sábado, 26 de abril de 2025

POEMA: CARTA DE UM CONTRATADO - ANTÔNIO JACINTO - COM GABARITO

 Poema: Carta de um contratado

              Antônio Jacinto

Eu queria escrever-te uma carta
amor,
uma carta que dissesse
deste anseio
de te ver
deste receio
de te perder
deste mais bem querer que sinto
deste mal indefinido que me persegue
desta saudade a que vivo todo entregue...

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8znEm0QsYCVZxs6EAQI66CtSBXT-4_sxOXYf7-BUpkAzzIEuOvvISTRN9Dqq9xsEy27ar64f93wsPN18IREuyUvPirrnJhyphenhyphenF7pbyur0gMVLFLerQXsh_q3TrX-6P9SdZc0BkXyQvZN67Pc8Apo8qhcFD0MCzo2hWn0qnAEv0i23ZLkJXFwpPEsipOf6o/s320/p000007339.jpg


Eu queria escrever-te uma carta
amor,

uma carta de confidências íntimas,
uma carta de lembranças de ti,
de ti
dos teus lábios vermelhos como tacula
dos teus cabelos negros como diloa
dos teus olhos doces como maboque
do teu andar de onça
e dos teus carinhos
que maiores não encontrei por aí...

Eu queria escrever-te uma carta
amor,
que recordasse nossos tempos a capopa
nossas noites perdidas no capim
que recordasse a sombra que nos caía dos jambos
o luar que se coava das palmeiras sem fim
que recordasse a loucura
da nossa paixão
e a amargura da nossa separação...

Eu queria escrever-te uma carta
amor,
que a não lesses sem suspirar
que a escondesses de papai Bombo
que a sonegasses a mamãe Kieza
que a relesses sem a frieza
do esquecimento
uma carta que em todo o Kilombo
outra a ela não tivesse merecimento...

Eu queria escrever-te uma carta
amor,
uma carta que ta levasse o vento que passa
uma carta que os cajus e cafeeiros
que as hienas e palancas
que os jacarés e bagres
pudessem entender
para que o vento a perdesse no caminho
os bichos e plantas
compadecidos de nosso pungente sofrer
de canto em canto
de lamento em lamento
de farfalhar em farfalhar
te levassem puras e quentes
as palavras ardentes
as palavras magoadas da minha carta
que eu queria escrever-te amor....

Eu queria escrever-te uma carta...

Mas ah meu amor, eu não sei compreender
por que é, por que é, por que é, meu bem
que tu não sabes ler
e eu – Oh! Desespero! – não sei escrever também!

Antônio Jacinto. In: Manuel Ferreira, org. no reino de Caliban. Lisboa: Serra Nova, 1976. p. 133-135.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed. – Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 132-133.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o principal desejo expresso pelo eu lírico ao longo de quase todo o poema?

      O principal desejo expresso pelo eu lírico é o de escrever uma carta para o seu amor. Essa vontade é repetida em diversos momentos, evidenciando a intensidade do seu sentimento e a necessidade de comunicação.

02 – Que tipo de conteúdo o eu lírico gostaria de incluir em sua carta, mencionando exemplos específicos presentes no poema?

      O eu lírico gostaria de escrever uma carta de confidências íntimas e de lembranças do seu amor. Ele cita especificamente os lábios vermelhos como tacula, os cabelos negros como diloa, os olhos doces como maboque, o andar de onça e os carinhos inesquecíveis. Também deseja recordar os tempos a capopa, as noites perdidas no capim, a sombra dos jambos, o luar das palmeiras, a loucura da paixão e a amargura da separação.

03 – Quais são os pedidos incomuns que o eu lírico faz em relação à leitura da carta?

      O eu lírico pede que a amada não leia a carta sem suspirar, que a esconda de figuras como "papai Bombo" e "mamãe Kieza", e que a releia sem a frieza do esquecimento. Ele também expressa o desejo de que nenhuma outra carta em todo o "Kilombo" tenha tanto merecimento quanto a sua.

04 – De que maneira o eu lírico idealiza a viagem de sua carta até a amada?

      O eu lírico idealiza que a carta seja levada pelo vento que passa e que até mesmo elementos da natureza, como cajus, cafeeiros, hienas, palancas, jacarés e bagres, pudessem entender a mensagem. Ele espera que, compadecidos do seu sofrimento, esses elementos da natureza transmitam as palavras ardentes e magoadas da sua carta através de seus próprios sons e movimentos.

05 – Qual é a frustrante revelação que surge no final do poema e qual o seu impacto na mensagem transmitida?

      A frustrante revelação no final do poema é que o eu lírico não sabe escrever e a amada não sabe ler. Essa constatação final causa um impacto profundo, pois torna o desejo de comunicação expresso ao longo do poema inatingível, intensificando a sensação de saudade, separação e desespero.

06 – Como a repetição da frase "Eu queria escrever-te uma carta, amor" contribui para a expressividade do poema?

      A repetição da frase "Eu queria escrever-te uma carta, amor" enfatiza o anseio profundo e constante do eu lírico em se comunicar com a amada. Essa repetição cria um ritmo melancólico e reforça a intensidade do seu desejo, mesmo diante da impossibilidade final.

07 – Que elementos da cultura e da natureza parecem importantes para o eu lírico em suas lembranças e na idealização da carta?

      Elementos da cultura e da natureza africana são importantes para o eu lírico. Ele menciona a "tacula" e a "diloa" para descrever a cor dos lábios e cabelos, o "maboque" para a doçura dos olhos, o "andar de onça", o tempo "a capopa", o "capim", os "jambos", as "palmeiras", o "Kilombo", os "cajus", os "cafeeiro", as "hienas", as "palancas", os "jacarés" e os "bagres". Esses elementos enriquecem as lembranças e a idealização da carta, enraizando o sentimento do eu lírico em seu contexto cultural e natural.

 

 

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