Notícia: Quanto mais pobre, mais filhos
É
o que mostra estudo de economista da FGV sobre fecundidade de adolescentes de
favelas e de bairros de renda mais alta no Rio
Fecundidade –
Alexandre Rodrigues
RIO
Um estudo do economista Marcelo Neri,
do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostra que a
taxa de fecundidade entre adolescentes nas cinco maiores favelas do Rio é cinco
vezes maior do que entre as que moram nos cinco bairros de renda mais alta da
cidade.

A taxa média de filhos por menina de 15
a 19 anos das Favelas da Rocinha, da Maré, do Complexo do Alemão, do
Jacarezinho e da Cidade de Deus, em Jacarepaguá, é de 0,266. Já a dos bairros
de Lagoa, Ipanema, Botafogo, Copacabana e Tijuca é de 0,054. O economista
cruzou dados do Censo 2000 com os números de recém-nascidos nas regiões
administrativas da prefeitura.
A
taxa média de filhos por jovem na Rocinha é de 0,266; em Ipanema, de 0,054
“O resultado mostra que, quanto mais
pobre, maior é o número de filhos das mulheres. Isso acontece em todas as
faixas de idade, mas foi mais forte entre as adolescentes”, explica o
pesquisador, para quem o estudo comprova que a taxa de fecundidade nas favelas
está ligada à baixa renda e, consequentemente, ao baixo nível de escolaridade.
Neri cita a Rocinha e a Barra da
Tijuca. A favela, que tem um dos menores índices de escolaridade do Rio, tem
taxa de fecundidade de 0,25 na faixa analisada. Ao lado, nos apartamentos
voltados para o mar da Barra, a taxa é bem menor: 0,12. “Com mais filhos e
menos recursos, a família não investe em educação e forma-
se um círculo vicioso. Pobreza leva a fecundidade e fecundidade leva a
pobreza.”
Enfermeira especializada em
obstetrícia, Viviane Costa conta que as adolescentes grávidas já são
responsáveis por cerca de 30% dos atendimentos que faz no posto do Programa de
Saúde da Família da Favela do Canal do Anil, em Jacarepaguá, zona oeste. “Pré-natal
tornou-se o carro-chefe do posto, como o tratamento de hipertensão. O número de
adolescentes grávidas tem aumentado e a idade delas, diminuído. Recebemos cada
vez mais meninas de 14, até 13 anos.”
Baile
Uma das pacientes de Viviane é Lídia da
Silva Costa, de 16 anos. Grávida de quatro meses, ela conta que não conseguiu
prevenir a gravidez porque tinha vergonha de ir ao ginecologista. “Queria ter
filhos só com 18 anos, mas como veio agora não achei ruim. Quando eu tiver 26,
meu filho já vai ter 10 anos. Vou poder até curtir um baile com ele”, diz.
Para Neri, apesar de exposição a
informações sobre métodos anticoncepcionais, da influência da TV e dos
programas sociais, a educação é que faz a diferença entre meninas de
comunidades carentes e de classe média. “A renda acaba determinando a
escolaridade, que faz diferença. Não é só o acesso à informação que deve ser
levado em conta, mas a capacidade de formar
opinião.”
Jenifer Chaves da Cruz, de 16 anos,
gosta da barriga de nove meses. Ela não planejou a gravidez, mas revela que
sempre admirou as amigas que também se tornaram mães precoces. Obrigada pela
tia que a criava a ir morar com o namorado, ela confessa que dificilmente
voltará à escola. “Parei na sétima série. Até pensava em continuar e trabalhar,
mas agora não dá mais.”
O Estado de S. Paulo,
20/10/2004.
Fonte: Livro –
Português: Linguagem, 8ª Série – William Roberto Cereja, Thereza Cochar
Magalhães, 4ª ed. – São Paulo: Atual Editora, 2006. p. 164-165.
Entendendo a notícia:
01 – Qual é a principal
conclusão do estudo realizado pelo economista Marcelo Neri?
O estudo concluiu
que a taxa de fecundidade entre adolescentes nas favelas do Rio de Janeiro é
significativamente maior do que entre aquelas que vivem em bairros de renda
mais alta. Especificamente, a taxa nas favelas é cinco vezes maior.
02 – Quais são as áreas
comparadas no estudo?
O estudo comparou
as cinco maiores favelas do Rio de Janeiro (Rocinha, Maré, Complexo do Alemão,
Jacarezinho e Cidade de Deus) com os cinco bairros de renda mais alta da cidade
(Lagoa, Ipanema, Botafogo, Copacabana e Tijuca).
03 – Qual é a relação entre
pobreza e fecundidade, de acordo com o estudo?
O estudo mostra
que existe uma correlação direta entre pobreza e alta taxa de fecundidade,
especialmente entre adolescentes. Quanto mais pobre a comunidade, maior o
número de filhos por adolescente.
04 – Quais fatores o
economista Marcelo Neri aponta como influenciadores dessa relação?
Neri aponta a
baixa renda e, consequentemente, o baixo nível de escolaridade como fatores
determinantes para a alta taxa de fecundidade nas favelas. Ele também menciona
que a falta de acesso à informação e a capacidade de formar opinião influenciam
essa relação.
05 – Qual é a situação das
adolescentes grávidas nos atendimentos de saúde nas favelas, segundo a
enfermeira Viviane Costa?
Viviane Costa relata que cerca de 30% dos
atendimentos no posto de saúde da Favela do Canal do Anil são de adolescentes
grávidas, e que a idade dessas jovens tem diminuído, com casos de meninas de 13
e 14 anos.
06 – Como a falta de acesso à
informação sobre métodos anticoncepcionais afeta a gravidez na adolescência,
segundo a notícia?
A notícia relata
o caso de Lídia da Silva Costa, de 16 anos, que engravidou por ter vergonha de
ir ao ginecologista. Isso ilustra como a falta de acesso à informação e a
barreiras como o constrangimento podem levar a gravidez não planejada na
adolescência.
07 – Qual é o papel da
educação na prevenção da gravidez na adolescência, de acordo com o estudo?
O estudo destaca
que a educação desempenha um papel fundamental na prevenção da gravidez na
adolescência. A escolaridade influencia a capacidade das jovens de formar
opinião e tomar decisões informadas sobre sua saúde sexual e reprodutiva.
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