘morando’, ‘habitante’) que designa um ente fantástico, o qual, segundo os
indígenas brasileiros, provoca desgraças.
·
Capoeira: terreno roçado; assim como a palavra caipira, capoeira é de
origem tupi.
·
Gupiara: palavra de origem tupi que designa, em regiões de exploração
de ouro, o cascalho ralo que encobre as jazidas.
·
Caruru: palavra de origem africana que designa várias plantas de
valor nutritivo, utilizadas em pratos típicos da comida afro-brasileira.
·
Bajé: cidade gaúcha.
·
Pixé: palavra de origem tupi que significa ‘mau cheiro’.
·
Chué: ordinário, de pouco valor.
·
Guariba: macaco.
02 – De que se trata o
poema?
O autor defende,
com bom humor e ironia, a importância da cultura popular na formação de uma
identidade genuinamente brasileira.
03 – No primeiro verso, o eu
lírico se coloca na posição de um escritor que “incomoda muita gente”. A partir
do que é apresentado nas demais estrofes, por que isso acontece?
O incômodo
acontece porque em seus poemas ele fala sobre diversas culturas.
04 – O Lundu também é
conhecido como: landum; lundum e londu. Faz referência a um canto e dança que
teve origem no continente africano e que, posteriormente, foi introduzido aqui
no Brasil nosso país. Provavelmente foi trazido por escravos angolanos. Por que
o autor usou este termo?
Porque o termo
possibilita ao poema o sentido de mistura de culturas.
05 – Explique o motivo da
palavra “xavié” vir entre aspas e as palavras bagé, pixé e chué não?
Porque foi usada
na linguagem coloquial.
06 – Qual o tema principal
tratado por Mário de Andrade? O que o poeta critica em seu poema?
Mário de Andrade
fala sobre as diferenças culturais. Critica o desconhecimento / a falta de
respeito com nossa língua regional.
07 – No poema, há uma
alteração estrutural no que se refere ao uso da:
a)
Métrica.
b)
Rima.
c)
Linguagem de dicionário.
d)
Linearidade do discurso.
08 – A estrofe: “Cortina de
brim caipora, / Com teia caranguejeira / E enfeite ruim de caipira, / Fale fala
brasileira / Que você enxerga bonito / Tanta luz nesta capoeira.”, escrito
entre 1927 e 1928, o que o autor quis dizer?
O autor ilustra
bem o pensamento do escritor paulistano, que propunha a retirada de “cortinas”
para que o diálogo entre vida, história, música e literatura iluminasse a
cultura nacional.
09 – Leia atentamente as
afirmações a seguir:
I – Neste poema, Mário de
Andrade enfatiza o seu esforço de criação de uma expressão literária nacional,
e, para tanto, utiliza vocabulário que resgata as regiões do Brasil.
II – Além da linguagem,
Mário de Andrade resgata as raízes culturais do país, como a culinária e a
representação artística.
III – Na primeira estrofe,
Mário de Andrade faz uso da figura de linguagem antítese, ao empregar as
palavras “difícil/fácil” e “luz/escurez”. Essas antíteses evidenciam a
contradição vivenciada pelos intelectuais brasileiros que, com os olhos no
estrangeiro, não conseguem compreender este poeta brasileiro.
É (são) correta(s)
afirmação(ões):
a)
I e II.
b)
Todas.
c)
Apenas III.
d)
II e III.
10 – Leia atentamente as
afirmações a seguir:
I – No próprio poema, Mário
de Andrade identifica a solução para que os leitores não o considerem um
escritor difícil: que falem e aprendam a “fala brasileira”.
II – No décimo verso, Mário
de Andrade dá um conselho ao seu leitor, por meio do emprego do modo verbal
imperativo.
III – Nos dois últimos
versos, o escritor utiliza-se do discurso indireto para indicar o significado
da palavra guariba. É (são) correta(s) a(s) afirmação (ões):
a)
I e II.
b)
Apenas I.
c)
Todas.
d)
II e III.
11 – Nos versos: “Não
carece vestir tanga / Pra penetrar meu caçanje!”, no trecho em destaque há
a seguinte figura de linguagem:
a)
Sinestesia.
b)
Assonância.
c)
Paradoxo.
d)
Metonímia.
Conteúdo agradável e primoroso para alunos e professores.
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