Poema: Spleen – LXXVII
Charles Baudelaire
Quando, pesado e baixo, o céu
como tampa
Sobre a alma soluçante, assolada aos açoites,
E que deste horizonte, a cercar toda a campa
Despeja-nos um dia mais triste que as noites;

Quando se transformou a Terra em masmorra úmida,
Por onde essa esperança, assim como um morcego
Vai tangendo paredes ante uma asa túmida
Batendo a testa em tetos podres, sem apego;
Quando a chuva estirou os seus longos filames
Como as grades de ferro em uma ampla cadeia,
E um povoado mudo de aranhas infames
Até os nosso cérebros estende as teias,
Súbito, os sinos saltam com ferocidade
E atiram para o céu um gemido fremente,
Tal aquelas errantes almas sem cidades
Que ficam lamentando-se obstinadamente.
-- E féretros sem fim, sem tambor ou pavana,
Lentos desfilam dentro mim; e a Esperança.
Vencida, chora, a Angústia, feroz e tirana,
A negra flâmula em meu curvo crânio lança.
Charles Baudelaire. In: José Lino Grunewald, org. e trad. Poetas
franceses do século XIX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991. p. 63.
Fonte: Livro –
Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed.
– Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 357.
Entendendo o poema:
01 – Qual é a imagem central
que domina a primeira estrofe do poema e qual a sensação que ela evoca?
A imagem central
é a de um céu "pesado e baixo" como uma tampa, oprimindo a alma do
poeta, que é descrita como "soluçante" e "assolada aos
açoites". Essa imagem evoca uma sensação de sufocamento, angústia e
opressão.
02 – Na segunda estrofe, como
a esperança é personificada e qual a sua condição dentro da "masmorra
úmida" que se tornou a Terra?
A esperança é
personificada como um morcego que tangencia as paredes da masmorra úmida,
batendo a testa em tetos podres, sem encontrar apoio ou apego. Sua condição é
de fragilidade, desorientação e inutilidade em meio à escuridão e decadência.
03 – Que imagens são
utilizadas na terceira estrofe para intensificar a sensação de aprisionamento e
invasão?
A chuva é
comparada a longos filamentos como grades de ferro em uma ampla cadeia,
simbolizando o aprisionamento. Um "povoado mudo de aranhas infames"
estende suas teias até os cérebros, representando uma invasão insidiosa e
perturbadora da mente.
04 – O que representa o súbito
soar dos sinos na quarta estrofe e a que são comparadas as almas que lamentam
no céu?
O súbito soar dos
sinos, com ferocidade e um gemido fremente, representa uma explosão de dor ou
um grito desesperado. As almas que lamentam no céu são comparadas a almas
errantes, sem lugar fixo ("sem cidades"), que persistem em seu
sofrimento de forma obstinada.
05 – Qual é a imagem final que
resume o estado interior do poeta e quais são as forças que o dominam?
A imagem final é
a de um desfile interminável de "féretros sem fim" dentro do poeta,
sem alegria ("sem tambor ou pavana"). A Esperança é vencida e chora,
enquanto a Angústia, feroz e tirana, lança sua "negra flâmula" sobre
o crânio curvo do poeta, simbolizando a vitória da opressão e do sofrimento em
sua alma.
06 – De acordo com o texto,
qual o significado das palavras abaixo:
-- Assolar: pôr por terra, destruir, arruinar.
-- Campa: laje sepulcral; sino de pequeno tamanho, sineta.
-- Filame: amarras que prendem a âncora de um navio.
-- Pavana: composição musical; palmatória (instrumento de castigo).
-- Spleen: tédio, melancolia.
-- Túmido: saliente, inchado, proeminente.
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