Poema: Cristais
Cruz e
Sousa.
Mais claro e fino do que as finas pratas
O som da tua voz deliciava...
Na dolência velada das sonatas
Como um perfume a tudo perfumava.
Era um som feito luz, eram volatas
Em lânguida espiral que iluminava,
Brancas sonoridades de cascatas...
Tanta harmonia melancolizava.
Filtros sutis de melodias, de ondas
De cantos voluptuosos como rondas
De silfos leves, sensuais, lascivos...
Como que anseios invisíveis, mudos,
Da brancura das sedas e veludos,
Das virgindades, dos pudores vivos.
Cruz e Sousa. Obra
completa: poesia, 2008.
Fonte: Práticas de
Língua Portuguesa/Faraco, Moura, Maruxo. – 1.ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2020. p. 198-199.
Entendendo o poema:
01 – De acordo com o poema,
qual o significado das palavras abaixo:
·
Dolência: mágoa, dor; sofrimento, aflição.
·
Lascivo: sensual, libidinoso, desregrado.
·
Silfo: na mitologia céltica, é o “gênio do ar”.
·
Sonata: peça musical.
·
Velado: coberto de véu; oculto; disfarçado.
·
Volata: série de sons executados com rapidez.
·
Voluptuoso: sensual; em que há prazer ou volúpia.
02 – Observe que o eu lírico
descreve uma voz e, para caracterizá-la, ele a compara a finas pratas. Com base
nisso, responda às questões no caderno.
a) Que elemento comum ele percebe entre a voz e as finas pratas?
Clareza e fineza.
b) Comparar um som a prata (um metal) é uma comparação convencional? Por quê?
Não é um clichê, pois os elementos comparados pertencem a diferentes
campos da realidade e são percebidos por diferentes sentidos.
03 – A sonata é uma composição
musical feita para ser executada por um ou mais instrumentos, diferentemente de
uma composição vocal. Com base nessa definição, interprete os dois últimos
versos da primeira estrofe.
Não se trata de
uma voz que canta, e sim de uma voz que lembra um instrumento.
04 – Além de deliciar, a voz
perfumava. Sabe-se que a voz é percebida pela audição. O perfume, pelo olfato.
Ao fundir essas duas sensações, o eu lírico constrói uma sinestesia, que é a
associação de palavras ou expressões que transmitem a ideia de sensações
diferentes em uma só impressão (voz que perfumava). A sinestesia relaciona
planos sensórios diferentes. Localize outras duas sinestesias no poema e
explique os efeitos de sentido que provocam.
Era um som feito
de luz; volatas que em espiral iluminavam; brancas sonoridades. Essa figura
expressa uma percepção bastante subjetiva da realidade e, ao mesmo tempo, uma
apreensão complexa, em rede, não em segmentos isolados.
05 – Na terceira estrofe,
compara-se a voz a “rondas / de silfos leves, sensuais, lascivos...”. Explique
a comparação.
A voz descrita
parece ser movimento ao ar, dinamizá-lo, assim como os silfos em ronda.
06 – No poema prevalece a
expressão de sensações visuais, auditivas ou olfativas? Comente sua resposta,
relacionando-a ao assunto do soneto.
Predominam as
sensações visuais, apesar de o assunto do soneto ser a voz de uma pessoa, provavelmente
uma voz feminina.
07 – Além das rimas, que
outros elementos contribuem para a sonoridade do poema? Responda no caderno.
Aliteração: fino
/ finas; silfos / sensuais / lascivos; Presença marcante de fonemas nasais:
som, dolência, lânguida, branca, melancolizava, ondas, cantos, rondas,
sensuais, anseios, invisíveis, brancura, virgindade.
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