Conto: FUROS NO CÉU
Lenice Gomes
Houve um tempo em que o Céu e a Terra
eram muito próximos um do outro. Diziam que da torre do palácio se podia colher
um ramalhete de nuvens, rabiscos de pássaros, carneirinhos saltitando...
Esta história aconteceu numa aldeia
africana. Havia tanta luz naquele dia que duas mulheres pegaram seus pilões
para amassar grãos de milho no quintal de casa. Elas diziam amar a claridade e
o festejo da lua cheia na aldeia. Tudo era muito mágico.
Assim, trocavam mexericos e gargalhadas
narrando histórias, que as levavam longe, longe. Naquele converseiro o tempo ia
passando e as histórias se derramando, feito um rosário de ave-marias. Uma das
mulheres, entusiasmada com a conversa, levantou a mão do pilão com tanta força
e tão alto, que fez um furo no céu.
O Céu tomou um susto ao ver aquele furo
e desabou a berrar. Elas de tão entretidas nem ouviram, continuaram em sua
conversa, pisando nos seus pilões.
Assim o infinito azul foi ganhando
furos e mais furos. Aquelas mulheres jamais imaginavam que seus pilões iam
transformando o céu numa grande peneira. O Céu irado, da cor das violetas,
gritou mais que um tanto:
--
Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! Uiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
O grito chamou a atenção das mulheres,
que olharam para o alto e disseram: “Vai chover”. Diziam uma para outra: “Avia,
avia, avia... Recolhe o milho e o pilão...” Parecia uma cantoria.
Indignado, o Céu resolveu ordenar ao
tambor em tom de autoridade:
“Toque alto, por favor”
Atravesse portas e janelas
Chegue aos ouvidos das piladeiras
Convidando-as a me olharem
Sob as sete luas que as iluminam”.
Elas, encantadas pelo soar do tambor,
aproveitaram para dançar. A cadência foi crescendo, crescendo e crescendo. O
Céu achou bonita aquela dança que alegrava o seu universo. Mas nada podia mudar
sua decisão de separar-se da terra. Ou subia ou ficava todo furado. Foi subindo,
subindo, até chegar num lugar perfeito: nem tão perto que alguém pudesse
tocá-lo com a mão do pilão, nem tão alto que ninguém pudesse vê-lo.
E não que ele sentiu saudades do
tum-tum-tum do tambor, do barulho dos grãos no pilão, das histórias das
mulheres e de suas canções?! Foi então que o Céu teve a ideia de transformar os
furos que as mulheres haviam feito em estrelas, para que pudesse continuar
espiando as coisas da terra.
Satisfeito, o Céu sorriu. E foi
contando essa história de aldeia em aldeia, com a intenção de que ela se
espalhasse pelo mundo e pudesse ser contada e recontada onde houvesse alguém
para escutá-la.
Assim, segundo os africanos, nasceram
as estrelas do céu, pontinhos luminosos no azul, para iluminar a África.
Fonte: Nina África, de
Lenice Gomes.
Entendendo o conto:
01 – Onde se passa a história
de "Furos no Céu"?
A história se
passa em uma aldeia africana.
02 – O que as duas mulheres
estavam fazendo no início da história?
No início da história,
as duas mulheres estavam amassando grãos de milho no quintal de casa.
03 – O que as mulheres estavam
fazendo enquanto amassavam o milho?
Enquanto amassavam o milho, as mulheres
trocavam mexericos e gargalhadas, narrando histórias.
04 – O que aconteceu quando
uma das mulheres levantou a mão do pilão com força?
Quando uma das
mulheres levantou a mão do pilão com força, fez um furo no céu.
05 – Como o Céu reagiu ao furo
feito pelas mulheres?
O Céu tomou um
susto e começou a berrar quando viu o furo.
06 – O que as mulheres
pensaram quando ouviram o grito do Céu?
Quando ouviram o
grito do Céu, as mulheres pensaram que iria chover.
07 – O que o Céu decidiu fazer
para evitar que mais furos fossem feitos?
O
Céu decidiu subir para evitar que mais furos fossem feitos.
08 – Como o Céu resolveu lidar
com os furos já feitos?
O Céu resolveu
transformar os furos em estrelas para poder continuar observando a Terra.
09 – Qual é a intenção do Céu
ao contar essa história de aldeia em aldeia?
A intenção do Céu
ao contar essa história é que ela se espalhe pelo mundo e seja contada e
recontada onde houver alguém para escutá-la.
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