sexta-feira, 17 de novembro de 2023

CONTO: O MENINO QUE RESPIRAVA BORBOLETA - JORGE MIGUEL MARINHO - COM GABARITO

 Conto: O menino que respirava borboleta

              Jorge Miguel Marinho

        Como vou contar essa história para vocês?

        É difícil falar de coisas diferentes. Então já vou logo dizendo que não existe ninguém que não tenha uma coisa só dele, escondida, bem diferente. Ela se esconde debaixo da roupa, no fundo do coração ou no cantinho da cabeça. E pode ser uma verruga enorme nas costas, uma perna mais fina que a outra ou até mesmo uma vontade esquisita de morder uma flor ou uma pessoa.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibvCmRaPuwYSWpYt6gjb-5t4FfdErnZYD74KF_c6UUUIktuumrQyMc61dHLOFGbhlDe96CV-5mCFFMzQACq6bBrt2JppxAwDG8WIpxPEjJlsySTaYf6-Hu-MIvy7DNtjm3Cvxqw5fQRF2lMU_ps7fiZDaVN5zhMvlNuHpv2jvRJLPaIDRBAffnHsZJXXU/s1600/CACHECOL.jpg


        O menino dessa história se chama Léo, é igual a todo mundo, só que de vez em quando, sem ele querer, escapam do seu corpo magricelo e super branco borboletas de vários tamanhos – todas coloridas e sempre apavoradas.

        Faz tempo que ele sofre e tem a maior vergonha delas. Por causa disso vive se escondendo dos outros, está a cada dia mais calado, parece até aquelas crisálidas que ainda não voam e ficam hibernando dentro de um casulo.

        Léo usa sempre cachecol, porque já saiu borboleta dourada do seu pescoço. Fala o mínimo que pode, principalmente à noite, porque já deixou escapar uma mariposa nervosa, asas pretíssimas, da sua boca. Evita sempre ir ao banheiro da escola porque uma vez chegou a urinar três borboletinhas amarelas, molhadas e chorosas.

        Às vezes, o sol, os outdoors, os postes de luz, os heróis de cinema e das histórias em quadrinhos, os vilões mais simpáticos do mundo inteiro gritam para ele:

        – Léo, respira fundo e mostra esse monte de borboletas para as pessoas.

        Ele nunca escuta, e não é para menos – afinal não é simples sair por aí contando para todo mundo que um dia ou outro escapa uma borboleta de algum lugar de nós. Acho que só uma vez ele ficou em dúvida se mostrava ou não mostrava. Foi quando o vento, que nesse dia estava enlouquecido de tanta ventania, ordenou:

        – Seja homem, rapaz e assuma!

        E na hora uma árvore quase sem folhas e quase sem ar, por causa de todo o atropelo do vento, alertou:

        – Não seja besta, garotão, que soltar borboleta do corpo não é coisa que a gente vai dizendo para qualquer um, assim sem mais nem menos, não.

        Léo se encolheu todo, chegou a se ferir, quase esmagou uma borboleta rajada que estava saindo do seu dedo indicador e acabou ganhando com isso uma tremenda cicatriz na palma da mão esquerda.

        O pai, a mãe e o irmão de Léo não têm esse problema, mas entendem e não tocam no assunto. Com a maior das boas intenções, eles fingem que não existem borboletas, e Léo fica muito ofendido.

        Acho quer vocês estão entendendo o problema do menino e vão entender ainda mais quando eu contar que tudo isso aconteceu só até ontem. É que Ana Claudia, uma garota linda negra como asa de mariposa, com mil trancinhas e miçangas, olhar dengoso e boca de pedir beijo, chegou e foi logo tirando uma borboleta azul com duas antenas xeretas de trás da orelha de Léo. E, soltando o pequeno inseto, convidou:

        – Hoje você vai me dar a mão e entrar comigo na aula!

        É claro que Léo perguntou na hora:

        – E por que justo eu?

        E ela, já de mãos dadas, caminhando colada nele, respondeu:

        – Sei lá, é que eu adoro suas borboletas.

        Foi então que ele teve a impressão de ver saindo da cabeleira crespa e felpuda como lã, lá dentro de umas trancinhas, o bico de um beija-flor bem atrevido. Certeza ele não teve, mas sorriu, respirando fundo, apertou a mão dela e pela primeira vez deixou voar livremente uma borboleta tímida e muito apressada de seu umbigo.

        Eu também não sei direito para onde essa última borboleta ia e por que tanta pressa. Agora, se vocês quiserem saber a minha opinião, ela bem que podia estar com hora marcada para o amor, que, se não tem cara de borboleta, vive voando de coração para coração. É, não tem outra: olha só o jeito de andar da Ana Claudia, pensa na história do Léo.

Jorge Miguel Marinho.

Entendendo o conto:

01 – Quem é o protagonista principal do conto?

      O protagonista é Léo, um menino com um segredo especial: ele involuntariamente libera borboletas de seu corpo.

02 – Por que Léo se esconde das outras pessoas?

      Ele se esconde porque tem vergonha das borboletas que escapam de seu corpo, o que o faz evitar interações e situações em que elas possam ser reveladas.

03 – Como Ana Claudia se envolve na história de Léo?

      Ana Claudia entra na vida de Léo ao descobrir suas borboletas e, em vez de reagir negativamente, ela demonstra interesse e até gosta delas, o que muda a perspectiva de Léo sobre sua singularidade.

04 – Como a família de Léo lida com as borboletas dele?

      A família de Léo finge não perceber as borboletas, talvez por tentarem não constrangê-lo, mas essa atitude o deixa incomodado e ofendido.

05 – Por que Léo reage de maneira negativa quando o vento e uma árvore sugerem que ele assuma suas borboletas?

      Ele se sente envergonhado e se retrai ainda mais, pois a ideia de revelar seu segredo para o mundo é assustadora e constrangedora para ele.

06 – O que muda na atitude de Léo depois do encontro com Ana Claudia?

      A atitude de Léo muda quando Ana Claudia demonstra aceitação e interesse por suas borboletas. Ele começa a se sentir mais à vontade e, pela primeira vez, liberta uma borboleta voluntariamente na presença dela.

07 – Qual é a impressão final que Léo tem sobre o gesto de Ana Claudia?

      Ele percebe o gesto de Ana Claudia como algo especial, algo que o faz sorrir e sentir uma conexão, levando-o a liberar uma borboleta de forma consciente pela primeira vez.

08 – Por que o autor compara o amor a uma borboleta no final do conto?

      O autor faz essa comparação para destacar a leveza, a delicadeza e a liberdade do amor, associando-o ao voo das borboletas que escapam de Léo, sugerindo que o amor também pode ser algo fugaz e belo.

09 – O que as borboletas representam na história de Léo?

      As borboletas simbolizam a singularidade, o segredo, a vergonha e, eventualmente, a aceitação de algo especial e único que todos possuem, mas que geralmente mantêm escondido por medo do julgamento alheio.

10 – Qual é a mudança mais significativa que acontece com Léo ao longo da história?

      A mudança mais significativa é a aceitação gradual de sua singularidade e a abertura para compartilhá-la com alguém que demonstra aceitação genuína, como Ana Claudia. Isso o ajuda a se sentir mais confortável consigo mesmo e com suas borboletas.

 

 

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