Conto: BEM SE PAGA COM O BEM
Luís da Câmara Cascudo
A onça caiu numa armadilha preparada
pelos caçadores e, por mais que tentasse escapar, ficou prisioneira.
Resignara-se a morrer, quando viu passar um homem. Chamou-o e lhe pediu que a
libertasse.
-- Deus me livre! – disse o transeunte.
– Se você ficar solta, vai me devorar.
A onça jurou que seria eternamente
agradecida, e o homem desatou as cordas que seguravam a tampa do alçapão e
ajudou a onça a deixar a cova. Logo que esta se encontrou livre, agarrou seu
salvador por um braço dizendo:
-- Agora você é meu jantar.
Debalde o homem pediu e rogou. A onça,
finalmente, decidiu:
-- Vamos combinar uma coisa. Ouvirei a
sentença de três animais. Se a maioria for favorável ao meu desejo, eu o como.
O homem aceitou e saíram os dois.
Encontraram um cavalo, velho, doente, abandonado. A onça narrou o caso. O
cavalo disse:
-- Quando eu era moço e forte,
trabalhei e ajudei o homem a enriquecer. Qual foi o meu pagamento? Largaram-se
aqui para morrer, sem um auxílio. O bem só se paga com o mal.
Adiante depararam-se com um boi.
Consultado, opinou pela razão da onça. Contou sua vida de serviços ao homem e,
quando julgava que ia ser recompensado, soube que fora vendido para ser morto e
retalhado pelo açougueiro. O bem só se paga com o mal.
O homem, triste, acompanhava a onça que
lambia o beiço, quando viram o macaco. Chamaram o macaco e pediram seu parecer.
O macaco começou a rir. E saltava, fazendo caretas e rindo. A onça ia-se
zangando:
-- Por que tanta risada, camarada
macaco?
-- Não é fazendo pouco – explicou o
macaco –, é que eu não acredito que o homem caísse na armadilha que ele mesmo
preparou.
-- Ele não caiu. Quem caiu fui eu –
contava a onça.
-- Foi você? Então como é que esse
homem fraquinho pôde libertar um bicho tão grande e forte como a camarada onça?
A onça, despeitada pelo macaco julgá-la
mentirosa, foi até o alçapão e saltou para o fundo do fosso, gritando lá de
baixo:
-- Está vendo? Foi assim!
Mais que depressa o macaco empurrou o
engradado de varas pesadas que fazia de tampa e a onça tornou a ficar
prisioneira.
-- Camarada onça – sentenciou o macaco –
o bem só se paga com o bem. E você fez o mal, receba o mal.
E se foi embora com o homem, deixando a
onça na armadilha.
CASCUDO, Luís da Câmara. Contos
Tradicionais do Brasil. São Paulo: Global Editora, 2003. p. 12 – 16.
Entendendo o conto:
01 – Qual foi a situação
inicial da onça no conto?
A onça caiu em uma armadilha preparada
por caçadores e estava prisioneira.
02 – O que a onça pediu a um
homem que a encontrou presa na armadilha?
A onça pediu ao
homem que a libertasse da armadilha.
03 – Qual foi a reação do
homem ao pedido da onça?
O homem
inicialmente recusou a soltar a onça, com medo de ser devorado por ela.
04 – Como a onça convenceu o
homem a libertá-la?
A onça prometeu
ser eternamente agradecida e concordou em ouvir a sentença de três animais
antes de decidir o destino do homem.
05 – O que os três animais
consultados pela onça disseram sobre o destino do homem?
Tanto o cavalo
quanto o boi disseram que o bem só se paga com o mal, defendendo a ideia de que
o homem merecia ser devorado. No entanto, o macaco duvidou da história da onça
e a enganou, resultando na reclusão da onça na armadilha.
06 – Qual foi a reviravolta
final no conto?
O macaco enganou a onça, fazendo-a voltar
para a armadilha, e explicou que o bem só se paga com o bem. O homem foi embora
com o macaco, deixando a onça prisioneira novamente.
07 – Qual é a lição moral ou
mensagem que o conto transmite?
O conto transmite
a mensagem de que o bem deve ser retribuído com o bem, e que tentar enganar os
outros pode resultar em consequências negativas. É uma história que enfatiza a
importância da honestidade e da reciprocidade.
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