quarta-feira, 9 de abril de 2025

CRÔNICA: UM DIÁLOGO SOBRE O RACISMO NO BRASIL (FRAGMENTO) - MATTHEW SHIRTS - COM GABARITO

 Crônica: Um diálogo sobre o racismo no Brasil – Fragmento

              Matthew Shirts

        [...]

        -- No Brasil, xingamentos racistas em campo constituem crime?

        -- Bem, o racismo é crime e inafiançável. E, e última instância, a lei vale dentro do campo, também. Desábato até teve sorte de ser preso por um delito menor, injúria com agravante de racismo. Vai poder pagar fiança e responder ao processo em liberdade, depois de passar duas noites preso.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6E0WZKxZ1sYP7-zgftisNokQSqfcd6z7C6LARfFdZ9HTmdwcvIe_iaTY6Q3atkhDGxB6xTvt9mycQPwuOzLMujVabkgMATv6MA5evomMuD5TZtikoLW6qO04MCiLIifiB6al2C-72as4FayvwBVQFuhTGgnJ2vNaOmGYpO-5NVNnUz67Vd_Wn0TQTfaw/s320/racismo-nacc83o-tomazsilva-agecc82nciabrasil-1.jpg


        -- Mas o racismo não é comum no Brasil? Quando estive aí, não me parecia; parecia, aliás, o contrário, mas os brasileiros sempre me diziam que existia muito racismo, só que disfarçado.

        -- Depois de 20 anos aqui, não sei responder com certeza. É algo difícil de medir, ainda mais pelo fato de eu não ser negro. Mas sempre achei que o racismo no Brasil é mínimo, incomparável, certamente, com aquilo que existe nos EUA. Tenho a impressão de que brancos e negros e japoneses e mulatos e mamelucos e todos os outros se dão. Casam-se entre si, se frequentam. O apelido do Grafite, inclusive, é por causa da sua cor. Grafite é aquilo que tem dentro do lápis, é a parte que escreve. Grafite é chamado de Grafite porque sua pele é muito escura.

        -- E todo mundo o chama assim?

        -- Todo mundo. Eu não sabia o nome verdadeiro dele até antes de ontem. É carinhoso e comum inventar apelidos relacionados à cor da pele ou à origem aqui. Japonês ou Japa, eu sou chamado de Gringo, frequentemente, português, de Portuga e por aí vai.

        -- E ninguém liga?

        -- Em geral, não. Tenho um amigo de origem japonesa que faz questão de ser chamado de brasileiro, mas creio que é mais uma coisa de orgulho e nacionalismo do que de irritação com a identificação como nipônico. Eu não ligo quando me chamam de Gringo. Acho até engraçado, dependendo do tom. Moreno e Cacau, por exemplo, são nomes corriqueiros, registrados em cartório.

        -- É, seria meio impensável isso nos EUA. Não consigo imaginar nenhum jogador americano apelidado de acordo com a cor da pele, muito menos chamar, digamos, um jogador da NBA de Grafite.

        -- Pois é, a naturalidade com que se lida com isso é uma prova de falta de racismo no Brasil pelo menos entendo assim. Há menos desconforto, as pessoas se sentem à vontade para brincar com a diferença entre as raças.

        -- Então Grafite pode, mas negro, não?

        -- Depende do tom. Grafite é carinhoso. Negro não costuma ser.

        -- É aquele negócio dos esquimós, que tem 22 palavras para neve.

        -- É clichê, mas é um pouco isso mesmo.

        -- Mas me diga uma coisa. Vamos supor que um jogador brasileiro chame outro de argentino sujo de mierda durante uma partida no Brasil. Ele seria preso?

        -- Não sei. Argentino indica nacionalidade, até onde sei, não chega a ser uma raça, embora eles talvez discordem. Agora, se um jogador brasileiro chamasse um argentino de branco sujo, de não sei o quê, poderia ser preso, sim, em tese. Mas duvido um pouco que isso venha acontecer.

        -- Não há um certo exagero nessa história toda? O Brasil não está querendo posar de muito bonzinho e politicamente correto, de repente?

        -- Talvez, um pouco. Mas creio que tem a ver também com os ataques racistas os jogadores brasileiros na Europa. Aquilo é duro de engolir. Os jogadores da seleção representam a nação lá fora. São o nosso orgulho. Vê-los tratados como macacos por um bando de nazistas desqualificados é doloroso. Creio que a prisão de Desábato teve a ver com essa última onda racista nos estádios europeus.

        -- E há solução para isso?

        -- A Fifa precisa punir os clubes com rigor.

        [...]

Matthew Shirts. O Estado de São Paulo, 18/4/2005.

Fonte: Livro – Português: Linguagem, 8ª Série – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 4ª ed. – São Paulo: Atual Editora, 2006. p. 183-184.

Entendendo a crônica:

01 – Qual a diferença legal entre injúria racial e racismo no Brasil, segundo a crônica?

      A crônica explica que o racismo é crime inafiançável, enquanto a injúria racial, embora também seja crime, permite fiança. No caso de Desábato, ele foi preso por injúria racial com agravante de racismo, o que o permitiu pagar fiança e responder ao processo em liberdade.

02 – Como o autor, Matthew Shirts, percebe o racismo no Brasil após 20 anos no país?

      Shirts admite que é difícil medir o racismo no Brasil, especialmente por não ser negro. Ele percebe que, embora exista racismo, ele é diferente e menor do que o racismo nos EUA, e que há uma maior integração entre diferentes grupos étnicos.

03 – Qual a visão do autor sobre o uso de apelidos relacionados à cor da pele no Brasil?

      O autor argumenta que, no Brasil, apelidos como "Grafite", "Moreno" e "Cacau" são comuns e muitas vezes usados de forma carinhosa, sem conotação racista. Ele contrasta essa prática com a dos EUA, onde tais apelidos seriam impensáveis.

04 – Como o autor explica a diferença entre chamar alguém de "Grafite" e "negro" no Brasil?

      O autor explica que a diferença está no tom. "Grafite" é usado de forma carinhosa, enquanto "negro" pode ter uma conotação negativa, dependendo do contexto e da intenção.

05 – Qual a opinião do autor sobre a reação do Brasil aos casos de racismo no futebol?

      O autor questiona se o Brasil não estaria exagerando na reação, tentando se mostrar excessivamente "bonzinho" e "politicamente correto". No entanto, ele também reconhece que a reação pode ser uma resposta aos ataques racistas contra jogadores brasileiros na Europa.

06 – Qual a solução proposta pelo autor para combater o racismo no futebol?

      O autor sugere que a FIFA precisa punir os clubes com rigor para combater o racismo nos estádios.

07 – Segundo o autor, qual a diferença entre xingamentos racistas e xingamentos de nacionalidade?

      O autor explica que xingamentos racistas são tipificados como crime, já xingamentos de nacionalidade não necessariamente. Ele usa de exemplo que um jogador que xingasse outro de "Argentino sujo" não seria preso, diferente de um jogador que xingasse outro de "branco sujo".

 

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