quinta-feira, 19 de outubro de 2023

POEMA: MATÉRIA DE POESIA - MANOEL DE BARROS - COM GABARITO

 Poema: Matéria de Poesia

             Manoel de Barros

Todas as coisas cujos valores podem ser
disputados no cuspe à distância
servem para poesia

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyIDxJctdtGv7PCa2MzUIk_HDNDTE44SIkEsVK2hr9Z83CUsYgFbEKikNURxcWz_DWVUZign0M2RBYuFYAqDIESoVpMYNC5spc2i7AzJct-kE_PIjAPoQ_ahYJ-NaRCIu539HQBehVm9_K40UQK2t2n-nEILQc3r_xLVHIC-SZxlXbztbUugAYhtZSYbg/s1600/POESIASS.jpg


O homem que possui um pente
e uma árvore
serve para poesia

Terreno de 10 x 20, sujo de mato — os que
nele gorjeiam: detritos semoventes, latas
servem para poesia

Um chevrolé gosmento
Coleção de besouros abstêmios
O bule de Braque sem boca
são bons para poesia.

As coisas que não levam a nada
têm grande importância

Cada coisa ordinária é um elemento de estima

Cada coisa sem préstimo
tem seu lugar
na poesia ou na geral.

O que se encontra em ninho de João-Ferreira:
caco de vidro, grampos,
retratos de formatura,
servem demais para poesia.

As coisas que não pretendem, como
por exemplo: pedras que cheiram
água, homens
que atravessam períodos de árvore,
se prestam para poesia.

Tudo aquilo que nos leva a coisa nenhuma
e que você não pode vender no mercado
como, por exemplo, o coração verde
dos pássaros,
serve para poesia.

As coisas que os líquenes comem
— sapatos, adjetivos —
têm muita importância para os pulmões
da poesia.

Tudo aquilo que a nossa
civilização rejeita, pisa e mija em cima,
serve para poesia.

Os loucos de água e estandarte
servem demais

O traste é ótimo
O pobre-diabo é colosso

Tudo que explique
o alicate cremoso
e o lodo das estrelas
serve demais da conta.

Pessoas desimportantes
dão pra poesia
qualquer pessoa ou escada.

Tudo que explique
a lagartixa da esteira
e a laminação de sabiás
é muito importante para a poesia.

O que é bom para o lixo é bom para a poesia.

Importante sobremaneira é a palavra repositório;
a palavra repositório eu conheço bem:
tem muitas repercussões
como um algibe entupido de silêncio
sabe a destroços.

As coisas jogadas fora
têm grande importância
— como um homem jogado fora.

Aliás é também objeto de poesia
saber qual o período médio
que um homem jogado fora
pode permanecer na terra sem nascerem
em sua boca as raízes da escória.

As coisas sem importância são bens de poesia
Pois é assim que um chevrolé gosmento chega
ao poema, e as andorinhas de junho.

Gramática Expositiva do Chão (Poesia quase toda) – Manoel de Barros. Editora Civilização Brasileira – edição 1990.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o tema principal do poema "Matéria de Poesia" de Manoel de Barros?

      O poema fala sobre como elementos comuns e frequentemente negligenciados na vida cotidiana têm um lugar importante na poesia.

02 – Quais são alguns exemplos de coisas comuns mencionadas no poema que são consideradas apropriadas para a poesia?

      O poema menciona exemplos como um pente, uma árvore, um terreno sujo, um chevrolé gosmento, uma coleção de besouros abstêmios, entre outros.

03 – Por que o poeta afirma que as coisas que não levam a lugar nenhum são importantes na poesia?

      O poeta acredita que coisas que não têm um propósito aparente ou que não conduzem a nada têm um valor significativo na poesia, pois podem ser exploradas de maneira criativa.

04 – Qual é a importância dada às coisas rejeitadas e ignoradas pela sociedade no poema?

      O poema enfatiza que as coisas rejeitadas e menosprezadas pela sociedade têm grande importância na poesia, pois podem ser fontes ricas de inspiração.

05 – Qual é o papel dos elementos naturais, como pássaros e árvores, no poema?

      O poema sugere que elementos naturais, como o coração verde dos pássaros e homens que atravessam períodos de árvore, são adequados para a poesia e têm importância.

06 – O que o poeta quer dizer com a palavra "repositório" e por que ela é mencionada no poema?

      O poeta se refere à palavra "repositório" como uma palavra importante na poesia, com muitas repercussões. Ele a usa para enfatizar a riqueza e a profundidade das palavras na poesia.

07 – Como o poeta descreve o processo de um objeto ou pessoa comum se tornar parte da poesia no poema?

      O poema sugere que objetos comuns e pessoas desimportantes se tornam parte da poesia através de uma transformação criativa, onde elementos negligenciados e rejeitados são valorizados e explorados na arte poética.

 

 

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