domingo, 27 de abril de 2025

POEMA: SPLEEN - LXXVII - CHARLES BAUDELAIRE - COM GABARITO

 Poema: Spleen – LXXVII

             Charles Baudelaire

Quando, pesado e baixo, o céu como tampa
Sobre a alma soluçante, assolada aos açoites,
E que deste horizonte, a cercar toda a campa
Despeja-nos um dia mais triste que as noites;

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEZ056BKwYSI17Mjcqu8-QnVUjoajATusOZUljkIWpM4W20x0BRjxCZiM6kBGvrl6vwyk8G13JwXiQh9IIIGurve3BNwg91RzZ-fRk7QWZPKtWqKPD5fNC9ZvYybKa_kNes3NvVWGANryEl3On1n5kFoxyWL6wB601kmdWF7viw_cAVZ8C4t9uTcY1C-w/s320/7384234-fundo-ceu-azul-e-nuvens-brancas-vetor.jpg



Quando se transformou a Terra em masmorra úmida,
Por onde essa esperança, assim como um morcego
Vai tangendo paredes ante uma asa túmida
Batendo a testa em tetos podres, sem apego;

Quando a chuva estirou os seus longos filames
Como as grades de ferro em uma ampla cadeia,
E um povoado mudo de aranhas infames
Até os nosso cérebros estende as teias,

Súbito, os sinos saltam com ferocidade
E atiram para o céu um gemido fremente,
Tal aquelas errantes almas sem cidades
Que ficam lamentando-se obstinadamente.

-- E féretros sem fim, sem tambor ou pavana,
Lentos desfilam dentro mim; e a Esperança.
Vencida, chora, a Angústia, feroz e tirana,
A negra flâmula em meu curvo crânio lança.

Charles Baudelaire. In: José Lino Grunewald, org. e trad. Poetas franceses do século XIX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991. p. 63.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 357.

Entendendo o poema:

01 – Qual é a imagem central que domina a primeira estrofe do poema e qual a sensação que ela evoca?

      A imagem central é a de um céu "pesado e baixo" como uma tampa, oprimindo a alma do poeta, que é descrita como "soluçante" e "assolada aos açoites". Essa imagem evoca uma sensação de sufocamento, angústia e opressão.

02 – Na segunda estrofe, como a esperança é personificada e qual a sua condição dentro da "masmorra úmida" que se tornou a Terra?

      A esperança é personificada como um morcego que tangencia as paredes da masmorra úmida, batendo a testa em tetos podres, sem encontrar apoio ou apego. Sua condição é de fragilidade, desorientação e inutilidade em meio à escuridão e decadência.

03 – Que imagens são utilizadas na terceira estrofe para intensificar a sensação de aprisionamento e invasão?

      A chuva é comparada a longos filamentos como grades de ferro em uma ampla cadeia, simbolizando o aprisionamento. Um "povoado mudo de aranhas infames" estende suas teias até os cérebros, representando uma invasão insidiosa e perturbadora da mente.

04 – O que representa o súbito soar dos sinos na quarta estrofe e a que são comparadas as almas que lamentam no céu?

      O súbito soar dos sinos, com ferocidade e um gemido fremente, representa uma explosão de dor ou um grito desesperado. As almas que lamentam no céu são comparadas a almas errantes, sem lugar fixo ("sem cidades"), que persistem em seu sofrimento de forma obstinada.

05 – Qual é a imagem final que resume o estado interior do poeta e quais são as forças que o dominam?

      A imagem final é a de um desfile interminável de "féretros sem fim" dentro do poeta, sem alegria ("sem tambor ou pavana"). A Esperança é vencida e chora, enquanto a Angústia, feroz e tirana, lança sua "negra flâmula" sobre o crânio curvo do poeta, simbolizando a vitória da opressão e do sofrimento em sua alma.

06 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

-- Assolar: pôr por terra, destruir, arruinar.

-- Campa: laje sepulcral; sino de pequeno tamanho, sineta.

-- Filame: amarras que prendem a âncora de um navio.

-- Pavana: composição musical; palmatória (instrumento de castigo).

-- Spleen: tédio, melancolia.

-- Túmido: saliente, inchado, proeminente.

 

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